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8. COBAIA PSICOLÓGICA

— ... E AÍ, DEPOIS QUE ELES TROCARAM ESSAS ACUSAÇÕES TODAS, FICOU UM CLIMÃO ESQUISITO DEMAIS. Ainda bem que a chuva passou e a gente foi embora.

— ArMaria! Com as roupas tudo molhada?

Tássia olhou para Raquel com um sentimento de carinho profundo. A amiga sempre sabia como amenizar qualquer situação. Se estivesse naquela sala com Breno e com Patrick, teria contornado o clima tenso na hora.

— Bom, a escolha era ir pra casa molhada ou ficar naquela agonia, né?

Fernando estava sentado encostado ao peito de Hilton, que o abraçava por trás. Ambos permaneceram calados durante todo o relato da amiga. Diferente das outras vezes que os quatro tinham conversas mais serenas, Hilton não fez nenhuma gracinha e nem aproveitou a menção a Breno para provocar o namorado. Por sua vez, Fernando se limitou a emitir apenas "hum" e "sei" pontualmente.

Quando Tássia chegou em casa no dia anterior, a internet já havia se espreguiçado após a tempestade e decidira voltar a funcionar. A garota trocou de roupa, comeu tudo de fumegante que a mãe insistiu em lhe oferecer e até aceitou calada o sermão de dona Selma com seu típico "eu avisei". Ao se ver livre, correu para o quarto e mandou mensagem de áudio no grupo "Amigues" resumindo a situação. E logo Fernando convidou as duas para irem na manhã seguinte para sua casa.

Agora, sentados na laje de um segundo andar da casa que nunca saiu do papel devido a pandemia, Hilton, Raquel e Tássia esperavam pelo pronunciamento do seu psicólogo particular, que não tardou a vir.

— Será que o Breno já conhecia o Patrick?

— Se conhecia, ele finge bem.

— O teu ex deu uma repaginada no visu depois que vocês terminaram, né? — Tássia assentiu para Hilton. — Hum... Mas isso também coincidiu com a chegada do bonitão, vocês perceberam?

O comentário ficou no ar para cada um ruminar. As avenidas do bairro em sua quietude ajudavam na reflexão. Ali de cima, a cidade tinha outras cores, outra perspectiva. Quando algumas ararinhas revoaram em algazarra pelo céu, Raquel juntou as peças e compreendeu o comentário de Tonto. Fez mais alarde do que as aves.

— Ôxi, pera lá, gente! Vocês tudo tão achando que o menino agora é gay, é?

— Bom — Hilton se sentou, empolgado. Adorava uma teoria da conspiração —, e se o Breno teve um caso bafônico com o Patrick?

Quê? — o queixo de Tássia despencou, ao que foi acompanhada pela incredulidade dos rostos de Fernando e de Raquel.

— É, gente! Me acompanhem: imaginem um caso antigo, sabe, que ficou cheio de tretas? Aí, quando eles se separaram, depois de uma briga babadeira, com mais grito do que minha vizinha quando descobriu que o marido colocava chifre nela, o Breno ficou tão chocado que até desistiu de fazer faculdade, tadinho. Deprê bate fundo nessas horas. Aí, agora, como o Patrick tá todo decepcionado por ter terminado um namoro de novo, decidiu reagir. Ele viu o ex entrar por aquela porta, ficou abaladérrimo e tcham.

Raquel ergueu uma sobrancelha.

Tcham? Que tcham, menino? A banda?

— Não! Tcham de — abriu os braços e fez uma pose — "vou ficar muito gato e fazer o Breno e a Tássia se arrependerem do que perderam!"

Fernando olhou para o namorado quase sorrindo, mas manteve a pose serena.

— Ton Ton, papai te avisou pra não comer aquele chocolate todo ontem à noite.

— Eu só comi sete!

— Sete bombons? — Raquel perguntou.

— Sete barras — Fernando balançou a cabeça. — E sozinho! Eu, mamãe e papai ficamos só na vontade.

— ArMaria, é um cavalo!

Todos riram. Quando se recuperaram, Fernando direcionou a conversa para um caminho mais sensato.

— Mas sério, Tássia: eu não acho que o Patrick esteja com raiva de ti, sabia? Ele me parece mais é decepcionado de ter te deixado partir. Eu não conheço ele muito bem, mas eu acho que ele quer mesmo é chamar tua atenção.

— A minha atenção? Pra quê?

— Pra tentar voltar, óbvio.

Aquilo deixou Tássia sem fala. Logo após o término do namoro, não podia negar, chegou a pensar que em alguns dias eles voltariam. Apesar do estresse, algo dentro de si a levava a pensar que as atitudes dela teriam sido o principal problema, ignorando a falta de cumplicidade por parte de Patrick. Contudo, à medida que o tempo passou, ficou evidente a consciência de que o ex não parecia realmente disposto a ser um casal.

