Chào các bạn! Vì nhiều lý do từ nay Truyen2U chính thức đổi tên là Truyen247.Pro. Mong các bạn tiếp tục ủng hộ truy cập tên miền mới này nhé! Mãi yêu... ♥

Dose número 1


Segundo minha mãe, uma mulher deveria ter 7 fases em sua vida: Ela nasce, cresce, se forma, vai para a faculdade, arruma um namorado gato, um emprego dos sonhos e forma uma família. Eu queria muito que a minha vida tivesse saído conforme o planejado, mas parece que fiz tanto esforço para nascer que decidi que não queria mais e desisti dos passos seguintes.

Nasci dentro de um táxi, no meio de um engarrafamento no centro de São Paulo e minha mãe me chamou de Isabel pela primeira vez, pensando em homenagear a minha avó. Uma linda atitude, se o cartório não tivesse trocado os nomes e me registrado como Isabela. Tenho 26 anos de pura gostosura, formosura, tenho belos olhos castanhos e um sorriso encantador.
Quanto ao resto, não tem muito o que falar.

Sou formada em letras, escritora de um blog e provisoriamente, contra a minha vontade, secretária do grande Marcos Tavieira, editor-chefe da editora Contágio. Ou se preferir nos termos corretos: uma faz tudo. Marcos sempre fez questão de me chamar de secretária como forma de aliviar a culpa por me obrigar a desempenhar as mais diversas atividades — desnecessárias e quase nenhuma envolvendo as etapas editoriais. Nem ele sabia qual era a minha verdadeira função e apesar de estar registrada como revisora, desde que ele subiu ao poder, eu nunca mais fiz nada além de servir cafés e anotar recados. Isso nos dias bons. Nos ruins eu era como a fada madrinha dos inconsequentes.

Se a garota do marketing faltou, chame a Isabela.
Se o encanamento quebrou, chame a Isabela.
Se a polícia quiser me levar por ser um grande babaca imbecil, também chame a Isabela.

Por causa do salário minúsculo e dos delírios do meu chefe, sou obrigada a buscar em um segundo emprego tudo aquilo que o meu não é capaz de bancar.
Eu não estou reclamando, eu juro. Somos uma editora especializada em publicações literárias que são responsáveis por contagiar a população brasileira. Esse é o lema. Diariamente publicamos livros de terceiros que confiam no nosso trabalho que vai desde a revisão literária e ilustração até a publicidade dos livros. A equipe é imensa e por este motivo todos os dias reflito enquanto tomo o meu café da manhã, os motivos pelos quais eu ainda não estou trabalhando na publicação do meu primeiro livro. Esse é sem sombra de dúvidas um dos meus sonhos mais bonitos e sinceros, o único pelo qual eu mataria e que seria capaz de me fazer dar três tapas na cara do meu chefe.

Enquanto o meu tão sonhado reconhecimento não sai, eu fico aturando o mau humor do poderoso chefão esperando que ele me note.
 

 

— Isabela, eu te pago pra trabalhar ou pra fofocar?

Pulei da cadeira e ajeitei o uniforme, rezando para que aquele par de olhos azuis não estivessem bem atrás de mim. Girei os pés sob a poltrona e o encarei, segundos após ter escutado um áudio, no volume máximo, sobre os brinquedinhos eróticos da minha avó. 

— Desculpe, eu estava recrutando novos escritores...

— Com sua avó Nilceia? Ela vai escrever sobre o que? Guia prático de como apimentar a relação? — Ele arqueou uma de suas sobrancelhas e me avaliou com um olhar inquisidor.

Céus, eu odiava aquilo.

Eu congelei o meu sorriso e o observei assumir a sua expressão mais debochada, enquanto eu mentalizava pensamentos doces e felizes, só pra não chutar o balde e xingar o meu chefe.

Ok, eu queria muito dizer umas verdades na cara dele, mas eu ainda precisava daquele emprego. Por inúmeros motivos. O mais importante deles é que Marcos nunca deu importância para os infinitos originais que eu enviei para editora. Pronto, o sonho de criança de me tornar uma escritora famosa e ter um dos meus romances virando filme foi para o espaço.

