(Eu me lembro) Capítulo 3
CAPÍTULO 3
Letty
Escrito por Yka Nick
10 da manhã.
Nem era tão cedo assim. Ainda não sei o que meu irmão tinha contra o dia. Principalmente quando morávamos com uma bela vista ao nosso redor.
Pássaros cantando, o barulho do riacho que descia do morro logo atrás, as árvores frutíferas que volta e meia nos abrilhantava com seus frutos e os animais que lá iam se alimentar....
E tudo isso na cidade. Bem, nem tão cidade assim. Nosso bairro ficava no lado norte da cidade, quase escondido, pelo menos a entrada era. Em um condomínio simples e familiar. Um achado no meio da civilização.
Eu estava com meu vestido branco com redemoinhos de cores azuis, cabelo preso e minha inseparável Havainas da Jasmine, conversando com alguns amigos que moravam ali no condomínio também, quando escuto batidas na porta.
E qual não foi minha surpresa de ver meu irmão, com sua habitual combinação de regata e bermuda, e claro, sua Havaianas dos Stormtrooper (é, somos os irmãos Havaianas), e o mais incrível, foi ele quem tocou a campainha.
Quando vou zoar esse feito dele, vejo que não está sozinho, como havia me dito que não estaria, mas não de uma mulher como imaginei que seria – já estava pronta para brincar de tiro ao alvo com ela e a janela. - Mas isso não me impede, somente atrasou a zoação.
– Maninho, que evolução, lembrou que existe a campainha? Um marco na história entre vizinhos. - Dou um beijo em seu rosto e me viro para sua companhia. - Oi, fica à vontade.
Seu amigo me entrega um vinho de boa qualidade e entra atrás de meu irmão. E ali eu vi que alguns costumes não estão extintos.
A manhã passou e decidimos colocar a mesa na parte de trás da casa onde tínhamos uma mesa embaixo de uma árvore que nos dava uma sombra, mas não nos privava da brisa e gostosa que o dia estava nos proporcionando. A conversa foi sobre diversos assuntos, e o Miguel (amigo do Lincolm) falava e falava, algumas vezes eu fingia achar graça, pois muitas das piadas que ele dizia eu já conhecia, se parar para pensar não era bem um fingimento, já que elas eram realmente engraçadas, só que já haviam perdido aquela graça toda quando seu irmão repetia elas toda semana. E com o passar das horas, os vizinhos foram se esvaindo e meu irmão já estava mais do que a vontade.
E assim a manhã virou tarde, e a tarde virou noite, e os dias foram passando e nossa afinidade foi crescendo, e ao contrário do André, o Miguel adorava a forma que eu me vestia, as coisas que fazia, se dava bem com meus amigos e minha família o adorou.
Até que chegou a hora de cumprir minha parte no acordo com meu pai. O pouco tempo que tivemos pareciam ser muito mais, e isso nos mostrava que a vida colocou um na vida do outro em momentos diferentes, mas que era essencial. Se fosse um tempo atrás, não teríamos dado certo por que estávamos em momentos conflitantes, cada um com seus problemas para resolver.
Nós conversamos sobre esse tempo que passamos juntos, sobre o motivo de eu voltar a minha cidade natal, sobre o trato feito com meus pais e muitas outras coisas que estavam sendo postas na mesa, tanto da minha parte quanto da dele.
Vi que ao contrário de nós, ele estava seguindo os passos do pai no lado profissional, e que isso estava fazendo com que os dois se unissem mais, o que não acontecia na fase em que ele mais precisava de uma figura masculina e paterna, mas que isso eles estavam colocando em ordem e conversando.
Admirei sua forma de ver a vida, seus dilemas de vida, seus jeitos e trejeitos, seu bom humor, seu lado humanitário, fazendo serviço voluntário aqui e ali, sempre quando sobrava tempo. O que acabei aderindo também. Sempre que podia eu o acompanhava e me apaixonava por cada serviço prestado, cada ajuda dada, sejam para pessoas, animais ou a própria natureza, não tínhamos um alvo, uma preferência, onde precisavam, estávamos aptos a ajudar.
No dia em que embarcaria para a metrópole brasileira, meu irmão estava se segurando para não chorar ou me sequestrar, o que viria primeiro, eu não sei.
Nunca ficamos tanto tempo longe, mas acho que seria bom, já que não poderíamos viver mais tão grudados como antes. Mesmo o amando mais que tudo, ele precisava amadurecer e parar de me colocar no lugar de mãe, principalmente quando ele era mais velho que eu.
Miguel foi o alicerce que precisávamos nesse momento. Acho que por termos conversado, não estávamos tão apreensivos quanto meu irmão, que achava que eu estava entrando na toca do lobo, vulgo nosso pai.
E mesmo explicando para ele que essa vida não era para mim, que eram somente três meses, ele não aceitava. Mas o fiz prometer que iria me visitar em dezembro, nem que fosse de ônibus. Já que antes era impossível para ambos os lados se desprender de suas rotinas. Foi me prometido que ambos cuidariam um do outro enquanto estivesse fora – o que me deixou apreensiva, só um pouco. - Imaginem dois marmanjos cuidando um do outro.... Coisa boa não sai.
Minha rotina foi apresentada no dia seguinte a minha chegada. A saudade do meu irmão estava quase insuportável. Mesmo que não nos víssemos todos os dias, sabíamos que estaríamos lá um pelo outro, já aqui....
Mas a angustia aumentava um pouco pois existia mais uma saudade me abatendo. Miguel.
Isso que só havia passado 24 horas. Imagina três meses.
Procurava sempre estar com a cabeça ocupada, auxiliando meu pai onde precisava, e minha mãe sempre estava lá, ao meu lado para sanar minhas dúvidas.
Esse tempo entre nós foi bom, pois pude mostrar que minha vida não era ali, com eles, dentro de quatro paredes em uma cidade que sufocava, principalmente se for comparar o lugar onde moro com o local que estava.
Esse tempo aqui foi bom pois consegui colocar meus planos e metas em ordem, pesquisei sobre assuntos que estava deixando para depois, conversas em dia, e fazendo novas amizades. Suzi foi um achado nessa selva de pedra enlouquecedora. Nunca imaginei que me daria tão bem com alguém tão diferente. E foi em meio a conversas jogadas fora que descobrir que ela seria uma peça ideal para meus planos, só faltava conseguir fazer com que ela aceitasse mudar de ares.
Minha mãe estava me achando meio avoada, coisa que não era do meu feitio, mesmo morando longe, ela dizia que era coisa de mãe, que não importava o tempo longe, mães sabiam das coisas. Acabei contando para ela, e quanto mais falava, mais notava que eu sabia sobre tudo o que nos aconteceu, as coisas que ele me contava, até detalhava formas e feições que ele fazia que me encantava.
E foi assim, conversando com minha mãe que descobri estar apaixonada.
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