Capítulo 4
REBECCA
No dia do jogo, já em casa, eu estava escrevendo no meu novo diário, que era uma agenda, enquanto me lembrava da Ana dizendo que Allan fez um gol pra mim. Logo achei um absurdo, tanto por ela estar assistindo aquele entretenimento chato, quanto pelo que disse. Ela estava vibrando na arquibancada e dizendo que ele olhava pra nossa direção, como se esperasse que eu olhasse para ele enquanto me indicava com o queixo para Ana me chamar. Mas eu não o fiz e ela narrou que os meninos pularam em cima dele enquanto ele esperava. Que idiota! Muitas pessoas estavam procurando, olhando pra trás para ver quem ele estava olhando, mas acho que ninguém achou, ainda bem que consegui me segurar e não olhar.
Comecei a achar que eu devia fazer algo, talvez arranhar o carro da família dele quando estivesse estacionado na calçada, ou jogar banana podre em suas janelas, aí talvez ele desistisse dessa história toda. Que a cada dia parecia mais bizarra, eu já tinha pensado em milhares de possibilidades, nenhuma eram boas. Eu não ousaria pensar que ele estivesse falando a verdade, seria cômico da minha parte.
Resolvi que não contaria nada para Apolo, ele era um irmão protetor, poderia querer vir e ver com os próprios olhos ou até ir a casa de Allan tirar satisfações. Eu não queria isso, mesmo que fosse pra ver meu irmão pessoalmente de novo, mas não podia deixar de pensar que era muito fofo seu jeito de querer me defender sempre.
Abri o Skype e logo apereceu seu rosto, ele estava sentado e com um casaco fino cinza, meu irmão era mesmo muito lindo. Por isso sempre tinha uma garota diferente batendo em nossa porta antigamente.
— Uau, seu cabelo está mesmo muito verde! — ele disse, aproximando o rosto da tela.
— O que achou?
— Combinou com você, tudo combina com você, já te falei isso.
— Obrigada! Te amo. E como vão as coisas aí?
— Como diz que me ama e depois faz outra pergunta por cima? Não é assim que deve ser. Eu também te amo, meu docinho, estou com saudades!
— Quando vai vir pra cá? — Não aguentei, meus olhos se encheram de lágrimas e eu engoli o bolo que se formava na minha garganta, tentando tampar minha respiração.
— Reh, acabei de chegar praticamente, estamos dois meses sem nos ver. — ele sorriu e fingiu secar minhas lágrimas pela tela do computador.
— Acha pouco? Bom, parece que arrumou pessoas aí para gostar mais — fiz cara de azeda enquanto apontava para pessoas que passando atrás dele, todos meninos.
— É tão lindo vê-la com ciúmes. E como se você fosse substituível, né — ele revirou os olhos e voltou a sorrir carinhosamente. — Não prometo, mas tento voltar nas suas férias.
— Tenho certeza que vai voltar! Ou irei pessoalmente aí!
— Você iria amar, minha boneca, queria mesmo que você pudesse vir. E um dia te trarei.
— Não pensa em ficar aí pra sempre, né? — engoli em seco, o medo já tomando conta de mim.
— Ainda não penso, mas aqui é realmente um país legal de se viver — um menino apareceu na tela e acenou pra mim, era um menino gato e mais velho, minhas bochechas deviam estar coradas. Ele disse algo em outra língua para meu irmão, que respondeu em inglês. — Minha vida, preciso ir. Vamos marcar outro encontro virtual?
— Com você, quero todos os encontros — brinquei e joguei beijos para ele, que mandou de volta. Ele sempre desligava primeiro, eu não conseguia fazer isso, por mim nunca desligariamos, para parecer que estamos vivendo no mesmo ambiente todos os dias e toda hora, mas não tinha como levar ele pra escola comigo.