E foi aí que despejei toda a minha raiva em forma de posts na internet.
Não era algo sério, na verdade, foi como uma brincadeira, uma vingança de quem não aguentava mais ter o próprio chefe azucrinando os ouvidos. Só que as coisas acabaram ficando sérias demais. Comecei a expor a minha vida. Os meus gostos, desilusões e as minhas opiniões ácidas. A dedicação foi tanta que acabei viralizando, ou melhor, a Cinderela viralizou. Mas por conta do anonimato, o sucesso nunca passou de mensagens de leitores fanáticos, cartinhas no fim do mês e manchetes de revistas especulando a sua verdadeira identidade: “Quem é a Cinderela?”, questionavam elas. Identidade essa que eu não queria revelar. E é justamente por isso que eu ainda estava naquele emprego.

Marcos se afastou e depois de entrar no coração da editora, bateu a porta da sala.

Grosso!
Respira mulher, respira.

O terceiro e último motivo era a minha mãe. Eu não queria ter que voltar a morar com ela e escutar todas as cobranças que ela me fazia pela manhã pra ser a garota perfeita: "Você precisa confiar mais em você mesma", "Você precisa emagrecer", "nuggets não resolvem os teus problemas", dizia ela. Era menos doloroso ter que me matar em dois empregos e dividir o apartamento com a minha amiga baladeira em troca de um mínimo de paz e sossego. Por isso, somente por isso, eu precisava aguentar o descaramento do meu chefe e andar na linha.

Ayla era tudo o que eu não era: linda, confiante e como o próprio nome diz, brilhava tanto quanto o luar. Fizemos o mesmo curso na mesma faculdade e nos tornamos inseparáveis assim que nos conhecemos. Sua responsabilidade era conseguir identificar novos talentos e facilitar o contato entre os escritores e a empresa.

Eu coloquei os copos de café sobre a mesa da sala de reuniões e ela me lançou duas piscadelas do outro lado.

— Ei, Armane me chamou pra sair! Não é um máximo? — eu sorri.

Ayla ficou exatamente 6 meses encanada no revisor da editora tentando convencê-lo de que ele não deveria ser tão fissurado no trabalho. Realmente foi uma empreitada gigantesca levando em conta que a cada 10 encontros na redação, em 5, ela dizia que ele deveria se distrair.

Lógico, com ela.

Mas tudo bem, esse era outro ponto que não tínhamos em comum. Odeio joguinhos, odeio desafios e minha amiga tinha paciência ao extremo pra isso. Eu nunca fui muito boa com homens e um exemplo disso é a minha lista infinita de decepções amorosas. Meu ex namorado, Bruno, estava no topo dela e desde o término colou em mim feito chiclete.

Um bubbaloo sem recheio.

— E tem alguma coisa que você não consegue? — ri de sua cara de deboche no momento em que a porta se abriu e Marcos entrou.

— Qual é a graça? Ganhamos um contrato com a J. K. Rowling e eu não estou sabendo?

— Não, nós só estávamos...

— Cadê todo mundo? — esbravejou me interrompendo. — Isabela, você não mandou email pra equipe? Pelo amor de Deus, é o seu único trabalho e nem isso você consegue fazer direito!

Eu olhei bem no fundo de seus olhos cor de mar, olhos que em algum momento já desejei pra mim e me apoiei sobre a mesa.

— Você também tem duas mãos e um computador. Se o meu serviço não está lhe agradando, faça você então!

Na verdade, isso foi o que eu queria ter dito. O auge da minha vida, toda a minha raiva expelindo para fora da minha boca como a lava de um vulcão prestes a queimar aquele corpinho sarado. Mas o que eu disse foi:

— Desculpe senhor, eu mandei os emails, não sei o que pode ter acontecido.

— Pois então descubra!

Ele me encarou com aqueles grandes olhos famintos esperando alguma reação de minha parte, e eu fiquei ali, imaginando diversas maneiras de matá-lo, tempo suficiente para que o resto da equipe chegasse e se acomodasse ao redor da mesa da sala de reuniões.

Logicamente eu não era considerada parte da equipe então eu não tinha uma cadeira.

