Capítulo 2: 📜A Tradição dos Vinte e Um📜
⛵
Quando o pássaro ganha a liberdade
É hora de provar a sua lealdade.
🌟
Miramar, 20 de setembro de 1968 (Quarta-feira).
Tradições... Essa era a palavra que definia a família Mori Dianne, eles eram cheios delas. Uma dessas tradições era os avós e bisavós darem heranças específicas aos primogênitos. Mas havia uma condição: os netos primogênitos precisariam casar até os vinte e cinco anos, além disso, precisariam, também, ter o primeiro filho nos dois primeiros anos de casados.
Isso se devia à Sanem Mori, trisavó de Eveli Mori Dianne. A ancestral havia deixado um longo testamento que contemplava as futuras gerações, inclusive, as que não tinham nascido na época de sua morte.
Para as primogênitas dos primogênitos, havia um presente aos quinze anos: a fórmula de um perfume exclusivo. E uma herança aos vinte e um, que era, na verdade, um presente especial. Dependendo do empreendedorismo da beneficiária, esse presente poderia se tornar muito rentável. Na época em que sua ancestral Sanem estava viva, todas ganhavam perfume, mas em relação ao presente especial, apenas as primogênitas.
Esses presentes e heranças eram devido à família Mori Dianne ter outra tradição: a dos inventos. Sanem Mori inventara receitas que viraram famosas. Os lucros que havia ganhado, investiu, fez aplicações, iniciando assim o ciclo de levantamento da futura herança para os descendentes primogênitos. Isto é, havia um fundo de investimento que uma parte do valor era retirada cada vez que um primogênito fazia vinte e cinco anos e estivesse prestes a casar.
Sanem havia deixado muitos dos seus inventos para as gerações futuras. Livros com suas receitas comuns, especiais - inclusive de longevidade - e de chás. Deixou também sua fórmula de pomada cicatrizante e pomada labial, que virou, posteriormente, um gloss no domínio dos descendentes, pois descobriram outros efeitos do protetor labial.
O gloss não apenas protegia os lábios contra o ressecamento, rachaduras, como atuava no colágeno, combatendo radicais livres e funcionando contra o envelhecimento labial. Além disso, ele também tinha pimenta na fórmula, o que acarretava em um efeito picante nos lábios. Eles ficavam quentes, formigando, então inchavam levemente, e a cor natural era realçada.
Ninguém entendia direito essa obsessão da ancestral em deixar tantas regras em seu testamento. Diziam simplesmente que era para garantir que os descendentes casassem cedo, para que ao longo das décadas, tivessem muitas gerações na família convivendo e, assim, fizessem um quadro com cinco gerações. Ou seja, um ancestral com filhos, netos, bisnetos e, ao menos, um trineto
Capricho ou não, Sanem Mori ser um prodígio era um fato. Uma mulher muito engenhosa e com muitas habilidades, principalmente para o século dezenove, período em que boa parte das mulheres só tinha uma instrução básica. O suficiente apenas para serem boas esposas e mães.
Após várias mulheres e herdeiros em geral se beneficiarem das tradições testamentárias de Sanem, ali estava Eveli, recebendo o seu presente de vinte e um anos e sendo orientada sobre as mudanças nas cláusulas para que a herança do primogênito fosse entregue a ela, uma vez que era filha única.
O advogado da família, Gregory Mori, juntamente com o seu filho Gregório, que estava iniciando a carreira de advogado, explicou para todos sobre as alterações, o presente especial e a herança que Eveli receberia caso se casasse até os vinte e cinco anos.
Mas como a situação de uma mulher receber a herança da primogenitura era algo novo, o velho Giorgio Mori - advogado de quando Sanem ainda era viva e pai de Gregory - fez a indicação de que o ideal seria ela se casar antes dos vinte e cinco. O argumento usado foi que iniciar a maternidade apenas após os vinte e cinco, já a caminho dos trinta anos, era considerado como tardio.
Giorgio havia passado há pouco tempo o comando para o filho Gregory, mas como ainda prestava algumas consultorias à família, e por ser uma reunião importante, fez questão de estar presente.
Não foi à toa que ele estava nessa reunião. O que queria mesmo era sugerir um casamento entre Gregório - seu neto e advogado - e Eveli. O que era esperado, uma vez que, por gerações, houve casamentos entre os Moris e os Diannes. Gregório parecia pouco à vontade com as insinuações do avô. Ficava evidente para toda a família que ele não nutria uma afeição especial pela herdeira dos Diannes, pelo menos não uma matrimonial.
Murat estava presente por insistência de Adan. Não tinha muito a ver com a reunião, mas Adan sempre dizia que ele era o seu braço direito na empresa, embora o jovem ainda tivesse concluindo a pós-graduação na área administrativa e fosse, até pouco tempo, apenas um estagiário na empresa.
