6 - Caminho

Eu vejo sombras lá embaixo das montanhas

Não tenho medo quando a chuva não para

Pois você ilumina meu caminho, ilumina meu caminho

Você ilumina meu caminho...

Flashlight (Jessie J)

- Pai?

Laura estava recostada em um carro estacionado na calçada quando seu pai saiu de casa, passando por ela sem ao menos reconhecê-la. Ele parou imediatamente, voltando-se na direção dela em seguida. A jovem afastou-se do veículo e ficou de pé no meio da calçada, completamente voltada na direção daquele pai que sumiu no mundo quando ela era apenas um bebê de colo.

- Laurinha? - A voz de Tarcísio estava embargada. Ele demorou muito tempo para conseguir emitir aquele som.

- Mamãe estava certa, pai. - Laura desabafou. - Ela se foi e agora estou precisando de você.

O rosto de Tarcísio contorceu-se com a notícia inesperada. Laura conseguiu reconhecer a dor, porque aquele sentimento também a assaltava com frequência. Seu pai chorou, lágrimas grossas escorreram insistentemente pelo rosto másculo do homem de meia-idade. Ainda havia um pouco de Leda dentro daquele homem desgastado pelo tempo, pelas escolhas erradas e pelo arrependimento.

- Posso? - Ele abriu os braços e perguntou.

- Ah, pai... - Laura não conseguiu finalizar a frase, correndo para os braços do homem em seguida. - Eu... eu...

- Não fala nada, Laurinha. - Ele pediu baixinho enquanto a apertava dentro de um abraço protetor. - Só me perdoa, filha. Não precisa falar nada, só me perdoa.

- Eu já perdoei. - Laura fungou na camisa do pai. - Quando mamãe pediu para perdoar, meu coração respondeu na hora. Minha cabeça levou algum tempo para aceitar isso, pai.

- Errei tanto com vocês. - Tarcísio confidenciou. - Isso não muda o passado, eu sei. Isso não apaga as coisas ruins que vocês tiveram que passar por minha causa, mas se você deixar eu posso tentar cuidar de você agora.

- Quero tentar. Eu quero.

Laura estava chorando, finalmente chorando.

Desde a morte de Leda as lágrimas haviam sumido completamente. Muita raiva e decepção sobrepuseram-se dentro de Laura, mas seguir aquela lista desconexa era o que ela precisava para conseguir quebrar certas barreiras que haviam em seu coração. Pouco a pouco, menos dureza, menos indiferença, menos obstinação.

A cada tarefa realizada, Laura conhecia uma faceta diferente de si mesma. Encontrava mais força e cultivava a fé no próximo, na vida, descobria também pouco a pouco o amor. Havia tanto a aprender, tantas novidades e sensações. A jovem determinada e focada começava a absorver certas lições com as pessoas que passavam por ela diariamente.

Tarcísio e Laura precisariam de calma e paciência, havia muito a descobrir. Eles teriam um longo caminho a percorrer uma vez que decidiram resgatar um sentimento que estava enterrado há muito tempo. O pai era a única família que Laura tinha, já a filha era a única lembrança que Tarcísio teria de Leda dali por diante.

Encontraram um no outro o consolo e carinho que tanto precisavam.

Pai e filha, refazendo o caminho, descobrindo diariamente que dependiam um do outro para seguir a vida. O que mais precisavam era quebrar aquela corrente de ressentimento para poderem viver em paz, superar os obstáculos e continuar percorrendo o caminho.

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