Capítulo 02
♪⋆Eu sou como um palco e você é meu holofote - VIBE (Taeyang feat Jimin)
Embora minha rotina solitária tenha retomado ao normal nos dias seguintes, depois daquele encontro algumas coisas começaram a mudar.
Como um fantasma, o cansaço que costumava sentir desaparecia tão rápido quanto vinha, já que minhas atividades resumiam - se a dormir, acordar e conversar com meus amigos, sempre pensando no que faria no próximo dia.
- Então você está nos dizendo que um garoto, vivo! Te viu? É isso mesmo que ouvimos ou estamos ficando loucos? - Weixin me olhava confusa.
- Acho que quem está ficando louco é ele. - Jin me mediu com o olhar.
- Estou falando sério, ele me viu; ou pelo menos acho que me viu. Eu estou confuso.
- Ei, se acalme, talvez no próximo Qing Ming você possa ter sua resposta. - Weixin tocou entre minhas sobrancelhas, estava as franzindo sem perceber.
- É, talvez. - Meio incerto caminho entre os túmulos
No entanto, estranhamente, agora também ansiava pela chegada do próximo festival Qing Ming.
Não sabia o que exatamente estava esperando, mas o encontro com o garoto naquele dia deixou uma impressão em mim, algo que nunca havia sentido antes. Talvez fosse porque, em quase 10 anos como fantasma, nunca havia achado que tinha me comunicado ou interagido com outras pessoas.
Sentado na grama, deixei minha mente divagar por diversos pensamentos. Com o passar do tempo, deitei-me sem perceber e acabei adormecendo.
07/12/2017
Os dias se arrastaram até a chegada do próximo Festival Qing Ming. Naquela manhã em particular, despertei mais cedo do que o habitual. Não porque esperasse homenagens, mas devido ao som dos fogos de artifício que interromperam meu sono, não tive alternativa senão acordar.
Observava as pessoas chegando, cada uma trazendo consigo emoções distintas ao prestar suas homenagens aos falecidos. Antes, detestava o Festival Qing Ming devido aos fogos de artifício perturbadores, porém, com o tempo, passei a ansiar por essa ocasião especial.
Geralmente, fora do Festival, este local permanece deserto, com uma atmosfera tranquila e silenciosa. Embora inicialmente não estivesse habituado à solidão, com o tempo me acostumei a ela. Não que aprecie esse isolamento, mas é melhor ouvir as pessoas conversando do que permanecer no silêncio do túmulo.
Entretanto, neste ano, além das vozes das pessoas conversando, aguardava ansiosamente por algo mais. A esperança de reencontrar o garoto novamente, mesmo que fosse apenas uma vez. Consciente de que esperar por ele poderia ser ilusório e que ele talvez nem se recordasse de mim após tanto tempo.
Porém em meu coração ainda nutria essa esperança, segurando-a com firmeza enquanto aguardava pacientemente. Este ano, a espera parecia mais longa, talvez pela grande expectativa envolvida. Mesmo sendo uma esperança pequena, abracei-a com determinação e continuei aguardando até que finalmente avistei a família do garoto chegando.
Ao ver pessoas se aproximando, não tive certeza imediata, mas ao avistá-lo saindo do meio da multidão, meu coração se encheu de diversas emoções.
Fiquei chocado ao vê-lo, pois não conseguia acreditar que meu desejo se tornaria realidade. Ele caminhou até meu túmulo e percebi que havia crescido desde a última vez que o vi; fiquei contente por um instante, mas logo esse sentimento se dissipou ao notar sua expressão decepcionada.
O que teria acontecido? Ansiava por descobrir, mas sabia que minhas palavras não alcançariam seu ouvido, afinal eu era apenas um espírito. No entanto, ele começou a falar comigo como se buscasse uma conexão.
- Hyung, você não gosta de doces?
