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3 - Pena

Giselle


Fui falar com Neila Medeiros para continuar o trabalho que comecei no abrigo em Fortaleza. Eu havia pesquisado sobre o Instituto Anjos de Resgate e vi que a ala infantil era imensa e mais carente de voluntários.

Dayse, a recepcionista, me pediu para aguardar no corredor, pois Neila estava ocupada. Fui até lá, sentei e fiquei esperando. Eu mexia distraidamente no celular quando uma loura bonita chegou, roubando a minha atenção. Ela tinha cara de quem queria estar em qualquer lugar, menos ali. E decidi que essa seria a minha brecha para puxar assunto, afinal, não podia deixa-la sair dali sem conhece-la. Não se perde oportunidades como essa.

— Bom dia! Você é voluntária? — resolvi começar assim, mas eu sabia que aquela cara de metida jamais faria algo assim.

Tive certeza quando ela gaguejou para responder. Usei a tática da Cléo, já falando que eu estava terminando de pagar pena. Isso causa empatia. Mas antes que ela tivesse tempo de falar algo a mais, a Neila me chamou e fui falar com ela.

Neila é linda! Tem uma postura de mulher muito poderosa. Até a voz dela é linda. Falei sobre meu tempo no abrigo em Fortaleza e depois de fazer meu cadastro ela agradeceu pela iniciativa.

— Sua coordenadora é a Érica Farias, ok? Ela está na rua, foi buscar um bebê, mas já está no hospital com ele, então por volta das cinco ela estará de volta. Você já pode conhecer tudo e ajudar na sala de aula. Procura o Gil.

— Ok. Obrigada, Neila. — agradeci e estendi a mão, que foi apertada com firmeza por ela, fazendo-me estremecer e imaginá-la nua.

Eu sorri com aquele pensamento idiota, mas valeu o sorriso que recebi dela. Saí de lá e fui procurar o Gil.

Quando vi aquela foto no Instagram da Alice, uma força bruta me moveu e não consegui controlar o impulso de ligar para ela. Já passava das duas da manhã. Eu não estava fazendo falta, mas precisava mostrar pra ela que estava sabendo de tudo o que acontecia.

— Oi, Gi. Tá tudo bem? Por que está me ligando a essa hora? — Ouvi a voz dela e senti vontade de morrer.

— É ela, né, Alice? A novata? — indaguei fazendo referência à pintora de rodapé da Isabella, que aparecia na foto com ela.

— Quê? Do que você tá falando?

A desgraçada ainda extrapolou no cinismo. E meu ódio só crescia.

— Não me faça de idiota. Você terminou comigo porque tá transando com a novata.

— Tá maluca, Giselle? A Isa é minha amiga.

— É, eu vi a amizade de vocês no Instagram. Você toda apaixonadinha, saltando de asa delta com ela.

— Você tá completamente doida. Tá até vendo coisas. Eu, Alice, apaixonada? Olha, Gi, não que eu te deva qualquer satisfação da minha vida, mas vou repetir: a Isabella é minha amiga, só isso.

Vou te mostrar a doida, sua desgraçada!

— Alice, você é uma vadia muito mau-caráter mesmo, viu? Que foi? Cansou das piranhas que você pegava nos bares e boates e resolveu enfileirar as colegas de trabalho pra satisfazer essa tua perversão?

— Giselle, você está me ofendendo e eu não sou obrigada a ouvir. Tampouco vou discutir, então, boa noite. — disparou e sem me dar tempo de resposta, desligou.

Filha da puta! Isso não vai ficar assim.

Eu estava decidida a infernizar a vida da Alice de todas as formas. Liguei de novo.

— O que foi agora?

— Você vai me pagar por isso, Alice. Não vai sair ilesa dessa história. Isso vai ter volta, pode esperar.

— Vá pro inferno, você e suas ameaças. E não me ligue mais. Adeus.

— Alice, não desligue o telefone na minha cara... — gritei, mas ela já havia desligado.

Que ódio!

Liguei de novo, mas deu caixa postal. Naquele momento comecei a maquinar minha vingança.

Ela pouco se importava de ser chamada de vadia ou de cafajeste, mas era toda preocupada com a imagem dela no trabalho. Gostava de manter a pose... então foi por lá mesmo que resolvi começar.

Cheguei ao escritório e a procurei. Soube pela recepcionista que ela ainda não havia chegado. Melhor ainda. Fui direto falar com o Leandro, o chefe.

— Do que está falando, Giselle?

— É isso mesmo.

Eu virei a noite, então meu rosto estava abatido, sem maquiagem. Precisava passar veracidade para ele.

— Giselle, essa é uma acusação muito grave. Você tem certeza disso? Vocês sempre foram muito próximas, será que não confundiu?

— Não confundi nada, Leandro. A Alice assedia muitas meninas daqui. Todas a temem. Não duvido nada que já não esteja fazendo isso com a Isabella.

— O quê?

— Isso mesmo. Enfim... só vim formalizar a minha acusação. Sei que deveria ir direto ao RH, mas me senti mais à vontade em falar com você, diretamente. E desde já fique sabendo que eu vou processá-la.

Ele respirou fundo. Tinha os olhos azuis e notei que ao se aborrecer minimamente já ficavam avermelhados. Leandro é uma ótima pessoa, ótimo chefe. Não tem nada de arrogante. Apesar dos quase dois metros de altura, porte atlético e ser dono de um grupo enorme de empresas daquele ramo, nunca tratava ninguém com aspereza. Como patrão nos deixava à vontade desde que entregássemos um bom trabalho. A Alice era a menina dos olhos dele. Estavam juntos desde a fundação. Algumas pessoas até achavam que eram sócios, mas ela era funcionária, assim como eu. Só que ele confiava nela de olhos fechados, e eu precisava derrubar essa torre de confiança.

— Giselle, por favor, fazendo isso você não vai prejudicar só a Alice, mas a empresa também.

Ele tinha razão. Ele não tinha culpa de nada.

— Ok, Leandro. Eu não a processo judicialmente, mas quero que a puna. Ela se acha no direito de mexer com todas as mulheres por ser amiga íntima sua, outra coisa muito errada. E ela vai acabar arrastando o nome da sua empresa na lama. — disse e me levantei.

Ele ficou calado, respirou profundamente.

— Tudo bem, Giselle, vamos investigar, ouvir testemunhas e tudo mais. Vou acionar o RH imediatamente. Conversamos depois, ok?

Concordei e saí. Eu trabalhei feliz da vida naquele dia. Mas com o tempo fui percebendo uns olhares diferentes para mim. O fato era que eu nunca havia observado meus colegas para saber como eles me olhavam, mas notei até cochichos.

— Que porra! Esses desgraçados vão todos falar mal de mim pro RH.

A Alice era idolatrada naquela empresa. Era mais popular que a Xuxa. Eu não teria a menor chance, pois ninguém gostava de mim lá. E mesmo se gostassem, a Alice tinha provas demais de que nunca me assediou, era tudo consensual.

Fiz besteira! É o que dar agir de cabeça quente.

Eu precisava resolver aquela bagunça antes que ela ficasse irresolvível. Engoli o meu orgulho e fui procurar a Alice na casa dela. Estava disposta a me livrar daquilo e se rolasse algo, até a perdoaria. A verdade era que eu pouco me importava se ela ficasse com qualquer pessoa, desde que não deixasse de ficar comigo. E eu estava morrendo de saudade dela.

Idiota!

O porteiro do prédio dela já me conhecia e só acenou quando cheguei. Dei até um sorriso para ele, que deve ter estranhado, e subi. Ela me atendeu usando apenas um roupão e já vi uma oportunidade ali. Até tentou me manter fora, mas graças a duas velhinhas xeretas, vizinhas dela, precisou me puxar para dentro do apartamento.

— Que porra de acusação foi essa? O que passou pela sua cabeça? Quer destruir a minha carreira, e tudo por ciúme? Isso foi baixo demais, até pra você. — Ela estava furiosa.

— Me desculpa, por favor. Eu fiquei cega de ódio quando soube que você tinha me trocado por aquela va...

— Olhe a língua. Não vou admitir que xingue a Isa. E eu não troquei você por ninguém. Nós não tínhamos nada sério, sempre deixei isso claro.

— Mesmo assim doeu... e ainda dói. Alice, eu amo você, sempre amei. Eu sabia que tentar te amarrar seria uma idiotice, por isso nunca exigi fidelidade. Você me pegou completamente de surpresa quando terminou comigo do nada. Como acha que eu me senti depois, vendo você toda apaixonadazinha por outra? Fiquei sem rumo, perdi completamente a razão e agi por impulso, mas eu me arrependi. Olha, amanhã mesmo eu vou conversar com o Leandro e esclarecer tudo, prometo.

Bingo!

Ela resolveu me escutar. Pediu um instante para se vestir e foi para o quarto. Quase fui atrás, mas eu sabia que não era o momento.

Quem sabe depois de conversarmos.

Fiquei esperando na sala. A campainha tocou logo em seguida, e fui abrir. Era a anã de jardim.

Perfeito!

Eu não podia perder a oportunidade de provoca-la, então, me aproveitando da ausência da Alice, fingi que estava ali a convite dela. Só que Isabella não é do tipo bobinha, entrou já gritando pela Alice e me enfrentando.

— Escuta aqui, sua cascavel trevosa, eu não faço ideia do que veio fazer aqui, mas é melhor calar a boca, senão te mostro em dois segundos como você vai embora.

Já viu um siri dentro de uma lata? Ele se debate inteiro. Isabella estava parecendo um, e eu ri alto, com todo o meu sarcasmo. A criatura não tinha nem tamanho de gente, mas era invocada feito a peste. Só não tinha noção do perigo, pois, se daquele tamanho tocasse em mim, levaria uma voadora tão forte na boca do estômago que vomitaria aquela raiva toda.

A Alice apareceu na hora, com um olhar desesperado. A Chapolin Colorado continuava furiosa, e decidi provoca-la um pouco mais, insinuando que estávamos juntas.

— Alice, tira essa mulher daqui, antes que eu dê motivos a ela pra me acusar de algo também. Só que no meu caso, a acusação vai ser por agressão.

— Você e mais quantas mais vão me bater, sua pintora de rodapé?

A desgraçada voou em cima de mim e por mais que eu revidar, não conseguia. A praga parecia um Gremlin. Alice nos separou. Ainda dei um tapa na cara dela, mas a pateta ficou foi rindo da minha cara. Eu me fodi foi toda, a mulher não tinha nem tamanho de gente, como eu adivinharia que era o capeta daquele jeito. Malditas.

Depois de uma série de confusão, eu conversei com o Leandro e não dei andamento à acusação contra a Alice.

O problema é que cutuquei a onça com uma vara curta demais, e aquela maldita, com certeza induzida pela Chapolin Colorado, me processou por calúnia e difamação, tudo por causa da babaquice do assédio que eu inventei.

Eu gritei de ódio. Queria matar as duas. Conversei com minha advogada e ela disse que poderia ser que eu pagasse algumas cestas básicas e indenização.

Até aí tudo bem. O problema maior, que estava acabando com a minha paz, era outro: Getúlio Novaes! Vulgo papai.

Meu pai sempre foi muito correto com as coisas dele e sempre abominou todo e qualquer tipo de questão judicial. Se sonhasse que eu estava sendo processada era capaz de me deserdar e cortar relações comigo.

— Não quero o meu nome sujo. Nunca me envolvi em nada que o colocasse em mãos de advogados. — esbravejou quando o meu tio foi pedir dinheiro a ele para pagar pensão alimentícia. Pela sétima vez.

— Você pode tentar se livrar disso. Conversa com a Alice. — sugeriu a doutora Célia, minha advogada.

— Eu tô querendo matar aquele cão. Com que cara eu vou olhar pra ela e pedir isso?

— Não sei, Giselle. Mas vá. Use o que viveram. Seja humilde. Diga que vai esclarecer tudo. Você precisa disso ou o processo irá adiante.

Até cogitei a ideia, mas a Alice sequer atendeu minhas ligações. Dinheiro eu tinha, não precisava temer perder aquele processo. O problema estava no meu pai. Todas as merdas que eu aprontava, ele me ajudava porque nunca fui presa ou me envolvi em algo com a justiça, mas como contar pra ele sobre aquilo.

Eu estava morrendo de medo, não dormia mais. Nem saía de casa. Bebia sozinha e apagava. Até que recebi um telefonema do meu pai.

— Oi, pai...

— Pela sua voz é verdade, né? Que arrumação é essa que tu tá sendo processada, Giselle?

— Pai, eu posso explicar.

— Eu não quero saber de explicação nenhuma. Só espero que isso seja um engano e que você não seja condenada... ou pode esquecer que tem pai. — ralhou furioso e desligou.

Eu desabei e chorei até não poder mais. Não tive chance nenhuma naquele processo. Fui engolida. E o pior de tudo nem foi a pena, foi enfrentar o meu pai. Mesmo com a interferência da minha mãe, ele estava possesso.

— Já disse, esqueça que tem pai. — gritou de novo.

Jamais faria aquilo. Jamais viveria sem o apoio dele. Nem estava mais me referindo ao apoio financeiro ou material, mas ele era o meu maior exemplo. Apesar de eu nunca ter sido uma grande pessoa.

— Por favor, pai, me perdoa. Eu não pensei em nada. Só estava de orgulho ferido e fiz besteira.

