Capítulo 5
REBECCA
Puxei o capus do casaco o máximo que pude para esconder o meu rosto dos olhares no refeitoria. Os cochichos eram que eu estava em um triângulo amoroso, mas as alguns diziam que era improvável ser por causa de mim. Ouvimos até a possibilidade do Allan ser gay, o que eu achei graça, do jeito que aquele cara devia se importar com a masculina frágil dele, essa especulação deve o deixar irritado o suficiente para me deixar em paz.
Recebi olhares estranho até dos meninos do futebol, olhares até de desprezo de quem nunca nem tinha me notado antes. Que saco, talvez eu pudesse pensar na opção da banana podre na casa de Allan ainda, ele merecia depois de hoje.
Passei o restante das duas últimas aulas evitando até erguer o rosto, mas podia ouvir Cris e Ana Paula cochichando sobre o ocorrido e os cochichos que estavam tendo. Resolvi não opinar, sabia que se houvesse uma possibilidade de ter fama por causa de Allan, ela seria negativa.
Hoje era sexta-feira, então Ana pediu aos pais para dormir na minha casa e eles deixaram, quase sempre deixavam quando ela pedia. Ana Paula era uma boa e obediente filha, nunca reclamava, tirava notas boas e não era de ir em festas. Ana passaria a noite lá em casa e iria embora amanhã depois do almoço, vovó nunca a deixava ir embora sem almoçar, ela dizia que Paulinha (como a chamava carinhosamente) podia cair dura de fome pela rua.
— Vovó, os pais dela vem buscar ela de carro — eu dizia. Mas ela sempre esquecia.
Assim que entramos no quarto, quando chegamos em casa, Ana foi até janela e abriu, deixando entrar a luz do dia.
— Você nunca abre essa janela? Está até emperrando.
— Pra que? Além da luz do dia ser forte, tenho medo de entrar algum bicho e picar a vovó — eu guardei minha mochila e a dela e comecei a tirar os sapatos.
— Faz sentido, mas tem que deixar um ar entrar um pouco, faz bem também — ele ficou muda por um tempo, olhando pela janela. — Ai meu Deus, você precisa correr aqui!!
Eu levantei achando que veria um panda andando do lado da minha casa, provavelmente teria muita gente tirando foto já. Pelo jeito que minha amiga falou, só podia ser algo raro, mas não era. Quando olhei, vi que a janela do quarto do vizinho estava aberta, eu sabia que era o quarto de Allan, mas nunca tive o interesse de bisbilhotar. Agora, Allan tinha acabado de tirar a blusa da escola, com ela mesma, secou o abdômen suado. Ele tinha a barriga seca e com vários gominhos, ao julgar pelo bíceps, passava boas horas na academia.
— E esse peitoral... — Ana Paula sussurou ao meu lado, eu não respondi. Até que ele tinha um corpo bonito, eu nunca tinha visto ele sem camisa, porque nunca o reparava, pois ele já deve ter tirado diversas vezes após os jogos. — Você está babando!
— Diga isso de você mesma — eu me afastei da janela na hora, claro que não estava babando. Mas quando virei de costas, passei os dedos na boca para conferir. Não estava babando coisa nenhuma.
— Eu nunca escondi que ele é um gostoso pra caramba, ele e seu colega, Dylan. Os dois podiam sair na capa da Capricho.
— Sério que você compra essa revista?
— Todo mês, desde os 13 anos.
— Achei que tinha parado com isso. — eu fiquei encarando-a e ela deu de ombros, tirando uma muda de roupa da mochila e colocando sobre a cama.
— Me deixa, valeu? — ela pegou a roupa e foi para a porta. — Consegui driblar você, eu vou tomar banho primeiro!
E depois de gritar isso ela correu para o banheiro e ouvi o trinco da porta, o banheiro ficava no corredor próximo ao quarto, para facilitar a ida a noite da vovó. Que por acaso neste momento estava na sala costurando e esperando sua novela da tarde começar. Enquanto eu tinha que esperar a bonita sair do banheiro, uma parte de mim me fez querer espiar a janela mais uma vez, então levantei rápido antes de Ana voltar e fui até a janela.
Maldito lado fofoqueiro, Allan estava na mesma posição de antes, só que agora ele olhava pra minha janela, nossos olhos se encontraram e ele acenou. Abaixei na hora, fui pega no flaga.
— Que droga! — resmunguei, eu estava fadada a ter um vizinho stalker, pelo jeito.
Depois de uns minutos, sem colocar a cara na janela, eu consegui fechá-la e avisei para Ana Paula não abrir mais assim que ela voltou do banho. Tomei um banho também e vesti uma camiseta larga e velha e um short qualquer, como sempre. O pessoal que ia pro bar hoje nos chamou, mas resolvemos ficar em casa e curtir a noite com pipoca, salgadinhos e refrigerante. E também fizemos a unha uma da outra.
