Capítulo 8
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Bianca não conseguia deixar de pensar no que a mãe havia lhe dito, sobre um possível casamento com o duque.
Verdade que a ideia de se casar não lhe agradava nenhum pouco, até porque não acreditava mais em amor, mas se podia fazer isso por Olímpia, seria seu dever como princesa. Tantos outros enlaces nobres são feitos assim, poderia suportar.
Em alguns momentos quando estava sozinha, ainda chorava relembrando dos momentos vividos com Paolo, do toque quente daquelas mãos em seu corpo. Doía-lhe saber que nunca mais teria isso novamente. Nunca mais queria homem nenhum em sua vida, ninguém conseguiria substitui-lo.
Precisava fazer algo de útil e esquecer completamente do passado, e tinha diante de si uma excelente oportunidade. Era o certo a se fazer.
Arrumava-se com esmero diante da penteadeira, pois teria um evento social com a mãe e a cunhada. Um leilão beneficente para arrecadar fundos em prol do lar para crianças carentes.
Bateram à porta e Bianca virou-se vendo a mãe entrar.
— Buenos días mi hija.
— Buenos días mamá.
Cassandra foi até a filha, passando a mão por entre seus longos cabelos castanhos.
— Você está belíssima, como sempre. — elogiou acariciando seus ombros e olhando-a pelo espelho. — Mas falta algo.
A rainha pegou um delicado colar dourado com pingente em formato de coração que estava dentro da caixa de joias e colocou no pescoço da filha.
— Agora sim, está perfeita.
Bianca sorriu para a mãe e virou de frente para ela, queria falar o que pretendia olhando em seus olhos.
— Mamá eu pensei muito durante esses dias.
— Em que mi hija?
— No que a senhora me disse, sobre me casar com o duque.
Cassandra tentou conter a empolgação.
— E no que resultou seus pensamentos? — perguntou mantendo a voz suave.
Bianca abaixou a cabeça enquanto esfregava as mãos em um gesto nervoso sobre o colo.
— Eu percebi que a senhora tem razão, eu sou uma princesa e tenho deveres para com o meu reino.
Ela levantou e deu alguns passos até a janela, observando o belo dia que se iniciava lá fora.
— Eu vou me casar com o duque, pelo bem de Olímpia.
Se olhasse para a mãe naquele momento, Bianca veria o sorriso vitorioso que ela ostentava. Seu plano havia funcionado perfeitamente.
— Tem certeza disso mi hija? — Cassandra perguntou com cautela aproximando-se da garota.
— Tenho sim mamá. Se ele ainda quiser se casar comigo, eu estarei aqui. Se ele não tiver mais interesse, procure outro nobre que queira.
Cassandra afagou os ombros da filha e beijou seus cabelos, sabia que ela ainda estava triste e de coração partido, mas com o tempo esqueceria daquele maldito pescador.
— Está bien mi hija, que assim seja. Bianca olhe para mim.
Ela fez o que a mãe pediu.
— Eu vou falar com o seu pai e nós dois vamos conversar com o duque, mas por enquanto esse assunto fica somente entre nós duas, ok? Até resolvermos tudo.
— Está bien mamá.
A rainha consorte tinha medo de que Penélope se metesse e atrapalhasse seus planos, e não podia permitir isso de jeito nenhum, não agora que tudo estava dando certo!
As duas desceram juntas para o café da manhã. Michael, Nicholas, Melissa e Penélope já estavam à mesa.
— Buenos días querida família. — Cassandra cumprimentou alegre.
Bianca também cumprimentou indo sentar ao lado da tia.
— Como estás cariño? — Penélope perguntou afagando a mão da sobrinha e a garota lhe sorriu.
— Muy bien tía.
— Está muito bonita mi hija. — Michael elogiou a filha. — Gosto de vê-la assim, mi princesita.
— Gracias papá.
— Hoje nós temos um evento muito importante, não podemos nos atrasar. Melissa não demore, por favor.
— Sim Cassandra. — a moça assentiu para a sogra.
— Querido, eu gostaria de conversar um assunto urgente com você ainda hoje.
— Do que se trata? — Michael perguntou olhando para a esposa.
— Mais tarde, quando estivermos descansando. Só quero que não esqueça, é muito importante.
— Tudo bem. Eu já estou indo, Nicholas, Jaime já está nos esperando.
— Sí papá.
Ele despediu-se e rumou para o escritório sendo seguido pelo filho.
— Meninas apressem-se, eu não quero chegar atrasada.
Bianca e Melissa levantaram, e foram até os seus quartos terminar de se arrumar.
— Está de bom humor Cassandra. — Penélope comentou encarando a cunhada que apenas sorriu.
— Não posso ficar de bom humor, cuñada?
— Pode, é claro.
Só tenho medo do motivo que está gerando esse bom humor todo. A condessa teve vontade de acrescentar, mas ficou quieta.
...
O evento beneficente foi um sucesso, conseguiram arrecadar um excelente valor para o orfanato Virgem de Guadalupe. Ao final do dia, Cassandra e as duas princesas foram homenageadas com uma apresentação feita pelas crianças.
