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(Shape of you) Capítulo III - Aprendendo a lutar

Capítulo III — Aprendendo a lutar

Escrito por Gerson Arruda


Dois anos se passaram desde que fui abandonado naquele hotel, nunca mais vi Letícia nem soube nada a seu respeito. Naquele momento eu fechava a porta da loja , ao mesmo tempo em que falava ao telefone, estava usando um terno preto com gravata, muito atrasado.

— Estou saindo daqui agora, vou encontrá-lo em vinte minutos, não tenho hora para chegar em casa.

— Tudo bem, vou deixar a janta na geladeira. – A voz feminina soava gentil.
Desliguei o telefone e girei a chave no trinco, entrei no meu carro estacionado em frente e pisei fundo, tinha uma reunião.

Como previsto não consegui completar o percurso a tempo e me atrasei, mas quando o encontrei parado na calçada, não me pareceu irritado ou coisa do tipo. Cumprimentei com um aperto de mão e entramos os dois, era um salão comercial grande, uma placa enorme estava em branco na fachada, que tinha também grandes vitrines.

Lá dentro estava tudo vazio, apenas uma mesa redonda com duas cadeiras no centro do salão, o cheiro de tinta fresca exalava das paredes. O homem já de meia-idade sentou, convidou-me a sentar-se em sua frente enquanto tirava uma papelada de dentro de uma maleta. Entregou um amontoado de folhas pra mim enquanto tomava sua xícara de café. Passei o olho de forma rápida por todas aquelas letras amontoadas, estava ansioso demais para prestar atenção nessas burocracias.

— Se importa se eu der mais uma olhada? – Perguntei.

— Fique a vontade, os reparos já foram finalizados.
Levantei e fiquei girando pelo salão observando cada detalhe, desde o piso novo branquinho, até a finalização em gesso do teto. Uma pequena porta ao fundo separava a cozinha, menor que o salão, mas tão igualmente nova, com azulejos decorados por pinturas de comidas. Voltei e do outro lado havia mais uma porta, abri e chequei o banheiro com duas cabines, não era muito grande, mas totalmente útil e confortável.

— Aquele desconto, o senhor conseguiu? – Voltei a me sentar.

— Bom, eu mexi uns pausinhos e consegui diminuir mais do que combinamos. – Tirou um pedaço de papel do bolso e colocou na minha frente sobre a mesa.

— Olha, o preço ficou muito melhor pra mim!

— Então vamos fechar?

— Com certeza.

Assinei várias cópias de um mesmo contrato antes de sairmos, o homem trancou o local e me acompanhou até o carro, entrei e ele ficou na janela.

— Deixo as chaves na sua casa na terça-feira. – Era sábado. – Até mais!

Esperei até que se afastasse e saí com o carro, era começo de noite, o trânsito estava pesado pelo fim de turno, mas nada conseguia me chatear naquele momento.
Cheguei em casa, a mesma de dois anos atrás, passou por algumas reformas e agora parecia muito mais bonita do que antes. Os móveis também foram todos trocados, a maioria estava totalmente novo, minha coleção de livros aumentou consideravelmente. Tirei um prato da geladeira e coloquei-o no micro-ondas tomando cuidado pra não fazer muito barulho, liguei a TV enquanto a comida esquentava.
Depois da janta fui para o quarto, estava escuro, tirei os sapatos antes de entrar para não causar ruídos. Peguei um pijama de dentro do armário e me troquei, depois deitei do meu lado da cama e puxei parte do cobertor pra cima do meu corpo.
Durante os dois dias seguintes, domingo e segunda, visitei algumas lojas em busca dos móveis e utensílios para o novo prédio. Estava cuidando de todos os detalhes pessoalmente e isso envolvia escolher cada peça.
Na terça acordei bem cedo, o relógio despertou às sete da manhã, tomei um café rápido puro, depois fui para o banho e fiz questão de estar bem-arrumado. Quando a campainha tocou, já sabia do que se tratava e fui até o portão ao encontro do corretor.
— Aqui estão, todas as cinco cópias. – Estendeu a mão chacoalhando o chaveiro enquanto exibia um enorme e grato sorriso. – Boa sorte com o novo negócio.
— Muito obrigado, tenho certeza que vai dar tudo certo. – Recolhi o objeto de sua mão, era um sonho se realizando.
— A imobiliária vai dar uma festa para clientes e parceiros amanhã, leve sua esposa. – Me entregou um cartão tirado do bolso.
— Maravilha, se eu conseguir darei uma passada.

Assim que o homem se despediu, corri para dentro e peguei a chave do carro, dirigi o tempo todo rindo sozinho, liguei o rádio na metade do caminho e até arrisquei acompanhar a letra de algumas músicas conhecidas. O letreiro que antes estava em branco, tinha tomado forma agora em letras coloridas, "Ed's Coffet". Destranquei a porta e entrei, o cheiro de tinta não estava mais tão denso e a sensação era a melhor possível, o lugar era meu.

Passei o dia recebendo encomendas, cada entregador trazia uma mobília ou objeto diferente, aos poucos o salão foi ganhando vida. Enquanto os montadores cuidavam de deixar as mesas e cadeiras em pé, eu mesmo arrumava cada uma em um determinado canto, dispondo-as da maneira que mais me agradava. O dia seguinte foi da mesma forma, o tempo todo cuidando dos detalhes antes da abertura.

No final da tarde estava cansado demais para continuar trabalhando, fui pra casa pensando apenas em comer uma boa janta e dormir cedo. Não estava tão disposto para ir a uma festa, mas seria uma oportunidade para se divertir, comemorar e conhecer pessoas novas, além disso, minha noiva estava animada.

Corri pra tomar um banho e me arrumar, vesti minha melhor calça jeans, camisa social preta e sapatos pretos de couro. Coloquei meu melhor relógio e dei boas borrifadas de perfume, era uma ocasião especial e provavelmente teria muita gente requintada.

Recolhi o cartão com o endereço de cima da cômoda e as chaves do carro, a noite começava a cair. Fernanda me esperava do lado de fora, uma linda mulher de cabelos castanhos, pele bronzeada e olhos azuis. Usava um vestido creme longo, sapatos de saltos bem finos, uma bolsa de mãos combinando com a roupa e alguns apetrechos brilhantes. Assobiei para vê-la sorrir antes de entrarmos no veículo e partir.

Quando chegamos o manobrista assumiu o carro e levou-o até o estacionamento subterrâneo, enquanto isso outra pessoa conduziu-nos até o elevador. A festa era na cobertura de um prédio com vinte andares, de longe podia-se escutar a música executada pelo DJ. Garçons e garçonetes rodavam por todos os lados, carregando bandejas cheias de taças e pequenos quitutes, as mesas estavam todas lotadas de pessoas de boa aparência, muito bem vestidas.

— Desculpem, estamos lotados, se importam em dividir uma mesa? – Uma moça aproximou-se, a recepcionista.

— Tudo bem, sem problemas. – Respondi.

Somente os pertences das outras pessoas estavam na mesa, sentei do outro lado enquanto um rapaz se aproximou rapidamente e me entregou uma taça de champanhe. A todo momento chegava novas bandejas carregadas de comida e bebida, não ficava um minuto sequer sem algo líquido em minha frente, mas nada dos meus companheiros da noite.

— Por favor, peço a atenção de todos por um momento! – Um homem chamou no microfone, de cima de um pequeno palco lá na frente.

— Com licença, boa noite! – Uma voz feminina soou vinda de trás, enquanto senti a pessoa passar pelo meu lado.

A mulher puxou a cadeira do outro lado e estava pronta para sentar quando olhou pra mim. Fiquei estático por um minuto, não podia acreditar em tamanha coincidência, ou talvez golpe do destino. Ela ficou em pé, acho que não teve forças para se sentar, ou simplesmente dar as costas e sair de perto. Seu acompanhante se aproximou e sentou na cadeira ao lado, percebeu algo de errado e dividiu sua atenção entre olhar para o meu rosto, depois para o dela.

