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Dose número 35

AAAAAAAAAAAAAA ÚLTIMO CAPÍTULO e eu não tenho palavras pra agradecer a vocês por todo apoio, carinho, votos e comentários! Gente, sério! Pra melhorar a situação completamos hoje 6 k de leituras e eu tô muito feliz! Essa história tem um pedacinho de mim porque escrevi ela em um dos momentos mais difíceis da minha vida e vê-la crescendo por aqui, faz valer a pena todo o esforço e dificuldade que passei. Graças à ela me encontrei de verdade e queria deixar uma reflexão final aqui pra vocês: nunca, em hipótese nenhuma e por motivo nenhum, desistam do sonho de vocês. E muito menos se percam tentando agradar alguém. Sigam sempre o que o coração de vocês mandam, porque ele sempre tem razão ❤️ Agora bora pra esse capítulo maravilhoso. Ah, lembrando: amanhã teremos o epílogo, beleza? Beijão gente e obrigada!

Preciso dizer que nossa "família" aumentou de tamanho.

Sim, Sueli a ave, teve um pintinho.  

E era inacreditável que a vida amorosa da nossa galinha fosse mais badalada do que a minha. Ela não tinha Tinder, não tinha Facebook e mal saía de casa, e se mesmo assim arrumou um namorado antes de mim, é porque o problema realmente deveria ser eu. Não tinha outra explicação e não tinha jeito: nenhum milagre seria capaz de resolver meu relacionamento. Nem mesmo se o Santo Antônio, pai casamenteiro, resolvesse descer dos céus só para interceder por mim.  

Não me pergunte como essa atrocidade aconteceu, embora todos saibamos como a biologia funciona. Não foi como uma concepção milagrosa, daquelas que até Deus duvida, não, pelo contrário. Foi apenas uma aventura no galinheiro da tia de Ayla, durante os nove dias que estivemos fora.

E o resultado foi um ovo delicadamente escondido embaixo do sofá.

Ayla surtou, jogou a casa no chão e disse que era cedo demais para ser vovó. E neste contexto, acabou brigando com a galinha por ter feito coisas proibidas com o primeiro galo que viu, como se fosse uma qualquer. "COMO SE FOSSE A SUELI!", gritou ela, aos 4 ventos, pra todo mundo escutar. Ué, mas afinal, não era esse mesmo o nome dela?

Ergui os pés para o alto e enrolei o fio do telefone entre os dedos, enquanto a observava ciscar rente aos pés da minha amiga. Sem o pintinho.

Este acabou se transformando em uma moeda de troca, depois da Sueli — a vizinha decotada — acampar em frente a nossa porta e exigir o pagamento por ter nos ajudado com a gravação. E foi assim que ela descobriu o Alaor.

Pobre Alaor, tão novo, tão inocente e mais ferrado do que eu por ter tido a má sorte de cair nas garras da Sueli e ser levado para longe da mãe. Acabou que não sobrou nenhuma pena para contar história.

Brincadeira.

Sueli se apaixonou pelo animal, de um jeito que eu nunca imaginei —  contrariando todas as expectativas, ela tinha um coração —  e começou a levar o bicho para todos os cantos dentro da sua bolsa de camurça como se fosse um chihuahua.

O terror da dona Fátima.

— E você? Como estão as coisas?— Minha mãe estalou os lábios fazendo com que o barulho ecoasse de uma forma estranha pelo telefone. — Pensou na minha proposta?

Fiquei em silêncio.

Por incrível que pareça, ela não me deserdou ao descobrir que o meu namoro com o Marcos era fachada. Apenas ficou ali, do outro lado da vídeo chamada, me encarando com a boca escancarada e os olhos esbugalhados enquanto eu vomitava toda a verdade. E quando eu digo toda, era toda.

Contei sobre o blog, embora as páginas de fofoca já tivessem feito isso por mim. Depois, contei sobre os motivos catastróficos que me levaram a esconder do meu chefe a minha real identidade. E por fim, os sentimentos, tão confusos que 20 sessões de terapia não seriam suficientes para me fazer entendê-los. O fato é que meu coração estava quebrado. Marcos ainda não tinha dado as caras e as únicas notícias que eu tinha eram graças à Ayla que, desde a sua readmissão, passava os dias lixando as unhas e fofocando com Carmem. Mas as dúvidas surgiam todas as vezes que eu encarava o calendário e contava os dias desde a última vez que nos vimos. E aquele sentimento, aquela sensação de solidão que se fez morada em meu peito, acabou se tornando a minha única confidente.

Toda aquela ansiedade estava me corroendo por dentro.

De um lado, Ayla, a romântica incurável, me dizendo que Marcos havia se enfiado num mau humor terrível, graças a minha ausência. O olhar abatido e preocupado, como se nada mais tivesse importância.
Vocês são a heroína um do outro”, dizia ela.

Do outro, as engrenagens em minha cabeça, girando tão rápidas quanto as de um relógio:  Porque ele ainda não me procurou? Será que ele se esqueceu de mim? Será que aquele silêncio já não era uma resposta? Perguntas que martelavam a minha mente todas as noites antes de dormir, até ser vencida pelo cansaço. Um ciclo repetitivo, sem possibilidades de quebra.

Afinal, eu não queria mesmo quebrá-lo.
Podia ser um pouco masoquista escolher sofrer por alguém que talvez, em um universo paralelo, não esteja nem aí para mim. Mas o meu sofrimento era o único que naquele momento tornavam os meus sentimentos reais e as lembranças vivas.

Se eu escolhesse seguir em frente, e consequentemente desistir dele, eu estaria automaticamente apagando todos os momentos que vivemos juntos. E eu não queria isso. Não queria esquecer seu rosto. Não queria esquecer seu cheiro e seu olhar apaixonado, sempre que me beijava. Aquela implicância besta que tanto me irritava mas que sem perceber, me prendeu junto dele. Eu não estava disposta.
E foi por isso que não aceitei de cara a proposta que minha mãe me fez de me mudar pro Rio. Aliado à isso, morar novamente com ela seria uma tortura.
Escutar todas as cobranças e os comentários desnecessários disfarçados de preocupação, não faziam os meus olhos brilharem, mas as oportunidades sim, isso sim, refletiam feito um refletor de Led em minha íris. E desde que o meu nome foi parar nas redes sociais e eu recebi convites para publicar com outras editoras, —  grande parte delas em solo carioca —  percebi que não existia outra coisa que me fizesse tão feliz quanto ser escritora. Mas ao mesmo tempo que tudo era tão perfeito e parecia tão correto, eu tinha medo. Medo de dar um passo no escuro, sair do anonimato e me arriscar quando eu também sabia que eu tinha chances de ver o meu sonho se desmanchando lá na frente, em minhas próprias mãos.

— Eu não pensei muito sobre iss…

— Querida, escuta a sua mãe — Ela me interrompeu. — Eu não sou uma das melhores mães que você pode encontrar por aí, tá legal? Mas mesmo dizendo coisas e fazendo coisas que você não gosta, eu quero que você seja feliz! E no momento eu sei que você não está sendo!   

Ayla avaliou o meu silêncio com o rosto coberto pela maquiagem da noite anterior, até que um ponto de interrogação surgiu em sua face. “O que foi?”, balbuciou ela, mas eu a ignorei. Fitei um ponto qualquer esperando que a voz da minha mãe cortasse o silêncio da chamada.

— Eu gostaria muito que vocês se acertassem, não por achar que você não consegue arrumar algo melhor, não. Mas porque eu sei que você o ama. E ele também, vi o jeito que ele te olha — falou, seguida por uma pequena pausa. —  Mas às vezes tudo o que precisamos para fazer as coisas darem certo é apenas sair de cena, só pra não acabar perdendo o principal… que é o amor por nós mesmos.

Sua voz doce tocou o meu coração.
Com os lábios contraídos, tentei reorganizar a mente e analisar as opções. Eu nunca fui de tomar uma decisão precipitada, fazia questão de planejar as coisas nos mínimos detalhes e organizar o passo a passo de cada atividade. Mas um milagre aconteceu e pela primeira vez na vida vi minha mãe ter razão. Eu não estava feliz e eu precisava tomar uma decisão sem pensar nas consequências. Se eu continuasse ali, acabaria caindo em um vício de espera sem fim, torcendo para que ele aparecesse naquela porta me pedindo perdão. Mas do contrário, se eu escolhesse ir, veria todos os momentos juntos escorrendo pelo ralo e assumiria as consequências daquela desistência, à força.

Senti meu peito se dividir entre a liberdade e a ruína eterna e acabei optando pela opção que naquele momento me parecia ser a pior.

Espero que Ayla se comporte bem.

— Ok, prepara o meu quarto que vou chegar aí amanhã.

******************************


Faltavam somente duas malas.
E mais alguns degraus…pra estrangular a minha amiga.

Eu disse! Eu disse que eram somente dois meses enquanto a via arrumar a minha bagagem, aos prantos, como se eu estivesse me mudando pro Japão.

Mas ela fez questão de enfiar o meu guarda-roupa inteiro dentro daquele espaço mínimo, sob a desculpa esfarrapada de que não estaria lá para me supervisionar. “Não posso deixar você sair de casa cafona como sai aqui”, reclamou entre lágrimas. E agora cá estava eu, com 3 malas no hall de entrada do prédio, esperando o táxi chegar.

Se não fosse pela sensação de nostalgia esmurrando a minha cara, eu até que poderia brigar com ela e acabar com todo aquele chororô, mas não dava. Olhando para os seus olhinhos inchados e o rímel borrado enquanto unia a galinha ao seu colo, comecei a sentir um aperto em meu peito, daqueles que te paralisam e te impedem de fazer qualquer outra coisa.

Fala sério, eram só dois meses.
Não vai chorar feito uma manteiga derretida agora, Isabela! Cria vergonha, mulher!

Dois meses.
Dois.
Meses.

Segura, pisca o olho mais rápido que a lágrima não sai!

— AH — gritei aliviada vendo o carro amarelo estacionar rente a calçada. — O táxi chegou!

Apertei com força a alça da primeira bagagem e a empurrei contra o piso. Se não fosse pela música alta vinda do apartamento da Sueli, eu poderia jurar que aquelas rodinhas emperradas estariam fazendo a maior algazarra, mas graças à voz de Giulia Be, em “FBI”, num volume ultrassônico, o barulho era quase que imperceptível.

Um volume do qual eu não sentiria nenhuma falta. Nem do volume, nem da dona do som.

Ergui os olhos para o seu apartamento e observei a janela aberta, as cortinas balançando em resposta ao vento e a melodia entupindo a rua, como se estivéssemos em uma discoteca ao ar livre. “Abaixa esse som sua desalmada!”, gritou alguém, do outro lado do bairro.

Encarei o carro novamente e xinguei o motorista folgado que até aquele momento não tinha descido do automóvel. O porta-malas ainda estava fechado e depois de empurrar a mala com dificuldade, me aproximei da janela embaçada, seguida por Ayla e a galinha. Observei a silhueta virada de costas para mim, enquanto ele travava uma luta sem fim com o seu cinto de segurança.

— Ei! — bati a mão contra o vidro atraindo a sua atenção.

E foi então que infartei. A dor latejando em meu braço e irradiando para o meu peito, ao ver o bigode e aqueles óculos de grau jogados em minha direção.

AH NÃO, só pode ser brincadeira! Você de novo não!

— Ve ve ve ve veeeee— esbravejou o chileno, abrindo a porta e descendo do carro em um ímpeto. — ¡No tengo todo el dia!

Ele atravessou a calçada e abriu o porta-malas, com uma só mão enquanto eu o observava com uma expressão dúbia e tentava adivinhar porque raios ele estava ali.

Eu deveria estar sonhando, não é possível. Aqueles olhos arregalados em minha direção, a testa pingando suor e o rosto vermelho, só podia ser um pesadelo. O pior de todos eles. Seria muita falta de sorte se aquilo fosse real. Se no meio de um bilhão de motoristas eu tiver escolhido justamente o chileno invocadinho, que nem pertencia àquele estado!

Pensei em recusar a corrida. Pensei em fugir. Pensei em ir andando a pe até o aeroporto, afinal, 7 quilômetros não seriam nada perto da tortura que era aguentar uma viagem ao lado dele enquanto reclama do divórcio. Mas não. Tudo o que fiz foi lhe entregar a mala, no automático, procurando explicações que justificassem a sua presença.

— ¡NOOOOO! — pulei assustada, sentindo todo o meu corpo tremer. Gotas de saliva respingaram em meu braço quando vi a expressão afobada acompanhar o grito responsável por me tirar daquele devaneio.

— No cabrá — Cabra? Que cabra meu deus?  — Tres maletas no caben en el maletero. Solo puedo tomar uno.

Sorri em desespero.
Ayla se aproximou com a galinha nas mãos e parou a poucos centímetros do porta-malas esticando o pescoço para enxergar lá dentro.

