(Fire meet gasoline) Capítulo 3 - É perigoso se apaixonar
Capítulo 3 - É perigoso se apaixonar
Escrito por Dane_Diaz
Paula
E eu me apaixonei por ele desde o dia em que eu o vi a primeira vez na imobiliária. Aquele homem com cara de menino. A barba por fazer, os olhos azuis. O jeito como ele mexia no cabelo deixando-o mais bagunçado ainda. Eu era estagiária numa das filiais. Ele foi assinar um contrato e eu o vi. Procurei por tudo para saber quem era. Fiquei louca fuçando a vida dele, querendo chegar perto. Descobrir que era casado não mudou em nada o meu desejo de tê-lo.
Achei na lista de imóveis da corretora a casa vazia ao lado da de Pedro e da mulher. Ambas eram um lixo, assim como o quarto em que eu vivia de favor na casa de uma amiga.
Aconteceu também de eu estar precisando de grana e o Saulo ser dono da rede de imobiliárias. Um velho rico e sem família que queria uma garota de vinte anos para comer. Só isso. Algo que eu podia dar em troca de certos favores.
Fiz o Saulo alugar aquela casa junto da de Pedro para mim. Usei um bom mi-mi-mi de que eu não tinha onde morar, tinha brigado com a minha amiga e assim ele poderia me ver com mais tranquilidade. Poderia usufruir do meu corpo quando quisesse.
Não deu tempo de ir lá mais de uma vez. O velho morreu de ataque cardíaco dias depois de ter me dado as chaves. Eu tive muito mais sorte do que imaginei no começo. Fiquei com uma puta grana e o Pedro caiu de primeira no meu jogo. Foi muito fácil. Fácil demais para falar a verdade. O mundo estava em meu favor.
Primeiro eu saí da imobiliária logo que coloquei as mãos em um pouco do dinheiro de Saulo para que ninguém lembrasse do meu rosto. Cuidei os horários do Pedro para que o nosso encontro "ao acaso" desse certo. Menti para ele que o dinheiro do velho era do meu pai. Sua inocência me encantava mais ainda.
Depois daquela primeira e única vez eu achei que ele acabaria se apaixonando. Mesmo que aos poucos. Mesmo que quando me visse mal falasse comigo. Esperei dias por respostas para as minhas mensagens. Ligava a cada vez que via a Cris sair de casa. Ele fugia. Eu ficava louca.
Sem saber mais como agir forjei um teste de gravidez para obrigá-lo a largar aquela vadia da mulher dele. Entrei em desespero quando ele sumiu por uma semana depois de saber do falso bebê.
A cada mensagem não vista, cada olhar não correspondido pela janela, eu surtava. Não admitia ser ignorada daquela maneira. Tampouco queria acreditar que aquele homem pela qual eu havia me apaixonado me abandonaria achando que eu estava grávida. Ele era bom. Eu tinha certeza disso.
Eu já não pensava em mais nada que não fosse alguma maneira de trazê-lo até mim. Fazia isso enquanto colocava as roupas para lavar na casa velha de Saulo. Tremi ao ouvir o toque na porta. O som foi reconhecido pelo meu coração antes mesmo que eu pudesse confirmar que era. Abri com receio, sabendo que ele não sentiu a minha falta como eu senti a dele.
Pedro apareceu com uma ideia e queria que eu a ouvisse. Tive medo que me pedisse para não ter o bebê e acabasse com todas as minhas últimas esperanças, mesmo não havendo nenhum filho.
Eu o desejava. Não pensava em mais nada além disso e a única coisa que eu conseguia enxergar como saída era matar a Cris para fazê-lo ficar comigo. Não havia me ocorrido nenhuma outra maneira que não fosse essa.
Derreti de amor ao ouvir que ele queria desaparecer comigo da face da Terra. Juntos. Só eu e ele. Pra sempre. Pensei na criança que não existia. Já sabia o que fazer quanto a isso. Depois eu inventaria que perdi o bebê. Ele seria só meu.
Quando ele sugeriu que déssemos um sumiço na Cris eu aceitei sem titubear. Nós dois compartilhávamos os pensamentos, tive certeza. Todo esse tempo ele só queria um bom motivo para me ter. Senti que era a mulher mais sortuda que existia.
***
Corro pela casa verificando se nada importante ficou para trás. Pedro me espera no carro. A noite da nossa fuga chegou. Meu coração galopa em meu peito tentando sair, querendo ficar mais perto dele. Perto do meu amor.
Dias antes eu havia parado de ver a cara daquela garota. Parei de ouvir a voz que de tão linda me irritava ao cantar na casa ao lado. Eu só conseguia sorrir, por dentro e por fora.
O homem que era pra ser meu chegou com a prova. O sangue da mulher da qual tinha tirado a vida para ficar comigo sujava suas roupas. Era real. Nosso amor era de verdade.
O dinheiro já estava separado há dias. Minhas coisas de valor já estavam prontas esperando pela nossa fuga para a Ásia. Ninguém nunca mais saberia de nós. A velha, ex-sogra de Pedro, era senil demais para perceber que filha não a visitaria mais no asilo público onde vivia.
Pedro não tem mais ninguém. A ex era a última pessoa que se importava com ele. Agora é todo meu. Dei dinheiro para que ele conseguisse documentos falsos. Em poucas horas estaremos livres. Eu e ele. Um arrepio percorre o meu corpo. Não é medo ou arrependimento. É pura excitação.
Na varanda de madeira pego minha bolsa e caminho sem olhar para trás. Odeio aquele lugar que me lembra que um dia ele foi dela, que uma vez eu fui de Saulo. Sorrio quando vejo Pedro esperando por mim. Lindo. Meu.