— Fique a vontade. – Foi à única coisa que consegui dizer enquanto fitava seus olhos assustados.

— Desculpa, faz tanto tempo Edgar. Como você está? – Colocou um sorriso falso no rosto e finalmente sentou.

— Vocês se conhecem? – Minha acompanhante intercedeu.

— Ah sim! Essa é Letícia... – Não consegui completar, fiz uma pausa. – E essa é minha noiva, Fernanda.

— Muito prazer! – A mulher ao meu lado se levantou e estendeu a mão para a outra.

— O prazer é todo meu! – Letícia respondeu claramente desconfortável, mas retribuindo com um aperto.

— Então, o que você faz aqui? – Perguntei tentando aliviar o clima.

— Minha empresa comprou uma grande propriedade com eles, estou aqui representando a administração. – Explicou evitando me olhar. – E vocês?

— Nós acabamos de adquirir um pequeno salão comercial, vamos expandir nosso negócio. – Eu não conseguia parar de olhá-la, parecia paralisado fitando seus olhos confusos. – É um café pequeno, mas vai crescer quando mudarmos.

— Ele está sendo modesto, se saiu muito bem em pouquíssimo tempo. – Fernanda intercedeu.

— Que legal, fico feliz por você, pelos dois.

— E você ainda viaja muito? – Insisti na conversa.

— Na verdade não, fui promovida a diretora e agora estou fixa aqui na sede. – Exibiu uma feição pouco orgulhosa.

— Nossa, meus parabéns, você tem muito talento mesmo.

— Que isso, você também fez uma evolução e tanto, é dono da própria empresa agora. – Gesticulou com as mãos, demonstrando elevação.

O homem lá na frente continuava falando, mesmo que até aquele momento nenhum de nós tivéssemos prestado atenção. O silêncio que tomou conta da mesa depois disso, permitiu que eu ouvisse o final de um discurso bem chato sobre os lucros e crescimento da imobiliária.

Prestei atenção na figura ao lado de Letícia, ela não o tinha mencionado em nenhum momento e eu estava curioso. Parecia mais velho que ela e estava totalmente concentrado na comida a sua frente, os cantos de sua boca estava sujos com um creme branco nojento.

— Desculpa, você não apresentou seu acompanhante... – Quase antes de eu terminar de falar, ela me fitou com um olhar acusador.

— Ah claro! Esse é meu irmão Thomas.

— Muito prazer! – O rapaz respondeu com um sorriso, não se mexeu mais do que isso.

Por mais que eu estivesse confortável em minha relação, acompanhado de uma mulher deslumbrante naquele exato momento, me senti extremamente aliviado em saber que o rapaz não era seu parceiro.

— O que sua empresa faz? – Minha noiva quis saber enquanto um garçom deixava qualquer coisa na mesa.

— Nós vendemos aparelhos eletrônicos destinados à educação. – Respondeu enquanto direcionou-lhe toda sua atenção. – Me desculpem, preciso ir ao banheiro.

Observei-a sair da mesa e caminhar para dentro do prédio, apressada e sem olhar para trás. Assim que ela sumiu, levantei-me e disse que ia pedir um copo d'água na cozinha, mas involuntariamente a segui. Encontrei-a encostada numa parede espelhada, olhando para um canto vazio numa expressão de sofrimento, viu quando eu me aproximei e virou o corpo para o lado.

— Qual o problema? – Perguntei.

— Problema nenhum, só não estou me sentindo bem.

— Não tente mentir, essa situação é tão estranha pra você quanto está sendo pra mim. – Segurei-a levemente pelo braço. – Mas pra mim deve ser pior, depois da vergonha que você me fez passar da última vez que nos vimos.

