Eu precisaria tanto assim de você?
Na maior parte da juventude, Bright se acostumou a estar sozinho. Ele era filho único e os pais haviam se divorciado quando teve a oportunidade. Se inscreveu em uma faculdade e se mudou para o dormitório. Dew e Nani não se mudaram consigo. Eles fizeram outra faculdade e outro curso. Durante anos, Bright teve Win como amigo e namorado e não se sentiu sozinho, mas com o tempo, Win virou outra pessoa e Bright se viu sozinho novamente. Agora, em outra cidade, as coisas não estavam diferentes. Ele não tinha amigos, família ou namorado. Ele estava em um lugar desconhecido, com um trabalho novo. Mesmo assim, ainda era grato, porque adorava o emprego e escrever colunas no jornal. A equipe era agradável e havia a sua colega de trabalho que se chamava Tontawan. Eles se davam bem.
O apartamento em que morava era quieto e, portanto, se tornava solitário. Às vezes, se pegava imaginando como seria Win morando consigo. Ele com certeza daria vida àquele apartamento. Não era certo pensar nele. Não sentia raiva, mas sentia mágoa. Ele foi insensível da última vez que se encontraram.
Já não o encontrava há meses, assim como Dew e Nani. No entanto, eles se encontrariam naquela noite. Bright faria um jantar para eles em seu apartamento. Não era bom em cozinhar, mas com o tempo, precisou aprender, já que estava morando sozinho. Tontawan o dava algumas dicas sempre que podia.
A estabilidade demorou a vir, e quando veio, trouxe alívio ao vazio que sentia. Win fazia muita falta. Quando se via sozinho no apartamento, ligava o rádio ou a TV para não se sentir tão sozinho. Mas, às vezes, chegava tão exausto do trabalho que só se deitava no sofá. A mente viajava e ele pensava em quem amava. Se apaixonar por Win não estava nos seus planos, mas aconteceu. Em meio aos problemas familiares e pessoais, Win foi o apoio e a motivação que precisava para continuar seguindo a infinita estrada da vida.
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Ver Dew e Nani depois de meses, e ouvir a voz deles ao vivo, sem o chiado do telefone, fez Bright se sentir bem, depois de muito tempo. Mas, havia alguma coisa errada, e aquela foi a primeira sensação que passou por Bright quando abraçou os amigos. Deixaria a conversa séria para depois, porém. Jantaria com eles, ouviria as novidades, e talvez, só talvez, perguntasse de Win.
— O jantar está muito bom, Bright. — Nani falou, sendo sincero. Ele ainda estava engolindo a comida quando continuou. — É de qual restaurante?
Dew riu do namorado e Bright riu junto.
— Quando precisamos ser independentes, aprendemos qualquer coisa na marra. E cozinhar não é tão difícil como parece.
— Por acaso está recebendo ajuda de alguém? — Dew alfinetou. — Alguma garota, talvez?
— A Tontawan é só uma amiga. Ela é como uma irmã mais nova, para ser sincero.
— Sem falar que você nunca esqueceu o Win. — Disse Nani, se arrependendo logo em seguida. Ele passou o guardanapo pela boca e abaixou o olhar quando viu Bright ficar quieto. — Desculpa.
— Está tudo bem. Eu nunca o esqueci mesmo. E nem tive tempo. Só se passaram alguns meses.
— Você ainda sente a presença dele, não é?
Bright forçou um sorriso. Aquele conforto era prazeroso demais.
— Como ele está?
— Bom, você sabe. — Começou Dew. — Nós somos os seus amigos. Depois que você se mudou, não nos encontramos mais com o Win.
— Aconteceu uma coisa. — Nani continuou, se mostrando desconfortável. Àquela altura, a comida já havia acabado, ainda bem. Ninguém conseguiria comer mais nada depois da conversa que estava prestes a começar. Bright, que estava de olhos baixos, olhou Nani imediatamente. Nani se explicou antes de tudo. — Não aconteceu nada com o Win.
— Fale de uma vez.
— Ele perdeu o Mike.
— Como assim?
— Ele morreu há algum tempo, Bright. — Dew disse, de uma vez, baixinho. — A cidade é pequena e as notícias se espalham rápido. Todo mundo se conhece, praticamente.
Bright estava chocado demais para olhá-los ou para mover um dedo. Não gostava de Mike por ele ter levado o namorado para o caminho errado, mas ele era o melhor amigo de Win. Aquela perda parecia mais do que dolorosa. Parecia insuportável.
— Vocês não têm notícia do Win?
— O que sabemos é que a banda acabou. Não temos notícias dele, mas, a Love deve estar cuidando de tudo.
Era muita coisa para digerir e Bright precisava de espaço. De ar puro, principalmente. Ele se levantou e andou até a janela do apartamento. Abriu o vidro e ignorou o frio. Respirou fundo, pensando no próximo passo. O que deveria fazer era ver Win imediatamente. Abraçá-lo, beijá-lo e dar o ombro para ele chorar, se quisesse. Mas Win ainda estava mudado e eles estavam brigados. Apesar do amor no meio dos dois, a mágoa se fazia presente também.
