Capítulo 19
Monstro narrando
Pela primeira vez, eu não sabia muito bem o que fazer. Como Mano J, sendo meu pai, me deixou viver com aquele monstro? Tinha um certo rancor dentro de mim por ele, até o momento, ser meu tio e, sabendo do irmão, não fez nada para me tirar da casa, e agora sendo meu pai, aumentou muito, muito mais.
Fiquei com Bruno até às 15h da tarde, até criar coragem de dar as caras.
- Vamos sair, garotão - Falei, enquanto vestia Bruno.
Precisava garantir a segurança de Isabela e Bruno, eles não estavam seguros comigo. E nunca estariam, totalmente.
Havia cuidadosamente me colocado a par de todos os acontecimentos. Isabela havia ingressado na área de cabeleireiro, o que eu curti, e as coisas por aqui estavam bem normais. Nem tranquilas demais, assim como não terríveis demais.
O rádio em meu bolso tocou.
- Solta a voz.
- E ae monstro, tem como você colar aqui na boca? - reconheci a voz de Rafael.
- Po Caraí, tô com o Bruno aqui. Qual foi o papo?
- Mano, o bagulho é sério... Faz o seguinte, passa na minha goma, casa 14, e deixa o moleque com minha mulher lá.
Puta merda, Isabela ia ficar louca se chegasse e não encontrasse o filho.
- Jajá eu colo aí.
Terminei de vestir Bruno e montei na moto, segurando ele firmemente em cima da moto. Dirigi devagar até o salão de Isabela e deixei ele lá, acelerando até chegar na boca.
Estranhei quando vi os caras inquietos na entrada. Ao lado, no beco, haviam uns noias comprando.
Os caras me encararam e acenaram com a cabeça, procurei não dar ousadia e segui direto para onde Rafael estava.
- E aí caraí, passa o papo.
- Mano... Chega aí - Rafael pegou algumas folhas na mão, a contabilidade da semana - A boca 15 e a 10 não tá batendo a contabilidade desse mês.
Puta merda.
Trinquei o maxilar, franzindo a testa. Peguei a minha arma em cima da mesa e engatilhei, chamando a atenção de alguns caras por perto.
- Tá faltando quanto?
- Na 10 R$200, e na boca 15 R$500 reais.
Nao esperei ele dizer mais nada e varpei, acelerando até chegar na boca 10. Saquei o radinho, colocando apenas Rafael na linha.
- Aí, já deixa o Menor avisado que o Sacolé vai rodar, nao deixa ele vazar - Avisei.
- É isso, chefe - Rafael respondeu.
Guardei o radinho e cheguei na boca, indo diretamente até VG, que tinha uma puta em seu colo e um bolo de dinheiro nas mãos.
- E aí, Monstro, qual foi? - Ele murmurou, assustado.
Já puxei-o pela blusa e encostei na parede.
- E aí, seu rato! Que porra é essa aqui?! - Soltei ele e joguei a folha de contabilidade em seu peito.
Ele pegou assustado e leu, percebi seu rosto perder a cor.
- Eu... Posso explicar, caralho.
- Tô escutando - Meu tom era frio.
Se tinha duas coisas que eu não perdoava, era rato e Jack.
- Eu... Porra, tava sem dinheiro em casa!
- VG caralho... Você acha que engana quem?! - Ri sem humor.
- Eu não tô zuando, caralho! É verdade!
- Você é a porra de um viciado de merda! Tu é gerente da biqueira, você ganha mais que qualquer um dessa porra!
- Eu juro que não peguei dinheiro, caralho! - Ele suava frio.
- Eu sei - Falei - Você enfiou 30 pinos no cu, seu noia!
Ele abaixou a cabeça.
- Eu... Eu vou pagar!
Dei uma risada curta, sem um pingo de humor e atirei em sua testa.
- Você vai pagar com sua vida - Observei o seu rosto estirado no chão.
Estava sem tempo para uma morte lenta, algo me dizia que a boca 15 iria ser um pouco mais divertida.
Ignorando os caras presentes aí, subi na moto e acelerei até a boca 15.
- E aí - Fiz um toque com Menor, um cara que ganhou minha simpatia - Cadê o cara?
Ele apontou com a cabeça para a salinha, onde eles costumam guardar drogas e tudo mais.
Entrei ali e logo vi Sacolé com uma mochila, enchendo de mercadorias.
- E aí.
- Eu falei pra ninguém entrar nessa po... - Ao ver que era eu, seu rosto perdeu a cor.
- Tá fazendo o que?
- Caralho mano... Não vou mentir não, sei que a contabilidade daqui não tá batendo, mas não foi eu, caralho, eu juro.
Mantive a frieza.
- Conta essa porra direitinho pra mim, como assim não foi tu?! Se quem administra essa merda é você.
- Mano, eu as vezes preciso ir comprar alguma coisa na adega e deixo a boca sozinho, tá ligado? Não é culpa minha! Talvez os caras devem ter marcado errado no papel, sei lá.
- Papo reto, Sacolé. A contabilidade conta certinho com o estoque. Confesso essa porra.
Ele não me respondeu, porém algo me dizia que não parava por aí, era mais que uma contabilidade errada.
- Menor - Chamei, ele prontamente apareceu - Leva o Sacolé pra salinha 13.
Sacolé arregalou os olhos e tentou passar por nós, quando acertei um tiro em sua perna.
Sai dali, ignorando seus urros de dor e subi na minha moto. Eu precisava arranjar dois gerentes e descobrir o que ele estava me escondendo.
Chegando na boca central, Mano J estava conversando com Rafael, fechei a cara e me aproximei.
- E aí, resolveu? - Rafael questionou.
- VG tá morto - Falei seco - Sacolé tá na salinha, mais tarde vou trocar um papo com ele.
- Putz, precisa de dois gerentes agora - Falou.
- Pois é - Falei seco - Rafa, cê tá ligado que tá no crime faz cota, né?
Ele acenou.
Rafael era um dos vapores aqui da boca, o gerente era Mano J. Precisava valorizar os vapores de confiança.
- Tá afim de assumir a boca 10?
- Porra, tá falando sério? - Ele me encarou, dei de ombros - Pô... Valeu, monstro.
Dei um tapa em seu ombro.
- Vai lá que a boca não pode ficar só.
Ele subiu em sua moto e saiu. Mano J parecia tão perdido quanto eu.
- E a boca 15? - Falou.
- Vou colocar Menor no comando - Respondi.
- Aí, Jean... Chega aí - Falou - Mano, eu gostava demais da sua mãe, não minto. Ficamos algumas vezes e seu pai descobriu, eu não sou seu pai, juro. Eu e ela não chegamos a ter relações. Depois disso ele sumiu, levando ela, eu não sabia da sua existência. Meses depois surgiu um boato de que eles tinham sofrido um acidente e não sobrevivido, apenas 15 anos depois soube da sua existência. Eu sinto muito, de verdade. Queria ter feito mais do que eu fiz.
Apenas acenei com a cabeça e sai.
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