Capítulo 7
REBECCA
Chegamos na praça, para quem dormia cedo como eu, já era tarde, mas hoje eu dormiria fora e não podia me dar o luxo de embora sozinha para a casa de Leth. Que por sinal, não estava na praça ainda, tinha muitas outras pessoas lá, a maioria rockeiros, pessoas que andavam sempre juntos, eu me sentia um pouco deslocava porque era a que morava mais longe e por isso eu não conhecia todos muito bem e não estava lá quase sempre como eles. Mas ele tinha uma que era impossível não notar, ela tinha o cabelo liso e sedoso, falava com todos, tinha um estilo lindo e era dona de uma beleza excêntrica. O nome dela era meio difícil de pronunciar, então eu quase não falava com ela, só quando estava todos falando o mesmo assunto. Meio que sentavamos juntos, mas em grupos, haviam muitas mesas e a maioria queria sentar em algum lugar, nem que fosse no chão.
- Quem vai comprar mais bebidas? - um dos vários garotos perguntou, ele era alto, como a maioria deles também, e muito magrelo, como todos eles eram, parecia uma obrigação ser magro no meio deles. A maioria usava roupa preta e calças rasgadas.
- Eu acabei de chegar, estou cansado do show, mas aceito uma vodka barata - respondeu Biel, todos pareciam gostar dele também, os meninos da banda eram bem conhecidos.
- Gostei da gargantilha - me assustei com a voz doce da menina linda, ela tinha apontado para o meu pescoço depois de se aproximar. - Calma, eu não mordo.
- Eu sei, só não te vi - eu respondi, sem graça por ter alguns deles me encarando. Mas logo voltaram a rir e bater papo.
- Suelen é um fantasma - disse Biel, passando o braço em volta dos ombros dela e recebendo um lindo sorriso em troca, o nome dela era mais o que eu entendi do que era o verdadeiro nome, soava como isso.
- Chegou quem faltava! - finalmente Leth chegou, ela abriu espaçado entre o pessoal e foi falando com todo mundo, tinha um garoto andando atrás dela, cumprimentando o pessoal também, mas alguns diziam bem vindo, pelo visto ele era novato no grupo também, não sabia o aperto de mão da maioria deles.
Quando ela veio falar com nosso grupo, o menino que vinha atrás foi reconhecido pelos meus olhos, que se arregalaram. Abaixei a cabeça, fazendo meus cabelos tamparem meu rosto. Que diabos ele estava fazendo com Letícia?
- Não adianta se esconder, boneca, pois já te vi - ouvi a voz de Letícia e depois senti seus braços me abraçavam, eu estava sentada em uma das mesas, para parecer descolada igual os outros. - Desculpa não ter ido no show, tentei de ligar, mas você não atendeu.
- Eu dormi o caminho todo, a semana foi cheia - eu a abracei de volta, sentindo o seu cheiro marcante de perfume amadeirado, como o meu.
- Tudo bem! Ah, esse é o meu primo, Allan. Lembram que falei de uns tios que são coreanos? Então - Leth apontou para o seu... primo??? Como assim eu não sabia disso, porque ela nunca tinha falado dele?
Allan sorriu pra mim, ele estava com uma camisa preta e calça jeans preta também, provavelmente queria se inturmar, mas não deu certo, ele estava parecendo um playboy saindo de uma capa de revista de motoqueiros sexys. Não que eu achasse sexy, era mais uma coisa de imagem. Eu quis evitar cumprimentá-lo, mas ele estendeu a mão pra mim e todos pareciam esperar sua vez de cumprimentá-lo também.
- Oi, Rebecca - ele disse, apertando minha mão, que fiz questão de soltar rápido.
- Espera, você a conhece? - Leth fez uma cara de espanto.
- Estudamos no mesmo colégio.
- Não acredito! Que coincidência - Leth sorria enquanto mascava seu chiclete de boca aberta.
- Oi, sou Suelen! - podia ser Suelen oh Shelbey, mas não importava, porque ela parecia muito mais interessada do que eu jamais vi quando os meninos se jogavam aos pés deles. A menina linda e do cabelo sedoso ignorou a mão dele e o abraçou, que ele deve ter ficado feliz em retribuir, afinal ela era a personificação da beleza que ele procurava, ao julgar as meninas com quem saiam.
