(My immortal) Capítulo 1 – Sonhadora

Quando eu era criança sempre sonhava com o meu casamento. A igreja estaria toda ornamentada com flores lindas, haveria uma menininha para entrar com as alianças ao lado de seu pajem. Meu noivo usaria um fraque preto e eu um vestido branco que faria inveja a uma princesa, com cauda longa e um véu delicado.

Namorei por quatro anos antes de ter o casamento que tanto desejei. A festa foi perfeita, gastei quase todas as economias que tinha para ter a minha noite especial. Na minha tolice da juventude, no entanto, nunca planejei muito além de casar e ter filhos. Não pensei em como seria o dia seguinte, quando eu moraria sozinha com meu marido e teria que cuidar de uma casa, trabalhar e arcar com todas as responsabilidades ao lado dele. Quando não teria mais papai e mamãe para resolver os meus problemas.

Não pensei, mas consegui me virar bem no início. Samuel e eu estávamos em uma bolha mágica de recém-casados, tudo era lindo e maravilhoso. Ele ia me buscar no trabalho, me ajudava nas tarefas de casa, assistíamos televisão à noite juntos, viajávamos para lugares incríveis. Ele curtia o meu hobby de leitura, até lia alguns livros que eu indicava ou ficava ouvindo quando eu me empolgava e contava uma história que estava me fascinando. Eu também me interessava pelos hobbies dele. Jogava videogame e assistia as partidas de futebol, torcendo pelo seu time favorito.

Eram dias felizes, como a glória antes da queda. No segundo ano, a quantidade de sexo começou a cair, estávamos cansados e sempre correndo para resolver as pendências do cotidiano. Eu sabia que o casamento não era como nos livros, onde tudo se tornava perfeito e os problemas se resolviam depois que o casal dizia "sim" um ao outro.

Não existia "felizes para sempre" na vida real...

Nos esforçávamos, entretanto. Não era perfeito, havia uma outra discussão, mas era nossa vida. Tentávamos fazer o melhor com o que tínhamos em mãos e acreditávamos que nosso amor seria suficiente para ultrapassar qualquer obstáculo que surgisse.

Alguns obstáculos podiam ser intransponíveis.

Decidimos que era hora de um bebê, uma criança para trazer mais cor aos nossos dias. Gerar outro ser, um que seria parte de mim e dele, um símbolo do nosso amor. Uma vida sob nossa responsabilidade, era uma ideia assustadora e encantadora ao mesmo tempo.

Encarei o espelho grande, grudado à porta do meu guarda-roupa de cor café. Levantei minha blusa, observando a barriga que ainda estava vazia, mas em breve se encheria de vida. Eu perderia o formato do meu corpo, ficaria mais redonda, meus olhos verdes ganhariam olheiras pelo pouco sono, minha pele levemente bronzeada poderia adquirir estrias e o meu cabelo de um vermelho vivo, talvez desbotasse para um tom menos vivo... Nada disso importava. Ter um filho saudável era tudo que eu queria.

– Mikaella – Samuel me chamou – Está na hora da consulta.

Suspirei. O meu marido – um moreno alto de exuberantes olhos marrons – parecia tão animado com a perspectiva de ser pai. Fazia parte do ciclo da vida, né? Deixar sua contribuição genética para a humanidade, uma marca no mundo.

Filho, um amor que transcende o tempo e o espaço.

Estava ansiosa para ter o meu.

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Beijinhos, Aretha.