Capítulo 6
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O céu começava a clarear com os primeiros raios de sol quando Paolo acordou. Ao seu lado Bianca dormia tranquila.
— Amore mio. — ele chamou baixinho beijando seu ombro e ela aconchegou-se mais a ele procurando seu calor. — Amore mio acorde, nós dormimos demais.
Bianca se espreguiçou enquanto soltava um bocejo e ao abrir os olhos, sentou-se horrorizada notando que havia passado a noite ali.
— Eu preciso ir, não podia ter passado a noite aqui! Se minha mãe descobrir...
— Amore mio, calmati. — Paolo tentou segurá-la enquanto ela se levantava apressada para vestir o restante das roupas.
— Se minha mãe descobrir que passei a noite fora de casa estou perdida Paolo!
— Ela não vai descobrir, tenho certeza de que a condessa vai ajudá-la.
— Tía Penélope não sabe que eu saí. — Bianca confessou e ele a encarou um pouco surpreso. — Se eu dissesse que vinha me encontrar com você, ela não teria me deixado sair.
— Tudo bem amore mio, vai ficar tudo bem.
Paolo a abraçou com carinho lhe dando um beijo na testa.
— Está arrependida? — perguntou baixinho ao seu ouvido.
— Claro que não. — ela respondeu sorrindo e afastou-se um pouco para olhá-lo. — Essa foi a melhor noite da minha vida, foi maravilhoso. Te quiero tanto, mi amor.
O beijo entre eles foi apaixonado, intenso. Um carinho entre amantes que se conheciam e se desejavam com uma paixão arrebatadora.
— Não sei como vou conseguir ficar longe de você amore mio! — Paolo murmurou de encontro aos lábios dela. — Vou enlouquecer sem te tocar, te beijar, sentir seu cheiro...
— Yo también mi amor...
— Vamos nos casar logo Bianca! — Paolo disse quase em um tom de desespero pegando o rosto dela entre as mãos. — Vamos até a igreja da vila e pedimos ao padre que nos case amore mio, assim ninguém pode nos separar.
Ela o encarava surpresa, como princesa do reino não podia fazer aquilo.
— Paolo eu sinto muito, mas eu não...
— Não pode fazer isso, seu dever como princesa vem em primeiro lugar.
Ele se afastou com ar melancólico e Bianca segurou seu braço fazendo com que a olhasse.
— Eu amo você, não desistiria de nós por nada nesse mundo.
— Também amo você demais, eu só fico louco quando penso na possibilidade de perder de você, de te afastarem de mim.
— Paolo ninguém vai me afastar de você, nunca.
Mais um beijo apaixonado de despedida e Bianca montou na égua. Enquanto se afastava em um galope, ela virou-se olhando para trás e acenou para o homem que amava, a quem seu coração sempre pertenceria.
...
Bianca chegou ao castelo em tempo recorde, o nervosismo fazia seu coração acelerar no peito de um modo que parecia querer sair pela garganta. Se alguém a visse e sua mãe soubesse que havia passado a noite fora de casa, estaria muito encrencada!
Entregou Ártemis ao mesmo rapaz que tinha lhe ajudado ontem e ele não lhe fez perguntas, apenas levou o animal para o estábulo.
Esgueirando-se pelo caminho secreto, ela torcia para não esbarrar em nada. Aquele horário os empregados estavam em seus afazeres, dispersos pelos vários cômodos.
Alívio preencheu seu ser ao chegar no corredor onde ficavam os quartos, bastava apenas alguns poucos passos e estaria segura e salva em seu próprio quarto.
Bianca atravessou o corredor com passadas silenciosas e já ia abrindo a porta, um sorriso aliviado em seus lábios, quando a voz em suas costas a fez parar.
— Onde você estava?
Inspirando fundo para se controlar, virou-se encontrando com a expressão séria da condessa.
— Onde você estava Bianca? — Penélope tornou a indagar.
Seu olhar rápido e sagaz passeou pela figura da sobrinha. As roupas amassadas e um pouco sujas de terra, o cabelo despenteado mal preso em um coque. Porém o que lhe chamou atenção foram os olhos castanhos, os lindos olhos castanhos de sua garotinha demonstravam um sentimento de culpa que ela tentava não sentir.
— Tía... — Bianca murmurou pesarosa. — Perdóname...
Ela conseguiria mentir para qualquer um ali, menos para ela, menos para sua amada tia.
