Capítulo 4:⛵Promessa de Aniversário🌟
⛵
Primeiras promessas juradas
São sempre essas as mais lembradas.
🌟
Terça-feira, 20/09/1955.
O casal Dianne, Adan e Evan, estavam com Eveli e Murat fazendo um piquenique no alto da colina em Girassol. Aproveitaram que a escola das crianças estava fazendo uma excursão nessa área, sugestão de Evan, que era professora de canto na instituição; entrara para o conservatório de música no intuito de ser professora na escola de Murat e assim poder ficar mais próxima dele.
Era aniversário de Eveli — a menina estava completando sua oitava primavera —, então o plano consistia que através dessa excursão, os quatro tivessem um momento só deles para comemorar. Deixaram as crianças e os professores fazendo uma refeição na casa principal da propriedade, que pertencia aos Diannes, e foram para o alto da colina fazer um piquenique.
Após comerem diversas guloseimas que estavam sobre a toalha forrada na relva, Eveli correu para o pé de Jamelão, e Murat foi atrás dela. Evan gritou para que Eveli tivesse modos, se comportasse, mas foi em vão.
Era sempre assim, bastava Eveli estar ao lado de Murat, principalmente apenas os dois com os pais, que perdia as estribeiras. Parecia esquecer que era uma menina e passava a se comportar de forma displicente, deixando de lado a etiqueta que as meninas aprendiam desde muito novas. Mas não era proposital. Era apenas a felicidade transbordando.
Havia algumas frutinhas pelo chão, mas não muitas, então Murat subiu na árvore para pegar mais. Chacoalhou alguns galhos e uma chuva de jamelões caiu sobre Eveli. Ela riu achando graça e correu para catar mais algumas frutinhas.
Quando Murat desceu, eles se sentaram ao pé do jamelão. Murat esticou a mão fechada para Eveli, a menina arregalou os olhos demonstrando curiosidade. Ele sorriu feliz ao ver a expectativa nos olhos dela e abriu a mão. Havia três jamelões. Ele colocou um do lado do outro e o terceiro por cima.
— Feliz aniversário, Li — disse Murat com um largo sorriso. — É o seu bolo de aniversário.
Eveli esticou a mão para pegá-los, mas Murt recuou o braço. A pequena o olhou sem entender.
— Faz um pedido primeiro — orientou o garoto.
Eveli balançou a cabeça em sinal de afirmação. Nesse momento, ouviu o som da risada dos pais a alguns metros. Eles estavam rindo e em seguida se beijaram. Eveli voltou novamente o olhar para Murat e fechou os olhos.
— Eu quero que você seja o meu marido quando eu crescer — disse esticando a mão para pegar o seu "bolo".
Novamente Murat recuou o braço. Eveli o olhou confusa, e ele tinha uma expressão de quem não aprovava o pedido.
— Primeiro, não era pra você dizer em voz alta, um pedido é segredo — Murat a repreendeu.
— Hã... Mas não temos segredos, não é Mur? — disse a aniversariante claramente sem entender por que ele parecia chateado.
— Segundo, irmãos não se casam, é proibido — Murat continuou sem fazer caso da interpelação dela.
— Hã... Somos irmãos mesmo? — Eveli o questionou em busca de confirmação, a sua voz era uma mistura de dúvida e desânimo.
— Claro que somos.
— Então por que moramos separados? Irmãos não moram na mesma casa? Acho que não somos irmãos de verdade. Você mora com outros pais.
Há tempos Eveli guardava essa dúvida, já tinha tentado obter esclarecimentos através dos pais, mas eles eram sempre muito evasivos. Ela via os coleguinhas da escola morando na mesma casa com os irmãos, mas ela era diferente. Quando perguntavam se ela tinha irmão, e ela dizia que sim, que era Murat, todos contestavam e caçoavam dela.
— Eu morar com outros pais não muda nada, não seja boba. Somos irmãos. Nosso pai vai resolver isso, ele prometeu — ele disse de forma incisiva.
— Tá bem. Desculpe, então. É que você é meu melhor amigo, e sinto tanto a sua falta. Achei que se você fosse meu marido, ficaríamos juntos todos os dias, igual ao papai e à mamãe — disse a pequena em um muxoxo.
— Um dia moraremos todos juntos, não vamos precisar casar pra isso — o jovenzinho respondeu em tom ameno.
— Você promete, Mur? — Eveli pediu com esperança nos olhos e súplica na voz.
— Sim, prometo.
— Tá bem... Hum... Mas se eu não vou poder casar com você, com quem vou casar? Não tem ninguém que eu goste mais do que você, além do papai e da mamãe.
— Não se preocupe com isso, quando você crescer, eu e o papai vamos encontrar alguém bom pra você. Você vai gostar dele, com certeza, porque vamos escolher direito.
— Hum... Tá bem, se você diz — disse Eveli dando de ombros.
Ela já não aparentava mais que estava prestes a chorar, isso deixou Murat aliviado, odiava vê-la chorando, principalmente se fosse por culpa dele, ainda que indiretamente.
— Agora faça o seu pedido — disse Murat novamente estendendo a mão.
Eveli fechou os olhos, mas dessa vez ficou em silêncio. Após alguns segundos, abriu os olhos novamente e esticou a mão para pegar o "bolo", mas recuou em seguida.
— Sei que você disse que o pedido de aniversário é um segredo, mas posso contar?
— Você quer?
— Ã-hã.
— Está bem, pode contar.
— Pedi você na minha festa de aniversário, você nunca pode ficar pra festa — a menina disse baixando os olhos.
Nos três últimos aniversários, o casal Dianne conseguiu ter momentos a sós com Murat no dia do aniversário da filha. Evan sempre fazia uma pequena torta e alguns docinhos só para Murat poder comemorar com Eveli. Mas a menina estava crescendo e isso não era mais suficiente.
O que ela queria mesmo era ele junto com todos os seus coleguinhas e parentes em sua festa de aniversário. Que ela pudesse mostrar os presentes a ele. Que Murat estivesse ao lado dela quando fossem cantar os parabéns.
Murat se aproximou mais, ficando ao lado dela, passou o braço pelo ombro da jovenzinha e ofereceu novamente as frutas.
— Ei, seu pedido será atendido, eu tenho certeza.
— Promete, Mur?
— Sim, prometo. Palavra de escoteiro — ele prometeu, fazendo o gesto dos escoteiros com os dedos. — Agora coma o seu "bolo".
Eveli pegou o "bolo" e comeu as duas partes, o terceiro "pedaço" ela ofereceu ao irmão, que aceitou com um largo sorriso.
⛵
As promessas não cumpridas
Nunca serão esquecidas.
🌟
Sexta-feira, 20/09/1957.
Eveli estava ofegante, com seus cabelos de nuances avermelhadas esvoaçados e as bochechas vermelhas por causa da corrida e do sol aconchegante que anunciava a iminência do verão. Ela e Murat apostaram corrida no píer da praia de Miramar. Havia perdido outra vez, isso a deixou ainda mais vermelha.
Mais uma vez Evan havia programado uma excursão no aniversário da filha, dessa vez para a praia. A desculpa era visitar um lugar de Miramar que estivesse ligado à música.
A escolha foi a capela da cancioneira, era conhecida por esse nome a igrejinha que ficava ao final do píer da praia de Miramar, pois havia um banco de concreto na parte exterior dos fundos da igreja que ficava de frente para praia, e nesse banco havia a estátua de uma jovem sentada mirando o mar.
Ela era chamada de cancioneira porque representava as moças que iam para a beira do mar cantar cantigas de amor.
A professora de Biologia ensinava sobre as algas, as conchas, a salinidade da água e assim por diante. O professor de Geografia ensinava sobre o clima, a região litorânea e outras informações pertinentes a essa matéria.
O professor de História ensinava sobre a história de Miramar, que ali tinha um cais até alguns anos antes, de onde soldados partiam para a guerra, ou simplesmente pessoas embarcavam em navios para suas viagens.
Depois de Eveli recuperar o fôlego e a calma, eles sentaram no banco da cancioneira. Evan e Adan que vinham atrás das crianças caminhando de mãos dadas, chegaram ao banco, entregaram as lancheiras a eles e seguiram para a beirada para admirarem o mar.
Murat abriu a lancheira, pegou uma maçã caramelada e a ofereceu à Eveli.
— Feliz aniversário, Li. Esse é o seu bolo desse ano.
Desde o aniversário de oito anos dela, virou uma tradição ele selecionar algo para usar como bolo. No ano anterior, havia dado uma ameixa mergulhada em calda de chocolate.
Eveli já estava acostumada com os procedimentos. Lançou rapidamente um olhar em direção aos pais, que estavam abraçados, o pai acariciava os cabelos de sua mãe e dava alguns beijos de leve nos lábios dela, algo singelo, afinal, estavam em público.
