(Life of the party) Capítulo 1
(Life of the party) Capítulo 1
Escrito por Dafini Desch
I love it when you just don't care
Eu adoro quando você simplesmente não se importa
I love it when you dance
Eu adoro quando você dança
Like there's nobody there
Como se não houvesse ninguém
So when it gets hard, don't be afraid
Então, quando ficar difícil, não tenha medo
We don't care what them people say
Nós não nos importamos com o que as pessoas dizem
Outra vez me encontro aqui neste mesmo lugar avistando meu sonho bailar ao longe dos meus olhos e pés. Solto um suspiro ao pensar nisso, pois não tenho mais dois pés, apenas um pé e um cotoco onde antigamente existia uma perna.
Sempre que pensava nesse assunto, involuntariamente minha mão acabava indo em direção ao local onde antes existia uma perna completa e um pé que dançava lindamente. Levei um tempo para me acostumar que não existia mais nada por ali, por muito tempo acordei querendo pisar com uma perna que não existia mais, foi difícil, isso já faz mais de um ano.
Ofereceram-me uma prótese, só que ela incomodava demais e não poder sentir o chão onde eu pisava era esquisito demais, então larguei de mão da ideia de usar prótese e usava muleta apenas para me locomover.
Passei alguns meses em tratamento, pois a perda foi grande.
A perna em si foi uma consequência, no entanto o que ela levou junto me deixou com um buraco no peito. Ainda tenho pesadelos com aquela noite, não deveria ter brigado com meu pai e ter pego o carro e saído com pressa tendo a minha melhor amiga dentro dele.
Essa sim foi a perda mais cruel, pois acordei a chamando, porque estava no carro comigo e a última coisa que vi foi sua risada por estarmos "fugindo" das regras que nos prendiam, nas regras que tínhamos que seguir todos os dias, sem nunca poder vacilar. Fazíamos balé juntas desde os nossos cinco anos e o nosso primeiro contato foi não gostar uma da outra, mas quando descobrimos que gostávamos das mesmas coisas nunca mais nos distanciamos, viramos amigas, irmãs separadas antes de entrarmos nos nossos corpos, almas gêmeas. Então quando crescemos entramos para um estúdio de dança onde nos apresentavamos em grupo, solo e em dupla, sempre unidas, sempre ligadas. Entretanto, aquele acidente nos arrancou uma da outra, cortou a ligação forte que tínhamos. Depois daquela noite nunca mais veria seu sorriso e nem escutaria suas risadas.
Durante muito tempo me culpei pela sua morte, a minha perna foi algo pequeno que arrancaram de mim, comparado a perda de minha melhor amiga. Sempre ameaçava todos a minha volta que me mataria, porque não conseguia viver com aquela culpa, não conseguiria viver sem a Hilary. Até hoje não consigo trocar uma palavra decente com meu pai, depois do acidente nossa relação esfriou, não conseguia olhá-lo e ver em seus olhos que por uma discussão idiota perdi a Hilary e a vontade de dançar que me fazia respirar todos os dias. A culpa me corroía por saber que por minha culpa tinha perdido as duas coisas que amava tanto em minha vida.
Tinha pesadelos constantes ouvindo a risada da Hilary pela casa, de estar dançando sobre um palco com as duas pernas, acordava sempre chorando, chamando por ela ou descendo da cama e caindo dela por ter me apoiado em uma perna que não existia mais. Pedi para sumirem com as minhas coisas de balé do meu quarto e com as fotos da Hilary da casa, não queria ver mais nada daquilo na minha frente. Minha mãe sempre tentando me colocar pra cima, meu pai distante de mim e eu sentindo sua falta, porque era ligada demais à ele, só que por causa do acidente acabamos nos distanciando. Eu me sentindo culpada por ter brigado com ele e ter "fugido" e ele por ter brigado comigo e por tudo pelo que passei.
Passava meus dias sentada na sala, no quarto ou lendo algum livro para não viver a realidade que me encontrava. Tinha minhas sessões de fisioterapia que minha mãe me obrigava a fazer, porque precisava ter força na única perna que tinha me restado, por eu não querer usar a prótese. Não conseguia usar aquilo, me sentir bem sabendo que minha amiga não estava comigo para me apoiar e nem rir de mim, então queria me sentir uma nada para tentar amenizar o todo mal que causei.
Então, depois de quatro meses vivendo na completa escuridão, percebendo apenas que tinha trocado o dia, porque o sol sumia, entrava a noite e depois ele se erguia novamente, mas apenas isso, não conseguia sair de casa, não conseguia pensar em nada. Um homem apareceu lá em casa com um papel pardo em mãos querendo conversar comigo, achei estranho aquilo.
Levantei do sofá sem pedir ajuda, pois não queria auxílio de ninguém, nem muletas usava, queria sofrer por tudo que eu tinha causado. Sentei à mesa oferecendo uma cadeira aquele homem, ele sentou à minha frente e apoiou as duas mãos sobre o envelope pardo, minha cabeça estava confusa, fazia tempo que não conversava com as pessoas e agora tinha que escutar um homem engravatado relatar sobre o acidente?
Ele não entendia a dor que eu estava passando e falava com a maior tranquilidade possível sobre um assunto tão delicado. Entretanto minha mente começou a rodar estranhamente, parecia que a terra tinha mudado a rotação, quando o ouvi explicar que o acidente não tinha sido culpa minha, não entendi direito o que ele falava, mas percebi meu pai atrás dele com os braços cruzados ouvindo atentamente, podíamos não estar nos falando, mas ele nunca ficava muito tempo longe de mim, sempre me amparava como podia.
Quando o homem disse aquilo pude notar que algo de pesado saiu das costas de meu pai com um suspiro que ele soltou, relaxando o semblante, o deixando mais tranquilo. Essas alturas o que o homem relatava não dava mais importância, o simples mudar de fisionomia de meu pai já tinha me deixado melhor, depois de tanto tempo longe de mim, algo tinha amarrado novamente nós dois.
Ele caminhou em minha direção e sentou ao meu lado. Mesmo contra minha vontade, colocou sua mão sobre a minha perna, ou o do que havia sobrado dela.
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