— Suas lágrimas não vão desfazer as besteiras que tu fez, Giselle. — bradou com os olhos vermelhos de um ódio que eu não conhecia. — E esqueça do meu apoio, você o perdeu quando arrastou o meu nome na lama desse jeito.

— Mãe, por favor, fala com ele.

— Ele tem razão, filha.

Eu só sabia chorar e implorar o perdão dos dois. Minha mãe sempre foi muito cúmplice do meu pai, mas me ajudava quando eu precisava.

— Você sempre vai dar razão pra ele, parece que não tem vontade própria.

— Cala a boca, Giselle! — O grito dele me assustou. — Sua máscara não caiu porque a sua mãe não tem vontade própria. Caiu porque não fomos bons pais. Você é mau-caráter, filha. Quis prejudicar a moça porque ela não quis mais ficar com você. Nunca tratou ninguém bem. Tu, com esse nariz empinado, sempre deixou asco por onde passou.

Minha mãe chorava, olhando-me de cima, pois naquele momento eu estava agachada no chão, de joelhos, mas sentada sobre os calcanhares.

— Eu sempre achei que estava certa, ninguém me disse nada.

— Tu é uma mulher, Giselle. Não venha nos culpar pelo teu mau-caratismo. Erramos, sim. Mas não vamos continuar no erro. Tu vai aprender a se virar sozinha e vai começar aprendendo a tratar as pessoas com respeito, pois o mundo real é bem diferente desse inventado por ti e apoiado por nós. Tu fez uma menina enfrentar os próprios pais para assumir a homossexualidade e simplesmente sumiu da vida da coitada depois. A póbi foi expulsa de casa por sua causa. Isso me envergonha.

— Ela não fez isso por minha causa... — gritei já rouca. — Eu não a obriguei a ser lésbica.

Minha mãe se agachou e achei que fosse me bater, mas segurou o meu rosto com as duas mãos.

— Eu me arrependo tanto, filha. — Ela falou meneando a cabeça. — De não ter te educado como devia ter feito. Se eu tivesse repreendido todas as suas travessuras talvez tu fosse diferente. Mas enquanto a minha sobrinha apanhava por responder a minha irmã, eu te defendia dizendo que era só sua personalidade forte. Mas a verdade é que tu precisava era de umas palmadas... e eu não dei. — Soluçou e saiu de perto de mim. Eu baixei a cabeça deixando as minhas lágrimas fluírem.

— Levante daí e vá embora, Giselle. — A voz do meu pai saiu rouca, embargada. — Não quero mais olhar na sua cara.

— Pai, pelo amor de Deus! — disse quase sem fôlego.

— Getúlio, por favor, vamos dar uma chance a ela.

— Eu sou teu pai, Giselle. Jamais a abandonaria e me igualaria a ti. Mas a partir de agora não tem mais 'paizinho' que resolva os seus problemas. Ou tu cresce ou vai sofrer muito. Se for presa não vou mover uma palha. E vá pedir desculpa a todos a quem você fez sofrer.

— Tá bom... — Eu disse aquilo para amenizar as coisas, mas sabia que jamais pediria desculpa à Alice.

A partir daquele dia eu comecei a ver o mundo de outra forma. Não apanhei dos meus pais quando criança, mas aquela surra ali na sala da casa deles valeu a vida inteira.

Fui condenada a prestar serviço comunitário no Lar Amigos de Jesus, uma instituição que dá apoio à crianças com câncer que moram no interior do estado e precisam ficar em Fortaleza para se tratarem.

Aparentemente, a Alice não queria grana, – ela não precisava – queria mesmo era me ensinar uma lição. Mais uma querendo isso. A doutora Célia adorou aquilo, mas ficou frustrada quando gritei com ela e pedi para tentar mudar a pena. Eu preferia pagar a ter que lidar com aquelas crianças e os familiares dela, mas não deu certo. Ao que parecia, o universo estava disposto a me fazer aprender na marra. Fui encaminhada para um abrigo de crianças.

Eu sentia uma dor na garganta. Um nó que não se dissipava de jeito nenhum quando entrei no local para começar a cumprir a pena. Meu coração palpitava, queria sair pela boca. De repente me vi acuada, como um animal fora do habitat. O lugar era administrado por freiras. Além delas, havia um monte de pessoas simples trabalhando, todos voluntários. O barulho típico de muitas crianças juntas. Meu celular vibrou e vi mensagem da minha mãe. Só li na tela de notificação.

— Deus te abençoe, minha filha!

Eu fui às lágrimas e recebi aquela benção enquanto ia procurar a madre, coordenadora do lugar. 



Música:

TrueColors - Cindy Lauper | Alicia Keys Cover



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