A aniversariante então fechou os olhos, fez o pedido, em seguida pegou a maçã e deu uma mordida.
— O que houve? — perguntou Murat demonstrando estar confuso.
— Quê? — indagou Eveli de forma displicente.
— Todo ano você me conta o pedido. Não vai dizer nada?
Eveli deu de ombros enquanto mastigava o pedaço de maçã que havia abocanhado.
— O que isso significa, Li?
Ela olhou para ele por uns instantes e baixou os olhos logo depois.
— Vai ficar de segredo agora? — ele insistiu.
— Que meu primeiro beijo seja com você — ela disse com a voz baixa.
Murat ergueu as sobrancelhas em demonstração de surpresa e reprovação.
— O que é isso? Não seja boba. Eu não já expliquei sobre isso quando você tinha oito anos? Esqueceu?
Ela ergueu os olhos novamente, encarando-o com um olhar um pouco confuso, como se tivesse tentando assimilar as informações, ponderar e por fim formular um argumento. Murat reforçou o olhar levantando ainda mais as sobrancelhas, como um sinal de comando para que ela respondesse.
— Você disse que não podia casamento — ela disse por fim.
— Casamento, beijo, tanto faz. Irmãos não podem nada disso — ele respondeu gesticulando.
— Acho que não somos irmãos. Você disse que o papai ia dar um jeito de morarmos todos juntos, mas continuamos separados. Não somos irmãos de verdade.
— Não fique repetindo isso senão vou me zangar com você. Não me ama como seu irmão?
— Amo sim — Eveli respondeu em tom um pouco ofendido, como se tivesse se defendendo de uma acusação.
— Então...
— Mas nem na festa do meu aniversário você fica — queixou-se com os olhos já marejados. — Você prometeu.
— Eu sei que eu prometi, Li ... — respondeu Murat, passando o braço ao redor dela. — E um dia eu vou cumprir, só não deu ainda. Agora respire fundo e faça um novo pedido.
— Continua podendo ser pedido antigo? — ela indagou.
— Claro.
— Então é o mesmo de sempre, que você esteja na minha festa.
Murat forçou um sorriso, pegou a maçã de Eveli e deu uma mordida. Sabia que ela não queria realmente se casar com ele ou beijá-lo, o que queria mesmo era que estivessem juntos embaixo do mesmo teto, e achava que com um casamento isso seria possível. Ela ainda era uma criança e não entendia direito como as coisas funcionavam, as regras.
Não estava bravo com ela, pelo contrário, o coração dele partia um pouco mais a cada pedido de aniversário dela. Ela estava crescendo, talvez no próximo aniversário compreendesse melhor as coisas e sofresse menos. Essa era a sua esperança. Ele a amava muito. Ela, Evan e Adan eram a sua verdadeira família, não queria ver nenhum deles sofrendo.
Após Eveli comer toda a maçã, eles talharam M&E em um dos bancos da capela. Sabiam que as mensagens talhadas naqueles bancos eram todas de enamorados, pois isso tinha virado praticamente uma tradição.
Entretanto, não se importaram, o que importava para eles era que se amavam também, ainda que de forma apenas fraternal, e que queriam deixar os nomes deles registrados naquele lugar, como um memorial do compromisso selado por eles de estarem sempre juntos.
Um pouco depois, a hora do intervalo acabou, e todo o resto do grupo se reuniu próximo à igrejinha.
Havia chegado o momento de falar sobre música, sobre as canções que as jovens cantavam enquanto contemplavam o mar, despedindo-se de seus amados que sumiam no horizonte em um navio. Geralmente canções tristes, como lamentos e súplicas. Lamento pela partida e súplica pelo retorno deles.
Eveli pegou na mão de Murat enquanto sua mãe cantava algumas canções. Eram tão tristes que aquilo causou um aperto no coraçãozinho dela. Não queria jamais ter que ver Murat partir. Não queria ter que se separar dele fosse por qualquer motivo.
Que Deus jamais permitisse que algo assim acontecesse. Que ela jamais precisasse cantar aquelas tristes canções de espera, as tristes canções de saudade.
"Bramidos do mar de Mira
Se vires o meu amigo
Se vires o meu amado
Canta pra a ele a minha sina."
Cena fofa?
Estrelinhas... Estrelinhas... Please, cliquem na estrelinha ^_^
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro