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17. O INÍCIO DO TÉRMINO

[AVISO: este capítulo pode conter gatilhos de ansiedade para algumas pessoas]

AS COISAS ESTAVAM FORA DE CONTROLE. Se o objetivo era focar nos estudos e fazer uma prova tranquila, sem dores de cabeça, os planos de Tássia foram todos por água abaixo. Antes, apesar de ser alvo de piadinhas, desviava da onda de boatos com certa maestria. Agora, depois do espetáculo proporcionado por Patrick na biblioteca do cursinho, o nome dela tinha virado até meme internet afora.

Como haviam conseguido uma foto dela e do namorado em meio a um encontro, com ela colocando a mão sobre o rosto dele em um gesto de carinho, era um mistério. Não queria pensar de novo em Breno como um inimigo, porém, a última conversa tida com o novato permanecia como um nó em sua garganta – um nó cujo aperto piorava diante da piadinha que fora colocada sobre a imagem:

"Problemas em mascarar a realidade? Santa Tássia dos Mimados pode te ajudar."

— Bom — Hilton analisou a foto na tela do celular. Era mais uma manhã que, em teoria, seria de estudos reforçados com pitadas de agonia antes do Simulado Geral —, não me parece tão bafônico, né? Ficou uma mensagem meio dúbia.

— Dúbia onde, Ton Ton?

— Sejamos sensatos, criatura: não é um meme engraçado. Nem viralizou pra fora dos grupos do cursinho. Só quem conhece o casal maravi-lindo que vocês são é que entendeu o recado.

Tássia balançou a cabeça e murchou os ombros. Esse era o problema: por mais que a piada fosse restrita ao ambiente do Geração, já era o suficiente para lhe tirar o sono.

— Às vezes, eu acho que o Fernando está certo.

— Chuchu sempre está certo, miga. Acostume-se. O bicho só pode ter pacto com o coisa ruim. A criatura sabe ler a cabeça das pessoas, desconjuro!

— Pois sabe mesmo. Quando ele me disse que parecia que eu estava protegendo o Patrick... bem, eu acho que o Fê foi certeiro. E depois do espetáculo que ele deu na biblioteca, eu acho que essa realidade ficou ainda mais forte dentro de mim.

— Por quê?

— Porque enquanto Patrick tava lá brigando com o pessoal, eu percebi que ele não ligava pro fato de que eu estava ali, entende? De que tudo aquilo ia respingar em mim, respingar nos meus estudos. Ele me queria ali e me olhava só como um troféu; uma espécie de, sei lá, de trunfo, sabe? O pessoal brincando que ele anda a fim do Breno e ele me balançando no ar como se eu fosse uma bandeira pra...

— ... confirmar a macheza dele. — Hilton completou com um esgar nos lábios. A garota assentiu.

— Ton Ton, eu posso te perguntar uma coisa? Tu também acha que o Patrick só me usa pra... pra fingir que é hétero?

— Sim.

Ela não se surpreendeu. Na verdade, quando parava para refletir e agrupar as pontas soltas daquelas últimas semanas, percebia que todos possuíam a mesma desconfiança que ela nutria. A diferença era que, enquanto a maioria encarava e nomeava a situação de frente, sem medo, algo dentro dela a fazia se sentir impelida a proteger o garoto.

— O Fernando já tinha insinuado isso.

— O Chuchu, a Raquel e a torcida inteira do Flamengo, né? Olha, desculpa eu te dizer, mas o Patrick não gosta de ti, mulher. E desde o começo. Quando vocês começaram a namorar, já tava na cara que ele não queria mesmo a tua companhia como namorada.

— Tu acha que ele é gay?

— Não sei. Talvez sim, talvez não. Não é esse o problema. E sejamos sensatos, né, amor: não é o tipo de coisa que tá escrita na testa das pessoas. Quer dizer, algumas pessoas estão meio na cara, né? — Hilton soltou um sorrisinho e passou os dedos pela própria testa. — E no corpo, e na voz e nas roupas...

Os dois sorriram.

— Eu sinto pena dele.

Pena? Mulher!

— É sério. Apesar de tudo, ele sempre foi muito legal, gentil. — E acrescentou — Legal comigo, quero dizer. E a felicidade que ele tinha quando estava nos campeonatos dos jogos, isso me deu uma alegria quando eu perdi a prova. E aí...

— Tu te acostumou a beber da alegria dele sem ligar pro que estava dentro do copo.

Hilton e Tássia quase infartaram ao escutarem a voz de Fernando atrás deles. O garoto havia chegado de mansinho e instalara-se atrás dos amigos. Não precisou escutar muita coisa para deduzir do que se tratava aquela conversa.