Como se lesse a mente da amiga, Fernando fez a pergunta que a própria Tássia parecia empurrar para uma caixa de esquecidos no fundo da cabeça.

— Se ele pedir uma segunda chance, tu volta?

— Não sei, eu preciso estudar. Por isso que eu terminei com o Patrick.

Hilton tomou a palavra.

— Mas eu e o chuchu namoramos e estudamos, ué! — Fernando balançou a cabeça em apoio. — E até nós ajudamos.

— É... É diferente. Vocês já se conhecem há anos. Eu e o Patrick, não.

— Mas, sejamos sensatos — Fernando fez pose, mão no queixo, olhos cerrados —, desde que a gente se conhece tu tem medo de se relacionar com as pessoas, né?

— Aí disse foi certo — Raquel apoiou.

Tássia se sentiu inchar pelo incômodo.

— Gente... Não! Nada a ver! E o Patrick foi meu primeiro namoro sério. Além disso...

— E quem disse que eu tô falando sobre namoro? Eu tô falando é sobre qualquer relacionamento mesmo; sobre socializar. E não se faz de desentendida que tu sabe disso muito bem. Lembra da festa de quinze anos da Gilmara?

— Ah, Fê, mas aí era diferente! Ia ter aquela apresentação de Geografia na frente da escola inteira!

— Mulher, tu quer enganar quem mesmo, cristã?! Eu lembro muito bem que até a professora, a professora!, disse que tu já tava passada, que tudo bem ir se divertir um pouco. Chuchu chegou até a ligar pra dona Selma. E tu fez o quê, bicha doida? Fugiu. Lembra, Raquel?

— Ô, se lembro! Fiquei foi sozinha feito pata choca no meio daquela festa.

— Mas a gente tava lá! — Fernando contestou.

— Sim, eu lembro — a menina revirou os olhos. — Com a boca grudada um no outro e eu lá de vela entupindo o rabo de coxinha, quibe e bolinha de queijo.

— Hum, a lôca saiu de bucho cheio e ainda reclama! O bucho e a bolsa que eu sei!

Raquel deu um tapinha no ombro de Hilton e os dois gargalharam. Tássia, pelo contrário, não estava nem um pouco satisfeita em ver que aquele encontro havia virado uma espécie de sessão de terapia, com ela sentada no divã.

— Olha, a culpa não é minha se vocês não se focam muito nos estudos e conseguem... conseguem...

— ... conciliar namoro e estudos. — Fernando complementou.

— Pois é isso mesmo. Cada um com suas prioridades. E agora, com o ENEM, eu acho que ninguém pode me julgar. Que jogue a primeira pedra a pessoa responsável com o próprio futuro que não esteja arrancando os cabelos por causa do tanto de coisa que tem pra estudar.

— Ôxi, sábado passado eu fiquei com cinco numa festa de tarde na praia, cheguei à noitinha e ainda estudei. Tava cansada, mas estudei.

Fernando, Tássia e Hilton se entreolharam, segurando o riso. Raquel era dona de soltar confissões como aquela sem ninguém pedir.

Ficar é diferente de namorar. Namoro exige tempo. Ficar só exige uns minutos...

Minutos? — a outra garota cruzou os braços. — Fala por ti, querida. Comigo, as coisas são mais profundas.

— Tá, tá, eu sei. Me poupe dos detalhes. Eu quero dizer é que o namoro exige deixar outras coisas de lado, inclusive os estudos, pra dar atenção pra outra pessoa. E, querendo ou não, isso prejudica. E com um namorado que nem o Patrick, que não gosta de estudar, fica ainda pior...

— Mas teu ex-bofe tá bem mudado, sabia? Semana passada mesmo eu vi ele fazendo um monte de anotações lá na biblioteca. Foi tão estranho ver ele por lá que eu até gritei.

Raquel sorriu.

— Ah, é por isso que a professora Tainá te proibiu de frequentar a biblioteca?

— Foi, aquela insensível...

— E outra — Fernando aproveitou a oportunidade —: o Patrick melhorou bastante no simulado geral, esqueceu? Ele chegou a ficar em último nos primeiros e agora ficou em trigésimo nono. Se isso não prova que ele tem estudado, sinceramente, não tenho mais argumentos.

— Melhor do que isso só a disgrama do Breno que ficou em primeiro. E taí um belo de um exemplo pra ti — Tássia franziu as sobrancelhas, intrigada com a amiga. — É verdade. O Breno consegue conciliar os estudos com tudo. Na festa que eu falei, lá na praia, ele tava lá também.

— Que babado! — Hilton pegou um pedaço de bolo de tapioca como se preparado para assistir a um filme emocionante. — Vai, Sônia Abrão, conta tudo!

— Bom, ele tava lá, na dele e tal. Tinha até uns amigos com ele, mas passou a maior parte do tempo sozinho, sentado na areia. Sem camisa, uns pernão, menino! A coxa desse tamanho e... — Fernando pigarreou. — Bom, sim, o cabra tem um jeitão de pensador, sabe? Tava lá, todo sério, tranquilo...

— Vai dizer que o bicho tava cheirado de maconha?!

— ArMaria, e eu sei disso? O caso é que, quando eu cheguei, umas dez horas, ele já tava por lá. E quando eu saí, lá pelas seis da tarde, ele ainda ficou. E, pelo que eu vi no Instagram, o bicho bebeu e bebeu foi muito. Uma colega minha disse até que ele ficou com a atendente do bar e...

— Tá, chega! — Tássia interrompeu a fofoca sem dó nem piedade. — Gente, o que a vida do Breno tem a ver comigo? Ele é festeiro e tem sorte nas provas. Parabéns pra ele. E aí?

Fernando olhou para a amiga com compaixão.

— O fato, Tássia, é que ele prova que dá sim pra conciliar estudo e uma vida comum de adolescente. E não acho que seja — fez aspas no ar — "sorte" ele se sair bem nas provas. Talvez, ele só não precisa de tanto tempo assim pra entender as matérias. Só isso.

— Espera aí, deixa eu ver se entendi direito: vocês acham que o Breno, desse jeito, é o exemplo que eu deveria seguir na vida? É sério isso?

— Seguir ou pegar... — Raquel abafou um risinho.

— Rá, rá, muito engraçado...

— Tássia, falando sério, eu acho que até o Patrick, depois desse susto que tu deu nele, seria um, tipo, um treinamento para ti, sabe? Uma forma de ficar mais relaxada. Ficar tranquila também faz parte do ENEM, lembra? Ou tu quer ficar doente antes da prova de novo, só de ansiedade?

— Fernando, tu falou igualzinho aos meus pais agora. Impressionante. Obrigada por isso, doutor. Perdi o amigo, ganhei um pai. E pior: um pai que, ao invés de ter orgulho do tanto que a filha estuda, reclama e quer mandar a pobre garota pra festa e pra bebedeira. Ou pra coisa pior...

— Mulher, para de exagero! A gente só quer é te ajudar.

— E é — Raquel apoiou Hilton. — Eu nunca te vi tão estressada por causa disso, sabia?

Tássia revirou os olhos e jogou as mãos pra cima.

— Ah, dai-me paciência! Vocês querem o que, um "muito obrigada"?

— Pois de nada mesmo — Fernando se levantou de supetão. — A gente tá preocupado contigo, já até tínhamos conversado sobre isso. E depois que tu terminou com Patrick, eu tenho a impressão de que tu ficou foi ainda mais estressada, isso sim.

E foi a frase seguinte dita pelo amigo metido a psicólogo que mexeu com ela:

— Tássia, tu precisa viver pra além daquele cursinho.

Pelo resto do dia, inclusive durante o almoço e depois enquanto assistiam a um filme, a garota se sentiu acuada. Entretanto, quando o entardecer já cedia seu lugar para a chegada da noite e o quarteto estava de volta à laje para assistir a mudança das cores, ela reconheceu que havia grandes verdades na conversa que haviam tido.

Por mais que seu objetivo com aquele encontro passasse longe de ter sido uma cobaia de uma sessão de estudo psicológico, não podia negar que os três amigos tinham razão. Durante toda a vida, desde que se lembrava, ela levava os estudos tão a sério que chegava a passar semanas sempre na mesma rotina de escola-casa, casa-escola. Se dissesse que não se ressentia de recusar convites para ir ao cinema, a uma exposição no museu ou a um mero passeio do parque, por exemplo, estaria mentindo. Contudo, quando punha na balança o lazer e os estudos, sempre pendia para o segundo. O namoro com Patrick havia sido uma exceção a todas as regras autoimpostas.

"Será que eu aceitei namorar com ele porque, inconscientemente, minha mente deseja um descanso e viu nele a chance de relaxar um pouco?"

O pensamento lhe tomou de assalto e ela logo buscou pelo rosto de Fernando. Sentados lado a lado, os quatro curtiam aquele momento de brisa enquanto esperavam pelo término do espetáculo do pôr do sol. Fêfê, ao notar que era observado, virou-se para Tássia.

Sorriu compreensão.

No fundo, a garota sabia que ele tinha razão.

*** 

[Ser adolescente exige paciência para a descoberta de novas maneiras de ver o mundo - e como encarar isso tudo tendo as pressões diversas nas costas.  A mochila de Tássia está cheia, quase rasgando devido ao peso. E vamos acrescentar mais coisas... O nome disso é vida. Deixe seu voto, jogue alguns pesos fora e sigamos em frente.]

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