— Vovó Leonídia, conta alguma história da sua juventude que você ainda não tenha nos contato — pediu Ana, sentada no chão enquanto guardávamos os esmaltes. Amávamos ouvir as histórias de aventura da minha avó e ela amava nos contar.
— Ah, são tantas coisas, já contei do dia em que saí no desfile de uma escola de samba? — ela nos olhou por cima dos óculos, sentada no sofá e bordando uma toalha de prato.
— Mentira!? — eu abri a boca, minha avó não tinha sido uma jovem fácil, ela era muito feliz e livre em algumas épocas.
— Foi sim, na época eu tinha dois namorados, um deles me acompanhou e outro estava prestes a chegar, consegui passar a noite vendo os dois sem que eles descobrissem — ela sorriu de lado.
— Cara, isso é irado! Eu nunca conseguiria fazer algo assim — Ana suspirou e depois riu, batendo palmas.
— As mulheres, Paulinha, conseguem tudo o que quiserem, só basta querer e ir atrás — sabiamente, vovó disse.
— Eu gostaria de ter metade das aventuras que a senhora viveu, menos a parte de escola de samba, essa não é a minha praia — eu disse, me levantando e indo guardar a caixa com os esmaltes na estante da sala, que eram cheia de bugigangas de vovó como: Bebelôs, copos, muitos quadros, caixas com coisas de costura e algumas revistas.
— Terá muitas aventuras, minha netinha, você tem muito caminho a percorrer ainda — ela me olhava e sorria, com as marcas da idade e de tudo que viveu estampada no rosto. Sorri de volta e ouvi a campanhia.
— Já volto — disse a elas e fui atender a porta, assim que abri dei de cara com Allan, bem na minha frente. Minha única e possível reação foi bater a porta na cara dele.
Que droga, que merda de stalker. Argh!
Fiquei mais uns segundos atrás da porta, mas ele não ousou tocar a campanhia novamente. Voltei a sala fazendo cara de paisagem e disse que eram vendedores de filtro de água, então os dispensei porque já tínhamos um. Vovó subiu pra dormir logo após o jantar e nós duas forramos cobertores e lençóis no carpete da sala, pois nós duas não caberíamos na minha cama de solteiro e eu não a deixaria dormir na sala sozinha.
— Vamos ver algum filme de terror? — propôs Ana, sentando-se no sofá. A olhei com a sobrancelha erguida, ela odiava filme de terror, nós duas sabíamos muito bem.
— Se é assim que você quer, vamos ver Quanto as luzes se apagam e com a luz desligada!
— Eu assisto filme com a luz acessa tranquilamente! Não me importo...
— Espertinha — cemicerrei os olhos para ela e fui até o interruptor, mas antes que eu pudesse tocar nele, as luzes da casa toda se apagaram e Ana deu um grito ensurdecedor. — Não grita, minha avó já deve estar dormindo!
— Por favor, deixa eu ficar perto de você — ela correu até mim e enganchou o braço no meu, fomos devagar até o quarto conferir se minha avó estava bem, ela estava suspirando já e então abri a janela para entrar um vento e ela não sentir muito calor.
— Preciso pegar a lanterna na cozinha, dá pra você só andar perto de mim?
— Definitivamente não dá! As pessoas que ficam pra trás sempre morrem primeiro. — ela contestou, sem me soltar.
— Sim, em filmes, estamos no mundo real, Ana Paula — eu revirei os olhos mesmo sabendo que ela não podia me ver. Fui até a gaveta da cozinha onde deixávamos a lanterna, depois de ligar eu fui até a porta para ver se tinha acontecido o apagão na vizinhança toda.
E merda, todas as casas estavam escuras ou com sombra de velas e lanternas, provavelmente ficaríamos sem luz um bom tempo, mas pelo menos batia uma brisa fresca do lado de fora.
— Quer ficar aqui fora? Pelo menos a lua está iluminando a rua um pouco e está mais fresco. — perguntei a Ana.
— Com certeza, além de que estou com medo de ficar lá dentro. Olha, as pessoas estão saindo das casas.
Aqui era sempre assim, quando acabava a luz a maioria das pessoas iam pra rua bater papo uns com os outros e os adolescentes e crianças iam brincar ou jogar algum tipo de jogo. Como não moro aqui desde nova e sou difícil de fazer amizade por me acharem estranha, eu só observava enquanto todos interagiam, quando aconteciam coisas assim.
— Olha, tem um pessoal da nossa idade, parecem bacanas, vamos lá falar com eles — disse Ana, tentando olhar pra mim na meia luz. Mirei a lanterna no rosto dela.
— Chega lá falando coisas como "bacanas" e não vão deixar você se aproximar mesmo. Vamos apenas sentar aqui — eu fui até a grama da frente da casa e me sentei.
— Sentar na grama? É sério?
— Sentamos no chão do colégio o tempo todo que é mil vezes mais sujo do que isso aqui — eu respondi, puxando um matinho do chão.
— É, faz sentido agora que você falou — ela se sentou ao meu lado e apontou para um garoto que ia até a casa de Allan — Olha, aquele é o Dylan, do colégio, não sabia que ele morava aqui.
— Acho que mora na rua de trás — eu parei de olhar quando vi que Allan tinha aparecido na soleira da porta e cunprimentou o amigo com um toque de mão exagerada. — Acho que já o vi passando por aqui de bicicleta.
— Você tem sorte de morar aqui, tantos garotos bonitos! — minha amiga suspirei apoiou os cotovelos na perna para apoiar o rosto nas mãos. Como ela era exagera, eu quase ri.
— Não tanta sorte assim, todos me acham estranha, devem achar que almoço mocegos e tomo banho com a água suja que sai da máquina de lavar depois de bater dois tênis surrados não lavados a um ano.
— Uau, eu acho que você pensa muito sobre isso — ela me olhou com as sobrancelhas erguidas e nós duas caímos na gargalhada.
— Olá, meninas, também queremos rir com vocês — levamos um susto e meu estômago embrulhou ao ver os dois meninos de pé a nossa frente, Dylan um pouco mais atrás e com cara de tédio; o que ele tinha de beleza, tinha de otário.
— Eu não quero nada, não queria nem estar aqui — Dylan respondeu, olhando pra rua de braços cruzados e bufando.
— Não liguem para o meu amigo Dylan... Ah, muito prazer, sou Allan — ele estendeu a mão para Ana, que ficou sorrindo igual boba enquanto apertava a mão dele, ela estava babando pelos dois meninos.
— Ah, sim... Eu sei quem você é — Ana sorria e falou com uma voz tão melosa e olhei para ela com as sobrancelhas erguidas.
— Eu acho que a sua amiga não gosta muito de mim, pode dizer a ela que sou uma boa pessoa? — ele disse, olhando pra mim sorrindo. Fiz cara feia e olhei de volta.
— Não fala como se eu não estivesse aqui, é ridículo!
— Uuuh, cuidado, Allan, ela vai te prender com as correntes dela — agora Dylan estava sorrindo debochadamente enquanto olhava pra mim. Então eram coisas assim que esses idiotas pensavam ao meu respeito?
Me levantei na mesma hora pronta para xingar e chutar o saco de Dylan, mas Allan entrou na frente do amigo e colocou um dedo em seu peito.
— Já disse que não quero ouvir esses insultos, nem direcionado a ela e nem a ninguém. Sabe muito bem que posso te deixar fora do próximo campeonato.
— Argh, não suporto mais isso, quando recobrar o juízo, me encontra na sua casa, vou ver o que sua mãe fez para comer — Dylan revirou os olhos e saiu pisando duro, como uma criança. As palavras de Allan podiam até ter sido bonitas e visionárias, eu morreria de amores se não achasse que tudo fazia parte de seu plano.
— Isso foi tão romântico! — Ana Paula chochichou pra mim enquanto olhava admirada para Allan, que agora estava se virando pra gente de novo.
— Me desculpem por ele. E Rebecca, não escuta o que ele disse, se....
— Eu não dou a mínima importância a quem só sabe cagar pela boca, Allan — eu falei o nome dele com desprezo e me levantei, puxando Ana comigo. — Nunca dei importância para a existência de nenhum de vocês e não vai ser agora que as coisas vão mudar.
Voltei pra dentro de casa com Ana ao meu lado e bati a porta com força, me arrependo na hora só porque fiquei achando que poderia ter acordado minha avó. Mas quando fui verificar, ela continuava dormindo. Quando voltei pra sala, Ana me olhava com uma expressão estranha no rosto.
— Desembucha.
— Becca, não sei, só acho que talvez você esteja sendo dura de mais. Ele parece realmente estar sendo sincero.
— Gosto muito de você, mas de verdade, não quero falar mais sobre isso. Somos como água e óleo, e você sabe que esses dois não se misturam.
A luz voltou, como para dar ênfase ao fim de papo indesejado e início ao nosso filme de terror, que percebi, depois, ter sido uma péssima ideia após ter passado o filme quase todo tapando a boca de Ana Paula que não parava de dar gritinhos.
Sexta-feira tem mais!!! Vão ser de 2 a 3 capítulos por semana! Postei 5 hoje para começar o livro com o pé direito e chamar novos leitores!
Provavelmente as postagem serão segunda, quarta e sexta, pois ainda estou escrevendo ele. Espero que gostem! 🤗💕
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