Pegaremos o voo em um aeroporto longe. Depois de uma hora de viagem de carro eu sinto que preciso falar. Mesmo com tudo isso sendo compartilhado por nós dois posso cortar a tensão que está no ar. Não sei se é o medo dele. A cada toque meu vejo como se enrijece.
Não consigo tirar isso da cabeça desde que saímos da casa. Não havia conseguido raciocinar com clareza sobre como fazer com a história de ter perdido o bebê. O melhor que pude planejar foi esperar para contar quando estivéssemos sozinhos em qualquer lugar do mundo. Só que não consigo parar de pensar em contar para ele agora. Não a verdade, claro.
Tenho receio que ele desista, que se arrependa. Que queria voltar por não ter aquele pequeno motivo que o prenda a mim. Mesmo agora sem ter mais a Cris para onde retornar. Com medo, conto para ele o que eu deixaria para outro dia:
- Pedro... - eu começo com a voz fraca.
- Hmmm - ele faz sem me olhar.
- Eu perdi o bebê. Foi no começo dessa semana, no dia em que a Cris não voltou mais para casa. Tive medo de te contar e você desistir de tudo - falo sem parar desta vez.
Ele não reage como eu imagino. Seus olhos encontram os meus e recuam. Ele soca o volante do carro. Meu corpo se projeta para a frente com força com a diminuição brusca da velocidade, mas ele não para na estrada. Continua. Ele então pega na minha mão e a acaricia com a ponta dos seus dedos. Pela primeira vez desde que deixamos a cidade eu percebo que ele não está firme como uma pedra. Demonstra ter finalmente amolecido o seu coração.
- Sinto muito - ele fala com a voz pesarosa.
Suspiro em alívio e consigo soltar o peso do meu corpo que eu já começava a sentir nos meus ombros. Parece ter ficado mal de verdade. Não vai desistir de mim. Meus lábios movem-se formando um sorriso imperceptível.
Paramos em uma loja de conveniências. Pedro foi ao banheiro. Eu espero por ele enquanto tomo uma pequena xícara de café ruim e leio uma revista sobre viagens. Penso nos lugares incríveis que terei a vida toda para conhecer ao lado dele.
Começo a ficar preocupada. Assustada até.
Só mais dois minutos.
Eu já pensei isso dez vezes. Olho para a porta do banheiro masculino de dois em dois minutos e não o vejo retornar. Pergunto-me se mandar uma mensagem pelo celular pareceria desespero. Decido aguardar mais um pouco.
Só mais dois minutos.
Já foram quinze "Só mais dois minutos". Enfio a revista dentro da bolsa e caminho até o corredor que leva aos lavabos na lateral da pequena loja. Meus saltos ecoam no lugar vazio.
Empurro a porta com delicadeza e chamo por ele:
- Pedro - eu digo para o nada.
Porta por porta entreaberta eu encontro o nada. Chuto a última delas descarregando um pouco da minha raiva. Tenho vontade de deixar meu corpo cair junto à parede de pequenos azulejos brancos, mas não faço isso. Ainda tenho esperanças de estar sendo exagerada. Ele pode ter ido para o carro pegar alguma coisa.
É. É isso. Ele está no carro.
Não consigo disfarçar mais a minha agitação. Corro empurrando a porta de acesso à loja e tenho vontade de derrubar a saída automática para a rua quando ela demora segundos demais para me dar passagem.
Eu sinto como se minhas pernas flutuassem pelo caminho até o estacionamento. Ando mais rápido que posso. O carro está lá. O alívio percorre meu corpo. Sim, o carro está lá. Abro a porta destrancada e entro em choque. Não há mais nada ali dentro. Não há Pedro. Não há malas. Não há dinheiro. Não há amor.
Ele foi embora.
As lágrimas brotam incontroláveis. Ele teve a gentileza de deixar a chave no painel do carro. Percorro o caminho de volta até a casa de Saulo a toda velocidade.
Quando chego na rua e vejo o movimento de carros e pessoas eu entendo. Penso no quanto eu sou burra.
Burra. Muito burra.
A casa de madeira arde em chamas. Não tenho para onde ir. Não sei o que fazer. Não posso reclamar. Penso no quanto nosso plano era perfeito. Só que não era nosso. Era deles. Só deles. Eles me enganaram. Ela não estava morta como ele me fez acreditar. Mesmo sem saber sobre a falsa perda do bebê ele já planejava me abandonar, tive certeza.
Pedro levou praticamente tudo que eu tinha de dinheiro. Dois milhões de reais que o Saulo escondeu na casa e que eu havia encontrado por acaso pouco depois dele morrer. Grana suja, não rastreável. Com esse dinheiro eu financiei a fuga dos dois. Ah, como eu os odeio.
Não tenho um filho de verdade como motivo para tentar ir atrás de Pedro. Não posso procurar a polícia para reclamar que fui roubada. Um dinheiro que nem era meu. Não tenho provas. Agora estou sem meu homem, sem meu dinheiro, sem ter onde morar. Não tenho nada.
Desacelero ao passar diante da casa, mas não paro. Sinto o calor mesmo com os vidros fechados. Percebo o risco que estou correndo de ser reconhecida por algum vizinho e escondo o rosto nas sombras. A impotência percorre todo o meu ser e me faz chorar de raiva mais uma vez.
Tudo deu errado.
Muito errado.
______________
Há tempos penso em trabalhar pequenas histórias com base em alguma música e quando vi essa oportunidade me agarrei a ela sem pensar muito para não desistir por medo. Participar do Amor em Desafio da @ArethaVGuedes foi um primeiro passo muito especial para mim e me rendeu momentos muito gostosos.
Siga Dane_Diaz
____________
Dane, fico muito feliz em saber disso!!! Aretha. <3
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro