(Haunted) Capítulo 2 - Na sua porta
Ponto de vista do Hunter – Na sua porta
Três dias, setenta e duas horas e quatro mil trezentos e vinte minutos foi exatamente o tempo que levei para encontrá-la.
"Admita que a garota é boa", pensei.
Fugir de casa com uma mochila nas costas e um gato na mão não era uma tarefa muito fácil e o cuidado que teve para se esconder é impressionante. Sacou todo dinheiro que tinha ainda na cidade, vendeu a quinquilharia que chamava de carro no primeiro ferro velho que encontrou e evaporou.
Aqueles que eram inexperientes teriam muita dor de cabeça para achá-la, mas para mim que domino a arte da caça sem falsa modéstia, ninguém escapava sem deixar rastros, por menores que eles fossem.
Pego a foto no bolso da minha jaqueta estudando mais uma vez a garota que tem tirado meu sono nos últimos dias. O rosto de traços firmes e sérios a faz parecer mais velha do que realmente é, seus cabelos são tão pretos que contrastam de forma única com sua pele branca, os olhos verdes e sua boca farta me tentam de tantas formas, que os pensamentos impróprios insistem em me atormentar.
Há mais de quatro horas observo atentamente o motel que a pequena se esconde. O prédio aberto permite uma visão privilegiada de quem passa pela rua, cada parede do local possui uma cor diferente e os quartos uma pequena varanda de frente para o estacionamento.
Fácil acesso.
Desde que Heather pegou as chaves na recepção, caminhou para o primeiro andar e se trancou junto com a bola de pelos preta que ela insiste em carregar, não percebi nenhuma movimentação ou sinal de qualquer ser vivo dentro daquele lugar minúsculo, até notar a luz ser apagada e um vulto na janela tentando enxergar aquilo que nem ela mesma sabe o que é.
Ela sabia que viriam a sua procura, então fez o que poucos teriam coragem e sucesso em fazer. Se desfez de tudo que não era necessário, estranhamente levando pouquíssimas coisas e um gato, saiu com uma mochila nas costas e um pouco mais de 4 mil nos bolsos.
Maluca.
Camuflou-se com uma peruca tão natural quanto seus cabelos, mudando apenas o tom preto para o loiro, o que definitivamente me causou um estranho desgosto.
Pegou um trem até a cidade vizinha, dormindo a primeira noite em um lugar muito parecido com que se encontra agora e de forma ousada, se arriscou por mais de dois mil quilômetros pegando carona, até finalmente chegar aqui.
Rastreá-la até a estação não foi tão difícil, uma vez que esse era o meio de transporte mais rápido que alguém com bastante pressa poderia usar, o complicado era saber em que ponto ela finalmente desceu, mas nada que a quantia certa de dinheiro não resolvesse.
Após assistir a fita de segurança do trem e ver onde Heather tinha desembarcado, paguei pelo primeiro carro que consegui, peguei a estrada, até finalmente avistar uma massa de cabelos loiros perambulando com uma caixinha esquisita de transporte animal.
Te peguei, baby.
Me aproximo com cautela, tentando não assustá-la ou fazer com que ela fuja de mim, uma vez que isso seria péssimo para nós dois.
Odeio quando eles correm.
- Sua mãe não te disse que andar sozinha por aí é perigoso? - Pergunto tentando ser charmoso o suficiente, dando meu melhor e mais cínico sorriso.
Quando ela finalmente se vira noto a surpresa repentina em seu olhar, que logo é camuflada com um apertar de olhos engraçado, até que ela finalmente responde.
- Acho que perdi essa aula, mas com certeza ela me ensinou a não falar com estranhos – ela responde tão debochada quanto esperava, dando as costas e indo embora.
Segurei o riso, passei a marcha e sai dali antes que fizesse alguma besteira. Encontrei uma entrada mais a frente, no meio do mato, escondi o carro e esperei.
Minutos depois, vi outro veículo com um casal de idosos parar e oferecer carona a pequena filha do diabo. Esperei eles se afastarem o suficiente para então segui-los, até que finalmente a deixaram na calçada do Hotel.
Desde então aqui estou eu, tamborilando os dedos no volante da caminhonete velha, saboreando lentamente a vitória e ansioso pelo momento de finalmente por minhas mãos nela.
- Durma doce Heather, porque amanhã sua vida será minha.