Me joguei na cama depois de desligar o computador. Minha mãe tinha comprado ele para os meus estudos, mas era para o que eu menos usava. Na época, queria ter pulado, abraçado ela e beijado seus pés, mas o computador chegou com um monte de sermão de antemão também. Ela dizia para não entrar em site que não fosse confiável, pra ser cuidadosa, dizendo que eu era muito desastrada. Pra estudar bastante, que agora eu não tinha desculpas para notas ruins, para entrar em redes sociais só final de semana, que tinha como ela ver tudo de seu celular em casa e um monte de outras coisas. Eu só ouvi cadala, claro que ela não podia ver tudo de seu celular, foi um blefe, mas deixei ela acreditar que eu não sabia. Minha mãe podia ser muito mandona quando queria, e ela queria isso sempre. Sempre queria estar no controle de tudo e ter tudo em ordem, foi até uma surpresa ela ter deixado eu vir morar com vovó, provavelmente ela não teve alternativo, se tratando da saúde de sua mãe.
Minha avó entrou no quarto e oramos juntas, depois ela falou algumas coisas sobre seu dia, que eu ouvi fazendo alguns comentários. Rimos da novela e assistimos filme até as nós duas cairmos no sono, quando acordei, ela já não estava mais na cama. Minha avó achava que eu nunca comia, então ela gostava de preparar as refeições e me ver comer, então as vezes ela pulava da cama cedo para preparar meu café.
— Vovó, vai descansar, já disse que dá tempo de sobra para eu preparar meu café, me arrumar e comer antes de sair — eu lhe disse, passando um braço em seus ombros.
— Mas você precisa comer com calma, minha filha, pra refeição digerir bem. Não faz comer você comer e ir correndo pro colégio.
— Eu não vou correndo, vovó, sempre chego na hora — as vezes preciso correr sim, mas ela não precisa saber e se preocupar mais.
— Mas eu gosto de fazer, me deixa, vai terminar de se arrumar.
— Você manda, vovó — eu ri de seu jeito autoritário e fui pentear o cabelo, como era muito grande e as vezes prendia na cadeira, as vezes eu fazia um coque no alto, mas dava um certo trabalho pela quantidade de cabelo. Sentei para o café com os braços doloridos.
Quando saí de casa, me arrependi de não ter saído mais cedo, Allan estava esperando sentado nos degraus de entrada de sua casa. Na verdade ele podia muito bem estar esperando algum amigo seu vir de carro, como eu já tinha visto, ou seus pais. Mas eu soube que me esperava, quando ele me viu e se levantou, correndo até mim.
— Bom dia! Como devo te chamar? Seus amigos te chamam de Becca, né? — ele me alcançou e passou a andar ao meu lado, olhando pra mim enquanto eu mirava a rua a minha frente.
— As pessoas me chamam de Reh ou Becca — respondi sem muita empolgação.
— Ninguém te chama de Rebecca?
Sim, minha mãe, quando está brava comigo, pensei. Mas respondi:
— Não.
— Então quero ser o único a te chamar de Rebecca, tudo bem pra você?
— Tanto faz — desde que você suma da minha vista e nunca mais volte a falar comigo.
— Você parece não gostar muito de mim, alguma vez eu te fiz algo?
Nunca fez nada, acho que esse é o motivo de estar achando estranho ele querer falar comigo a troco de nada.
— Olha, eu não estou interessada em você e nem no que quer que você esteja aprontando com seus amigos — eu olhei para o seu rosto uma vez e depois voltei a olhar pra frente. Ele podia até ter o rosto bonito, mas pra quem gostava de meninos padraozinho. Seus olhos eram cor de mel, era apenas isso que eu achava encantador nele.
— Aprontando com meus amigos? Eles nem sabem que estou interessado em você, não sei onde tira essas suas teorias — ele deu uma risada, mas sem humor.
— Você não está interessado em mim, sua mente deve estar fazendo algum tipo de jogo maluco com você. Mas não descarto que você está tentando zoar com a minha cara — dessa vez eu parei de andar, minha voz estava se alterando e eu não queria discutir muito perto da escola onde todos podiam passar e ouvir.
— Quero provar pra você que tudo que estou falando é verdade. Mas você precisa me dar uma chance e parar de ficar na defensiva. Eu fiz um gol pra você ontem, não entendo porque me ignorou — ele sorriu e depois franziu o cenho.
— Deixa eu ver se entendi isso bem. Você de um dia para o outro decidiu que gosta ou sente algo por mim, uma garota que está muito longe de ser parecida com todas as suas ex's e atuais namoradas e espera que eu aceite de bom grado que um estranho passe a me "cortejar"
Eu falei tudo em um fôlego só enquanto gesticulava com as mãos e ele me observava com as sobrancelhas erguidas e um sorriso pequeno se formava seu rosto.
