Capítulo 2
Escrito por Krasniak
Pedro.
Hoje, todo aquele amor que antes correu em minhas veias já não está mais tão intenso. Nosso começo foi bom, mas os dias e meses que o sucederam, nem tanto. Aquela cena na praia nunca mais se repetiu. Ela acabou. Doí e ainda arde, eu sei, mas ficarei bem. Eu sei que ficarei porque já passei por isso anteriormente. Já tive o peito prestes a explodir incontáveis vezes, e, mesmo com tudo isso, nada me preparou para as próximas. Nada colocou uma barreira de proteção em mim para impedir-me de voltar a cometer os mesmos erros que sempre me levaram ao começo do fim.
Com ela foi diferente. Nós dois estávamos frágeis. Fomos necessários para consolar um ao outro, mas não para consolar a nós mesmos. O sentimento ainda reina em meu peito, mas eu sei que logo tudo vai passar. Eu sei que essa é apenas mais uma história qualquer com um fim comum, e ela também deve pensar assim. Sei que não significa tanto para ela, porque já não significa tanto para mim.
Já não penso mais tanto em todas as coisas que têm capacidade de fazer-me voltar atrás. Sinto que a machuquei com isso. Sim, machuquei a mim mesmo também. Nenhum de nós esperava proferir tantas promessas e quebrar todas em uma sequência infinita. Ela foi meu ponto de partida, o lugar onde eu tomei fôlego para seguir em frente. Eu fui seu caos, a destruí lentamente sem tomar cuidado com as feridas que eu poderia abrir. Eu errei, eu sei. E eu já repeti esse erro tantas vezes...
Tenho lembranças, e elas não são suficientes. Elas são como cacos de vidro em meu rosto. Batendo e quebrando enquanto me puxam para baixo até só restar apenas pó. Eu a deixei partir, e, apesar de não desejar mais isso, sei que não sou bom o bastante para fazê-la voltar. Não consegui juntar todos os cacos que um dia constituíram o corpo da mulher que eu quebrei. Não consegui fazer nada.
Mas, bem, eu a quero de volta? Quero voltar à avalanche de sentimentos dissonantes que me subjugam e me induzem a estragar tudo todas as vezes? Eu sei que a resposta é não. Eu ainda estou quebrado demais para consertar outro alguém, mesmo que ela considere que eu a reergui de tal forma que a fiz enxergar o mundo novamente.
Eu não fiz isso. Eu não fiz absolutamente nada. Procurei nela uma forma de encontrar o que eu tanto precisava para seguir em frente, e, nesse caminho, acabei a ajudando a retornar ao que tanto desejara.
Em um momento ela estava ali, sorrindo para mim e dizendo frases carismáticas enquanto consolávamos um ao outro de feridas que tornavam a abrir diariamente, e, em outro, tudo o que restava era seu adeus sussurrado trazido pelo vento. A deixei ir embora sem ao menos me importar com a gravidade que isso representava. Não machuquei apenas a ela, machuquei a mim mesmo enquanto destruía tudo ao meu redor, e eu nem sequer me importo com isso. Estou cansado de importar-me com todas as minhas ações, estou cansado de medir tudo e tomar cuidado para não ferir a ninguém, e, acima disso, estou cansado de ter todo esse cuidado e ainda sim continuar devastando tudo.
Ela já me disse tantas vezes o quanto estava agradecida por eu tê-la tirado do buraco em que se encontrava e por abrir seus olhos para a realidade. Hoje me pergunto se ela se arrepende de algo. Pergunto-me se ela está ciente de que, apesar de levá-la ao topo novamente, fui a alavanca defeituosa que a fez despencar. Ela era uma pequena e quase apagada chama. Eu a acendi só para depois poder apagá-la. Lembro-me do seu olhar sobre o meu rosto quando concordamos com o nosso fim. Lembro-me da sua tentativa de me mostrar que tudo estava bem, enquanto, dentro dela, tudo balançava desgovernadamente.
Eu sinto muito, e isso é só o que tenho para dizer-lhe. Sinto muito por ter acabado com tudo enquanto ela tentou ao máximo fazer dar certo, sinto muito por ter estragado todo o progresso que nós dois tivemos enquanto estávamos juntos, sinto muito por mais coisas que posso enumerar para mim mesmo.
Já não a quero como antes já quis. Já não a anseio muito mais do que eu já ansiei por algo. Não faço ideia do que eu sentia quando a conheci e quando ela tomou importância para mim, mas agora eu simplesmente não entendo como pude passar tanto tempo sentindo todo esse amor correr pelas minhas veias me mostrando que eu estava vivendo em uma ilusão. Sim, não a quero como já a quis. Já não sou bom o bastante para ela. Nunca fui, na verdade. Só precisei mostrar a ela que comigo as coisas não caminhavam para frente, elas só ficavam estacionadas no meio do caminho.
Não estou a pedir desculpas por ter feito o que fiz. Estou pedindo por não ter feito isso antes, por tê-la feito acreditar em uma mentira que, uma hora ou outra, acabaria.
Agora já estamos distantes, e, mesmo não tendo passado tanto tempo, sinto que posso seguir em frente. Mesmo não estando completamente recuperado, tenho forças suficientes para buscar, outra vez, algo que me guie cada vez mais para onde quero chegar, algo que me faça perdoar meus erros do passado e saber lidar com os do futuro. Procuro, incansavelmente, o que Mariana tentou me mostrar, procuro apenas aceitar a mim mesmo, e, depois disso, poder voltar à vida que eu, por tantos dias, já fui eternamente agradecido. Livre de dor e de sofrimento, apenas com memórias doces povoando meus pensamentos e com meu coração livre e disposto a amar outro alguém, e, dessa vez, não um amor destrutivo ou necessitado como todos os outros, mas o amor que há tanto tempo deixei de sentir.
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O próximo capítulo está quase chegando, mas, enquanto isso, que tal conferir mais textos semelhantes? Deixo aqui o trecho do meu conto ''Sintonia das Memórias de Nós'', disponível no meu perfil! Krasniak
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