— O que você fez? — a condessa percebeu o que havia acontecido, e mais ainda, pensou no que podia acontecer de agora em diante. — Niña, que hiciste?
— Tía...
Penélope a interrompeu e abriu a porta do quarto levando Bianca para dentro, passou a chave e virou-se a encarando com seriedade.
— Bianca me diga que você não fez o que eu estou pensando que fez!
— Tía, eu precisava vê-lo, precisava ficar perto dele, eu...
— Dios mio!
— Tía, por favor! Escúchame!
— Você não podia ter feito isso Bianca, não podia!
— Tía...
A garota tentou tocá-la, mas Penélope afastou-se nervosa. Em sua mente repassavam os resultados catastróficos daquela ação impensada.
— Yo lo amo tía.
A condessa encarou a sobrinha que tinha os olhos marejados. Ela era apenas uma menina descobrindo o amor e não merecia passar por isso, sofrer desse jeito.
— Venha cá. — chamou abrindo os braços e a garota não hesitou em correr para o seu abraço e apertá-la com força.
— Perdóname tía, Perdóname, eu só...
— Yo lo se mi amor, yo se.
Por alguns minutos elas ficaram assim, abraçadas. Bianca chorava baixinho e a tia lhe consolava.
— Bia... — Penélope chamou a sobrinha e ela ergueu a cabeça para encará-la. — Eu sei que você está apaixonada, mas não pode fazer isso. Atitudes impensadas assim.
— Eu sei, eu não pretendia... não pretendia ficar lá, apenas queria vê-lo.
— Será que alguém viu vocês?
Bianca estremecia de pavor ao pensar nessa possibilidade, se uma coisa dessa caísse nas mãos da imprensa, a família real teria sérios problemas.
— Eu acho que não, mas não tenho certeza.
— Agora mais do que nunca precisamos conversar com Michael, afastar qualquer possível rumor que possa surgir.
— Paolo queria que fôssemos até a vila e nos casar imediatamente.
— Os dois são malucos, isso sim. Vamos falar com seu pai hoje mesmo e depois fazer com que ele converse com Paolo.
— Será que papá vai aceitar?
— Vamos fazer o possível para convencê-lo. E por favor Bianca, não faça isso de novo e não veja mais o Paolo até resolvermos essa situação.
— Tía...
— Eu disse não Bianca, não pode colocar tudo a perder agora.
Mesmo não gostando muito, ela concordaria com aquilo.
— Está bien.
— Ótimo. Tome um banho e faça-se apresentável, direi a todos que acordou um pouco indisposta, por isso demorou para descer.
— Gracias tía.
Penélope a observou, enquanto tirava as botas de montaria e a camisa branca amarrotada. Então um sorriso discreto se formou em seus lábios, apesar de toda essa situação, era um acontecimento muito importante para a sua garotinha.
— Você gostou?
Bianca olhou para a tia, um sorriso se formando em seu rosto também. Então deixou transbordar toda aquela alegria que sentia, os olhos brilhavam de contentamento.
— Gostou de ter estado com ele?
— Sí tía, foi perfeito.
— Depois conversamos, vá tomar banho.
Enquanto banhava-se, Bianca lembrava do toque quente das mãos de Paolo em sua pele, dos corpos unidos. Aquele momento em que se entregara a ele estaria para sempre gravada em sua memória, foi especial, foi mágico, muito mais do que ela esperava.
...
Todos acreditaram na desculpa dada por Penélope para o atraso de Bianca em descer para o desjejum, ninguém parecia desconfiar de nada, mas os planos delas foram frustradas quando Michael anunciou que precisaria viajar imediatamente para Adriata, uma cidade ao leste, e não sabia quando iria voltar, talvez ficasse por lá uma semana.
Bianca olhou rapidamente para a tia e tentou disfarçar a aflição.
Ela precisaria ir em um compromisso oficial com a mãe, não estava com cabeça para fingir ser a princesa perfeita, mas também não podia recusar e levantar suspeitas em Cassandra. Antes de sair, foi até o estabulo e falou com o rapaz que lhe ajudou. Deu uma generosa quantia de dinheiro ao homem que prometeu ficar calado e ajudá-la novamente se fosse preciso. Bianca apenas agradeceu com um sorriso.
Durante o dia não teve tempo para tentar falar com Paolo, mas quando voltou ao castelo, já no fim da tarde, lhe mandou uma mensagem, dizendo o quanto estava com saudades e passara boa parte de seu tempo pensando na noite especial que tiveram.
