
(A noite) 2 - C u l p a d a
Escrito por Sarah R. R. Nunes
2 – C u l p a d a
Qual é o peso da culpa que eu carrego nos braços?
Me entorta as costas e dá um cansaço
A maldade do tempo fez eu me afastar de você...
(A Noite - Tiê)
Durante o período de dificuldade, entre idas e vindas para um hospital famoso em Seattle, nos EUA, consultas com renomados cientistas e cirurgiões, um deserto emocional estabeleceu-se dentro de nós dois, e um grande abismo afastou nossas almas. Entre lutar pela recuperação do homem que eu amava, tentar ser a melhor mãe que Matheus pudesse ter e ainda manter de pé minha vida profissional, tudo virou uma bagunça.
Eu não sabia lidar com aquilo!
Não sabia ser a pessoa que Alex precisava que eu fosse! Não conseguia deixar de me preocupar vinte e quatro horas com seu bem estar. Tornei-me excessivamente mandona, exigente. Acho que acabei sufocando-o, mas, com certeza, não com meu amor.
Só queria o meu Alex de volta. Queria meu melhor amigo de volta.
Não conseguia compreender que todo bom humor e otimismo que o tornavam tão especial haviam simplesmente morrido. Alex não tinha mais o brilho no olhar, ele não tinha mais aquela expressão iluminada quando olhava para mim. Apesar de não ter sofrido nenhum trauma que o impedisse de sentir prazer no âmbito sexual, raramente me tocava.
Eu não era mais atraente aos seus olhos. Alex me via como uma obrigação, um trabalho o qual precisava bater ponto.
Sentia-me menosprezada como mulher, alguém descartável. Ele nunca conversava comigo! Nunca explicava suas atitudes, ou quando gritava comigo jamais se desculpava. Aprendi a não chorar na frente dele, criei gatilhos emocionais e os desativei pouco a pouco. Nunca considerei que pudesse estar sendo egoísta, mas como ajudar alguém que te afasta minuto após minuto? Como apoiar alguém que não quer ser apoiado?
Os únicos momentos em que o verdadeiro Alex Torres retornava à superfície era quando Matheus precisava dele. Perdi as contas das vezes em que me levantei durante a noite, sentindo a falta do meu marido na cama, encontrando-o no quarto do nosso filho. Quase sempre Alex estava sentado ao lado da caminha do garoto, acariciando-o seus cabelos escuros. Em algumas ocasiões ele estava deitado ao lado do menino, sendo agarrado pela cintura por seus bracinhos de criança, lendo alguma história.
A última vez que fiquei calada na porta do quarto, vendo o homem da minha vida interagindo com o fruto do nosso amor; consegui ouvir o que dizia de um jeito saudosista:
- Você parece tanto com ela, filhão. - Alex tinha um sorriso no rosto e parecia estar falando com nosso filho adormecido há tempos. - Sinto muita falta dela.
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Conto inspirado na canção Alice [Não escreva aquela carta de amor], do cantor e compositor Leoni.
Ps.: Já coloquei na minha biblioteca, amo essa música! <3 Aretha.
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