— Vai assustar tua mãe, bicha sem noção!

Fernando sorriu para o namorado e fez um cafuné no cabelo dele. Pediu espaço e sentou-se entre os dois. Olhou para Tássia, sereno como nunca estivera.

— O Simulado Geral tá chegando.

— Eu sei, Fêfê...

— Quem bom, Tássia. Eu espero que saiba mesmo. Mantenha o foco e não surte.

E se limitou a erguer as sobrancelhas para enfatizar sua mensagem. Ela compreendeu.

Mais do que gostaria de compreender.

***

A ESTRANHEZA DE PATRICK FEZ COM QUE O GAROTO SE ISOLASSE MAIS E MAIS, ALGO QUE TÁSSIA JULGOU QUE JÁ TIVESSE CHEGADO AO LIMITE. O retrocesso foi tamanho que dona Gigi voltou a levar o filho de carro para o cursinho. À primeira vista, a garota gostou. Seria mais uma garantia para evitar que o rapaz mergulhasse de novo em busca de coisas ilícitas pelos becos do Centro Histórico. Porém, ela mudou de ideia quando percebeu que o namorado andava com olheiras, irritadiço e cansado ao ponto de dormir no meio das aulas.

Dormir, não. Apagar.

E a angústia dela era perceber que agora, por mais que tentasse, não conseguiria mais ajudar. Patrick não queria a ajuda de ninguém. Ela aceitou esse fato. Parecia que ele queria sumir. Há apenas uma semana para o temido Simulado Geral, a situação fez desaparecer também qualquer resquício de atenção que Tássia poderia ter com os estudos.

Em uma noite de sábado, quando tentava estudar Gramática, forçar a mente a prestar atenção em regras ortográficas, tempos verbais e uso da crase, a garota não aguentou. Sentiu uma angústia, uma agonia; vontade de sair, de correr, de fugir. Levantou-se da escrivaninha. O que estava acontecendo? A vontade de chorar soou dentro do peito, a boca secou.

"Ah, não. Por favor, não."

Ela conhecia os sintomas. Antes da fatídica prova, quando caiu de cama e perdeu o ENEM anterior, os sintomas haviam sido os mesmos. Começou a pensar no futuro e no quanto tudo aquilo poderia ser uma decepção para os pais. Sentia-se uma fraude. Sentia que gastava o dinheiro dos pais para nada. Era uma farsa. O que faria se não fosse aprovada? Com que cara sairia na rua? E se os amigos passassem e ela não? E ainda tinha a situação com Patrick.

Não, não queria pensar nisso. Porém, parecia que quanto mais tentava afastar os pensamentos negativos, mais eles escorriam por entre os seus dedos. Contou até dez como a terapeuta havia recomendado.

"Pense nas coisas do presente", lembrou-se das palavras da doutora. "Apodere-se da certeza de que você está segura e vai ficar tudo bem. De que há pessoas com que você pode contar. Está tudo bem demonstrar fragilidade."

— Está tudo bem, Tássia — repetiu para si mesma e sentou-se na cama, em uma nova contagem até dez. — Está tudo bem.

O cérebro, contudo, estava surdo, envolto pela química da crise de ansiedade. E foi quando ela pensou mais uma vez na situação fora de controle do namorado. Se não conseguia nem resolver aquilo, como resolveria seu futuro? Patrick estava ali, bastava estender a mão, e ela não conseguia segurar essas rédeas. O futuro, então, distante, opaco, envolto em névoa, era uma incógnita; um monstro que a engoliria.

Tássia começou a hiperventilar. E a cada tentativa de sorver ar, era como se a memória puxasse do baú da mente um medo antigo, subconsciente; algo que ela havia lido há muito tempo, fingido ignorar, mas permanecia ali, dentro dela. Tentou evitar, mas o grito foi mais forte. Quando se deu conta, o pai e a mãe estavam na porta do quarto e ela estava no chão, entre a cama e a escrivaninha, abraçada aos joelhos.

Dona Selma fez menção de correr para acudir a filha, mas Abel impediu a esposa. Em uma troca de olhares cúmplice, assentiu para a mulher. Após a mãe voltar para o quarto, o pai entrou no quarto, fechou a porta e sentou-se no chão diante da filha.

— Eu estou aqui, filha. Se quiser falar, eu vou escutar. Senão, tudo bem. Mas eu estou aqui.

