E eu mal posso esperar pra te ver novamente
A voz de David Bowie ainda saía do carro de Tontawan. A fita mudou para Rebel Rebel, enquanto terminava de dar um jeito no problema de Win. Bom, em um dos problemas. O do motor. Não deu certo. Ela achou o problema, mas não conseguiu resolvê-lo. Win riu com ironia e esfregou a testa, agradecendo mesmo assim a tentativa de ajuda.
Win se calou depois, e observou o carro quebrado. Bright o encarou e mal o reconhecia. Mas, ele ainda era o seu primeiro amor. Estava definitivamente diferente, mas era Win ali, cara a cara consigo novamente, e o coração batia feito louco no peito. Passou meses longe dele. Não foram anos, foram meses, e mesmo assim, sentiu falta dele até que se sentisse desesperado se vendo sozinho no apartamento solitário. Queria ficar a sós com ele e conversar. Win também. Pelo menos por cinco segundos.
Tentado a tomar uma atitude, Bright puxou Tontawan para um canto e falou baixinho com ela. Win tentou não contorcer o rosto com ciúmes e virou as costas para os dois, encostando-se no carro. Quando se deu conta, Tontawan estava partindo com o carro dela e de repente, ele ficou chocado ao se imaginar Bright indo embora com ela, o abandonando mais uma vez. Mas, Bright ainda estava ali, andando até si, também se encostando no carro. Olhou o céu, nublado, e percebeu que a conversa que teriam não seria fácil e nem curta.
— Por que mandou a sua amiga ir embora?
— É impressão minha ou contém um pouco de ironia nesse tom de voz?
— Fala sério. Ela é a sua namorada?
— Eu só tive um namorado a minha vida toda.
Win o olhou. Sentiu tristeza e amor ao mesmo tempo.
— Como você está, Win? — Perguntou, ainda olhando as nuvens se formando no céu.
— Como você acha que eu estou?
— Eu não faço ideia.
— Bom, o Mike se foi, o meu namorado me abandonou, e a minha irmã quase me expulsou de casa. Isso responde?
— Essas são as consequências das suas escolhas.
Irritado, Win se afastou do carro. Ficou em frente a Bright e não soube se estava chorando pela raiva ou outro sentimento. Provavelmente a mistura de todos eles.
— Lembre-se que você não é o maior santo do mundo, Bright. Mudou de cidade e...
— E o quê? Está me culpando só porque eu segui a minha vida?
— Estou culpando você por ter sido incompreensivo.
— Eu tentei, Win, mas eu não podia passar a minha vida toda cuidando de você.
Apesar da discussão, e apesar da raiva visível de Win, Bright estava pacífico, ao menos por fora. Os braços cruzados se apertavam um no outro e ele só usava uma blusa preta por dentro dos jeans. Estava ficando frio pela futura chuva, mas ninguém estava ligando para o tempo.
Magoado, Win continuou rebatendo as respostas em sua direção.
— Você desistiu muito fácil de mim.
Bright sabia que aquilo era verdade, e, percebendo a chateação na face de Win, sentiu mais culpa do que sentia antes. Maldita hora que resolveu ir ao seu encontro. Maldita hora que resolveu ajudá-lo na estrada. Maldita hora que resolveu se apaixonar por ele.
— Eu vou embora. E vou deixar você sozinho aqui.
— Eu não lembro de ter pedido a sua companhia.
Antes que Bright pudesse começar a caminhar, um trovão estalou. Depois do trovão, eles olharam para o céu. Em questão de segundos, os pingos de chuva começaram a cair, muito rapidamente, e assim a chuva foi ficando forte e grossa, gradativamente. Win parecia irritado demais para se mexer. Estava parado, no meio da estrada, já ensopado.
— Entra no carro! — Bright gritou, ensopado do mesmo jeito, a porta já aberta em suas mãos. Estava começando a tremer de frio. Nunca tinha visto uma chuva tão forte. — Pela primeira vez na vida, faça o que eu estou pedindo!
— Vá para o inferno! — Gritou mais alto.
Win olhou de um lado para o outro, procurando abrigo. Só havia mato dos dois lados. Ninguém com um guarda-chuva, nenhuma marquise, nenhuma pousada. Já tremendo de frio, ele abriu a porta do carro e entrou, se protegendo do temporal. Se jogou no banco de trás, onde Bright já estava sentado, ofegante com toda aquela adrenalina.
