•Capítulo Um•
Mariá - Aos doze anos...
Estava sentada nos degraus da minha casa esperando por Gianni, meu melhor amigo. Nos conhecemos no dia em que nossas famílias saíram para um piquenique. Bom, não foi exatamente nossas famílias. Segundo ele, igual a mim, nossas mães nos obrigaram a ir. Ele, ao contrário de mim, agradeceu aos céus pela mãe dele tê-lo levado. Ele disse que não aguentava mais as investidas do pai para enfia-lo no meio do mundo mafioso.
Desde esse dia, há alguns meses atrás, ele usava a desculpa de vir até meu pai, mas na verdade ele vinha até mim. Gianni era adorável e lindo, muito paciente e sempre me ouvia. Nunca me interrompia e esse era um dos motivos que eu tinha para tê-lo como meu amigo. Papai não xingou a nenhum de nós dois por isso, pelo contrário, disse que do jeito que vivíamos era bom que eu tivesse um amigo para compartilhar meu tempo.
Gianni era bonito, tinha cabelos escuros e olhos castanhos. Era grande e bem definido, mas mesmo assim parecia o jovem que era, enquanto eu era uma menina magra e sem carne alguma.
Não me importava, Gianni sempre me falava que não era pra me preocupar com isso porque eu ainda era nova e iria me desenvolver. Todos me diziam isso, mas na escola tinham várias meninas bonitas, e elas não eram magras como eu.
Eu me preocupava com o que Giuseppe pensaria quando me visse. Acharia que eu estava passando fome, em nenhum lugar em meu corpo tinha volume.
Ouvi o barulho de um carro sendo desligado e olhei para a frente, onde vi Gianni. Ele saiu do carro com um sorriso no rosto, girando uma chave no dedo.
Ele andou até mim e parou em minha frente com um sorriso radiante. Arregalei os olhos. Gianni nunca parecia tão alegre assim, estava a maior parte do tempo nervoso com o pai.
— Gianni! Você que estava dirigindo o carro? — perguntei me levantando da escada.
— Sim — ele parecia orgulhoso de si mesmo com aquele sorriso no rosto. — Mérito por entrar para a famiglia.
Abri a boca embestada. Não acreditava nisso! Logo Gianni que odiava toda essa coisa de máfia?
— Mas Gian! — O chamei pelo apelido que dei a ele. — Você estava reclamando sobre isso a dois dias atrás! O que deu em você?
Ele suspirou, o sorriso sumiu do seu rosto. Ele olhou para os seus pés, segurando a chave na mão com força.
— Não tinha outra opção, estava mais atrasado do que os outros iniciados jovens. — Gian olhou pra mim com um olhar derrotado. — E quando meu pai me ofereceu esse carro, eu não pude recusar. Todos já estavam falando sobre isso e o pai estava cada vez mais nervoso.
— Oh Gian, eu não quis te magoar. Estou feliz pelo seu carro novo. — falei dando um tapinha no ombro dele.
Ele me olhou com seus olhos animados.
— Pensei em te levar para dar um passeio rápido pelo quarteirão, antes de ter que voltar a fazer minha tarefa. — ele falou balançando as sobrancelhas.
— Tenho que pedir ao papai. — pulei animada. — Espere aqui, vou pedir a ele.
Entrei correndo em casa, passei por mamãe no caminho e acabei esbarrando nela.
— Mariá! — ela repreendeu, mas continuei correndo.
Fui direto para o escritório do papai, nem bati, já fui abrindo a porta.
Papai levantou seu olhar do laptop, puxando o óculos para a ponta do nariz.
— Papai — falei fechando a porta devagar atrás de mim.
Sorri, o meu sorriso mais bonito para convencê-lo. Queria muito ir com Gian, afinal, ele era o meu melhor amigo do mundo. Papai não se importaria com isso, nenhum dos seus amigos precisavam saber, isso colocaria Gianni em maus lençóis. Afinal, levar uma menina da famiglia para passear em seu carro.
Hesitei ao pensar nisso, não queria que Gian fosse punido por minha causa, ele poderia até perder o carro que sempre sonhou em ter.
— Mariá — balancei a cabeça, voltando minha atenção para o meu pai. — Está precisando de alguma coisa?
Sorri sem jeito dessa vez. Como pediria algo assim para o meu pai, sabendo que se algum dos outros membros fora da nossa família descobrisse – incluindo o pai de Gian – acabaria com a reputação de Gian, que afinal, tinha acabado de iniciar como soldado.