Ela assentiu. Da outra vez, quando a angústia floresceu, naquele ineditismo por não saber o que ocorria com o seu corpo, afundou ainda mais. Agora, pelo contrário, alguma noção de como agir a impulsionou a pescar autocontrole. Fechou os olhos, inspirou pelo nariz. Reteve o ar por alguns segundos. Expirou pela boca. Repetiu mais cinco vezes.

— Eu tô com medo, pai.

— Medo de quê?

— De... tudo. Parece que tá tudo saindo do controle. Caindo na minha cabeça. E... E eu não consigo me focar mais em nada! É tanta coisa, tanta pressão, tanta cobrança...

— Cobrança ou autocobrança? — Tássia olhou para o pai com uma interrogação na testa. — Olha, às vezes, não é mundo que está correndo ou exigindo as coisas. É a gente que corre e exige de nós mesmos coisas que não podemos fazer.

— É que... eu sempre quis ser a melhor; dar orgulho pra vocês. E agora... Agora tudo parece tão... impossível...

Abel quis pender para a obviedade clichê do "mas você já nos dá orgulho", mas se lembrou de que estava diante de uma adolescente. Apesar de ser centrada e parecer madura, Tássia ainda era dada a revirar os olhos diante do que considerava um blá blá blá das gerações mais velhas. Optou por prosseguir nas perguntas, mostrando-se aberto ao diálogo ao invés de apontar pontos finais, como a terapeuta havia sugerido.

— O que te fez perder esse foco? Sentir tudo isso?

Ela reforçou o aperto em torno das pernas.

— O senhor sabe.

— Sim, Tássia. Mas tu precisa nomear as coisa.

— Certo... — inspirou e expirou. — É, tá certo. Foi o Patrick. Lembra da última conversa que a gente teve, naquele dia de tempestade? — O pai assentiu. — Pois é. Acho que eu fiz tantas concessões que me anulei pra ele se sentir feliz; se sentir seguro.

— E tem mais coisa, não tem?

— Aquela notícia do menino que se matou por causa da namorada.

A resposta foi dada num fôlego só, como se ela quisesse se livrar logo do sentimento. Abel compreendia. A imprensa fez uma cobertura extensiva sobre o caso. O tal garoto, um pouco mais jovem do que Tássia, também envolto pelas pressões que a sociedade impõe aos adolescentes, considerou que o término do namoro tinha sido a gota d'água em sua vida.

— Tu tem medo de que o Patrick faça a mesma coisa, é isso? — Ela confirmou, olhos marejados. — Tássia, se tu percebe isso, que o Patrick precisa de ajuda, tu precisa ajudar, sem dúvida. Certo? Acima de tudo, ele é teu amigo. Mas, filha, uma coisa é ajudar. Outra, muito diferente, é se doar aos outros ao ponto de se anular, Tássia; de largar quem tu é pra deixar o Patrick se sobressair.

— Mas ele é meu namorado, pai! É o que se espera que eu faça...

Quem espera, Tássia?

— Todo mundo. Eu acho...

Abel analisou a fragilidade da filha. Se havia algo de que se orgulhava era do fato de nunca ter esquecido do adolescente que ele tinha sido. Tecnologias surgiam e mudavam, a sociedade parecia evoluir, mas certas coisas continuavam iguais.

— Não ligue para as pessoas, filha. Eu sei que todo mundo recomenda isso, mas é sério. Não liga. As pessoas exigem demais e ajudam de menos. No final das contas, a única pessoa que sabe de verdade o que deve ser feito é tu mesma. Ajuda o Patrick. Ele precisa disso. Eu conheço a mãe dele e suspeito de como deve ser a situação de pressão na casa deles. Ele precisa do teu apoio. Mesmo assim, Tássia, eu quero que tu perceba que se ferir para salvar os outros pode ser bonito nos filmes, nas séries, nos livros, sim. Mas na realidade é muito diferente. E outra: tu não está pressupondo as coisas sem ter certeza do que o Patrick sente de verdade?

— Mas eu não sei o que ele sente de verdade. Ele não se abre! Parece viver num casulo! Mesmo depois que eu conversei com ele, a sério, cara a cara, mesmo assim parece que há um... um muro entre nós dois.

— Certo. E tu está disposta a ficar o resto da vida diante desse muro, Tássia? Digamos que, apesar disso, vocês continuem juntos — a garota estremeceu a olhos vistos. — Só suponha, tá bom? Faz esse exercício comigo. E aí, como vai ser? Tu vai aguentar ficar assim para sempre, até o ponto em que as coisas explodam de vez e piorem? A base de um relacionamento não é o amor, Tássia. A base de um relacionamento saudável é a confiança.