— A culpa foi sua! – Elevou a voz. – Você sabia da minha insegurança, mas não pensou em como eu me sentiria naquela situação, ainda mais em público!

— Desculpa se eu estava apaixonado por você e queria dar um passo maior na nossa relação! – Franzi a sobrancelha tentando não gritar.

— Não pense que pra mim foi fácil, não foi.

— Então por quê? Eu sinceramente não consigo entender.

— Eu não estava pronta, fiquei com medo. – Puxou o braço pra longe do meu alcance e assumiu uma forma melancólica. – Eu até pensei em te procurar depois, mas presumi que você nunca mais quisesse me ver.

— Sim eu tive raiva de você pelo que fez, mas eu perdoaria tudo, porque eu queria você ao meu lado.

— Mas talvez tenha sido melhor que eu não te procurei, olha só pra você, dono do próprio negócio, noivo... Uma mudança radical de vida, deixou de ser um garoto e se tornou um homem. – Seus olhos marejaram à medida que falava.

— Você está enganada. – Repreendi. – Todas as mudanças só aconteceram por sua causa, depois de tudo aquilo que você jogou na minha cara, eu só pude imaginar que elas eram os motivos pra você me abandonar. – Encostei-me nos vidros ao seu lado. – Logo que eu voltei pra São Paulo, segui seu conselho e me matriculei na faculdade, conheci Fernanda lá. Depois disso pedi demissão do emprego e abri um comércio com o dinheiro, ela me ajudou muito, já que nós dois estudamos.

— Já marcaram a data do casamento? – Ela quis saber enquanto olhava nos meus olhos.

— Não, ainda não.

— Ótimo. Quero dizer, espero que marquem logo e que sejam felizes. – Estava constrangida.

— Mas e você, não encontrou ninguém nesse tempo?

— Não, ninguém que tenha valido a pena.

Ela não conseguia me olhar diretamente, eu por outro lado não consegui tirar os olhos de seu rosto, via claramente o incômodo brilhar em sua face. Permanecemos um tempo em silêncio, antes dela se virar pra mim e se aproximar lentamente.

— Eu me arrependo sabia? – Começou. – Todos os dias eu penso o quanto fui burra em te deixar escapar naquele dia. Agora mais ainda, vendo o homem maduro e decidido que você se tornou.

Continuou vindo ao meu encontro bem devagar, até colar seu corpo no meu, estava com um vestido branco bem colado, tinha um decote que deixava seus seios bem avantajados. Senti um arrepio tomar conta de todo meu corpo quando ela encostou a palma da mão em meu peito, o coração pulsava na garganta, conseguia ouvir cada batimento. Percorreu com a mão até minha nuca, depois puxou minha cabeça e aproximou meu ouvido de sua boca.

— Eu te quero de volta. – Ao mesmo tempo que sentia desejo em possuí-la, o modo como ela veio pra cima de mim parecia tão ameaçador, mas eu realmente gostava.

Não consegui dizer nada, não podia mentir pra mim mesmo que não sentia nada e que não queria aquilo, nunca deixei de amá-la. Sim, eu tinha uma noiva linda de quem eu gostava muito, mas era apenas um "gostar", não existia paixão.

Cerrei os pulsos rentes ao corpo e deixei que ela continuasse, percorreu meu rosto com leves beijos até a boca. Senti o gosto do batom enquanto ela deslizava seus dedos por todo meu corpo, até chegar em meu cinto, desprendeu-o e tentou colocar a mão em minha calça, mas a interrompi.

— Não, não posso. – Virei e me afastei.

— Está me dizendo que não quer?

— Não foi o que eu disse, mas é errado, Fernanda não merece isso.

— Você não a ama... – Veio novamente ao meu encontro e tentou desabotoar minha camisa.

— Ela é uma boa mulher. – Segurei seu braço impedindo-a. – Vou voltar pra mesa.