— Bom, sei que esta reunião não estava prevista para esta semana, mas falei com o Nelson. Aparentemente estamos à beira de um colapso — Ele encarou os papéis em sua frente totalmente abatido. — Nem o marketing em cima daqueles livros foram o suficiente para gerar metade dos lucros do mês passado. Precisamos de autores que queiram investir e de livros que chamem a atenção do público, coisas extrovertidas. Temos poucas publicações que fizeram sucesso e não temos mais dinheiro para as publicações tradicionais. Se continuarmos assim, em menos de um mês estaremos todos desempregados.

— Porque não publicamos um livro de um escritor que já tenha presença no mercado? —  Armane sugeriu. — Poderíamos até construir o livro juntamente com ele e adequá-lo ao nosso tema de interesse.

Eu dei mais um passo para frente saindo do canto escuro da sala esperando ser notada. Meus olhos praticamente brilhavam em tons de rosa choque neon de tão evidente que eu estava.

Porque você não me enxerga, Marcos? Larga de ser mão de vaca!

— Não podemos investir em um escritor conhecido, acha que vamos cobrir os custos com que dinheiro?

— Foi uma sugestão, chefinho! — deu de ombros.

Eu encarei o meu chefe sugestivamente xingando-o por toda eternidade por ser um babaca imbecil. Com a sua ajuda, eu poderia morrer tranquilamente sem precisar me preocupar pois eu seria pra sempre a garota do cafezinho.

Cuidado quando eu servir o teu café, Marcos.

Eu cruzei os meus braços impaciente concentrando toda a minha raiva sobre ele e comecei a bater repetidamente o pé contra o chão. A energia foi tanta que seus olhos se voltaram para mim.

— E você? — Marcos me chamou repentinamente e eu titubeei.

Era agora ou nunca.

— Porque ta me olhando com esses olhos arregalados desde que começou a reunião? Está passando mal? — perguntou irônico.

— Na verdade eu queria sugerir...

— Ela queria sugerir Marcos, uma escritora que ela conhece e que aceitaria publicar conosco mesmo ganhando pouco — Ayla me interrompeu. — Tenho certeza que ela não se importaria se a porcentagem dos royalties fosse pequena...a princípio. E se vocês toparem, tenho certeza que ela cobre metade dos custos.

Eu a encarei com o meu olhar inquisidor e ela me lançou outro no estilo "deixa comigo".

— Eu já ia te mostrar um dos textos dela. Ela é incrível, parece que fala com a gente — Ayla se esticou sobre a mesa e entregou para ele um dos meus contos. — Ela escreve romances, tem um blog…e tem um público muito bom, você já deve ter ouvido falar dela. Eu tenho certeza que se dermos uma oportunidade, ela vai trazer mais lucros do que gastos para a editora.

Ótimo!
A vergonha agora será nacional.

Marcos uniu as sobrancelhas enquanto lia, concentrado demais para que alguém o interrompesse. Minhas pernas tremiam, minhas mãos estavam suadas e eu já me considerava na fila dos desempregados.
Eu não sabia ao certo qual era o plano maléfico que Ayla criou em sua cabeça, mas eu sabia que a ansiedade era tanto minha quanto dela. Ela remexeu o corpo desconfortável na cadeira e depois fixou o olhar contra um ponto específico da parede, evitando observar, por curiosidade, qualquer reação que o seu chefe pudesse ter. Obviamente, qualquer esperança de sucesso que eu tinha foi por água abaixo quando me lembrei de que Marcos me odiava. Não tinha como dar certo e assim que Ayla lhe dissesse o meu nome, eu seria a opção descartada.

Ao terminar de ler, ele jogou a folha com desdenho sobre a mesa mantendo a mesma expressão de antes.

— Quem escreveu isso?

— Então, é que ela é bem reservada e...

— Eu quero o nome Ayla! — Ele a encarou.

— Agora!

Ayla cruzou as pernas e fitou o copo de café, enquanto colocava o seu cérebro criativo para pensar.

— Cinderela! — falou por fim.

— Como é que é? — Dei um pulo deixando meu grito de desaprovação.

Todos os olhares da sala se voltaram para mim.

Ok, meu chefe era um ogro e provavelmente nunca iria aceitar publicar algo meu, mas custava dar o meu nome? Custava mostrar que eu sou boa o bastante para aquela editora? Custava?

