A imprensa está aguardando a minha chegada. Cláudio ajeita a gravata em meu pescoço, tentando me deixar impecável.

Esse momento é importante. E eu estou aterrorizado.

Ensaio o discurso que preparei, tentando não pensar em como Jair me evitou durante todo o dia.
Não conversamos desde ontem; desde aquela ligação.

— Você está pronto? — Cláudio pergunta, chamando minha atenção.

Não.

— Sim. Obrigado, Cláudio.

— Estou à disposição, senhor.

Respiro fundo e entro em cena. Os repórteres ficam em polvorosa, cada um tentando falar por cima do outro. Ergo a mão, pedindo silêncio, e me sento.

— Estou aqui para anunciar a minha saída do Ministério da Justiça. — Digo e a impressa é uma loucura. Peço silêncio novamente. — Estou pedindo demissão do cargo e toda a documentação já foi encaminhada.

— É por causa do Valeixo, Ministro? — Um repórter se levanta. Posso ver o emblema da rede Globo e tento conter minha careta.

— Só Moro, por favor. Não sou mais ministro. — Corrijo-o. — E sim, é por causa do Valeixo. Como a mídia tem acompanhado, há alguns conflitos em relação a nomeação de um novo diretor para a Polícia Federal. Não posso compactuar com uma atitude que claramente é uma interferência política.

— Você está dizendo que o senhor Presidente estava tentando interferir politicamente nos assuntos da PF? — Outro repórter questiona. Faço uma expressão amável ao ver o símbolo da Record.

— É exatamente isso que estou dizendo. Há meses tenho notado como o PR tenta espionar informações sigilosas de investigações em andamento. Eu já disse ao presidente: "não tenho compromisso com partido. Tenho compromisso com a lei".

— Você pode dar mais detalhes sobre essa interferência? Está relacionado às acusações contra os filhos do presidente? — O mesmo repórter da Globo pergunta. Estou cansado.

— Isso é tudo que direi. Esse pronucniamento acabou. — Levanto-me, ignorando a baderna que se instaurou.

Eu não quero pensar em qual vai ser a reação de Jair ao ver isso.
Eu não quero pensar em nada.