Bianca jantou com a família e tentou retribuir e participar da conversa, mas sua mente estava longe dali. Ao voltar para o quarto, Paolo ainda não tinha respondido sua mensagem.
...
Antes que o dia clareasse completamente, Bianca já estava acordada.
Paolo não respondeu suas muitas mensagens e não havia conseguido pregar o olho. Por várias vezes teve vontade de escapar no meio da madrugada e ir atrás dele, mas não o fez em consideração a Penélope, já que havia lhe prometido não fazer nada imprudente.
O café da manhã em família foi uma tortura, ela estava silenciosa, distraída, distante.
— Bianca você está bem? — Cassandra perguntou observando-a atentamente.
Penélope, Nicholas e Melissa também desviaram a atenção para ela.
— Estou com dor de cabeça mamá, acho que é TPM. Se importa se eu não a acompanhar aos eventos de hoje? Eu realmente prefiro tomar um remédio e descansar.
— Tudo bem. Melissa pode me acompanhar em seu lugar. — Cassandra concordou encarando a nora que assentiu, apesar de não gostar muito, mas não tinha escolha, também era uma princesa e tinha deveres. — Apenas descanse.
— Sí mamá.
— Não gostaria de me acompanhar também querida cunhada? — Cassandra perguntou docemente voltando-se para a condessa.
Penélope apenas sorriu, tinha certeza de que aquele convite significava algo, mas recusá-lo não seria muito bom. Ela também fazia parte da família real e quase não participava dos eventos oficiais, precisava passar uma boa imagem aos súditos enquanto estivesse em Olímpia.
— É claro que sim, ficarei feliz em acompanhá-las.
Melissa sorriu aliviada por não ter que ir sozinha com a sogra.
— Bom, senhoras, eu desejo um ótimo dia a todas vocês e sorte em seus compromissos. — Nicholas disse se levantando e indo até a mãe. — Preciso trabalhar, hasta luego mamá.
— Hasta luego mi hijo.
Cassandra deu um beijo no filho mais velho.
— Hermana, tía, Melissa. — o príncipe herdeiro despediu-se de todas e saiu.
Melissa tentava disfarçar a enorme tristeza que sentia ao ser tratada com tanta frieza pelo marido, mas a rainha percebia e gostava disso. Ela gostava de ver o olhar triste da garota ao entender qual era o seu lugar naquela família, somente uma peça fundamental para o reino. Uma posição conquistada apenas porque tinha sangue nobre.
— Vou apenas retocar a maquiagem e pegar minha bolsa, saímos em alguns minutos. Mi hija descanse.
Ninguém disse nada até que ela alcançasse o topo da escadaria e seus passos não fossem mais ouvidos.
— Grazie Penélope. — Melissa suspirou levantando-se da mesa. — Seria difícil ir sozinha com ela.
— Fique tranquila meu bem. Vá pegar sua bolsa, eu já estou indo.
— Sì. Melhoras Bia.
— Gracias Mel.
Novamente esperaram até que a moça sumisse no corredor lá em cima para falar algo.
— Sei que não está sentindo nada. — Penélope comentou encarando a sobrinha.
— Estou sentindo sim tía, aflição, medo. Não consigo falar com o Paolo desde ontem de manhã. Ele não responde minhas mensagens, eu ligo e cai na caixa postal. Alguma coisa aconteceu.
— Fique calma cariño, tenho certeza de que algo aconteceu sim, mas não da forma que você está pensando.
A condessa se levantou e foi até a sobrinha, a abraçando por trás e beijando o topo de sua cabeça.
— Sei que está preocupada e inventou a dor de cabeça para fugir do compromisso com Cassandra e eu entendo, mas por favor Bia, não faça nenhuma loucura enquanto estivermos fora. Se quiser, peça a algum empregado de sua confiança que vá até o porto verificar se Paolo está bem, e somente isso.
— Sí tía.
— Vou tentar não demorar.
Minutos depois, Cassandra saiu acompanhada da nora e da cunhada para um evento de caridade. Provavelmente só voltariam depois do almoço.
Bianca trancou-se em seu quarto e tentou ficar calma e esperar, mas ter paciência não fazia parte de sua personalidade. Enquanto os minutos passavam, ficar dentro daquelas paredes a enlouqueciam.
