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  O despertador soou uma, duas, três vezes. Ergui o rosto sonolento do travesseiro e bati com a mão sobre o objeto maligno que me arrancou a força de um bom sonho. Afastei as cobertas de meu corpo e coloquei meus pés sobre o piso frio, os pelos de meu braço se arepiaram com o contraste do meu corpo quente e a frieza sobre meus pés.

Fiz força para abrir os olhos e encarei o despertador acima do criado-mudo, como se fosse um animal selvagem prestes á atacar minha presa.

Peguei o despertador em mãos e me aproximei da janela, afastei as cortinas e abri a mesma, uma lufada de ar quente preencheu o quarto, observei os dois lados da rua, ninguém perceberia o que estou prestes á fazer...

Arremesei o despertador para fora da janela, como se estivesse praticando arremessamento de peso. Voltei para o quarto com uma leve satisfação e bocejei agora já desperta.

Meu subconsciente me alertou de que arremessar coisas pela janela em uma grande metrópole como New York pode não ter um bom resultado, ignorei o mesmo e me locomovi até a cozinha, abri armários e os fechei novamente, concluindo que preciso de algo doce para comer.

Tomei banho e troquei de roupa, peguei ás chaves do apartamento e minha carteira. As portas do elevador se fecharam, fechei meus olhos subitamente me recordando do dia em que Thomas estivera fechado neste grande bloco de metal junto á mim, o cheiro dele emanando ao meu redor, a única diferença é que atualmente eu posso ter sua presença e sentir seu perfume á hora em que eu tiver vontade.

Atravesso á entrada do edifício e lanço um sorriso para o porteiro.

- Bom dia senhorita Emily. - o homem mais velho grita ao me ver

- Bom dia Joseph! - grito de volta.

  A luz do início do dia me recebe de maneira gentil, o barulho habitual do trânsito já não me incomoda mais da mesma maneira de quando me mudei da Califórnia, chega até ser reconfortante.

Passei em frente a uma livraria no fim da rua e observei alguns exemplares de Os Instrumentos Mortais da Cassandra Clare, faz um bom tempo desde que eu lerá um livro por completo, atualmente o máximo que consigo é ler apenas algumas estrofes. Perdida em pensamentos, escuto o barulho de uma sirene de ambulância, me viro para observar a rua e comprimo meus olhos para observar a movimentação mais á frente, pouco depois de virar a esquina perto de um restaurante japonês.

Um carro de polícia passa por mim em alta velocidade e eu me pergunto internamente o que pode ter acontecido para tanto alvoroço, me afasto da livraria e me aproximo do tumulto, uma multidão de pessoas se forma ao redor da rua, caminho cautelosa para perto da multidão e me aproximo de lado de uma mulher parada encarando com olhos atentos por trás de seus óculos de grau, os cabelos vermelhos como fogo, uma blusa com estampa floral e um ar de simpatia.

Coloco minha mãe sobre seu ombro e esquerdo e tento soar simpática.

- Desculpe incomodar, a senhora poderia me dizer o que está acontecendo?

Seus olhos se voltam para mim, de perto percebo que são uma mistura de castanho e verde. A mulher me lança um sorriso torto e volta um rápido olhar para os carros da polícia.

- Um acidente de carro querida, o motorista desviou o olhar por míseros segundos do trânsito e veja só o que aconteceu! - balançou a cabeça com certa tristeza.

Refleti por um momento, sei que deveria estar no mínimo preocupada se há vítimas, se o motorista está muito ferido, porém á única coisa em que consigo pensar é em que pode ter roubado sua atenção e provocado tudo isso.

- A senhora sabe o que o motorista tenha visto?

- Um objeto voador...

Franzi o cenho confusa.

- Como assim?

- Um despertador voando chamou sua atenção, está certo que esse tipo de coisa é bem improvável não é mesmo? - concordei imediatamente - Talvez o homem tenha bebido mais do que deveria no café da manhã.

- Deve ter sido isso. - murmurei subitamente enjoada.

Dei alguns passos para trás, aproveitando de sua distração e sai de fininho do local. Talvez não tenha sido minha culpa, outras pessoas podem ter tido a mesma ideia que eu ao acordar, mais a conhecidência é grande demais para ser ignorada, mesmo assim não consigo me sentir culpada.

Ainda preciso de doce!

Pego o caminho mais longo até a loja de conveniência mais próxima para evitar colidir com a multidão novamente. Pego um carinho de compras e o preencho com guloseimas, salgadinhos, biscoitos, e diversas barras de chocolate de diferentes marcas.

  Pego as diversas sacolas e volto pelo mesmo caminho, não tenho certeza de que horas possa ser, deixei meu celular sobre a cabeceira ao lado da cama e não utilizo relógio de pulso.

Me aproximo da fachada do edifício onde moro e escuto meu nome ser chamado, não preciso nem me virar para saber de quem se trata.

- Emily! - é a voz de Thomas.

Viro meu rosto em direção ao outro lado da rua, seu corpo encostado sobre seu Bugatti com um sorriso charmoso em seu lábios.

É uma droga sentir como se tivesse tocado em um fio desencapado toda vez que o vejo.

Thomas vem caminhando até mim em passos confiante, claro ele sabe que é bonito! Reviro meus olhos para o mesmo, mas me vejo incapaz de sorrir quando este se aproxima.

- Belo dia não acha? - questiona casualmente.

- Sempre o tempo, não é mesmo?

- Do que está falando? - pergunta tomando as sacolas de minha mão.

- Quero dizer que você sempre fala sobre o tempo. - comentei risonha.

- Na verdade estava pensando em quão bonita você fica neste vestido estampado. - corei sem jeito - Está ficando vermelha!

- Não estou! É apenas ilusão de ótica.

- Ah sim, a boa e velha ilusão de ótica. - o deboche e perceptível em seu tom de voz.

Girei a chave na fechadura e adrentei o apartamento com Thomas ás minhas costas.

- Quantas sacolas! - observou surpreso - Você pretende sair está tarde?

Abri um pacotinho de batatas e neguei com um aceno de cabeça.

Thomas colocou a mão no bolso de trás de sua calça e retirou dois papéis da mesma, comprimo o olhar para tentar identificar as letras azuis sobre o papel.

- Dois ingressos para a partida dos Yankees contra os Wildcats hoje!

Thomas se aproximou e roubou uma batatinha de dentro do pacote.

- Você quer que eu vá? - questiono me afastando com um passo para trás.

- Se eu quero que você vá? Foi por isso em primeiro lugar que eu comprei dois ingressos! - disse se aproximando ainda mais.

Dei um passo para trás e acabei encurralada entre o balcão e o corpo de Thomas.

- Não sabia que gostava de Beisebol! - murmurei sentindo sua respiração acelereda junto a minha.

Thomas não me respondeu em vez disso me silênciou com um beijo.



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