— Moço, cabe sim, espreme!

Ele empinou o nariz e balançou os membros superiores em negativa enquanto Sueli, a defensora dos pobres, cacarejava sons irreconhecíveis. Xingamentos em galinhês.

— ¡Con tres maletas no! ha! viaje! — respondeu pausadamente.

Infeeeeerno.

Gostaria de pedir um minuto de silêncio para a minha paciência que havia acabado de falecer. E se naquele momento eu pudesse de fato sugerir um outro local para enfiar aquelas malditas malas, eu tenho certeza de que eu passaria a noite na cadeia. Mas não. Eu tinha decência. Eu tinha decência e me faltava a bem-aventurança. Nem mesmo nos meus melhores dias com a carreira deslanchando, eu tinha sorte, o que significava que eu estava fadada a viver o resto da minha vida conseguindo as coisas na marra. Ou talvez aquilo fizesse parte dos grandes planos que Deus tinha para a minha vida. Digo grandes porque depois desse ano, eu não esperava nada menos do que uma pequena bonificação, uma mansão e 20 milhões em minha conta bancária. Talvez seja ele me testando. Talvez esta seja a hora certa para abraçar o meu destino e agradecer o universo por tanta confusão já que lá na frente eu serei recompensada. Eu vou ser recompensada, não é? Era a pergunta que eu me fazia todas as vezes que algo saía do controle.

Relaxa Isabela.
Conta até mil.
1…2…3…4…

— Ayla! Me devolve o Alaor sua safada! — 1001…1002…1045…

Senti as pálpebras de um dos meus olhos vacilarem.

Aquela aberração do apartamento 401 desceu as escadas usando um vestido minúsculo e chinelos desbotados, provando que não existe nenhuma situação ruim que não possa piorar. Ela se aproximou de peito aberto e ignorando totalmente a minha presença e a do chileno, fincou os pés na calçada pronta para iniciar uma briga sem fim.

Tá legal, preciso de uma mansão, 20 milhões na conta e o amor da minha vida neste momento, Deus!

— Eu já disse que não to com ele! — gritou minha amiga, jogando os cabelos para trás e apertando a galinha entre os braços. — Já olhou naquele chiqueiro que é a sua bolsa? Aposto que ele se perdeu lá dentro!

Sueli bufou, batendo um dos pés contra o chão e eu fiquei ali, parada e sem reação enquanto observava a discussão. Afinal de contas, o que eu poderia fazer? Faltavam poucos minutos para o avião decolar. Eu já deveria estar há muito tempo sentada na poltrona 23 da classe econômica, tomando água com gás como se fosse champagne e fazendo boomerangs do céu para o instagram. Mas não, eu estava petrificada, atônita, sem forças para sair do lugar. 

— Você não me engana sua bandida! — Ela dividiu sua atenção entre mim e Ayla e depois encarou o motorista. — O que tem nas malas? — perguntou, arqueando uma das sobrancelhas enquanto assumia uma postura cautelosa, desconfiada.

Ayla gargalhou, tão alto, que fez uma penca de pássaros, abandonarem o esconderijo e saírem voando de dentro da quaresmeira plantada no meio da calçada. 

— O senso que Deus esqueceu de te dar assim que você nasceu!

Dios mío”, exclamou o chileno, com os olhos arregalados e a boca escancarada.

— Fica quieta Sueli! — completou ela, para a galinha que não parava de remexer em seu colo.

— Eu vou te dar três segundos pra você me devolver o Alaor! — resmungou a vizinha. — UM…

Ayla sorriu. Um sorriso indecente e ao mesmo tempo irônico, de quem não estava nem aí para as provocações.

— DOIS…

Sueli ergueu a mão, só para mostrar os dedos enquanto sua voz emitia aquele tom de “ seu tempo está acabando, sua idiota

— TRÊS!

Uma movimentação incomum me fez desviar o olhar. Sueli, a galinha, pulou do colo de Ayla e correu para o meio da rua, atraindo toda a nossa atenção. Senti meu coração acelerar quando vislumbrei, do outro lado da rodovia, um carro preto se aproximando em alta velocidade. E então tudo aconteceu tão rápido, que os momentos a seguir acabaram se tornando um grande borrão. Em questão de segundos, as rodas robustas ficaram próximas demais, a poucos centímetros de distância da galinha.

Não dava tempo para frear e ele estava prestes a matá-la.