Longos minutos se passaram, o silêncio sempre presente. Só podia se ouvir o barulho da chuva, batendo nas janelas. Ela parecia não querer acabar nunca.
Win, tremendo de frio, se esticou para ligar o rádio. Is This Love, do Whitesnake, estava começando. Ele tirou a blusa molhada com pressa e enxugou o rosto com ela. Bright o olhou, mesmo que pelo canto do olho. Foi um olhar rápido, uma admiração de poucos segundos, para matar a saudade. Não demorou para que olhasse para a janela, ouvindo a voz de Win em seguida.
— Eu sou muito orgulhoso.
A irritação havia passado por completo. Se conhecia o suficiente para saber que não seria capaz de sentir raiva de Bright por muito tempo, porque o amava.
— Por que está dizendo isso? — Questionou, ainda encarando os pingos de chuva no vidro.
— Preciso dizer que sinto muito ou eu vou acabar explodindo.
— Bom, não é como se eu estivesse irritado ainda.
Bright finalmente o olhou, e Win sentiu vontade de aproximar-se mais e pedir para que Bright o esquentasse. Já estava se preparando para mudar de lugar quando Bright se mostrou disposto a continuar a conversa.
— Essa blusa é do Queen?
— Sim.
— Esqueceu a Madonna e a Cyndi Lauper?
— Elas ainda têm um espaço no meu coração.
— Entendi. — Riu, junto com Win.
Win pensou cuidadosamente nas próximas palavras. A última coisa que queria era magoar Bright novamente. Estava começando a entrar em desesperado se imaginando indo embora sem ele.
Vendo como Win ainda se remexia pelo frio, Bright se sentou mais perto de Win. Ele tirou a própria blusa molhada e encostou o ombro no ombro de Win, tentando esquentá-lo. A pele estava mais gelada que a sua, então Bright resolveu abraçá-lo pelos ombros, esfregando a palma da mão na pele dele. Win se sentiu melhor com aquele gesto. Melhor em muitos sentidos.
— Eu trabalho em um jornal. — Disse, baixinho, perto de Win. O barulho da chuva não incomodava tanto. — Sou responsável pela redação em geral, e a Tontawan revisa os textos.
— Eu senti ciúmes dela.
— Mesmo? — Olhou surpreso para ele, não parando com o carinho nos ombros largos. Estavam menos gelados agora.
— Achei que ela era a sua namorada.
— Ela é a minha melhor amiga. — Continuou sussurrando, a voz tão perto da orelha de Win. O corpo ficou em alerta com aquela aproximação.
Bright o provocando de propósito ou não, Win não o rejeitou. Ele fechou os olhos com força, temendo que perdesse o controle e atacasse a boca bonita que Bright tinha. Mas, pensou melhor. Estava pensando melhor ultimamente.
— A minha irmã me falou para eu seguir o meu coração. — Win o olhou.
Olhavam-se nos olhos agora, mais perto do que antes. Win virou de frente, o rosto quase colado com o de Bright. Ambos os corações batiam forte, o peito queimando como sempre. Aquele momento era precioso demais, e torceram para que só daquela vez, nada desse errado.
— E o que o seu coração quer que você faça?
Win juntou a boca na dele, sem precisar pensar para fazer aquilo. Bright o segurou forte no pescoço e o agarrou pela coxa, sentindo a carne através dos jeans apertados. O beijo era apressado e fazia um barulho excitante dentro do carro, se misturando com a música e com o barulho da chuva. Win fazia questão de chupar os lábios dele, e depois mordia-os não com carinho, mas com desejo. Sedento por Win, Bright ofegava com cada investida na própria boca, sentindo-se endurecer, enquanto segurava com mais firmeza a nuca ainda molhada de Win, que não mais tremia de frio. O seu corpo agora parecia com febre. Estava quente.
A coxa de Win foi apertada com mais força e puxada. Bright o colocou sentado em seu colo, uma perna de cada lado, o beijo diminuindo a velocidade. Havia muita tensão sexual dentro daquele carro, mais do que existiu na primeira vez dos dois, em 1985.
Bright agora tinha o pescoço abraçado pelos braços fortes de Win, enquanto o próprio Win não hesitava em rebolar devagar naquele colo, sentindo-se ficar mais duro e dolorido. Estava muito necessitado de Bright. Percebendo aflição dele, Bright parou o beijo, e selou a boca de Win algumas vezes, antes de se afastar e se ajoelhar no chão do carro.
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