(Life of the party) Capítulo 4

Escrito por Dafini Dresch

Bom se meu cabelo fosse vermelho era essa cor da minha pele neste momento, não sabia onde me enfiar, olhei em volta , procurando alguma coisa, não sabia ao certo o que dizer, olhei para a caixa de som no chão e toda a cena que tinha feito. Tudo porque tinha deixado meu coração machucado deixar comandar a minha vida, não dava certo, éramos quebrados, sem sustentação para ficar de pé. O garoto estala os dedos na frente de meu rosto para chamar minha atenção e vejo um sorriso estampado em seu rosto. Aquele garoto só podia ter algo não funcionando dentro da sua cabeça além dos ouvidos claro. Ele mostra a tela do celular para mim com outra mensagem:

Prazer, Shawn, você chama?

Acabo sorrindo com aquela pergunta, ignorei a falta de palavras, não tinha ideia como se criava a linguagem dentro da cabeça de alguém que não escutava. Pego meu celular no bolso da minha calça com um pouco de dificuldade e uma muleta acaba caindo, mas não perco o equilíbrio, ficar na ponta dos dedos era fácil, acabo me assustando por ter ficado de pé sem a muleta e meu outro pé. Só que antes de cair sinto algo me segurando firme no meu braço e não me deixando cair. Olho para o lado e é o Shawn sorrindo para mim novamente. Como se gosta de uma pessoa apenas por um sorriso? Simples, faça a outra se sentir uma idiota completa. Sorrio de volta para ele e digito no celular enquanto ele me da apoio. Sinto ele perto, perto demais, o seu queixo estava encostado no meu ombro. Olho para o lado e ele estava observando o que eu escrevia no celular. Sacudo de leve o ombro, não podia gritar para ele sair, não ouviria. Aquele pequeno gesto que fiz, ele compreendeu perfeitamente se distanciando, termino de digitar e mostro para ele.

Prazer, sou Larissa

Olho para ele e já me mostrava uma mensagem em seu celular.

Nunca vi morangos falar

Olho sem entender aquilo para ele e recebo novamente apenas um sorriso.

Você pelê cor vermelha parece morango

Acabo rindo com aquilo, ele tinha me feito rir duas vezes em pouco tempo, sem escutar o que eu falava, depois de alguns meses vivendo num mundo cinza que tinha breves nuances de cores quando escutava alguma música dentro daquele teatro, algo nele me despertou me fazendo rir.

Foi assim que conheci um amigo que não me ouvia, mas me entendia perfeitamente, o assunto da Hilary e a perna nunca foi tocado.

Já tinha se passado um mês e nossa rotina era ele ensaiar para uma apresentação que ele faria dali alguns meses, eu ficar assistindo. A música ele não tinha mudado, me feria, só que não destruiria o sonho dele de dançar com seu xará só porque ela me causava dor, já chegava meu sonho destruído.

Depois do ensaio sentávamos no palco e ficavamos conversando via mensagens de celular, ele se arriscou a me ensinar algumas palavras em libras que é a língua que os surdos usam. Eu ria muito quando ele me dizia que tinha feito o movimento errado, mais ainda quando o movimento que tinha feito dizia outra coisa. Ele tinha virado meus momentos de cores sem som, alegrias sem som. Apenas com seus olhos me dizendo algumas coisas e palavras ditas no celular.

A saudade, o frio que tinha instalado dentro do meu corpo estava aos poucos sendo preenchidos com sua amizade. Ele me explicou que o som ele ouvia alto daquela maneira, porque não ouvia, no entanto sentia as vibrações da música através do corpo dele. Por incrível que pareça, tínhamos a mesma forma de sentir a música através de nossos corpos e peles.

Com ele o tempo passava tão rápido que várias vezes tivemos que sair correndo pelos corredores da escola para não ficarmos trancados lá dentro ou levar alguma advertência. Comentei que já tinha levado algumas com Hilary e conhecia um pouco da sala do diretor. Ele ria e dizia que nunca tinha feito coisas erradas, sempre andava na linha, não gostava de se arriscar. Quando relembrei de Hilary e nossos momentos divertidos, de alguma forma não doeu como doía antes, algo estava acontecendo e não entendia ao certo e não queria usar o lado racional, queria apenas sentir aqueles momentos coloridos e parar de entrar naquele meu mundo cinza.

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