— NÃAAAAAAAAO! — gritou Ayla.

Desviando da ave, o carro acabou perdendo o controle e veio com tudo em nossa direção. O chileno mau humorado levou os dedos até a careca lustrosa, assustado, quando senti dois braços me puxando para trás, com tanta força, que acabei caindo de costas contra a calçada.

Um estampido forte cortou o ar no momento em que o automóvel acertou em cheio o porta-malas do taxista, liberando um som irritante, típico de um carro que havia acabado de ser roubado.

Afastei a fumaça esbranquiçada com as mãos, sentindo os primeiros sinais de dor afetarem os meus quadris e observei a galinha parada no mesmo lugar, piscando os olhos para mim.

— Có — disse ela. E então ela se moveu, tranquila e feliz, em pequenos saltos até alcançar a beira da calçada. 

—  ¡NOOOOO! — gritou o chileno, dando a volta pela lateral e encarando o estrago. —  ¡MI CARRO, INFELIZ, MIRA LO QUE LE HICISTE A MI CARRO!

E então a porta se abriu, provocando ainda mais confusão. Talvez fosse o choque do quase acidente que me fez ficar entorpecida, sem reação e abobalhada,  mas ver o meu chefe saindo de dentro do automóvel abalou tanto as minhas estruturas, que eu mal tive tempo de me reorganizar. Marcos ergueu os óculos escuros até o topo da cabeça e se aproximou, preocupado.

— Estão todos bem? — perguntou, embora os seus olhos estivessem sob o meu rosto.

E aquilo foi o suficiente para que um frio subisse por toda a minha espinha e arrepiasse cada parte do meu corpo.
Porque raios ele tinha que ter tanto controle sobre mim?

— ¡NO! No estoy bien. ¡Has destrozado mi coche!

Ele abaixou o olhar para o homem e sorriu  frente às palavras bagunçadas que saiam de sua boca, uma atropelando a outra.

— Podemos conversar? — perguntou ele, baixinho, voltando os olhos para mim.

Prendi a respiração e endireitei os ombros, sentindo o medo e o orgulho me atingir. Não era possível que depois de um email muito bem escrito, Marcos Tavieira, em toda a sua pose de badboy, gastou tempo e gasolina — que não estava nem um pouquinho barata —  só para vir até aqui para me convencer a dar moral para o Nelson. Não é possível, que depois de tantos dias sem nem ao menos me procurar e de quase assassinar a minha galinha, ele ainda pense que eu aceitaria a proposta de readmissão e voltaria para a empresa.

— Depende, se veio aqui me pedir pra voltar pra editora, pode ir tirando o seu cavalinho da chuva porque eu não v…

— Vim porque estou procurando a dona de um objeto — Me interrompeu, os olhos fixos nos meus, tensos e nublados, como se estivesse com medo. Uni as sobrancelhas sem entender quando o vi dar a volta no carro e retirar algo de lá de dentro com uma das mãos. — E acho que você pode me ajudar a encontrá-la.

— Ohhhh — Exclamou o taxista, esticando o pescoço para enxergar melhor. — ¡Tiene un zapato! — Um muxoxo altivo e irônico ecoou pelos seus lábios enquanto unia as mãos, surpreso. — Ahora aparece con un zapato pero no me quiere pagar el daño.

— Shhhh, silêncio homem! — reclamou Ayla.

Olhei de relance para ela e Sueli e encarei Marcos se aproximando novamente, dessa vez com o salto rosa nas mãos. O mesmo que eu havia perdido durante a bienal.

— A questão é que a dona desse sapatinho também é a dona do meu coração. Mas eu acho que ela não sabe disso, já que fui um imbecil e a mandei ir embora…indiretamente — confessou, fechando os olhos como se estivesse com dor. — Infinitas vezes. E agora eu estou aqui, um louco apaixonado, correndo atrás dela — Um sorriso desacreditado brincou em seus lábios quando ele me encarou, tão profundamente, que parecia enxergar através da minha alma.— E eu faria isso quantas vezes fosse necessário porque a única certeza que eu tenho é que eu passaria uma vida inteira esperando pelo o seu perdão.

Ele se ajoelhou e retirou a minha sandália, delicadamente, sem desviar os olhos dos meus um minuto sequer.