Deixei-a sozinha e caminhei em direção ao banheiro, molhei as mãos e limpei qualquer resquício de batom em meus lábios. Por um minuto ou dois fiquei parado apoiado na pia me encarando no espelho, estava pirando, sequei as mãos e voltei para minha mesa.
Letícia e Fernanda conversavam sobre algo quando eu cheguei, não pude perceber do que se tratava. Não participei muito das conversas no resto da noite, mas os três falaram sobre roupas, comida e dinheiro, enquanto eu não conseguia tirar os lábios dela da minha cabeça.

De vez em quando ela me olhava timidamente, mas virava rápido o rosto e aquilo aguçava meus desejos, tinha vontade de rasgar suas roupas e jogá-la na cama. Logo depois eu olhava pro lado e via minha consciência pesar, Fernanda estava me ajudando há tanto tempo. Sentia-me sufocado, como se meus companheiros sugassem todo o ar e me deixassem sem nada, precisava ir pra longe dali.

— Com licença, vou procurar meu corretor. – Informei enquanto me afastei da mesa, senti o olhar pesado de Letícia me acompanhar.

Fui pra um dos cantos da cobertura perto das caixas de som, ninguém estava ali, fiquei longe de qualquer curioso. Sentia raiva, estava consumido pelo ódio de ter sentimentos tão confusos, soquei a parede e deixei os dedos vermelhos. Permiti que uma ou duas lágrimas escorressem pelas minhas bochechas, mas as sequei rapidamente pra que ninguém notasse. Respirei fundo algumas vezes, uma tentativa falha de retomar a razão.

Apoiei-me sobre os dois braços na beirada do prédio, tudo o que me separava de uma queda gigantesca era um muro baixo, da altura de minha cintura. Fiquei um tempo ali sentindo a brisa soprar em meu rosto, pesando tudo o que minha vida tinha se tornado e por quem. Todas as mudanças pelas quais eu corri atrás foram motivadas por ela, quando abriu meus olhos no dia em que me deixou. Matricular-me na faculdade, pedir demissão do meu antigo emprego, isso tudo só aconteceu numa tentativa frustrada de tentar mudar o que ela pensava sobre mim, mesmo que eu não mais a tivesse ao meu lado.

Minha noiva era mais uma necessidade do que um desejo, nossa relação resumia-se em dividir um lar, um carro e outros bens. Não éramos apaixonados um pelo outro, estávamos apenas preenchendo o vazio que o outro sentia. Não existia felicidade, satisfação ou prazer em sermos um casal, então porque estávamos juntos?

— Querida, me convidaram para uma bebida no bar, o diretor da imobiliária que comemorar o sucesso da empresa. Tudo bem se você voltar sozinha? – Menti quando retornei a mesa, mordi os lábios e encarei Letícia a minha frente.

— Não, tudo bem.

— Ótimo, a chave está aqui. Não sei que horas voltarei. – Entreguei-à chave do carro e beijei seu rosto.

A noite estava fria, o vento gelado soprava contra meu corpo enquanto eu caminhava com o paletó aberto pelas ruas. Cheguei ao Kisser, não estava tão cheio, nenhum rosto conhecido, tinha deixado de frequentá-lo há bastante tempo.

Pedi uma cerveja e sentei na mesma mesa que costumava ficar antigamente, num canto bem ao fundo do salão, afastado dos grupos de pessoas. Entre um gole e outro, olhava para a porta a espera de um movimento, de avistar quem eu desejava e correr ao seu encontro. Estava ansioso demais e não me dei conta do tempo, quando percebi, já tinha três garrafas vazias na mesa.

Depois de um tempo parei de prestar atenção na porta cada vez que ela abria, mas em determinado momento, deixei-me olhar pelo canto dos olhos. Lá estava ela, Letícia parou na entrada e me chamou com um aceno de cabeça. Passei pelo balcão, deixei dinheiro suficiente para pegar meu consumo e uma boa gorjeta, depois a segui para fora.