Preocupado, Dew disse a Nani que iria até Bright. Era o mais próximo dele, o compreendia melhor. Saberia o que dizer.
— Ei. — O chamou, um tom tão cauteloso que quase fez Bright desabar. Ele se posicionou ao lado do amigo e admiraram a vista não muito bonita. Só havia prédios e neblina. — O que você pretende fazer agora?
— Preciso vê-lo, mas não sei se ele quer isso também.
— Você só vai saber se tentar.
— Não é fácil, Dew. Eu não tenho dinheiro para viajar, e eu tenho um trabalho aqui. Quase não tenho folga, porque eu sou o único responsável pelo meu setor. E, por fim, eu não sei se o Win quer me ver.
— O último problema você pode cortar da sua lista. Eu tenho certeza de que você faria um bem enorme a ele.
Suspirando, remexendo-se e impaciente, Bright passou as mãos pelo rosto, sem ter ideia do que fazer dali em diante.
— Eu e o Nani precisamos ir. Estamos hospedados em um hotel por algumas noites, então, vamos nos ver com frequência.
— Claro. Eu vou levar vocês até a porta.
Apesar da companhia dos amigos, da noite divertida, da conversa animada, Bright não conseguiu dormir bem à noite. Pensou em Mike morto, em uma briga, em Win, chorando, sem o apoio de praticamente ninguém, e pensou na época da escola, onde reclamou dos problemas que tinha, que não podiam ser comparados com os problemas de agora. Ao menos, os amigos estavam felizes, adultos, vivendo juntos. Se Bright tivesse conseguido dormir, teria sonhado com uma vida feliz, junto de Win. O Win de antigamente ou o de agora, não importava. Ele só queria Win.
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— Você está destruído.
— Bom dia para você também, Tontawan.
Ele se sentou ao lado dela e forçou um sorriso. Estava forçando sorrisos com muita frequência. Era irônico pensar naquilo, porque, antigamente, fazia o mesmo, mas conheceu Win e todos os seus sorrisos se tornaram verdadeiros. Atualmente, Win tinha uma parcela de culpa com os sorrisos falsos. Era tão contraditório.
— Dormiu bem, escritor?
— Não dormi, esse foi o problema.
Tontawan era a sua colega de trabalho e revisora dos textos. Ela se vestia como uma punk, sempre com maquiagens e roupas escuras. Eles estavam sempre trabalhando juntos e Bright se sentiu sortudo por ter se dado bem com ela desde o primeiro dia. Além de colegas de trabalho, Bright viu nela uma amiga compreensiva, atenciosa e carinhosa, mas o assunto sobre Win ainda não havia sido colocado em pauta. Até aquela manhã.
— Está tudo bem?
Ele olhou para ela, pensando se falaria sobre ele. Falar sobre Win era um tópico doloroso, mas, ao mesmo tempo, desabafar era sinônimo de alívio.
Naquela manhã, eles conversaram mais sobre a história de Bright, do que trabalharam. Ele não ocultou detalhes e se sentiu mais íntimo de Tontawan. Uma amizade estava sendo firmada e ambos os lados adoraram aquilo.
Quando Bright citou os problemas sobre ver Win, Tontawan não precisou pensar quando deu a solução. Bright era um amigo querido e ela iria ajudá-lo.
— Você quer ir vê-lo, certo?
— Certo. — Respondeu, estranhando, com dor ao pensar em Win sozinho. — Eu tenho medo de que ele faça alguma besteira. Eu não conheço o novo Win totalmente, entende?
— Sei. E a cidade fica a três horas daqui, de carro. Correto?
— Exato.
— Bom, eu levo você. Eu tenho um carro.
— Tontawan. Não. Não é só isso. Não posso ter folga. E nem você. Quem fará os textos e as revisões?
— É para isso que existe o freelancer. Dã! E outra, você sabe que o chefe me adora. Eu pisco os olhinhos para ele e ele nos dá uma folga de uma semana. Quer apostar?
— Você enlouqueceu?
— Eu nasci louca. É o que o meu pai diz. No sentido bom, é claro. Então, combinado?
— Que desculpa você daria?
— Parente doente sempre cola.
Poderia dar certo. O chefe de Bright era distraído o bastante para não saber se Bright tinha família ou não.
Verdadeiramente, Bright sorriu, ainda que sentisse medo. Mal podia contar no dedo as coisas que poderiam dar errado. Mas Tontawan estava tão confiante, os olhos animados piscando em sua direção, que Bright se decidiu. Aceitaria a carona, enganaria o chefe, e iria ao encontro de Win, pensando positivo, mesmo que aquela não fosse uma qualidade sua.
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