— E mesmo sabendo que eu não a mereço e que não a dei nenhum motivo para me perdoar, se algum dia ela decidir me dar a redenção… — Seus dedos acariciaram o dorso dos meus pés antes de encaixar o sapato, de onde nunca deveria ter saído. — Quero que ela saiba que tal atitude me faria o homem mais feliz do mundo.

Meu coração parou. Na verdade, todo o meu corpo entrou em colapso e eu fiquei ali, paralisada, com medo de dizer qualquer coisa que fosse estragar o momento e tudo o que eu estava sentindo.

Minha pele ardia em chamas. Aqueles olhos intensos voltados em minha direção como se pudessem me consumir e todas aquelas palavras acionadas no modo replay em minha mente. Se era um sonho, eu não queria acordar. E se por algum motivo, eu tivesse que acordar, que então fosse ao seu lado.

— Onde você o encontrou? — perguntei. 

— Vi quando você o perdeu — Ele se levantou, apreensivo, aquele rosto perfeitamente desenhado para mim, feito um anjo. Marcos enfiou as mãos nos bolsos da calça, envergonhado. — Por favor, me desculpe. Por tudo. Por ter demorado tanto tempo pra perceber que você é o bem mais precioso que eu tenho. Por ter sido um imbecil durante todos esses anos. Por todas as vezes que te deixei ir… — Ele afastou uma mecha do meu cabelo e fitou a base do meu pescoço, unindo as sobrancelhas. — Sem perceber que você era tudo o que eu precisava. Céus, eu amo você Isabela, com todas as letras, de todas as formas que alguém já imaginou um dia conjugar esse verbo. Por favor, me diga que não cheguei tarde demais.

— Não — falei atônita, sob os efeitos de cada palavra que saiu de sua boca. — Na verdade você chegou bem na hora— sorri.

Permaneci imóvel, sentindo aquela estranha energia me jogando, cada vez mais para ele. Uma energia que não dava mais para ignorar. Nunca imaginei viver um sentimento tão intenso como aquele, a ponto de me fazer cometer loucuras, como se eu não tivesse controle sobre mim mesma. Eu queria um amor calmo, que não me fizesse perder noites de sono tentando entender. Um amor que não me tirasse do sério e que não me fizesse querer matar alguém. Mas eu tenho que admitir: o oposto era muito, mas muito melhor. E só era bom porque era com ele. Porque com ele eu tinha muito mais do que um dia eu já pude desejar.

Senti meu corpo estremecer quando ele tocou minhas mãos  me puxando delicadamente para si. A música ainda tocava no apartamento 401, em um novo ritmo, marcando o início de uma nova estação, quando ele uniu nossas testas, me embriagando em seu perfume amadeirado. Nossas respirações descompassadas se misturaram, tornando uma só quando senti seu hálito quente irromper contra os meus lábios, tão ansiosos por um beijo quanto os dele.

— Me desculpe pela galinha. Fiquei maluco quando soube que eu iria te perder.

Gargalhei.

— Nem que você quisesse — lancei meus braços ao redor de seu pescoço puxando-o para mais perto, segundos antes de unir as nossas bocas. —  Só existe pra sempre, se for com você.

Marcos grudou a boca na minha, apagando tudo à nossa volta e tornando viva cada parte do meu corpo. Éramos somente eu e ele em um universo particular enquanto lá fora, o mundo inteiro voltou a romper em ruídos que não faziam mais sentido para mim. Eu não queria soltá-lo nunca mais. E naquele momento senti todos os meus medos se esvaindo para fora do meu corpo, como se eu soubesse que de alguma forma, as coisas tinham entrado nos eixos.

Observei a nossa playlist mudar para o que parecia ser 2002 de Anne-Marie e agradeci Sueli mentalmente pelo gosto musical daquele dia, embora a concubina estivesse muito ocupada, em busca de Alaor. Seus gritos agudos contra Ayla ecoaram pela rua novamente, mas eu não me importei. A troca de farpas aumentou ainda mais quando Ayla esbravejou a confissão pra lá de mentirosa "dei ele pra dona Fátima" enquanto o taxista, imerso em delírios,  andava em círculos ao redor do carro só pra analisar a lataria.

Diminuí o ritmo do beijo e sorri contra a boca de Marcos. "Todo muy bonito, pero ¿y mi coche?", perguntou o homem, ecoando a voz grossa e cutucando o ombro dele, em meio a discussão acalorada das meninas, um verdadeiro caos, digno de um romance.
Um romance que nem bebendo 35 doses de tequila eu seria capaz de inventar.

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