A filha afrouxou um pouco o aperto. Apoiou as duas mãos no chão e relaxou as pernas.

— Pai, eu acho que... — Titubeou, mas algo a fez seguir em frente. — Eu acho que o Patrick tem usado o nosso namoro pra fingir pra mãe dele que ele é hétero.

— Isso é uma certeza ou é uma suposição?

— Antes, era uma suposição. Agora, depois de algumas coisas que aconteceram, tem cada vez mais se tornado uma certeza.

Abel assentiu. Relanceou o olhar pelo quarto da filha e deteve em uma foto de toda a família junto. Apesar de tudo, eles sempre se apoiaram.

— Ser família é difícil, Tássia. Muito difícil. Bonito na religião, nas novelas, na fala apaixonada das pessoas. Mas é muito difícil. O lockdown mostrou isso. E fica ainda pior quando uns tentam controlar o que os outros são.

— E é exatamente o que a dona Gigi faz... — ela resmungou.

— É, eu imagino. Se as tuas suposições sobre a sexualidade dele forem uma certeza, será difícil pra ele, mas não impossível. E ele vai precisar da tua ajuda, é claro. Estenda a mão. Mas é algo, Tássia, que Patrick precisa fazer com as próprias pernas. Apoiado pelos amigos, sim, mas com as próprias pernas. Vocês podem até ajudar, mas quem precisa dar o primeiro golpe pra destruir esse muro, no momento em que ele julgar certo, é o Patrick.

Os olhos dela marejaram.

— Pai, ele é mais frágil do que parece. — Pensou em contar sobre os anabolizantes, mas preferiu se calar sobre esse assunto. — Eu tenho medo do que ele pode fazer...

— Sabe, Tássia, a gente às vezes tem a tendência a julgar os outros só pela aparência. Mas, no fundo, a gente nunca sabe a força que alguém tem quando é preciso se erguer e lutar. Se tu ficares eternamente nessa suposição, nesse "e se", nem tu e nem ele vão seguir em frente. Tu não me disseste que ele entrou no cursinho junto contigo?

— Foi. Praticamente, fui eu quem convenceu ele a se matricular.

— Pois é. E tu já paraste pra pensar que talvez ele também tenha feito essa concessão por ti? Claro, envolto nessa coisa de "fingir pra mãe dele", mas, ainda assim, uma concessão só pra te agradar? — E foi a frase seguinte dita pelo pai que fez Tássia despertar. — Talvez, Tássia, o Patrick gosta tanto de ti que ele tenha mais medo de te decepcionar do que exatamente de decepcionar a mãe.

— Rá! Impossível!

— É, talvez seja só maluquice da minha cabeça. Mas, sendo pai, eu te digo que, apesar de tudo, a gente sim sempre faz concessões a um filho — antes que Tássia pudesse intervir, ele complementou. — Mesmo a Gisele sendo daquele jeito. Agora, nem sempre amigos têm esse tipo de paciência. Muitas amizades acabam por isso. Então, mais do que tudo, o Patrick pode ter medo de te perder. A amiga, não a namorada. Ainda mais depois de, teoricamente, ter te usado.

Ela nunca tinha pensado nessa possibilidade. Ao julgar que Patrick andava confuso por causa dela, esquecera-se de que o namorado, afinal, tinha vida própria. Ela relaxou de vez. Apesar de o pai não ter dado respostas diretas, só o fato de se predispor a escutar já a confortava.

O peito ainda estava revolto, mas a mente decidira silenciar.

— Obrigada, pai.

— Tudo bem — Abel se espreguiçou e ficou de pé, as mãos nas costas para conter um acesso de desconforto na coluna. — É bom ter a chance de conversar de vez em quando. Nem todo mundo tem essa oportunidade.

— Ainda mais com pais tipo a dona Gigi...

Abel olhou para a filha, misterioso.

— Os pais também erram, Tássia.

— E aprendem com os filhos, né?

— É. A maioria, pelo menos. É o que se espera... normalmente.

Ergueu as sobrancelhas e sorriu para a filha. Havia uma preocupação velada naquelas palavras. Preocupação essa que, Tássia tinha consciência, estava diretamente relacionada a sua decisão e ao modo como Patrick e a mãe iriam lidar com isso.

*** 

[Respiremos. Mais uma vez. Viu como uma conversa sem muros ajuda? Converse. Dialogar com os pais não tira pedaços. Pode parecer difícil, mas ensina muito. Nosso próximo capítulo iniciará um novo arco. Você sente o amadurecimento da Tássia? Por mais que doa, é hora de crescer. Obrigado pela companhia até aqui. Siga em frente!]

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