Enquanto eles engataram em uma conversa para se conhecer, Leth, Gabi e eu começamos o nosso papo paralelo também, eu queria saber o que aquele menino que nada parecia com algume em volta estava fazendo aqui.
- O que vocês duas não estão me contando? Ele é um gato! - Gabi se abanou e eu rolei os olhos, será que todos os meninos faziam o tipo dela?
- Realmente ele melhorou muito, só por isso que aceitei que ele viesse - Leth olhou pro primo e se voltou pra gente. - Ele estava de visita lá em casa e após eu mostrar alguma fotos de como era a nossa galera, ele resolveu que queria vir comigo e conhecer.
- Ele não parece gostar de rock - eu comentei, ele parecia mesmo fora de sintonia, forte do meio de tanto menino magro. Pelo menos a menina fazia com ele se sentisse a vontade, já que não paravam de rir.
- Pois é, mas ele pediu que eu enviasse algumas músicas pra ele. Talvez possamos batizá-lo ao nosso mundo, mais um pra farra! - Leth levantou a mão mas não bati nela, não concordava, queria vê-lo longe dalí, ele estava me perseguindo, eu tinha certeza.
- Vocês são amigos na escola? Ele pareceu feliz em te ver - Gabi se virou pra mim, tirando meu cabelo do rosto.
- Definitivamente não! Meu grupo e o dele são totalmente o aposto - eu falei alto, um dos meninos que estava próximo estava rindo, como se achasse que eu estiva mentindo.
- Eu sei que ele joga futebol, quase profissional, mas somos primos de sei sei quantos grau, quase não o vejo. Na verdade ele ia mais quando éramos mais novo. Ele mudou muito, antes era um babaca e vivia implicando comigo.
- Pois é, ele é um babaca! - eu concordei, agora sim batendo em sua mão, mas ela parecia incerta, então completou:
- Mas nossa, ele está muito mudado, outra pessoa. Provavelmente aconteceu alguma coisa, eu não me interesso muito pelo assunto da minha família chata, mas acho que rolou um boato aí.
- Eu continuo achando ele um babaca.
- E eu posso ouvir tudo que estão dizendo - o babaca disse, se virando pra gente logo que a princesa, como vou chama-la agora, se afastou para cumprimentar duas amigas suas que haviam chegado, lotando mais ainda a praça cheia.
- Não foi o que ela quis dizer, desculpa - Gabi se apressou em falar, ficando envergonhada como se ela que tivesse chamado ele de babaca.
- Ele sabe que foi o que eu quis dizer - eu respondi. Me arrependi quando as duas me olharam com cara estranha, como se eu fosse a pior pessoa do mundo. Pelo visto ele era o mocinho agora.
- Bom, vou procurar o que beber, alguém quer? - Leth quis saber.
- Estou dirigindo, lembra? - respondeu Allan.
- Dirigindo? Você é menor de idade.
- Tenho quase 17 anos, Rebecca, só sairia encrencado se fosse pego - ele sorriu e piscou, senti Gabi chegar pra frente ao meu lado, como se fosse pular em cima do garoto a qualquer momento, encantada pela beleza gringa do dele.
- Seja como for, não vou embora com vocês - eu disse, tinha combinado de dormir na casa de Leth, mas agora estava extremamente arrependida.
- Não se preocupe, dirijo bem, do contrário, Letícia não viria comigo - assim que um menino se levantou, Allan se sentou em dos bancos da mesa, ficando praticamente entre minhas pernas e eu tive que mudar de posição.
- Vou procurar Biel, nem vi ele saindo - sem esperar por mim, Gabi pulou da mesa e saiu saltitando atrás de seu, como eu suspeitava, amado.
E infelizmente sobraram só Allan e eu, e ele começou a falar que Letícia não devia beber muito, que ela era fraca e nem tinha idade, assim como eu... Mas eu não queria ficar batendo papo com ele como se fôssemos melhores amigos, então me levantei e fui para outra roda. Alguns meninos contavam alguma história engraçada e eu comei a rir com eles, um deles mexeu na minha luva, elogiando ela e eu agradeci.