Entretanto, nada disso tinha importância para Adan. O que importava era Murat ser o seu filho, ainda que muitos dissessem o contrário. Por mais que a família fosse cheia de regras e cláusulas, Eveli, juntamente com o seu futuro marido, e Murat, tocariam a empresa. Esse era o plano de Adan.
Enquanto o Sr. Gregory fazia insinuações sobre o casamento de Eveli com o neto, a jovem herdeira olhava de soslaio para Murat. Queria examinar as reações dele. Não é possível que ele não se importe, que fique indiferente depois de tudo. Ou é?!
Ele estava com o maxilar cerrado. A mesma mania do pai quando era contrariado, quando não estava gostando de algo. Sem reações extravagantes, alardes, esbravejamentos, mas o maxilar se tencionava. Isso quando o descontentamento estava além da raiva, ou quando precisava ser comedido por algum motivo.
Conhecia Murat muito bem, afinal, passaram a vida juntos. Desde novo, ele tinha absorvido esse mesmo traço de Adan. Eveli deu um sorriso discreto de canto de boca ao constatar que ele estava contrariado. O problema foi que os presentes viram aquela reação dela como uma aprovação.
Todos se entreolharam surpresos, e o velho advogado deu um sorriso satisfeito e uma piscadela para o filho que, por sua vez, olhou para Gregório na sequência, erguendo as sobrancelhas. Ao passo que o jovem advogado revirou os olhos e depois deu um sorriso forçado para Eveli.
Ao ver Eveli com um pequeno sorriso e, na sequência, Gregório sorrindo para ela, Murat cerrou ainda mais o maxilar. Levantou-se, pediu desculpas e alegou que precisava se ausentar por alguns instantes.
Eveli franziu a testa ao ver Murat se retirar. Se antes estava feliz em constatar que ele desaprovava o teor da conversa, agora estava aflita. Será que ele se aborreceu comigo? Talvez ache que aprovei a sugestão do tio Giorgio? Ela já não prestava atenção em mais nada.
O assunto entrou nos presentes dela, que eram algumas fórmulas e a pomada cicatrizante. A MD Empreendimentos há algum tempo queria mais receitas para lançar novas linhas de chás, ou lançar edição nova do livro de receitas publicado pela editora deles.
Na verdade, não era exatamente uma editora, mas sim um jornal. Inicialmente, fizeram publicação mensal dos segredos culinárias da família e, como fez muito sucesso, reuniram algumas criações e publicaram um pequeno livro, o qual foi vendido aos assinantes dos jornais. Posteriormente, livrarias se interessaram e compraram também uma tiragem.
Claro que as receitas mais tradicionais da família não foram publicadas, pois queriam que permanecessem apenas em família. Mas as mais gerais, ou dicas culinárias, foram reveladas no livro. Como teve uma ótima aceitação, perceberam que ter uma linha de alguns desses produtos poderia dar certo, e realmente deu.
Vendiam chás e alguns doces em conserva para os principais mercados da região, além dos tradicionais produtos da fazenda: os derivados da uva, que eram os principais produtos da família Dianne. Posteriormente, passaram a comercializar derivados de girassol: óleo, sementes e extratos para área de cosméticos.
Desde a saída de Murat, Eveli, além de não assimilar mais nada do que diziam, estava impaciente. Dividia a sua atenção entre os lábios deles se movendo e a entrada. Estava na expectativa do retorno de Murat.
- Mamãe, papai - disse Eveli levantando-se. - Vovô, vovó - prosseguiu, olhando agora para Ferit e Lale, os avós paternos. - E advogados - completou, direcionando o olhar para os três advogados presentes: Georgio, Gregory e Gregório, que eram seus parentes, tios-avós, primos distantes e coisas do gênero. - Estou completando vinte e um anos, então ainda tenho tempo para pensar sobre isso de casamento. Não vamos nos afobar. Os presentes parecem interessantes, depois penso o que faço com eles. Agora, se me dão licença, quero aproveitar o dia, afinal, não é sempre que se chega à maioridade - concluiu Eveli, jogando beijos para todos e saindo apressadamente da sala.
Foi até à secretária e perguntou por Murat, mas ela não sabia. Olhou na sala dele. Nada. Olhou na área geral dos funcionários. Nada. Perguntou para Rosemary, a estagiária, mas ela também não sabia.
Eveli, então, escreveu um bilhete e pediu para que Rosemary entregasse a Murat assim que o visse. Sabia que ele apareceria, pois estava no meio do expediente, e ele era muito responsável. Jamais sairia da empresa em horário de trabalho sem dar satisfação.
"Irmão,
preciso falar com você urgente.
Te espero no final da tarde no píer,
na estátua da cancioneira.
Li..."
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro