(I Don't Wanna Live Forever) Capítulo Dois

James

Estou pensando se mando ou não uma mensagem para Beth. Não quero pressioná-la, mas essa distância está me matando. Depois de três anos de casados, se espera que saibamos lidar com brigas, certo? Bom, não completamente. Discussões, briguinhas bobas do dia a dia? Isso sim, aprendemos a lidar bem cedo. Mas eu nunca gritara com ela... e ela nunca desaparecera por tantas horas sem avisar.

Digito:

Beth, eu não queria te incomodar nem pressionar, mas eu não aguento mais. Me desculpa mesmo, eu...

Apago tudo antes de cometer outro erro. Preciso falar com ela pessoalmente. Vou dar até amanhã. Se nenhum de nós entrar em contato com o outro até lá, vou ligar para ela e pedir para que me encontre no nosso restaurante favorito. Precisamos fazer essa distância sumir antes que seja tarde demais.

Não posso chegar tarde demais...

***

Elizabeth

Sou acordada pelo meu celular vibrando. Uma ligação. Continuo grogue até ver o nome na tela. James <3

Saio do meu torpor de um segundo para outro, pegando o celular e atendendo.

– Alô? – minha voz está rouca, e contenho um bocejo. O quarto está escuro, deve ser de madrugada, e mesmo com vontade de bocejar, sei que não voltarei a dormir.

– Oi, Beth – ele parece estar nervoso. Mas a verdade é que não sei ao certo, pois não consigo ver seus olhos. Mas sua voz treme. – Errrr, eu devia ter ligado de manhã. Desculpe. Te acordei?

– Não tem problema. Não seria a primeira vez que você me acorda de madrugada – dou uma risadinha. Oh, como eu sinto falta dele!

– Você está sendo maliciosa comigo, Elizabeth?

– Oh, mas eu não ousaria, James!

– Aaaaah, eu sei que você ousaria sim – tenho certeza de que ele está sorrindo do outro lado da linha.

Ficamos em silêncio por alguns segundos.

– Hmm, James, eu queria pedir desculpa... eu sei que fiz merda. Duas vezes. Será que você me perdoa? – toda minha vida, sempre fui eu a pedir desculpas. Eu simplesmente não conseguia ficar brigada por muito tempo com uma pessoa. E estava brigada há tempo demais com James.

– Oh, meu amor. Eu te liguei pra pedir desculpas também... e pra te convidar pra jantar. O que acha?

– Podemos almoçar ao invés de jantar? Vai demorar muito pra ser de noite outra vez. E aí teremos toda a tarde livre para darmos uma volta a conversar.

– Hmmmm, aceito. Te vejo em algumas horas, então? Meio-dia. No Love&Food? – ele sugere. Nosso restaurante preferido.

– Sempre! Até depois!

– Até!

Desligo primeiro e me apresso para abrir o Whatsapp. Assim que encontro o contato dele, digito:

Eu fiquei a semana inteira querendo ligar ou receber uma ligação. Senti sua falta...

Também senti a sua, ele digita a resposta trinta segundos depois. A gente devia dormir. Ñ quero você com sono a tarde td depois.

E quem disse q eu vou ficar com sono???

Eu e os três anos que você cochilou de tarde depois de ficar acordada de madrugada.

Ponto pra vc. Então me deixa dormir ahaha.

Boa noite – bom dia, baby.

Mandei um emoji de beijinho para ele, e enfiei o celular embaixo do travesseiro. Fechei os olhos, tentando voltar a dormir. Mas minha mente não desligava. Oh, eu estava doida de vontade de voltar pra casa.

Uma vez eu ouvi uma música que falava sobre as pessoas quererem crescer, e quando isso acontecia, queriam voltar pro início, pois um joelho ralado doía mais que um coração partido. Sim, tem certa lógica. Mas eu sempre tive minhas dúvidas. Às vezes o mais fácil não é o melhor. Sim, claro, ser criança é tudo de bom. Não ter que lidar com problemas de verdade é ótimo. Mas a vida adulta também tem suas vantagens. Ainda mais se você tiver alguém com quem dividir tudo. Não um amigo, mas um amor. Uma paixão, uma chama. E aí você pensa que gostaria de viver para sempre para aproveitar isso.

Mas já pensou se essa chama, esse amor, vai embora? Aí você percebe que não quer de nenhuma maneira viver pra sempre. As pessoas dizem que o coração partido tem cura. Ele pode ser remendado, mas não totalmente curado, penso eu. A ausência daquela pessoa fica pra sempre, pois são apenas remendos. A cicatriz está ali.

Eu nunca acreditei nessa história de amor verdadeiro, pelo menos não até conhecer James. Ele foi – ele é – a minha chama. Minha paixão. Quem em mantem na linha e bem. As adolescentes normalmente esperam pelo príncipe encantado. Mas eu aprendi desde cedo que ele não existia. Meus pais se separaram quando eu tinha 14. Não acreditei mais no amor depois disso. Por que as pessoas se casavam se iam se separar depois, né? Só podia ser porque o amor não existia. Era uma invenção.

Justamente por não acreditar no amor, não tive minha primeira vez – aos 16 anos – com um namorado. Foi com um amigo mais velho qualquer que não negava sexo. Eu achava que se perdesse a virgindade com um amigo, não haveria decepções. Ou mágoas. Puto engano. Seis meses após essa primeira vez – sério, não foi ruim, apenas não foi especial – eu conheci o James. E tudo virou de cabeça pra baixo. Ele era... perfeito. Eu ansiava pela companhia dele, e quando ele me convidou para ir ao cinema – meeeeeses depois –, eu simplesmente pirei. De felicidade. E estava tão ansiosa quando nos encontramos que não falava coisa com coisa. Juro, eu comecei a falar sobre o tempo. Sobre a droga da chuva que caía.

Que bom que ele percebeu que eu não era assim retardada normalmente. E justamente por ter percebido meu nervosismo, ele perguntou se eu realmente queria ir ao cinema com ele. E aí minha língua solta contou tudo. O quanto eu o queria. Toda a história da atração... e antes que eu continuasse falando merda, ele me beijou. Ali mesmo, na entrada do cinema, com todo mundo olhando. E as pessoas começaram a bater palmas, e acho que foi a coisa mais romântica e fofa que aconteceu comigo.

Passei a acreditar no amor naquele dia.

***

Oii, gente! Passando aqui pra convidar vocês a darem uma olhadinha no meu livro de fantasia. Ele está sendo postado! Quem gosta do gênero tem muita chance de vir a gostar de Laços Sombrios!