•Capítulo Vinte•
Fiquei deitada olhando para o teto do meu quarto,ansiosa para fazer algo,qualquer coisa. Nem pintar eu pintava mais,não tinha inspiração.
Giuseppe por outro lado estava mantendo a palavra que me deu de que não me incomodaria,e segundo Pietra que agora vinha me visitar com mais frequência,ele não estava saindo muito. Pietra estava bem,sua alegria agora contagiante,ela parecia mais viva. Enrico estava passando mais tempo com ela,até levando ela pra Spazio Blu com ele estava,disse que era mais seguro ela estar com ele cercada de soldados do que na cobertura.
Pietra me disse na última semana que falou para Enrico tornar Paul Executor da Cosa Nostra,e o homem teve uma crise de ciúmes. Ela também me disse que agora ele estava se controlando mais quando se tratava de Paul. Eu fiquei feliz é claro, finalmente os dois estavam se entendendo e agora tudo estava quase perfeito.
Tentava pensar o máximo possível nela,e não em Giuseppe. As palavras dele ainda rondavam a minha cabeça,mas imagens dele com outras mulheres sempre me fazia voltar atrás. Estava perdida entre o amor e o ódio,porque sinto os dois por ele.
E agora,com a data do casamento reduzida,me restou menos tempo ainda. Tinha que preparar a festa,decoração, tudo aqui em casa. Mamãe me ajudará é claro,Pietra também,mas não estava tão animada. Achei que teria tempo para pensar,mas agora tenho tantas coisas para resolver ao mesmo tempo,que me senti perdida.
Papai poderia pelo menos me devolver meu celular,assim eu poderia conversar melhor com Pietra, não precisaria esperar mamãe chegar para conversarmos.
Me sentei na cama e me espreguiçei,espantando o sono e a sensação de peso no corpo.
Ainda era final de janeiro e eu estava ansiosa para sair de casa,fosse para fazer qualquer coisa,apenas queria sair.
A porta do quarto abriu e Pietra pôs a cabeça pra dentro. Assim que ela me viu um sorriso lindo enfeitou seu rosto.
- Ocupada? - bufei e balancei a mão na frente do rosto com a sua pergunta.
- Você sabe que não,anda,entre logo! - Pietra riu,entrando no quarto e fechando a porta.
Estava linda, radiante na verdade. Ela andou até a cama e se sentou,então me abraçou.
- Vim ver como você está - disse colocando a bolsa do lado - Enrico está lá embaixo com o papai,sabe,agora com a cerimônia de posse próxima,papai irá se aposentar.
Ela mantinha um sorrisinho de boca fechada no rosto. Pietra me olhou mais atenta,seus olhos azuis mexendo constantemente.
- É. Foi um longo caminho para o papai - falei com as mãos juntas no colo.
- Você sabe que Giuseppe será o novo Consigliere de Enrico,não sabe?
Dei um sorriso de boca fechada para ela.
- Isso é óbvio para todos - Pietra olhou para as mãos juntas no colo,sua expressão mudando.
- Bom,sim - ela voltou seu olhar para mim - Mariá, eu quero muito que você e Giuseppe fiquem juntos, mesmo com raiva dele. As vezes eu sinto que ele fica sozinho demais,digo,em outros termos. Ele não foi criado com carinho,o pai dele..- ela fechou os olhos e franziu a testa -.. Enrico pediu para não contar para você,e eu não contarei,eu só quero que você saiba tudo o que ele e Enrico passaram quando eram novos.
Inclinei a cabeca para o lado,vendo pela primeira vez Pietra com pena de Giuseppe,e não raiva.
- O que quer dizer? - perguntei.
- Você sabe o que Gianni sofreu com o pai,não sabe? - Pietra aguardou minha resposta.
Tinha que admitir que eu não sabia exatamente onde ela queria chegar com aquilo,mas sentia que era importante para a decisão que eu tomaria.
- Sim,o pai de Gianni é..doente - Pietra concordou.
