Elizabeth, que já gostava de fotografar com seu celular, conseguia fazer até que milagres clicando suas amigas e tudo o que via pela frente. Qualquer paisagem bonita que Lizzy focava em seus olhos; primeiramente, virava uma fotografia posteriormente.

De início, ela apenas achava interessante registrar o que via, afinal, "se era belo tinha que ser fotografado." Por volta dos quinze anos, no entanto, Elizabeth não imaginava que aquele gosto pela arte iria proporcionar um bom emprego à ela, ou qualquer outra coisa além de seguidores no instagram pelas suas belas fotografias.

Contudo, quando completou dezessete anos e terminou o ensino médio, Lizzy teve certeza que queria àquela profissão para sua vida. Como se uma lâmpada acendesse em seu interior e iluminasse o caminho para o que viria a seguir. Sendo muito estudiosa e bastante decidida, assim que percebeu o que queria. Começou a estudar para o Enem e; depois, possivelmente, poderia galgar uma vaga em alguma universidade pública. Todo tempo livre Lizzie dedicava aos estudos para às provas e também para o seu até o momento, passatempo.

Entretanto, preferiu esperar para ver se seria chamada, não queria alarmar os pais ou até mesmo Jane à toa. Queria ter certeza de que poderia passar em algum vestibular, antes de receber a enxurrada de reclamações que viriam, quando revelasse seus planos a todos. Principalmente a seus pais, ambos extremamente protetores. Ela até cogitara conseguir uma bolsa na universidade da região, não tão longe de casa. Mas, apesar de sua cidade ser bem situada e até que com algumas opções a oferecer, Elizabeth sabia que o coração do Brasil era São Paulo. Era ali que ela queria fazer tudo acontecer, tinha certeza disso, só precisava de uma oportunidade.

Elizabeth havia escondido seus planos até mesmo de Jane; que, além de irmã, era sua melhor amiga.

— Lizzy, você precisa sair um pouco da frente desse computador, está presa nesse quarto o dia todo. Aproveita um pouco e pega um ar fresco. - Jane sorriu amorosa, sem querer soar autoritária.

Sendo um pouco mais velha que sua irmã, Elizabeth; Jane tinha recém completado vinte anos. Com seus cabelos num tom de loiro dourado, pele alva, olhos levemente esverdeados e sorriso extremamente meigo. Jane era o porto seguro da mais nova, Lizzy simplesmente a amava de todo o coração e odiava esconder algo dela. Porém, sabia que logo a bomba iria explodir, estava somente esperando o dia e a hora.

— Sim minha irmã querida, como quiser. Preciso só de mais alguns minutos. - Sorriu de volta com aquele ar de criança travessa, o que contribuía para que conseguisse tudo o que queria.

Elizabeth estava aguardando sair as listas de chamada das universidades. Desejava muito passar em pelo menos uma, das três opções que definira após prestar o Enem. Claro que a preferência era uma das universidades que escolhera em São Paulo.

— Tudo bem, tudo bem. - Respondeu uma Jane consternada. - Vou tomar banho e podemos ir à sorveteria, que tal? - Perguntou na tentativa de instigar sua irmã para um passeio noturno.

Jane trabalhava na livraria cultura da região para ajudar os pais com as despesas da casa e sonhava em estudar moda. Entretanto, como irmã mais velha em uma casa sem nenhum irmão, apenas quatro irmãs mais novas. Sentia-se como que na obrigação de fornecer alguma ajuda financeira. Sendo completamente abnegada, quase sempre deixava seus desejos e anseios em segundo plano, dando prioridade aos outros, mais precisamente às irmãs mais novas.

Lizzy pensou e pensou, decidindo que seria ótimo largar aquele notebook e sair um pouco. Afinal, o que tivesse de ser seria; além do que, sabia que Jane não tinha muita oportunidade de fazer amigos. Já que trabalhava de segunda a sábado em horário comercial e também era um tanto tímida para socializar.

Dessa forma, a Bennet do meio era sempre sua melhor companhia. Com idades relativamente próximas, as irmãs mais velhas da família se tornaram muito unidas desde quando eram crianças. De modo que, Elizabeth resolveu que seria melhor respirar. Trocou de roupa, pois já havia tomado banho e rumou para a sorveteria mais próxima juntamente com Jane, as outras irmãs nem fizeram questão.

Cada uma em sua atividade; Mary escutando música pelo Spotify, Kitty e Lídia conversando sobre um gatinho que conheceram na escola. Enquanto seu pai lia o jornal concentrado e sua mãe preparava o jantar. Porquanto, as duas irmãs foram caminhando naquela noite amena de verão.