Apesar da vontade de rir da situação ao descobrir que sua expressão havia mudado por causa disso, percebi que nunca havia provado os doces oferecidos; afinal, a comida real não desaparece no mundo dos espíritos, porém no mundo normal sim.
Lembro-me dos ladrões e pessoas que pegam as oferendas dos túmulos assim como aconteceu com meus doces.
Em outro entardecer quente por conta do verão, ao abrir os olhos e me espreguiçar, pensava no festival Qing Ming e ouvi a voz de um senhor que cuidava da limpeza dos túmulos do cemitério.
Dei um sorriso leve assim que abri os olhos e observei o senhor reclamar sobre o calor enquanto cortava os matos envolta do túmulo, esse que já estava quase limpo. Dei uma olhada no meu que estava ao lado, era triste ver que estava completamente coberto por vegetação.
Comparado ao meu túmulo desarrumado, até mesmo a amazônia teria menos plantas. Antes que a tristeza me tomasse resolvi dar uma volta, mas antes que pudesse dar um passo congelei ao ouvir a voz do senhor.
- De quem são essas balas?
Rapidamente meus olhos encontraram as balas no meu túmulo, as que eu tinha ganhado do garoto. Isso só pode ser brincadeira, o pânico começou a me tomar logo após escutar sua próxima fala.
- Que sorte, estava desejando um doce, acho que é a glicose. Não deve ter problema. - Fiquei chocado ao ver o senhor prestes a comer minhas balas. Não podia acreditar que alguém teria coragem de comer as oferendas de um morto.
A frustração tomou conta de mim enquanto tentava pegar as balas de volta, mas elas simplesmente atravessaram minha mão. Meu olhar cheio de raiva se voltou para o doce senhor, que parecia pacífico e amigável.
Talvez ele tenha pensado que ficaria mal apenas pegando as balinhas de caramelos e por isso rezou por mim antes de comê-las.
- Por favor, não fique bravo, e me deixe comer isso. Obrigado.
- Não! Eu não permito! - Desesperado, gritei imediatamente, mas ele não podia ouvir minha voz. O que mais eu poderia fazer?
Ela colocou um doce na boca, diminuindo minha pequena recompensa. Senti-me melancólico pensando que talvez ele só tivesse pego um e não pegaria mais.
Contudo me enganei. Mais uma...
...E mais uma, e foi nessa que todos as minhas balas se foram. Despedi-me dos doces levados, a sensação de impotência e injustiça me consumiam enquanto lamentava minha perda.
Deixei minha frustração de lado e observei surpreso quando o senhor se sentou ali e começou a limpar as ervas daninhas que cobriam minha sepultura.
Apesar da tristeza não conseguia ficar bravo com ele, talvez ele faça bem mais proveito dos doces que eu. Ele não é uma má pessoa, às vezes é melhor deixar que alguém cuide do que deixar parado sem uso. Nem todos que pegam são maus.
Balanço a cabeça voltando ao presente o respondendo.
- Gosto de chocolate entre os doces. Quanto aos outros alimentos, gosto de tudo, especialmente carne. - Compartilhei minhas preferências mesmo sabendo que ele não podia me ouvir.
O garoto olhou na minha direção aguardando resposta; contudo o silêncio pareceu decepcioná-lo.
Meu coração apertou e desejei abraçá-lo e confortá-lo como se fosse um filhote desamparado e perdido. Antes de partir, correu em direção ao pai e retornou com uma caixa cheia de algo. Colocou-a no altar, acendeu três incensos e disse adeus.
Curioso, abri a caixa e meus olhos se arregalaram ao ver bolinhos de chocolate.
Tentei encontrar uma explicação lógica para aquilo tudo; contudo uma sensação de choque ainda me dominava. Seria possível que o garoto pudesse escutar minhas palavras? Porém logo descartei essa ideia como mera coincidência.
Com certeza não era possível. Ri dos meus pensamentos tolos e concluí que tudo aquilo havia sido apenas coincidência...
... Certo? Ou não?
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