Marcos, depois de me lançar um olhar frio, passou seus olhos de mim para Ayla e sorriu sarcástico.

— É uma ótima pergunta. Pode nos explicar, Ayla?

— É um pseudônimo, ela não gosta de se revelar. Mas tá fazendo um sucesso danado e sei que ela está à procura de uma editora.

— Cara, eu me amarro nos textos dela! — Armane falou, com os olhos vidrados em Ayla, o que fez os meus lábios se curvarem para cima automaticamente. Ele encarou Marcos, surpreso, antes de tomar um gole do seu café. — A garota é fera! Não acredito que você nunca ouviu falar dela!

Ele bufou.

— Não posso publicar alguém que não conheço!

— Ela é minha prima e se quiser, você pode dar uma olhada nos outros textos dela — Ayla voltou a falar com a voz mais confiante que já ouvi. — Você pelo menos gostou?

Engoli em seco. Não estava preparada para críticas.

— Tem alguns erros ortográficos e nem é o que publicamos, mas...

— Maas… — interrompi.

Ele me encarou novamente com aqueles olhos de "eu sei o seu segredo".

— A forma com que ela escreve, é diferente. Tem um pouco de comédia e as analogias são muito boas. Se os originais também forem assim, acho que pode dar certo.

Suspirei aliviada.

— Então, posso dizer a ela? — perguntou Ayla. — Podemos nos comunicar exclusivamente por email...

— Ainda não estou de acordo com todo esse mistério, mas é a única esperança que temos. Vamos ver como se comportam as vendas. Ayla, quero que ela me mande algum manuscrito, um que aborde assuntos que sejam tendência no mercado e...

— Não acha muito arriscado investir tempo e dinheiro em alguém que nem sabemos se trará lucro? —  interrompeu Carmem, fanática em sempre atrapalhar meus planos. — Precisamos vender muito pra sair do vermelho. Estamos com problemas financeiros, se formos gastar, que seja com alguém que realmente vale a pena…

Inspirei profundamente e esperei o olhar ansioso de Ayla se voltar para mim.
Até quando eu ganho, eu perco!

— Porque não fazemos um teste, então? — Sheila arriscou. —  Um post! Sei que ainda precisamos avaliar o original, mas já que ela possui familiaridade com esse gênero e tem um público interessante, poderíamos fazer um teste. Podíamos publicar um post nas redes sociais da editora e associar o nome dela ao nosso, sem compromisso. Se os leitores gostarem e ficarem animados com a parceria, é porque a garota possui potencial e vai nos gerar lucros! — Marcos avaliou a ideia pela primeira vez interessado. —  Hoje em dia temos um grande apelo sobre assuntos de autoestima e amor próprio. Se ela realmente sabe se conectar com o público, acho que um post a respeito do tema pode ser uma boa opção. Sem contar o engajamento que isso vai gerar!

—  Ótima ideia! — concordou.

Eu não achei não! Se tinha um motivo pra minha vida amorosa ser uma droga era porque eu não tinha amor próprio. Como é que eu vou escrever sobre isso?

— Bom, então é isso — Marcos encarou Ayla com aquele jeito debochado de sempre antes de me provocar um infarto.

— Avise sua prima e diga que quero o texto no meu email amanhã. Agradeço a presença de vocês e voltem ao trabalho se não quiserem ficar desempregados!

AMANHÃ.
Ele se levantou da cadeira seguido pelo resto da equipe até sobrar eu e Ayla na sala de reuniões.
AMANHÃ.

— Você ficou maluca? Porque não deu o meu nome? — reclamei. — E como é que eu vou escrever sobre esse tema em menos de um dia?

— E perder a chance de ver você virar uma escritora famosa? Nem pensar, você dá um jeito chuchu, confio no seu potencial — Ela me lançou um beijo no ar antes de sair.
Que maravilha! Realizei meu sonho e a julgar pela minha experiência com o amor, eu serei um anticoncepcional ambulante: Bom pro governo, péssimo pra minha carreira.


Olá meus amores, como vocês estão? Trazendo aqui pra vocês mais um capítulo dessa história. Não se esqueçam de comentar e votar 😘😘😘

Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro