(I bet you look good on the dance floor) Capítulo 2
(I bet you look good on the dance floor) Capítulo 2
Escrito por Clara Taveira
– Então, Rodolfo... Por que o nome de velho? Rodolfo é nome de gente de sessenta anos – ela comentou assim que as grades do antigo elevador se fecharam.
Abaixei a cabeça e dei uma risada, concordando com ela.
– Minha família tem uma tradição esquisita de nomes de velho. Há um lado da família apaixonado por nomes começados por "r". Mad, por exemplo, é Madeleine...
– Rogéria, eu sei, eu trabalho com ela, lembra? E isso acontece com todos na sua família?
– Sim, todos por parte de pai. Se não é o primeiro nome, é o segundo. Se não é nome com "r", é nome de velho. Temos três Robsons, dois Robertos, três Ricardos, dois Rodrigos, uma Renata, um Paulo Roberval, uma Ana Rosana, um...
– Nossa, só nome de gente velha mesmo! Roberval! Tem algum Rui, por acaso? Rui é o ultimate nome de velho!
– Tem, meu pai.
Rio levou a mão até o rosto, tentando conter uma risada, mas não conseguiu. Sua gargalhada reverberou pelos andares do prédio de minha irmã enquanto descíamos naquele elevador velho, o que foi o melhor som da noite até aquele momento.
Saímos do elevador em silêncio, mas com sorrisos no rosto, e caminhamos pelas ruas geladas da cidade em busca de um bar. Assim que encontramos um, nos sentamos em bancos de vinil próximos a uma televisão ligada em um canal de músicas qualquer.
Era um pub até que interessante, apesar de ser pequeno. Havia lâmpadas amarelas penduradas por fios longos e pretos presos no teto de madeira com vigas imensas, o que dava um ar vintage ao bar, junto de bancos de couro escuro e mesas de pátina brancas e prateadas.
No sistema de som do pub tocava uma música eletrônica que nada tinha a ver com a vibe do local, mas que era gostosinha de ouvir, ainda que eu não goste muito do gênero. Rio, aparentemente, discordava de mim, já que suspirou de alívio assim que a música acabou e outra totalmente diferente começou a tocar.
– Então, Doll... Posso te chamar de Doll? – ela perguntou, levantando os olhos do menu que tinha em mãos e sorrindo ao me ver assentindo com a cabeça – Engraçado, porque Doll tem "o" aberto, mas Rodolfo tem 'o' fechado... "Dóll" e "Rodôlfo"... Sua irmã falou muito bem de você pra mim. Me admira muito que ela, que é tão casamenteira, não tenha falado de mim pra você. Você pareceu tão surpreso ao ouvir meu nome.
Pisquei algumas vezes, ponderando se deveria ser franco ou deixar para lá. Optei pela primeira alternativa.
– Ela falou. Uma tonelada de vezes. Só não mencionou seu nome, por isso fiquei um pouco perdido. Posso perguntar uma coisa, falando nisso?
Rio abaixou o menu, suspirou e começou a dizer um discurso aparentemente repetido à exaustão:
– Sim, meu nome realmente é Rio, mas não tem a ver com o Rio de Janeiro, é Rio como na música do Duran Duran. Meus pais são apaixonados por essa música, não me pergunte o porquê, ela é medonha. Não, eu não nasci em janeiro, e sim, existem vários trocadilhos com meu nome, inclusive sobre ele ser igual à primeira pessoa do presente do verbo rir. Algo mais?
Zooey Deschanel.
É isso.
Rio se parece com a Zooey Deschanel. Só que sem o cabelo castanho, com olhos escuros e lábios mais grossos.
– Pare de me olhar desse jeito – ela pediu com o rosto sério, me deixando um pouco confuso. Nem percebi que estava olhando ela de algum jeito estranho... – E eu vou parar de te olhar assim.
– Assim como?
– Assim, ora bolas. Como eu estou te olhando agora. Toda vez que te olho assim, você fica vermelho. Quando eu olho com cara feia por causa das perguntas sobre meu nome. Eu não gosto do meu nome.
Ah, sim.
Estranhamente, não quero que ela pare de me olhar assim. Mesmo que eu fique vermelho.
Rio fica linda com a cara feia.
★
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