Ele era um dos meninos bonitos do grupo, e eu fiquei meio sem graça, até Letícia chegar com as bebidas. Ninguém no grupo se importava com idade, já estavam acostumados a acompanhar uns aos outros, sempre tinha um que morava perto do outro, e isso era bem legal. Eu moraria nesse lugar se tivesse oportunidades, assim nunca me afastaria dessa galera legal.
— Reh, você vai de carro com a gente sim! — Letícia chegou me abraçando de novo, acho que a linguagem de amor dela era o toque. Por cima do ombro dela, vi Allan sentado no mesmo lugar, mas agora ele tinha companhia, da princesinha do grupo, eles estavam em um papo longo, gesticulando e rindo.
— Allan falou com você?
— Sim! Ele disse que você está com medo, mas ele é o melhor motorista que já andei, achei até ele lerdo. E se meus tios permitiram, então está tudo bem, né? Eles são adultos! — ela falava sem parar e com uma alegria dobrada, provavelmente o álcool já estava fazendo efeito.
— Acho que você bebeu muito já — gritei em seu ouvido, algum menino tinha trazido uma caixinha de som e agora um rock pesado tocava alto, pelo que percebi, parecia ser Pearl Jam.
— Mas temos um guarda-costas hoje — ela riu e apontou para o primo, eu olhei na direção dele e vi que nos observava. Então ele levantou e falou algo com a menina e os dois se afastaram da praça.
— Parece que seu primo já conquistou alguém — eu disse Leth, que agora estava mais concentrada em perturbar a pobre da Gabi, que tinha se juntado a nossa roda com Biel.
— Eu percebi! Ele é totalmente o tipo dela — quem respondeu foi Gabi, mas ela não estava muito interessada no assunto, pois Biel estava com o braço em volta do ombro dela e eles sorriam. Bom, mais um casal formado, pelo visto.
Algum tempo depois, eu ainda estava no mesmo copo de vodka, eu também era fraca como Leth, mas decidia não beber até perder a consciência. Foi quando Allan apareceu com a menina trazendo garrafas de água e distribuindo para quem aceitava. Allan fez questão de por uma na mão de Leth e me ofereceu outra.
— Eu não quero, obrigada — respondi, realmente agradecida, mas também não precisava ficar totalmente sóbria, era um dia de diversão.
— É melhor pegar, não vai querer passar mal depois — ele insistiu e eu peguei, para ele me deixar em paz, a menina estava bem atrás dele e parecia estar esperando para ter a sua atenção.
— Gostei daqui, tem uma vibe muito boa, mas tenho que te confessar algo — eu disse, com uma sorrido de lado. Lá vinha ele com as confissões, pelo menos minhas amigas não estavam prestando atenção. — Eu quis vir mais por sua causa.
Dois sorrisos murcharam, o meu e da menina atrás dele e eu fiquei com muita pena dela. Não podia negar a minha surpresa, mas também não podia deixar de me sentir desconfortável por estar sendo indesejavelmente perseguida. Eu não soube o que dizer, então levei o copo até a boca para não ter que responder.
— Você é o melhor primo que existe — Letícia se virou pra gente deu um empurrãozinho no primo, mas foi ela quem quase caiu.
— Acho que já deu pra Leth, hora do neném dormir — alguém disse na hora e algumas pessoas riram.
— É você, acho melhor você levar ela, cara — Biel disse, olhando pra Leth e depois pra Allan.
— Ham, é, acho que é melhor mesmo — ele respondeu e pegou Leth pelo braço, que começou a bater papo com ele sobre algo sem sentido enquanto o acompanhava sem luta até o carro.
— É a minha deixa também, até mais pessoal — eu disse, acenando para a maioria deles, eram muitas pessoas para uma despedida mais amigável.
— Vem cá! — Biel nunca deixava passar um abraço, ele também gostava de contato físico, me deu um abraço e depois foi a vez de Gabi.
— Vou ficar por aqui, nos falamos amanhã — ela disse sorrindo e eu concordei.
Depois corri atrás da minha carona, que por sorte estava me esperando já com o carro ligado. Como Leth estava deitada no banco de trás já roncando, tive que ir no banco da frente.
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