Entramos os dois no carro, não fui capaz de esperar e agarrei-a pela nuca e toquei seus lábios de forma desesperada. Ela me afastou e deu partida, não tirava a atenção do trânsito, mas permitia-se um sorriso quando eu beijava seu pescoço e lhe fazia arrepiar. Paramos num hotel, passamos rapidamente pela recepção para cuidar da burocracia e entramos no elevador, sozinhos. Apalpei seus seios enquanto beijava seu pescoço a ponto de provocar marcas vermelhas, ela de olhos fechados delirava e me agarrava numa tentativa de não me deixar escapar.

Quando as portas se abriram, agarrei-a e puxei pelo corredor, cambaleamos entrelaçados até a porta enumerada, quase não consegui destrancá-la acalorado pelo tesão, mas entramos. Tirei a camisa enquanto ela se despia do vestido e pulava na cama somente de "lingerie", subi em cima de seu corpo e a dominei, passamos horas ali.

— Já é tarde, preciso ir embora.

— O que nós faremos agora? – Ela quis saber.

— Eu não sei, estou perdido.

— Eu te amo, não quero te perder novamente. – Olhou em meus olhos. – Em dois anos eu não achei ninguém que achasse valer tanto quanto você.

— Mas as coisas mudaram pra mim, eu tenho a Fernanda, que nem merecia o que eu acabei de fazer.

— E vai se permitir viver infeliz com ela?

— E o que você espera de mim? Que sejamos amantes? – Afastei seu corpo de cima do meu e levantei para me vestir. – Ou você está pronta pra assumir um relacionamento?

— Eu não posso pedir pra que você desista de tudo por mim, mas se isso acontecer, eu estarei esperando por você.

— Anota seu telefone aqui. – Entreguei-lhe meu celular enquanto abotoei a camisa.
Cheguei em casa depois da meia-noite, as luzes estavam todas apagadas e Fernanda já estava dormindo. Vesti o pijama em silêncio e deitei ao seu lado, minha cabeça doía e um turbilhão de pensamentos me ocorria, não conseguia deixar de pensar no quão canalha eu estava sendo.

Quando percebeu minha chegada, ela me abraçou e dormiu sobre meus braços, devo ter ficado pelo menos uma hora acordado, mas acabei adormecendo.

Na manhã seguinte acordei com a luz do sol entrando pela janela aberta, estava sozinho na cama, mas sentia o cheiro de fritura vindo da cozinha. Tomei um banho rápido e escovei os dentes, depois me arrumei pra sair e fui até a cozinha.

— Bom dia querido! Quer um sanduíche?

— Bom dia. Não to com vontade de comer, só vou tomar o café.

— Tudo bem? – Lançou-me um olhar preocupado.

— Na verdade não, me perdoa. – Senti as lágrimas escorrerem dos olhos. – Eu estava com outra mulher ontem à noite.

— Eu... – Não conseguiu falar, desligou o fogo e soltou a espátula da mão.

— Eu sei, fui um canalha, você não merecia isso. A culpa é toda minha, fui fraco e me deixei errar. – Tentei segurar sua mão, mas se afastou secando o rosto molhado pelo choro. – A verdade é que você merece alguém melhor do que eu, não sou uma pessoa boa como você.

— Foi a Letícia não é? Eu tive um pressentimento ruim ontem quando vi vocês dois se olhando.

— Sim, nós namoramos há dois anos, mas as coisas não saíram como nós queríamos. Eu comecei a me relacionar com você, mas nunca deixei de lembrá-la.

— Vou arrumar minhas coisas e voltar pra casa da minha mãe. – Enxugou as lágrimas e tentou não se mostrar abatida.

— Não, de jeito nenhum. – Retruquei. – Pode ficar aqui quanto tempo precisar até resolver as coisas com calma, eu vou sair.

— Mas a casa é sua.

— Não se preocupe, vou pegar umas coisas.

Arrumei uma bolsa com algumas trocas de roupa e alguns pertences essenciais, depois saí em direção a loja. Meu mundo estava desmoronando, por mais que eu tivesse encontrado minha paixão de dois anos, era como se estivesse jogando pro alto algo pelo qual batalhei, não era fácil assim construir uma vida. A loja, a casa e o carro estava no meu nome, mas Fernanda tinha participação em tudo isso, sentia a culpa em abandoná-la e continuar sozinho algo que era tão dela quando meu.

Passei o dia ajeitando os detalhes do café, ainda faltavam alguns dias para a abertura, fiz algumas pausas para retomar o fôlego e fui tomado pela angústia dessa nova aventura que estava prestes a entrar. Peguei o telefone e localizei Letícia entre meus contatos, fiquei alguns segundos só olhando para a tela, antes de finalmente tomar coragem e ligar.

— Alô.

— Sou eu, Edgar. Acabei de terminar meu noivado. Vem me encontrar, por favor. – Passei o endereço.

Ela chegou apressada e bateu na porta trancada, usava um vestido preto até os joelhos, tirou os óculos de sol quando entrou, pude ver um misto de alegria e preocupação em seu olhar. Fechei as persianas que taparam a vitrine, a iluminação lá dentro diminuiu drasticamente. Pressionei-a contra uma parede e a beijei, um longo beijo que quase me fez perder o ar.

— Eu abandonei tudo por você, nunca deixei de te amar e quando te vi ontem, você reviveu isso dentro de mim. – Pressionei o dedo indicador contra seus lábios, impedindo-a de falar qualquer coisa. – Você me fez ser o que eu sou hoje, abriu meus olhos e me fez enxergar tudo o que eu estava perdendo, te devo todo meu sucesso. Agora eu preciso saber, está pronta para assumir esse amor?

— Eu nunca quis algo tanto quanto te quero pra mim.

— Então você vai ser minha namorada?

— Claro que sim, sua namorada, sua amante, sua esposa... Serei o que você quiser!
Mais dois anos se passaram, depois da separação — psicologicamente falando, já que Fernanda e eu nunca chegamos a casar — fiz questão de deixar o carro e parte das minhas economias pra ela. Enquanto nós reformamos a casa, pagamos as parcelas do automóvel e começamos a loja, ela ajudava com o salário que ganhava como estagiária.

Letícia e eu nos casamos, tenho um filho aos vinte e seis anos, acabei de terminar a faculdade e meu café tem agora uma filial. Minha esposa foi promovida ao conselho da empresa e teve um grande aumento no salário, compramos uma casa maior no centro da cidade e cada um tem seu carro. Nós temos uma superstição boba de toda quarta-feira ir até o Kisser pra beber e descontrair um pouco, um dia desses encontrei Felipe e sua esposa por lá, ele também parece ter tomado juízo.

Pra comemorar nosso primeiro ano de casamento, Letícia e eu pegamos nosso filho e estamos viajando pela Itália nesse momento. Os dois estão se divertindo demais enquanto eu tenho tirado um tempo para escrever um livro. Não sei se é tão interessante, mas ele conta a história de como em uma noite conheci a mulher perfeita que abriu meus olhos para o mundo, fez com que eu saísse da minha vida monótona e me tornasse um homem, feliz e bem-sucedido.

É impossível dizer o que o futuro nos reserva, mas tenho certeza que batalhas e vitórias virão, eu estou pronto. Tenho uma família perfeita ao meu lado, me apoiando em cada momento e eu aprendi, sei que posso lutar contra qualquer coisa e correr atrás do que eu quero. Vou enfrentar cada desafio por mim e por eles, agora não é só o meu destino em jogo.

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Siga o autor no Wattpad: GersonArruda3 GersonArruda3

(Não sei o motivo, mas o Wattpad às vezes desaparece com o nome do autor quando o marco aqui dentro do texto, se sumir, eu dediquei o capítulo a ele. Basta seguir. <3)

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Agradeço ao Gerson pelo conto inspirador! Por favor, o sigam aqui no Wattpad. Em breve ele estará lançando um livro novinho para vocês. Aretha V. Guedes.

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