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(Million Reasons) Capítulo 3 - Uma única razão


– Você não se afastou, né? – a diretora perguntou sem disfarçar a curiosidade. Eu estava tão absorta nas memórias de meses atrás que não lembrava que estava contando tudo. Descobrir os dramas adolescentes talvez fosse um passatempo para aquela mulher.

Não, eu não me afastei dele. Era impossível, estávamos na mesma sala de aula e nas obrigações com a igreja. Conversar com Pedro era algo natural para mim, como se a gente se conhecesse há anos. Uma vez, ele me mostrou onde tinha dado o primeiro beijo. Foram alguns dias antes da primeira comunhão dele e com uma garota que fazia o catecismo. Pedro precisou confessar ao tio antes de receber a hóstia sagrada e foi penalizado a rezar dez terços por fazer libertinagem dentro da igreja. Se aquele foi o seu maior pecado, ele era um bom garoto.

Todos os dias, eu e Pedro recolhíamos o dinheiro oferecido à igreja e íamos trocar as moedas e notas pequenas por grandes na lanchonete. A gente ficava o intervalo quase todo conversando e tomando sorvete, com o nosso dinheiro, não o da sacristia, claro. O que me encantava em relação ao Pedro eram os pequenos gestos, toques inconscientes enquanto a gente conversava que roubavam o meu fôlego.

– Isso não explica as suas faltas nas aulas de educação física... – a diretora chamou minha atenção novamente.

Os problemas em educação física começaram no mês passado. Eu era alta, logo o professor achou adequado me colocar no vôlei. A minha altura, no entanto, piorava minha falta de coordenação motora. Não adianta ser alta e não conseguir o timing certo para tocar na bola antes que ela caísse no chão. Eu era tão ruim que o professor desistiu de me deixar no vôlei e apostou no basquete. Consegui ser pior ainda.

Minha inabilidade na educação física foi a munição que a louca do banheiro precisava para mostrar o quanto eu era um ser imprestável. O bullying que sofri não foi daqueles que vemos na televisão, com crianças maiores empurrando menores ou os populares fazendo piadas do garoto nerd no meio do corredor. Não... O meu era sutil e muito eficiente. Olhares, gestos e palavras ruins sussurradas quando eu passava:

"Lá vem a maremoto, o desastre natural que termina se afogando na própria água"

"Incompetente"

"Fraca"

"Desajeitada"

"Incapaz"

"Desajeitada"

"Nunca será boa o suficiente"

Um conjunto não aleatório de letras que formaram insultos capazes de minar a estima que eu tinha. Milhões de pequenas razões que me davam vontade de desistir e fugir dali. Ir embora daquela escola para nunca mais voltar.

– Por que não foi? – a diretora questionou mais uma vez – Por que nunca falou nada para mim ou para os seus pais? Foi por causa do Pedro, ele foi sua razão para ficar?

Calada, a encarei. Ela não desviava o olhar de mim, focada em cada palavra dita. Nem mesmo a minha mãe mostrava tanto interesse em minha vida. Percebendo o meu desconforto, Sônia desviou sua atenção para a grande janela de vidro, dando as costas parcialmente para mim. A diretora parecia perdida em pensamentos quando falei:

– Por que se importa?

– Eu me importo com meus alunos, todos eles. Pelo Pedro, entretanto, tenho um carinho especial. Ajudei padre João a cuidar dele desde que era um bebezinho. Quando começou a amizade com esses garotos ricos e esnobes, achei que o nosso doce Pedro tinha ido embora. Olha lá, o que você vê? – ela apontou para um ponto do lado de fora da janela, eu me levantei para ver o que era.

Do alto de seu escritório, no segundo andar do prédio principal da escola, a diretora tinha uma visão ampla do pátio. Pude ver a lanchonete, a quadra de esportes, a entrada para os banheiros e a rampa que levava até as salas de aula do ensino médio. Os alunos conversando em grupo, alguns em pé, outros sentados em bancos. Todos esperando que seus pais viessem busca-los no colégio, muitos já tinham ido para casa. Pedro estava apoiado em uma árvore, braços cruzados e conversando com as garotas de língua felina.

– Estou vendo Pedro conversar com as rainhas do milho – falei com um certo rancor.

Não sentia ciúmes, apenas percebia a constatação de um fato: Pedro era totalmente alheio ao que acontecia comigo na escola. Assim como ele nunca notou o meu crescente interesse por ele, jamais percebeu o que aquelas meninas faziam. Ele vivia em um mundo de igreja, oferendas e picolés na lanchonete. A diretora Sônia olhou de esgueira para mim antes de falar:

– Você olha, mas não vê de verdade, Raielle. Esse é o problema dos jovens, não percebem o que é evidente e se acham injustiçados. Pensa que ninguém os notam, mas quem não nota de verdade são vocês. Todos os dias, na hora do intervalo, eu sento aqui e observo meus estudantes no pátio. Todos os dias eu vi vocês dois conversando ali na lanchonete.

– O quê? – perguntei em choque. Meio esquisito saber que tinha uma pessoa me analisando...

Ela deu de ombros:

– Já evitei muita confusão apenas observando os alunos, você e Pedro conversam diariamente. Parecem presos no mundo de vocês, um prestando atenção no outro – ela apontou para o grupo lá embaixo –, mas olhe ele agora. Braços cruzados mantendo os outros longe, uma expressão aborrecida no rosto e não está prestando atenção ao que as garotas falam, apesar de responder por educação.

– É impossível a senhora afirmar que ele não está prestando atenção.

– Ah, eu tenho certeza – ela pousou uma mão em meu ombro – ele está olhando para cá porque mesmo que não possa te ver pela janela espelhada, sabe que você está aqui. Ele poderia ter ido embora para o almoço. As aulas do dia acabaram, mas está ali, segurando saco do dízimo na mão e te esperando.

Meu Deus, ela tinha razão! Pedro não olhava para as belas garotas ao lado dele. Sua atenção estava na janela da diretoria, onde eu me encontrava... Meu coração deu um salto. Será que a diretora tinha razão? Pensei em todas as conversas, todas as vezes que nos encontramos, em como ele fez questão de ser minha dupla no serviço da igreja, em como ele veio falar comigo, mesmo que eu não lembrasse quem ele era. Talvez Pedro fosse como eu, esperando sinais de que era correspondido.

– Por quê? – encarei Sônia sem entender – Por que me chamar aqui para mostrar isso quando poderia ter me dado uma advertência ou algo do tipo?

– Porque Pedro merece ser amado e você parece ser uma boa garota.

Agradeci e saí correndo. Não iria me jogar em cima dele, mas tentaria ao máximo mostrar que eu pretendia ser mais do que uma mera amiga para Pedro. Era o final da aula quando o encontrei no pátio, ele parecia preocupado. Testa franzida em um vinco e me observava sério:

– Te deram alguma advertência?

– Mais ou menos – passei o dedo em sua testa, desfazendo a expressão aborrecida – vai ficar com rugas desse jeito. Quer ir ao cinema hoje ou dar uma volta na praia?

Ele pareceu surpreso com o pedido repentino e me mostrou o saco do dízimo:

– Pode ser, mas preciso deixar isso na igreja primeiro.

– Tá, vou pegar minha bolsa e a gente se encontra na saída – mal esperei que Pedro respondesse, fui correndo à sala de aula para recolher meu material. Peguei minha agenda e caderno, joguei na mochila com pressa. Queria sair e me encontrar com ele, ver se a diretora tinha o mínimo de razão.

No portão de saída, aguardei Pedro. Encontrei um gloss esquecido na bolsa e passei em meus lábios, tentei dar um jeito no cabelo com as pontas dos dedos, alisei a minha roupa. Esperei, esperei e esperei... Nada. Será que ele foi embora e desistiu? Me abandonou? Não! Pedro não era desse tipo de garoto. Decidida a procura-lo, fui até a capela. A cada passo que eu dava, uma sensação ruim se apoderava de meu corpo. Algo que deixava um gosto amargo em minha boca.

Apressei o passo.

Um estampido alto me assustou. O que era aquilo? Parecia o barulho de... Oh, não!

Dois rapazes que nunca vi antes saíram correndo dos fundos da igreja e ganharam a rua. Joguei a mochila no chão e corri o mais rápido que pude. A porta do escritório estava escancarada, assim como a do velho cofre enferrujado. No chão, os conhecidos tênis gastos apareciam por trás da escrivaninha do padre. Entrei no pequeno recinto com medo e não pude conter o grito diante do que encontrei.

– Rai...? – a voz tremula de Pedro foi perdida por um acesso de tosse, um filete de sangue escapou de sua boca.

Ajoelhei-me ao seu lado e segurei sua mão:

– Não fale nada, segure firme – a minha própria voz tremia, precisei de duas tentativas para conseguir sacar o celular do bolso e ligar para a diretoria. – Chame uma ambulância, o Pedro... o Pedro levou um tiro.

Continua...

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