— É interessante saber que você sabe como eram as minhas ex's namoradas. E eu não estou com ninguém no momento, sou um cara respeitoso, se não acredita pode perguntar a qualquer um. E só para esclarecer, só tive dois namoros sérios.
— Então as outras meninas eram só diversão? Que bom saber disso, só me fez querer ficar o mais longe possível de você — eu voltei a caminhar, achando que ele não diria mais nada.
Eu não sabia muito sobre quantas garotas ele saía, era uma coisa tão banal, pra que eu iria querer saber essas informações? Mas haviam os boatos que você praticamente era obrigado a ouvir por todo lugar na escola, e era isso que se ouvia sobre ele.
— Não, Rebecca, sou um adolescente, estamos no mesmo ano então acho que temos a mesma idade, adolescentes namoram e ficam o tempo todo. Você sabe como é... — eu não sabia coisa nenhum, nunca tinha tido um namorado. Já tinha dado alguns beijos, mas dava pra contar nos dedos. Dois... foram dois. E um deles foi no jogo da garrafa, um beijinho casto que nem dá pra contar como beijo.
— Vou repetir pela última vez, não estou interessada.
— Pelo menos me dá uma chance, não vai te custar nada me dar uma chance. Sou insistente, não vou desistir tão fácil.
— Que bom, a polícia vai gostar de ter mais um lunático na cadeia. Tenho que ir! — eu corri mais uma vez para a escola, virei uma rua e já estava praticamente dentro da escola quando ouvi ele gritar.
— Isso só me deixou mais empolgado, você é hilária!
— Você é hilária? — perguntou Ana, ela e Cris se expremiam em mim para saber mais da fofoca. Que droga, muitos alunos tinham visto e ouvido, que garoto idiota.
— Falei que ia chamar a polícia se ele continuasse me perseguindo.
— Talvez ele ache sexy o perigo — argumentou Cris.
— Ai meu Deus, ele deve te achar sexy! — Ana colocou a mão na boca enquanto arregalava os olhos.
— Você tá doida, é? — dei um tapinha de leve em sua testa, ela tentou fazer o mesmo mas era muito baixa.
— Isso não é justo! — reclamou.
— Eu te vingo — com o reflexo rápido de mais, Cris me deu um tapa doloroso na testa.
— Isso doeu! — eu o olhei de cara feia, então o aluno que eu menos esperava ver na minha frente tão cedo, entrou entre a gente e colocou a mão no ombro de Cris.
— Seria legal se não fizesse isso de novo — Allan disse.
— Acha que vai me ameaçar apertando o meu ombro? Que cara idiota — Cris era do mesmo tamanho que Allan, então bateu em seu braço para tirar a mão dele de seu ombro.
— Não foi uma ameaça e não tive a intenção de te machucar, só não achei legal o que fez com Rebecca — caramba, agora eu vou ter um protetor? Isso só podia ser piada, e pra piorar os alunos que não tinham entrado nas salas ainda estavam tudo olhando pra nós.
— Aaaah, isso é tão romântico! — Ana Paula não podia escolher pior momento para dizer isso, eu entrei no meio dos dois e peguei no braço do meu amigo.
— Não me faz passar vergonha na frente de todos e não tente bancar o herói comigo — eu tentei falar baixo para que só Allan e meus amigos ouvissem, então saí puxando Cris comigo e imaginando que Ana também vinha atrás.
— Esse ano vai ser daqueles! — ouvi a voz dela perto de mim, alegre como sempre. Fala sério, éramos mesmo um grupo de amigos improvável e incomum.
— O cabeça oca acha que me machou, ele tá pensando que sou quem? — Cris bufou, claramente mostrando que tinham ferido sua masculina, que eu tinha dúvidas as vezes.
— Ele não é ninguém, vamos tentar não falar disso mais, por favor — pedi.
Mas já era tarde de mais, as fofocas começaram a se espalhar rapidamente pela escola. Até a hora do intervalo, muitas especulações já tinham sido feitas.
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