— Iria pedir uma coisa, mas mudei de idéia. — me virei de novo para sair, mas papai me parou quando me chamou.
— Nada disso mocinha. — me virei de volta pra ele. — Quero que se sente e me fale exatamente o que queria.
Bufei. Sabia que ele não iria deixar isso passar em branco, se ele não fizesse isso não seria o meu pai.
Me sentei na cadeira e coloquei minhas mãos em cima da mesa, vendo como ele largava os óculos de lado e dirigia sua total atenção para mim.
— Gianni ganhou um carro. —falei, mordendo o lábio inferior. — O pai dele o deu por ter iniciado como soldado e...
Papai soltou uma risada e se recostou no encosto da cadeira. Pela sua expressão, ele sabia exatamente o que eu ia pedir.
— E ele me chamou pra dar uma volta com ele, aqui no quarteirão. — Papai ergueu uma sobrancelha questionadora.
— Mas... — ele começou, balançando a cabeça de lado, esperando que eu terminasse o que ele ia dizer. Porque ele sabia que eu sabia exatamente o que era o certo para se fazer em uma situação como essa.
— Mas eu não posso ir — completei juntando as mãos no colo, deixando meus olhos ali —, porque se isso cair em ouvidos errados, Gianni poderá ser punido e eu como amiga dele devo evitar isso, porque já sei bem das consequências. É isso?
— Exatamente. — papai disse com um sorriso orgulhoso. Ele descansou os cotovelos na mesa, se inclinando pra mim — E você não está sendo chata por recusar, e eu não estou sendo o mesmo por não deixar. Eu já arrisco muito mentindo pro pai do Gianni dizendo que estou ensinando a ele coisas essenciais para a famiglia. Você e ele são amigos e eu entendo isso, mas só que os outros não vão entender, e é exatamente por isso que você não pode ir dar uma volta no quarteirão com Gianni no carro novo dele.
Continuei olhando para as minhas mãos unidas. Odiava tudo isso, não poder ir dar uma volta com meu amigo por causa desses mafiosos machistas que viam as meninas como uma propriedade.
Papai segurou meu queixo em sua mão, me fazendo olhar pra ele.
— Infelizmente é assim que vivemos, minha pequena. Você sabe que se fosse em outras circunstâncias eu a deixaria ir, mas é assim que as coisas são para nós.
Sorri pra ele. Meu pai sempre era legal comigo, diferente de alguns pais na famiglia que encarceravam suas filhas dentro de casa até elas crescerem para se casar com um velho ou com um homem que não amam.
— Eu entendo, papai.
Assim que saí do lado de fora da minha casa, eu vi Gianni sentado na escada onde eu estava antes. Ele estava quieto olhando para o mar que se estendia lá longe, depois das várias casas enquanto girava a chave no dedo.
Me sentei ao seu lado olhando para o mesmo lugar que ele olhava.
— Eu sinto muito. — falei, vendo como ele estava sério. Gian dificilmente ficava sério assim comigo.
— Não tem problema. Eu deveria imaginar isso. — ele disse virando seu rosto pra mim, dando um sorriso.
— Você é meu amigo. Pense bem, uma volta de carro não vai mudar isso. — Coloquei minha mão na dele. — Eu não quero que seja punido por minha causa.
Ele sorriu tristemente.
— Não tem nada que ele não tenha feito comigo, pequena. A minha infância toda foi uma merda, eu não me importaria com mais alguns hematomas.
Engoli o bolo que subia pela minha garganta. Odiava saber tudo o que Gian passava nas mãos do seu pai psicopata, e pior ainda, odiava não poder fazer nada para mudar isso.
— Mas eu me importo muito, você é como um irmão pra mim. Deixaria tudo apenas para que ficasse bem.
Hehehe, um pouquinho do amor de amigos!!
Quem leu Limite Devasso deve se lembrar, lá teve uma rápida menção do Gianni do futuro!! Oh, já ia dar um spoilerzinho aqui!!!!
Votem e comentem meus amores! Ajudem o livro a crescer!! Prometo um exemplar grátis quando ficar famosa, ein! 😹😹😹😹😹😹😹😹😹
Brinks, Brinks!! Kkkkkkkkkkkk
Até o próximo jujubas!!
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