Acto Único
NÃO ERA MUITO LONGE DO FINAL DOS ANOS 50 que Roland abrira sua cafetaria estilo americana que estava bombando naquela década.
As pessoas iam lá para aproveitar o início da manhã ou o fim da tarde. Roland gostava daquela atmosfera e aquele fim de tarde com o céu amarelado com leve tom de rosa e nuvens semi-carregadas era um ótimo momento para tomar um café com alguém.
Enquanto Elvis Presley cantava na jukebox multicolorida, nos sofás acolchoados vermelho estavam as velhotas jogando biscas e noutros adolescentes conversando sobre os dilemas da fase.
Nas paredes brancas, com faixas vermelhas e vinis espalhados como decoração, também continha o menu, num papel castanho que ele mesmo fizera com o melhor café que ele já plantara em sua vida nos confins do seu jardim verdejante.
Ele adorava o aroma de cafeína e leite que assolava o seu estabelecimento, era como se uma carga de perfeição fosse derramada e nunca perdesse aquela essência perfeita.
Mas o que o prendia na sua cafetaria, era a Celine. Uma mulher esbelta, com traços angelicais e uma pele morena que o lembrava do macchiato e que ele tanto queria saber se sabia tão bem quanto a bebida.
Celine era sua vizinha épocas e frequentava a cafetaria numa frequência como padre frequenta uma igreja.
Ele sabia de cor todos os seus gostos e o que ela bebia pela manhã, antes de ir a escola onde ela lecionava.
Oh, Celine. Tão perfeita como um cappuccino logo pela manhã!
Roland sempre murmurava quando a via atravessar a porta de vidro que tinha um sino dourado logo acima que tilintava sempre que alguém adentrava.
Só que diferente dos dias, em que a mulher entrava no estabelecimento alegre e tomava um latte pela manhã ou um mocha ao fim da tarde, Celine estava emburrada, o rosto rígido e o semblante cabisbaixo.
O dourado das lâmpadas do local, deixavam a sua pele mais bonita e o cabelo farto e ondulados loiro caia-lhe muito bem pelos ombros como uma cascata.
Não estava vestida com uma saia-lápis e uma blusa de mangas compridas que ela sempre vestia. Estava vestindo um maravilhoso vestido rodado com um decote em "V" com florzinhas - margaridas para ser mais exato - e mocassins.
Estava numa mesa simples, de madeira de carvalho e um banco da mesma matéria-prima e parecia ter marca de lágrimas no seu rosto.
Roland sentiu-se mal por a ver daquela maneira. Mas não conseguia desenvolver uma conversa com ela. Sentia-se por vezes menos homem para ela, já que muitos rapazes da região já na casa dos trinta como ele, trabalhavam nos bancos, nas esquadras policiais, eram advogados ou médicos. Ele era diferente, não sonhava em ser um salva-vidas dessa forma, ele queria salvar vidas com os seus cafés.
"um dia tu irás ver que a mulher estará comprometida se não fores logo declarares-te a ela. Meu amigo, da maneira que eu tomo um café às pressas é a mesma forma que a podem levar" dissera Francis, o seu melhor amigo, numa tarde em que tomavam um macchiato do lado de fora da cafetaria.
Roland pusera-se a pensar nas palavras do amigo e decidiu que ia falar com a moça.
Pensou em uma forma de demonstrar o seu amor com o café, mas qual ele ia escolher? O latte que a mulher tomava pelas manhãs com todo gosto ou o mocha que ela bebericava, enquanto ouvia The Beatles na jukebox da cafetaria?
Mas ele sabia que não havia melhor forma de demonstrar o amor do que com o velho e clássico expresso. Com o velho sabor rústico e a fragrância amadeirada e adocicada.
Ele preparou com todo o amor dançando lentamente quando sentiu o aroma entrar-lhe pelas narinas e quando ficou pronto, levou até a mulher.
Ela o olhou incrédulo e ele esforçou-se para mostrar o maior sorriso.
- Vai um cafezinho? - Ele indagou e ela aceitou o levando até os lábios.
- Não está suficientemente amargo - reclamou.
Mas para Roland estava o suficientemente amargo, mas não tão e o expresso estava perfeito.
- Porquê devia estar amargo?
- Porque só o amargo pode equilibrar a dor no meu peito. Fui demitida.
- Oh, mas que mal há em ser demitida? - questionou a mulher. Ela riu fraca, abanando a cabeça.
- Há mal sim. Sem o meu trabalho sinto que não serei feliz. O que será de mim, uma moça solteira, sem emprego, a beira da falência? - ele olhou-a e viu que aquele adocicado do olhar já não estava mais presente ali.
- Podes trabalhar aqui na minha cafetaria. E não existe nada melhor para nos deixar feliz do que café - Ele abriu um sorriso contagiante ao ponto de fazer a moça sorrir de volta.
697 palavras
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