♠♠♠
Ponto de vista da Heather – Vigiada
- Eu sei, Fluffy – estou louca.
- Miaaau.
- Já, já teremos uma carona - definitivamente muito louca.
- miaaaaau.
Que calor dos infernos essa coisa faz!
Coço minha cabeça pela milionésima vez desde que coloquei essa peruca maldita, assim que estiver bem longe, vou por fogo nesse troço e cantar aleluia.
Suor escorre pelo meu pescoço piorando a sensação terrível que usar essa coisa causa, além de sentir a necessidade tremenda de tomar um banho, já que nem Fluffy está aguentando meu odor depois de algumas horas andando nesse sol infernal.
Eca.
Ouço um carro se aproximar e fico imediatamente tensa quando uma voz grossa e muito audaciosa faz uma piadinha sobre "o que a mamãe ensinou". Poderia ser minha carona, mas foda-se, estou com fome, extremamente irritada nesse calor e Fluffy não para de miar, coitado.
Viro pronta para dar uma resposta, quando me deparo com o par de olhos azuis mais gélidos que já vi, fazendo com que me arrepie da cabeça aos pés. Seu cabelo cortado rente ao couro cabeludo dá um ar extremamente másculo, não que ele precisasse, já que tudo nesse homem grita perigo. Seu sorriso é tão lindo e tão branco que fazem meus olhos doerem, combinando em tudo com a cara de mau que ele tem.
Depois de babar equivalente a mil rios Nilo pelo babaca, enfim consigo dar a resposta que ele merece, dando as costas e continuando minha caminhada, rezando internamente para que ele siga em frente e não me faça usar a arma dentro do cós da minha calça.
Alivio bate em mim quando observo o fundo da caminhonete desaparecendo na estrada. Continuo andando até escutar o som de outro motor se aproximando, me fazendo implorar mais uma vez a Deus que não seja nenhum metido a gostosão, por mais que ele realmente seja, admito, quando uma voz doce fala comigo.
- Meu anjo você gostaria de uma carona? A cidade está a minutos daqui, mas receio que a pé você não chegue tão cedo. Concorda comigo, Fred? – a senhorinha falante mais fofa que conheci termina de falar, se bem que todas as senhorinhas de cabelos brancos para mim são fofas.
- Menina, minha Rosa sempre tem razão, entre e deixe-nos levá-la até a cidade em segurança, prometo que somos nada além de bons velhinhos. - Fred termina com um sorriso bobo, não me deixando alternativa a não ser de confiar nesses dois e esperar que eles não se revelem como vovôs do crime.
Após muitos papos e histórias divertidas, encontro mais um hotel capaz de suprir minhas necessidades e do Fluffy. Me despeço do casal incrível que conheci, com a falsa promessa de visitá-los em qualquer dia.
Pago pelo quarto, pego as chaves dispensando o carregador e subo as escadas lentamente, desejando apenas um banho gostoso e uma cama macia.
Assim que abro a porta, percebo como ele é pequeno e agradável. Uma cama de casal aparentemente confortável, com lençóis floridos e cheia de travesseiros chama minha atenção de imediato.
Ponho a casa de Fluffy no chão, abrindo à gaiola e libertando o bichinho da sua prisão. Vasculho minha mochila procurando seu sachê de comida que por hora vai saciar sua fome. Olho ao redor procurando um recipiente, até encontrar um pratinho descartável no frigobar ao lado da cama.
Jogo a mochila no chão e ando até a TV presa na parede, ligando-a em qualquer canal para escutar uma voz humana e não me sentir solitária novamente. Finalmente consigo me livrar da peruca horrível e vou direto para o banho, deixando os jatos de água fria relaxarem meus músculos até começar a tremer.
Saio do banho vestindo uma blusa qualquer e uma calcinha limpa. Apago a luz do quarto e ando até a janela observando os carros parados no estacionamento. Fico com a sensação de estar sendo vigiada, ainda que não consiga encontrar ninguém ao redor.
Deito na cama mirando o teto levemente descascado, pensando nas voltas que a vida dá e em como meu irmão conseguiu acabar com tudo que lutei para construir em cinco minutos, depois de quase cinco anos sem nos vermos.
Obrigada Lincoln, agradeço mentalmente antes de abraçar Fluffy que se deita do meu lado, pelo menos ele é o único que ainda não me abandonou na vida.
♥♥♥
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