Tentou novamente ligar para Paolo e nada, era como se ele tivesse sumido do mapa.
Estava preocupada sim com ele, mas lá no fundo da mente, uma pequena parte estava aterrorizada com uma possibilidade terrível que ela se recusava a pensar. E se ele só quisesse se aproveitar dela? Por isso tinha sumido, afinal já conseguiu o que queria.
Cansada de esperar, Bianca trocou de roupa rapidamente e saiu do quarto apressada. Estranhamente o castelo estava vazio e ao ir até a cozinha perguntou por Maria, uma das cozinheiras lhe informou que ela havia saído depois da rainha.
Pensando no que faria para despistar os seguranças dessa vez, Bianca rumou para o estábulo e ficou surpresa ao perceber que eles não apareceram assim que pôs o pé para fora do castelo. Enquanto esperava Ártemis ser selada, olhou ao redor, mas realmente ninguém foi atrás dela.
Melhor assim, pensou consigo mesma. Talvez sua mãe tivesse acordado para aquela maluquice, ali era Olímpia, seu lar, havia nascido e crescido naquela ilha e ninguém jamais lhe faria mal.
Cavalgando em direção ao pequeno vilarejo próximo ao porto, pois era ali que Paolo morava, Bianca tentava não chamar muita atenção.
Avistou alguns homens que fizeram uma reverência ao passar por ela, parou a égua e colocou um sorriso no rosto.
— Buenos días señores. — cumprimentou simpática como sempre.
— Buenos días Alteza.
— Por acaso algum de vocês tem notícias do pescador Paolo Vincenzi? Eu gostaria de falar com ele. — Bianca perguntou tentando não parecer muito ansiosa.
— Ele não apareceu para trabalhar desde ontem Alteza. — um dos homens respondeu e Bianca sentiu seu coração praticamente galopar. — Segundo o que ficamos sabendo é que ele foi embora, voltou para a sua terra.
— Gracias... — ela conseguiu murmurar e dos dois homens fizeram mais uma reverência antes de ir embora.
Bianca teve que se segurar com força na sela para não cair. O mundo começou a girar ao seu redor e as palavras do homem ecoavam em sua mente: ele havia ido embora, voltou para a Itália.
Virando a égua em direção ao vilarejo, Bianca incitou Ártemis em um galope desesperado à medida que suas emoções pareciam se romper como as comportas abertas de uma represa.
As lágrimas mal rolavam por sua face e o vento já secava, deixando a pele clara marcada pelos vestígios.
Algumas pessoas pararam para olhar enquanto a princesa passava cavalgando como uma destemida amazona, mas ela não se importava.
A casinha simples que Paolo morava ficava depois do vilarejo, já quase próxima ao porto e Bianca saltou de cima do animal que respirava ofegante pela corrida. A porta estava aberta, apenas encostada e ela entrou tentando controlar o choro.
— Paolo? — chamou por ele em um lamento desesperado.
Olhou em cada um dos cômodos e ao entrar naquele em que ele dormia, pois ali tinha uma cama de solteiro, notou o armário vazio, sem nenhuma peça de roupa, sem nenhum pertence.
Ele havia mesmo ido embora.
Bianca deixou-se cair no chão e chorou desolada.
Não sabe quanto tempo ficou ali, deitada naquele chão frio, chorando. A dor em seu peito latejava como uma ferida aberta cheia de pus.
Ficando de pé em passos trôpegos, ela caminhou para fora apoiando-se nas paredes descascadas, o sol forte do meio-dia a atingiu causando tonturas. Avistou Ártemis pastando em uma vegetação próxima e assoviou baixinho chamando-a.
A égua ouviu o chamado da dona e foi até ela relinchando.
Bianca montou com certa dificuldade, mas Ártemis era dócil com ela, parecia até saber o que acontecia.
— Me leve para casa minha amiga... — murmurou deitando-se sobre o pescoço do animal e fechando os olhos enquanto era embalada pelo trote manso.
...
Bianca chegou ao castelo e teve ajuda do mesmo rapaz para desmontar.
— Dios mio! A senhora está bem? Parece que vai desmaiar. Quer ajuda? — o homem perguntou alarmado e ela negou com um gesto de cabeça já se afastando.
Andando em passos lentos, entrou no castelo pela cozinha. Mais uma vez as empregadas perguntaram se queria alguma coisa e ela negou, só queria ir para o seu quarto e chorar até aliviar aquela dor.
Bianca subiu a escada com dificuldade, apoiando-se no corrimão. Seus pés pareciam chumbo de tão pesados e alguma vezes teve vontade de desabar ali mesmo, mas não queria dar explicações a quem passasse e a visse, só por isso continuou forçando-se a caminhar até o refúgio de seu quarto.
O corredor estava silencioso enquanto ela andava, as vezes encostando-se a parede. Uma porta abriu-se devagar, mas ela não ouviu de tão entorpecida pela dor.
— Fiquei me perguntando quanto tempo levaria até você voltar.
Bianca ouviu aquela voz e virou-se devagar. Sua mãe a encarava com o rosto frio, sério, sem qualquer sentimento aparente.
— Pensei até em mandar alguém buscá-la.
— Agora não mamá... — a garota murmurou voltando a caminhar e tentando segurar as lágrimas.
— Você realmente foi tão tola a ponto de achar que eu não sabia o que estava acontecendo?!
As palavras de Cassandra soaram como chicotadas e Bianca tentou fugir delas correndo até o seu quarto, porém a rainha foi rápida e a impediu. Empurrou-a para dentro e trancou a porta.
— Agora nós vamos ter uma conversa, mi hija.
— Mamá, por favor... — Bianca pediu já chorando e desabando no chão.
— Eu estou profundamente desapontada com você. — Cassandra disse em uma voz carregada de amargura. — Eu escolhi o melhor para você, um duque e, no entanto, você prefere se misturar com a ralé, com um pescador sem eira nem beira.
— Mamá...
Ela não se comovia em ver o sofrimento da filha, a observava do alto de seu pedestal de arrogância, como a rainha que era e sempre seria.
— Tudo que você está sentindo é o seu castigo por ter feito o que fez, ter colocado nosso nome, nossa família em risco. Eu esperava mais de você Bianca, muito mais.
— Eu o amo mamá... eu o amo...
— Amor? O que você entende de amor criança? Bastou aparecer um qualquer, um bastardo para lhe dizer palavras bonitas e você já abaixa a guarda. Olhe para você mi hija, olhe para você.
Cassandra foi até ela e pegou em seu rosto forçando-a a encará-la.
— Você é uma princesa, uma nobre e se comporta como uma dessas garotas daquele vilarejo, se oferecendo para o primeiro homem bonito que aparece. Tudo que eu fiz até hoje foi para o seu bem e é assim que você me retribui.
— Ele não é assim, ele me ama! — Bianca murmurou e Cassandra a soltou.
— Se a amasse mesmo, não teria vindo me pedir dinheiro. — revelou se afastando para não ver o olhar desesperado da filha.
— O que?
— Seu amado Paolo veio me pedir dinheiro para não revelar a imprensa o que aconteceu entre vocês na outra noite.
Bianca piscou aturdida. Ele não podia ter feito isso com ela! Ele não fez isso com ela! Ele não!
— Você foi até lá, deixei que fosse até lá por conta própria, sozinha, para ver. Agora eu lhe pergunto mi hija, isso é amor?
Bianca sentia seu coração esmagado no peito, destroçado e gritou em meio ao desespero.
Uma lágrima rolou pelo rosto de Cassandra e ela a limpou rapidamente.
— Eu dei o dinheiro que ele queria e o expulsei de Olímpia, de sua vida. Pense bem no que você fez, terá muito tempo pra isso. — acrescentou indo até a porta e virou-se novamente para a filha antes de abri-la. — Eu espero que você pelo menos tenha se prevenido, já que não conseguiu esperar por um homem de verdade para abrir as pernas.
Os gritos de Bianca eram ouvidos em todo o castelo e quando saiu do quarto, Cassandra viu Maria correndo pelo corredor.
— O que houve com ela señora?! — a governanta perguntou aflita e ao ouvir mais um grito da moça tentou passar, mas a rainha não deixou.
— Volte aos seus afazeres.
— Mas señora...
— Volte aos seus afazeres agora! — Cassandra ordenou raivosa e Maria encolheu-se assustada.
— Sí, com licença Vossa Majestade. — murmurou fazendo uma reverência e voltou pelo mesmo caminho que tinha vindo.
Bianca continuava chorando e Cassandra soltou um longo suspiro enquanto voltava ao seu próprio quarto. Seu celular tocava em cima da cama. Era Anita, sua assessora pessoal.
— Sí? — atendeu com uma voz calma, bem diferente de como estava se sentindo agora.
— Majestade, a condessa está perguntando pela senhora. Não sei se consigo mais segurá-la.
— Aguente mais alguns minutos, já estou voltando. O assunto que eu tinha para resolver demorou mais que o esperado.
— Ok, digo a mesma coisa que combinamos a ela?
— Sí Anita, o mesmo.
Lidaria com Penélope depois, por hora o que havia acontecido já bastava.
...
Cassandra deu ordem aos empregados para ninguém ir até lá enquanto a família estivesse fora e exigiu que Maria fosse fazer algo na rua que levasse muito tempo, pois sabia que assim que saísse, a governanta iria ao quarto da garota.
Bianca passou o resto da tarde dentro do quarto, chorando no chão. A dor em seu peito a sufocava, roubava-lhe o ar.
Não sabe quanto tempo se passou até que a porta foi aberta e Melissa entrou, gritando apavorada ao vê-la jogada daquele jeito.
— Bianca! Bianca! Bia parlami per favore! — a italiana pediu sacudindo-lhe o corpo, mas a amiga não esboçava qualquer reação. — BIANCA!
Desesperada Melissa saiu correndo para pedir ajuda.
— Penélope! Penélope per favore! — bateu na porta do quarto da condessa que abriu tomando um susto.
— O que foi? O que aconteceu Melissa?
— Bianca... ela... eu a chamei, mas...
Melissa não conseguia explicar, mas Penélope não precisou de muito e correu até o quarto da sobrinha, vendo-a inerte daquele jeito.
— Bia! Bia, por favor, sou eu! Bia fale comigo! — a condessa também tentava reanimar a sobrinha sem sucesso.
— Ela... ela está... está viva? — Melissa murmurou as palavras com medo de pensar naquilo.
Penélope a olhou e checou a pulsação da sobrinha, agradecendo aos céus pelo pulso fraco.
— Sí, sí, ela está viva! Fique com ela, eu vou buscar ajuda!
Penélope desceu a escadas correndo, o máximo que seus saltos permitiam. Viu Cassandra sentada em uma poltrona, tomando algo que parecia ser vinho.
— Cassandra chame um médico, Bianca está praticamente desmaiada no quarto! Eu e Melissa tentamos reanimá-la, mas... — conforme falava a condessa notou a expressão inalterada da cunhada, ela não moveu um músculo.
De repente, as peças em sua mente começaram a se encaixar. Ela havia sumido do evento boa parte do dia.
— O que você fez Cassandra?
Devagar, os olhos azuis da rainha se voltaram para a cunhada que ficou enojada com tanta frieza.
— Eu? Eu não fiz nada Penélope, você e ela fizeram.
— Dios mio! Ela é sua filha Cassandra! Está lá em cima estirada no chão, como se quisesse desistir da vida!
— Ela vai se recuperar.
Penélope observou chocada enquanto ela se levantava sem se alterar tomando o restante do líquido presente na taça.
— Vocês são mais semelhantes do que parece e no fim, tiveram o mesmo destino, querida cunhada. — Cassandra acrescentou com desprezo na voz. — Você mais do que ninguém deveria tê-la avisado, fazer com que desistisse dessa ideia absurda, daquele pescador, mas não, incentivou. Você é tão culpada disso quanto ela!
— O que você fez Cassandra? Eu juro que...
— Eu não fiz nada, pergunte a sua amada menina o que aconteceu, pois eu não vou lhe contar nada milady.
— Ele a amava...
— Será mesmo? — a monarca interrompeu com deboche. — Amava o tanto que aquele segurança amava você?
O olhar de Penélope vacilou e ela tentou não deixar transparecer o quanto aquela lembrança a afetava. Mas Cassandra sabia, e havia lhe aberto a ferida.
— Buenas noches cuñada. Eu não vou jantar, meu estômago está embrulhado.
Penélope observava enquanto a outra subia a escadaria tranquilamente e esfregou os olhos, sentia-se subitamente cansada, tensa.
Bianca estava passando pelo mesmo que ela própria já havia passado, a dor de um coração partido pelo primeiro amor. A dor de uma traição.
Desabando na poltrona mais próxima, ela deixou tudo vir à tona mais uma vez. Seu coração nunca havia se curado completamente daquilo, não somente por ter se entregado a quem não devia, mas sim pelo que havia acontecido depois, daquilo ela nunca se curaria.
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