— Eu fiquei tão feliz de ver os rostinhos alegres e sorridentes. — Bianca disse quando entraram no hall do castelo. — Meu coração ficou quentinho.
— O meu também. — Melissa concordou sentando ao seu lado. — Eu adoro crianças.
— Se gostasse tanto assim, você e meu filho já deveriam ter me dado netos, não acha minha cara?
O sorriso que a italiana ostentava se desfez no momento em que ouviu as palavras da sogra.
— Com licença... — a moça subiu rapidamente as escadas segurando a vontade de chorar.
— Não precisava ter falado isso mamá.
— Não pretendia ser tão dura mi hija, mas é a verdade. Seu irmão e essa moça estão casados há quase dois anos e ainda não temos um herdeiro.
Bianca teve vontade de falar o porquê desses filhos não existirem, mas preferiu ficar quieta. Se a própria Melissa não se importava com essa situação, ela não podia fazer nada.
— Eu vou tomar banho.
Antes que ela chegasse ao pé da escada, viu que a tia vinha descendo.
— O que aconteceu com a Melissa? Ela entrou no quarto apressada, parecia triste. Eu chamei, mas acho que ela não me ouviu. — Penélope perguntou descendo os degraus. — Hola cariño. — passou pela sobrinha lhe dando um beijo.
— Hola tía. Melissa se chateou com algo que minha mãe disse. Com licença.
A condessa esperou que a sobrinha se afastasse e olhou para a cunhada.
— Não me surpreende que você tenha feito algo para chateá-la.
— Eu não falei nada demais, só disse a verdade. Com licença cuñada, preciso de um banho, o dia hoje foi exaustivo.
Penélope observou enquanto ela subia os degraus da longa escadaria.
...
O jantar foi em clima tranquilo. Melissa não estava presente já que havia ficado mal com as palavras cruéis de Cassandra.
Logo após a sobremesa, Bianca se retirou alegando que estava muito cansada. Nicholas também foi se recolher minutos depois.
Michael, a esposa e Penélope foram para a sala de estar tomar cálices de Limoncello, um famoso licor de limão oriundo de Sorrento, uma cidade costeira no sudoeste da Itália.
Bianca não conseguia dormir, sua mente estava agitada, inquieta. E o clima quente que fazia agora a noite não ajudava em nada.
Vendo que não conseguiria adormecer, ela levantou e vestiu um penhoar por cima da camisola cor de rosa. Calçou chinelos e foi em direção a porta.
Podia ouvir as vozes dos pais e da tia conversando lá embaixo, sendo assim não poderia ir até o quarto dela conversar um pouco. Estava se sentindo um pouco perdida e confusa, ouvir os conselhos de Penélope com certeza lhe fariam bem.
Teve vontade de tomar um copo de leite morno, mas para ir até a cozinha, teria que passar pela sala de estar. E não queria responder as perguntas que seriam feitas pela família.
Soltando um suspiro, Bianca voltou para dentro do quarto e decidiu ouvir um pouco de música para relaxar.
...
— Bom, eu vou me recolher. — Penélope anunciou levantando e Cassandra quase suspirou de alívio. — Buenas noches hermano, buenas noches cuñada.
— Buenas noches hermana. — Michael beijou o rosto da irmã.
Ele foi sentar ao lado da esposa no pequeno sofá elegante de dois lugares.
— E nós mi amor? Vamos deitar também?
— Daqui a pouco, antes eu quero conversar com você.
— Ah sim, é verdade. Você disse no café da manhã que queria me falar algo urgente.
— Sim, vamos até o escritório. — Cassandra chamou levantando e lhe estendendo a mão.
— Por quê? Estamos somente nós aqui.
— Querido por favor, eu prefiro conversar no escritório.
— Está bien. — Michael levantou por mim e a abraçou enquanto iam até o cômodo.
No andar de cima, Penélope observava o casal real. Queria descobrir do que se tratava esse assunto tão urgente, tinha quase certeza de que era algo sobre Bianca, mas sua "querida" cuñada era muito esperta e escorregadia.
Penélope jurou a si mesma que não voltaria para Nápoles até ter certeza de que sua menina estaria bem e plenamente consciente das artimanhas da mãe.
...
— Qual é esse assunto tão urgente? — Michael perguntou sentando no sofá de couro negro que ficava encostado na parede.
— Eu conversei com a Bianca hoje de manhã e ela me disse que aceita um casamento com o duque Leandro de Castilho y Sevilha.
— Cassandra eu já lhe disse que...
— Cariño ela decidiu isso.
Ele encarou a esposa sabendo que tinha o dedo dela naquela história.
— O que disse a ela para que aceitasse?
— Não disse nada demais Michael, apenas fiz com que ela percebesse que o duque é um excelente partido e nós teríamos muito a ganhar com essa união. Nosso reino tem muito a ganhar.
— Cassandra nossa filha não é moeda de troca, não farei do seu casamento uma barganha.
— Michael, por favor...
— Eu vou conversar com ela, perguntarei o que ela quer e aí nós vamos decidir.
— Querido...
— Está decidido, amanhã conversarei com Bianca. Eu vou me deitar, você vem?
