França, 1854.

"Querida amiga Amélia Jones,

Como estão as coisas? Fico feliz em saber que pelo menos um pouco da sua dor fora amenizada pelas palavras de Belle em seu leito de morte, e que consegui lhe trazer conforto em um momento tão difícil. Seus atos salvaram não só a minha vida, como também a de minha irmã, e por isso serei eternamente grata. Compreendo sua dor, pois sinto tanta falta dela que sinto meu coração parar. Lembro-me de Isabelle dizendo que esse inverno seria de gelar a alma, mas nada se compara ao frio que sua falta deixou em nossos corações.

Charles e eu conseguimos nos estabelecer em Calais, com as economias que conseguiu salvar compramos uma propriedade muito formosa, apesar de não muito luxuosa como Charles está acostumado. Para mim, é como um pequeno paraíso. No momento estamos preocupados com o inverno que virá, trabalhamos a fim de conseguir lenha suficiente a tempo, mas por agora estamos bem. Ontem assamos pão fresco como a Sra. Harris me ensinou, e todos comemos em volta da lareira. Charles está radiante e trabalha na propriedade diariamente, diz que nunca se sentiu tão livre.

Emma também está encantada com o novo lar, brinca com os porcos e cuida dos cavalos todos os dias, me parece feliz. Charles está nos ensinando francês, e Emma já aprendeu como chamar os animais para comer. Vê-la falando na língua local é o que mais me dá orgulho. Apesar disso, pergunta pela irmã todos os dias antes de dormir.

Possui alguma pista de Abigail? É de meu entendimento que perguntei isso na última carta, mas sei que entende minha dor. Penso em retornar a Inglaterra para procurá-la eu mesma, mas Charles diz que ainda é muito perigoso para nós.

Em sua última carta me disse que a família de Charlotte o declarou como procurado, e o jurou de morte caso o encontrasse novamente. Possui alguma nova notícia? Sabe se ainda o estão procurando? Temo que descubram onde estamos. Quem sabe sua fúria se acalme, e assim possamos voltar para a Inglaterra e continuar a busca por Abigail. Irei procurá-la até meu último dia de vida se for preciso.

Por ora estamos felizes, apesar da saudade que sentimos dos entes queridos. A falta de quem amamos é como tentar respirar embaixo d'água, inútil e ineficaz, mas nunca paramos de senti-la.

Espero vê-la em breve minha amiga, sem a sua ajuda nunca poderíamos ter o gosto da liberdade, e por isso nunca deixarei de agradecê-la.

Sua querida amiga,

Helene  White."