Enquanto muitos casais andavam de mãos dadas pelas ruas, outros apressados, talvez voltando do trabalho, nem ousavam observar ao redor. Cansados demais para reparar que a Lua brilhava no céu juntamente com as estrelas, iluminando a noite. Lizzy, a fim de esquecer não somente o calor que fazia, mas também os pensamentos que a assolavam. Logo tratou de iniciar um diálogo com Jane. Perguntando como havia sido o dia da irmã e se chegara algum livro interessante na livraria.

— Hm... - Jane pensou um pouco. - Meu dia foi até que bom, passou bem rápido! E acho que não chegou nenhum livro que vá te interessar. - Ambas sorriram.

Jane sabia que o gosto de Elizabeth era bastante peculiar.

Apesar de ser inteligente e ter estudado um bocado, Elizabeth precisava de uma nota de corte muito boa para conseguir ganhar a bolsa de estudos. Lizzy prestara vestibular para a Universidade Federal do Paraná também. Porém, não nutria muita vontade de permanecer em Curitiba.

Gostava do lugar onde morava. Mas, a algum tempo ansiava por conhecer outros lugares, outras pessoas... Como não poderia participar dos vestibulares em São Paulo, ela optou pelo Enem, escolhendo como opção de estudo a Universidade de São Paulo (USP) e a Universidade Estadual Paulista (Unesp).

Elizabeth estava um pouco insegura e queria muito contar tudo à Jane, mesmo que ainda não estivesse nada confirmado. Portanto, enquanto voltavam para a casa, depois de se acabarem no sorvete de menta com chocolate e recheio de nutela - que tanto amavam, por sinal - Lizzy finalmente decidiu contar a irmã.

— Jane, tenho algo para te dizer. - Começou um tanto receosa. - Lembra quando prestei Enem e aleguei que era somente para testar meus conhecimentos?

Jane apenas assentiu.

— Então, na verdade não fui muito sincera contigo, eu pretendo cursar fotografia e de preferência não aqui em Curitiba. Escolhi duas opções em São Paulo e prestei o vestibular para a faculdade daqui só para desencargo de consciência. - Soltou de uma vez, olhando de soslaio para a irmã.

Jane fez menção de falar, procurando pelas palavras certas, e finalmente disse:

— Lizzy, por que não me contou? Escondeu isso de mim esse tempo todo? - manteve a entonação calma em sua voz doce.

Porém, Elizabeth conhecia a irmã tão bem quanto a palma de sua mão e sabia que ela estava um tanto chateada pelo segredo. Lizzy olhou para o chão, em seguida mexeu nos fios teimosos de cabelo que insistiam em cair no seu rosto - sempre fazia isso quando estava sem graça.

Na sequência olhou para a irmã, sabia que teria de explicar porquê tinha escondido tais detalhes sobre seus planos. Suspirou profundamente e olhou de lado, enquanto caminhavam.

— Jane, eu queria ter certeza de que iria dar certo pra contar. Também não queria alarmar nossos pais sem nenhuma informação concreta, além do que, você teria que mentir para eles. E eu sei que você não consegue fazer isso, iria acabar me entregando antes do tempo. - Respondeu em tom de brincadeira e riu consigo mesma.

A irmã não conseguia contar uma mentirinha se quer.

Jane apenas balançou a cabeça, riu levemente e constatou que era uma verdade absoluta o que Elizabeth acabara de dizer. Consequentemente, as duas voltaram para casa conversando muito sobre os planos de Lizzy. Jane perguntou se ela tinha certeza da decisão e se já havia obtido resposta de alguma universidade.

Elizabeth explicou que estava aguardando um retorno e por isso ficou o dia todo no quarto, em frente ao notebook. Jane afirmou à irmã que tinha economias no banco e cederia à Elizabeth para que pudesse viajar, caso fosse aceita na universidade de São Paulo. Lizzy se desculpou e garantiu que jamais aceitaria, alegou que economizou tudo o que podia de seu salário de jovem aprendiz. Para o caso de precisar futuramente e essa seria a precisão.

Ambas sabiam que o Sr. e a Sra. Bennet jamais aceitariam que a filhinha voasse para longe de suas asas. Elizabeth teria que ter coragem para enfrentá-los, se realmente pretendesse impor sua vontade.

Isso se ela fosse realmente aceita.

Lizzy suspirou pesadamente já antecipando o Deus nos acuda que seria, quando finalmente decidisse contar.