- Imagina Tommaso,com dois filhos pequenos para criar. O que acha que eles passaram quando eram crianças? Já parou para pensar nisso? - engoli em seco. Olhando por esse lado, Giuseppe fora muito maltratado quando criança,não conseguia nem imaginar o que ele passou. Comecei a me sentir mal por ele,uma criança sem mãe e maltratada - Não estou falando isso para que o perdoe,sei que ele fez errado,mas pense um pouco sobre isso. A primeira impressão que tive dele,foi de um homem alegre,carinhoso,educado..mas você mesma viu como ele mudou em questão de segundos,explodiu. Nós duas sabemos que aquela calma e alegria esconde o verdadeiro Giuseppe, nós sabemos que algo muito ruim aconteceu com ele durante a infância,e Mariá..- Pietra suspirou,como se não conseguisse me dizer -..eu quero apenas que o dê mais uma chance,eu vi o quanto ele está disposto a tentar de novo, dê uma chance para vocês.
Segurei as suas mãos.
- O que aconteceu de tão grave na infância dele Pietra? Até você está abatida com isso - Pietra olhou para o meu rosto,seus olhos brilhando de tristeza.
- Eu prometi a Enrico que não contaria,mas você vai saber isso por Giuseppe.
Sorri para ela.
- Acho lindo o seu amor por Enrico. Vocês são tão perfeitos juntos - Pietra riu e olhou para o outro lado,as covinhas em suas bochechas aprofundando.
- Eu o amo muito. Jamais pensei amar alguém como o amo - ela suspirou apaixonada - Quero que você viva isso um dia, irmã. Quero que se sinta amada,e apesar de tudo,de não estar conversando com Giuseppe,eu sei que no fundo é isso que ele quer. Está confuso agora,mas não demorará para entender que está apaixonado por você.
- Apaixonado? - perguntei com sarcasmo.
- Todos vemos como ele olha para você..
- Pietra, ele me olha como olha para todas as mulheres na rua.
Ela negou,virando o corpo todo para mim.
- Ele a olha com um olhar de bobo apaixonado!
Ri dela. Onde no mundo Giuseppe se apaixonaria por mim?
Segurei a mão de Pietra e a puxei para cima.
- Vamos,deixe de falar dele. Vamos lá embaixo,quero tentar recuperar meu celular de volta - falei a puxando para a porta.
- Sabia que o peguei olhando uma foto sua ontem? - parei de andar e olhei para ela.
- Como? - estava surpresa.
Pietra sorriu e andou até o meu lado,olhando para o corredor. Ela olhou para mim,seus olhos azuis zombeteiros.
- Ele estava encarando uma foto sua ontem. Quando percebeu que eu estava perto desligou o celular e o guardou. Tenho que confessar,minha raiva por ele está se esvaindo como fumaça pela chaminé.
Fiquei ali parada olhando ela andar pelo corredor até às escadas.
Giuseppe, será que o que ele disse fora mesmo verdade afinal de contas? Por quê me sentia como uma criança em um parque de diversões,alegre por saber isso?
- Não vai descer? - Pietra perguntou com um sorrisinho sacana.
Pisquei várias vezes.
- C-claro!
Corri até ela e descemos as escadas enquanto Pietra ria.
Assim que entramos na sala de visitas paramos. Todos ali estavam com expressões sérias,e quando entramos olharam para nós,sérios.
- O que foi? - perguntei para papai.
Pietra andou até Enrico que segurava o celular na mão. Ela parou ao lado dele e olhou de esguelha para o celular dele.
- O que aconteceu meu amor? - Pietra perguntou para Enrico.
Ele olhou para ela e uma de suas mãos subiu até seus cabelos,acariciando os fios loiros.
- Gianni foi preso - respondeu.
Arregalei os olhos perplexa. Como assim, Gianni preso?
- Gianni? Mas como? - perguntei me agarrando em papai.
- Policiais invadiram a casa dele durante a noite com um mandato de busca e apreensão. Acharam droga no porão da casa e debaixo do piso.
Franzi o cenho. Gianni não usava drogas,e também não era responsável por isso na famiglia.
- Mas Gianni não usa drogas - falei olhando para Pietra.
- Sabemos disso. Giuseppe me disse agora por ligação que Gianni falou que um dos russos que eles pegaram disse algo pra ele hoje mais cedo. Agora isso acontece - Enrico passou a mão pelo rosto - Os russos deviam saber que Gianni se tornaria capitão junto com Giorgio e que é um dos melhores soldados que temos. Por sorte,arrumaremos um jeito de tirá-lo dessa. Giuseppe descobriu que ele vai ficar em uma penitenciária aqui na Sicília até o julgamento.
Abracei papai apertado,seus dedos massagearam meus cabelos,aliviando a angústia que se instalava dentro de mim.
- Gianni vai ficar bem pequena,vamos tirar ele de lá,não se preocupe.
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