— Já estou indo, vou beber água.
Contrariando a vontade de quebrar algo, Cassandra enfiou as mãos por entre os cabelos. Precisava fazer algo, e rápido.
Bianca podia acabar se mostrando confusa ao pai ou então Penélope ficar sabendo de tudo, seus planos iriam por água abaixo. Não podia perder aquela oportunidade de jeito nenhum.
...
Michael bateu à porta do quarto da filha, queria conversar com ela antes de qualquer coisa. E também longe de Cassandra.
Bianca abriu a porta e ficou surpresa em ver o pai.
— Buenos días papá.
— Buenos días mi hija.
Ela o abraçou apertado e lhe dei um beijo.
— Querida será que podemos conversar um pouco?
— É claro papá.
A moça lhe deu passagem e Michael entrou no quarto reparando nos detalhes. A decoração tinha tudo a ver com ela, entrar naquele quarto era como ver uma extensão da alma de sua doce menina.
— Sobre o que quer conversar papá?
— Mi hija desde que retornei de Adriata, tenho notado que você está calada, um pouco distante. O que aconteceu?
Bianca desviou do olhar intenso do pai e sentou na cama. Michael sentou ao seu lado e ela teve vontade de lhe confessar tudo. Revelar o quanto sua alma estava destruída, seu orgulho ferido, seu coração destroçado.
— Eu estou bem papá, não houve nada. — mentiu tentando sorrir e disfarçar para que ele não percebesse.
— Bianca você é minha filha, eu a conheço muito bem.
— Eu estou bem, lo juro.
— Está bien, quando quiser você me conta, sabe que pode confiar em mim.
Ela assentiu sorrindo de leve. Amava demais o pai e não lhe daria o desgosto de saber o que ela havia feito, o quanto havia desonrado a família.
— Ontem sua mãe veio conversar comigo, disse que você aceita se casar com o duque Leandro.
Bianca encarou o pai, esse era o momento de decidir.
— Mi hija, eu jamais forçaria você a fazer algo contra a sua vontade. Sua mãe veio com essa ideia desde que o duque pôs os pés em Olímpia, mas eu sempre deixei claro que respeitaria sua decisão.
Os olhos dela ficaram marejados, talvez seu pai a entendesse a aceitasse Paolo se ele não tivesse sido um cafajeste.
— Eu ouvi naquela noite na cozinha quando mamá lhe disse que o duque seria um excelente partido, e que ele tinha ficado interessado em mim.
Michael pegou a mão delicada da filha por entre as suas.
— Por que não falou comigo?
Porque eu estava loucamente apaixonada por um mentiroso! Bianca teve vontade de dizer.
— Confesso que fiquei apavorada com a ideia de um casamento e fui correndo procurar por tía Penélope.
— Às vezes ela parece mais sua mãe do que Cassandra. — Michael comentou e eles sorriram de leve. — Só não deixei sua mãe saber que eu disse isso.
— Além de minha tia, é minha madrinha, e eu a amo muito.
— Lo se mi hija.
— Tía Penélope me contou sua história.
O rei a encarou chocado.
— Minha irmã não gosta que ninguém saiba dessa história. Eu lhe peço mi hija que não conte isso a ninguém.
— Jamais papá, não se preocupe.
— Você disse que ficou apavorada com a ideia de um casamento com o duque, o que mudou agora?
— Eu e mamá conversamos, e ela me fez ver que é sim uma excelente oportunidade. O duque é um bom partido e vai ser bom para Olímpia.
— Bianca eu não quero saber o que é bom para Olímpia, quero saber o que é bom para você. Você é minha filha, minha princesita, quero que seja feliz.
Uma lágrima desceu pelo rosto dela.
— Pense bem mi hija, veja o exemplo do seu irmão. Eles não falam, mas este casamento vai de mal a pior, Nicholas praticamente ignora a esposa e Melissa não merece isso.
— Ela sofre com isso porque o ama. — Bianca revelou e Michael abraçou seus ombros.
— Eu já imaginava, tenho pena dela, é uma boa garota.
— É sim.
— Então eu lhe pergunto mi hija, é isso que quer para você? Um casamento sem amor? Um acordo? Nicholas é o herdeiro ao trono e infelizmente, precisava se casar com uma moça de origem nobre, mas você não está presa a isso, pode escolher Bianca, eu nunca lhe tiraria isso.
A vontade de chorar veio com força e ela teve que se esforçar ao máximo para se controlar.
— Eu vou me casar com o duque papá. — ela afirmou levantando e desviando do olhar intenso do pai. — Ele é gentil, simpático. Pude perceber quando esteve aqui para a Festa de Vinho.
— Tem certeza mi hija? Não quer pensar melhor?
— Tenho sim papá, você e mamá falem com ele. É isso o que eu quero.
Michael assentiu e beijou os cabelos da filha.
— Vamos tomar café.
— Eu já estou indo.
Assim que a porta do quarto fechou, ela desabou na cama colocando aquela mágoa pra fora.
Seu querido pai pensaria diferente se soubesse o que tinha acontecido, o que ela tinha feito. A única maneira de se redimir agora era fazendo um bom casamento em nome do reino.
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