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O barulho da máquina de café e o vapor do líquido quente preenche o ar, teclas são pressionadas com rapidez, e olhares fixos nas telas dos computadores.
Respiro fundo colocando mais um retrato de infância dentro da caixa de papelão posta sobre a cadeira preta de rodinhas, os olhos alegres de uma versão minha bem mais jovem no retrato, as ondas cristalinas da Califórnia logo ao fundo, quanto mais eu admiro a imagem mais ela se torna real para mim, como se eu estivesse novamente dentro daquele cenário, perdida em meio ao clima ensolarado.
- Promovida? - Daniel questionou após alguns segundos.
Balançei a cabeça para tentar me focar novamente com a realidade, virei meu rosto em sua direção e sorri sem jeito.
- Eu fiquei surpresa de início, não esperava isto vindo de Meredith. Mas é claro que fiquei super animada com a novidade, está é uma daquelas oportunidades que você não pode deixar passar sabe? Oportunidades desse tipo você tem que agarrar com as duas mãos e não soltar de jeito nenhum.
Daniel concordou com um aceno de cabeça.
- Acho que consigo compreender - disse com um suspiro, seus olhos se voltaram para mim - Então, isso significa que nós não nos veremos mais?
Franzi o cenho e arragaçei ás mangas até os cotovelos.
- Vou me mudar de andar e não para outro continente.
O que se eu for parar para pensar é quase como se fosse, mas isso não significa que eu vá esquecer sua presença ou algo do tipo.
Eu não sou o tipo de pessoa que esquece suas origens, eu sei de onde vim e sei bem aonde quero chegar!
- Continuaremos convivendo, sempre que quiser conversar você sabe aonde me encontrar.
Sorri calorosamente para Daniel e me virei novamente para checar se faltava algo para guardar junto aos outros pertences, passei meus braços ao redor da caixa de papelão e a trouxe junto ao meu peito, o peso é considerávelmente suportável, desviei de algumas mesas de trabalho e pessoas circulando de um lado para o outro, havia sorrisos sinceros estampado nos rostos das pessoas que eu sabia que realmente se sentiam felizes por mim quando atravessei as portas duplas, mas também havia a inveja e os olhares de desdém de alguns outros colegas de trabalho.
Uma coisa que eu aprenderá na vida, é de que, você não pode e não vai agradar a todos!
Sempre terá um ou outro ali te observando de pé, esperando para te ver cair. Apontar os dedos e rir debochadamente, essa parte, essas pessoas, elas não devem nunca chegar á te afetar, a vida é bem mais leve se você se cerca apenas de pessoas que te fazem sentir bem.
Adentrei o elevador junto á mais dois homens e uma mulher de cabelos escuros preso em um rabo de cavalo.
Tento conter o impulso de pensar em Thomas, isso vem acontecendo todas ás vezes que entro em um elevador. A imagem de seu rosto em seu típico sorriso cínico insiste em se fixar em minha mente.
Passei pelo batente da porta com os olhos atentos. A luz do sol invadiu a sala sem um convite antecipado, as paredes brancas estão lisas e sem vidas, a mesa cinza e o piso de madeira escura. Eu não sou design de interiores, nem nada do tipo, mas a sensação fria e estranha dentro do cômodo é perceptível.
Falta mais iluminação, falta mais cores e mais vida. É como uma enfermaria, não de uma maneira boa, mas acredito eu que com o tempo esse problema será resolvido com facilidade, me aproximo com a caixa em meus braços e a coloco com delicadeza próximo a tela do computador de última geração.
Passo as mãos por entre os fios de cabelo e me aproximo em passos largos das longas cortinas, engancho minhas mãos nos dois lados e as afasto com um puxão. O sol irradia com ainda mais força se exibindo em toda sua magnificência, os arranha-céus e as avenidas movimentadas são a minha nova paisagem matinal, e embora eu aprecie á natureza admito que eu sou mais uma garota urbana do que outra coisa.
Gosto de saber que há milhares de pessoas ao redor, gosto da movimentação, isso para mim de certa forma afasta a sensação ruim do vazio, o silêncio que tanto me desagrada, soa pertubador.
O celular vibrou no bolso de trás de minha calça jeans escura e o peguei, sorrindo ao atender, pois já tenho plena noção de quem seja.
- Ocupada demais para conversar comigo?
Meu sorriso se alargou de imediato.
- Hum na verdade já que tocou no assunto, realmente não tenho tempo para perder com ligações telefônicas. - respondi fingindo desdém.
- Meu pai sempre me alertou de que as mulheres mais belas são ás mais cruéis. Ele estivera certo no fim das contas!
Me pergunto internamente como Thomas consegue ao mesmo tempo que me elogia , de certa forma me ofender.
- Seu pai me parece um sujeito inteligente, deveria ouvir seus concelhos com mais frequência.
- Tarde demais - suspirou dramático - Há um bom tempo.
Encostei á ponta dos dedos da mão livre sobre a superfície de vidro da janela e fixei meu olhar ao longe.
- Deveria me desculpar?
- Porquê?
- Por estar apaixonado por mim.
- Não é motivo para um pedido de desculpas, e também, eu não lhe desculparia de qualquer jeito!
Revirei os olhos diante de sua fala, que devo frizar, não me surpreenderá nem um pouco.
- Bom, sendo assim, eu também não o desculpo. Não o desculpo por ter sido fisgada pelo seu humor ácido, não o desculpo por cada vez que olho em seus olhos me lembrar das águas cristalinas da Califórnia e não o desculpo por me fazer sentir borboletas no estômago toda vez que o vejo. Espero que tenha escutado bem Thomas Howell, porque eu definitivamente não o desculpo!
Respirei fundo após meu discurso sincero e esperei capaz de ouvir sua respiração levemente alterada do outro lado da linha, até em momentos como este Thomas se mantém firme e intacto.
- Eu te amo, Emily!
E isso era tudo o que eu precisava escutar, tudo que eu necessitava para continuar, palavras simples e que causam um grande efeito.
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