Chào các bạn! Vì nhiều lý do từ nay Truyen2U chính thức đổi tên là Truyen247.Pro. Mong các bạn tiếp tục ủng hộ truy cập tên miền mới này nhé! Mãi yêu... ♥

|Capítulo 8|

Era preciso colocar as minhas duas mãos em minha boca, para conter minhas altas e escandalosas gargalhadas que saíam livremente de mim. Rustan ria prazerosamente dos meus comentários espontâneos sobre a história que ele me contava. Depois dele me abraçar, consolando-me, o mesmo propôs com todo respeito, falarmos um pouco dos nossos entes queridos, homenageando a existência deles neste mundo, eu concordei sem muita demora; e cá estamos nós, rindo como dois adolescente, que aprontavam travessuras na escola para fazer os colegas riem.

Antes de Rustan continuar a me contar suas aventuras com os irmãos, novamente a enfermeira vem à nossa direção e, sendo obrigada as mesmas palavras pela terceira vez, ela limitá-se a ser gentil como da última vez; percebia-se facilmente o tom alterado para irritado, por estarmos fazendo muito barulho durante a madrugada. Ela nos olha brava, querendo ter a certeza de que ou iríamos dormir e acabar com o tormento dela de precisar vir até nós e nos dar broncas ou simplesmente falaríamos mais baixo, sem incomodar ninguém, inclusive ela.

Concordamos com cabeça em falarmos mais baixos, porém logo eu rio de uma maneira nada elegante e sensual, quando Rustan faz um comentário provocativo referente a enfermeira e que ela deveria estar em nosso lugar, descansando por parecer muito nervosinha. Levo os dedos nos meus lábios, pedindo silêncio a ele, mas o seu olhar traiçoeiro me diziam que o pior ainda estava por vir...

O Rustan, olha pra mim com um sorriso de quem iria fazer besteira, a qualquer instante e eu exprimo os olhos, desejando que ele fique quieto em sua cama. Contudo ele olha ao redor e quando tem certeza que a enfermeira se afastou o suficiente, o mesmo grita com um vozeirão grave, que facilmente acorda algumas pessoas assustadas:

-Saukerl¹ -fico envergonhada e não sei onde pôr o rosto para os olhares ferozes sobre nós, eu o olho repreendendo por agir como uma criança, mas ele não se preocupa nenhum instante com minhas advertências.

(¹Saukerl: porco)

-Você sabe que a enfermeira pode muito bem vir até nós e te expulsar do meu lado, se continuar se portando assim, não sabe? -pergunto ponho a mão sobre minhas bochechas para descobrir o quão afetada estava por suas brincadeiras. Não querendo admitir, mas ele sabia como me fazer sorrir, mesmo em horas inadequadas.

-Meu Deus, você está certa! Não quero ficar longe de você... -revela cheio de vergonha para mim o seu pensamento íntimo e, no mesmo instante que diz, eu não sei se falara realmente isso, querendo expor o que sentia ou fora dito em voz alta, de sem querer... Porém em todas as vezes que Rustan disse algo assim, não fora exatamente por um desses motivos, e sim para envergonhar-me, provocando novas sensações em meu corpo. Mal sabia ele que funcionava perfeitamente.

-Bom menino, -falo de um jeito provocativo, como se eu falasse com uma criança e, mesmo naquela escuridão total, via-se seus olhos me observando intensamente, as bochechas um tanto avermelhadas; não por eu estar entrando, como sempre, em seu jogo, mas pela intensidade do clima entre nós, que cada vez mais se aprofundava e fazíamos-nos perder na vastidão de nossos universos -irá começar a se comportar?

-Sim, eu vou! -ele diz convicto e eu acredito, porém, repentinamente ele vira a cabeça e resmunga de maneira rude para a enfermeira, mesmo que ela não fosse mais capaz de escutar: -Geh schlafen bittere Schlampe².

(²Geh schlafen bittere Schlampe: Vai dormir, vadia amarga)

Eu arregalo os olhos pela maneira inesperada do que ele falou para a enfermeira, minha boca estava aberta totalmente pasma por ele se mostrar bem mais extrovertido do que eu suponha. Sem ter tempo de pensar, eu vou até ele e bato em seu peito o olhado incrédula ainda.

-Senhor Abromowitz! -exclamo encarando seus olhos, que nenhum momento desviavam dos meus -Não pode sair xingando as pessoas assim! Quanta falta de educação!

-Mas ela mereceu ora, fica nos atrapalhando -começa a se justificar com argumentos fracos e eu cruzo os meus braços desapontadas com a atitude dele. Vendo o meu estado em relação à ele, Rustan se explica com um revirar de olhos: -E além do mais ela não entendeu nada... Então nem conta como xingamento.

Bato novamente nele, que por sua vez, me lança um olhar furtivo e dá de ombros, como se não tivesse feito nada. Fuzilo-o com o olhar e não perco a minha ousadia em enfrentá-lo, ele poderia ser o melhor soldado do país, porém educação e respeito não mata ninguém!

-Mas eu sei e conta sim! Só porque alguém faz algo que você não gosta, não significa que precisa devolver a troco de xingamentos. Ainda mais uma funcionária que te mantém viva!

Quando Rustan percebe o quão exaltada eu fiquei e que eu falava seriamente a respeito de sua atitude, ele fica sinceramente envergonhado pela bronca, abaixando a cabeça reconhecendo o erro. Sua mão boa coça o pescoço pelo constrangimento.

-Ok, não faço mais isso...

-Se eu te fazer ir pedir desculpas para ela, estarei forçando nossa... amizade? -pergunto sentando ao seu lado para olhá-lo bem nos olhos e ver o que eles me mostrariam.

-Sim... -ele responde quase desesperado, sabendo que eu iria de alguma maneira persuadi-lo a se desculpar pelas más falas. Ele, por fim, resmunga acanhado para mim: -Desculpa, não queria fazer aquilo... Estava certa.

-Ainda bem que conversamos -por estar em liberdade com ele e em um clima agradável, eu ajo por impulso e dou tapinhas em sua perna, como fazia com o meu irmão, quando dava bronca nele por aprontar alguma. Meu rosto queima ao notar minha impulsividade e eu logo me levanto para sair de sua cama. -Que noite mais agitada... Não é melhor irmos dormir?

Saio de sua cama totalmente vermelha sentindo seus olhos me fitarem constantemente, a queimação em minhas costas não passa despercebida até eu sentar novamente em minha cama. Pego-o os os olhos cravados em mim e meu coração sobressalta o compasso, quase sendo audível para quem prestasse atenção no som do silêncio.

Engulo em seco sobre seu olhar e meu rosto esquenta mais ainda, deixando-me completamente sem reação. Esse homem sabia muito bem como me deixar assim. Olho para os lados afim de me livrar os meus sentimentos se embaralhando ao efeito de seus olhos, mas tudo se complica.

-Você não sabe disfarçada, não é? Está toda vermelha, parece um pimentão. Porque está envergonhada? -o meu vizinho diz singelamente e o nervosismo em mim sobre, escuto-o rir e muito ao me ver sem jeito algum e reviro os olhos por ele flagrar-me nesta maneira.

-Oras! Isso é jeito de falar com uma dama? -ataco-o querendo me livrar da tensão toda voltada sobre mim, que ele causava. -Por acaso é assim que vocês, russos, conversam com as mulheres? Expondo-as até nos momentos mais importunos?

-Não, senhorita, mas sempre que olho para você, suas bochechas ficam coradas -ele gagueja meio assustado ainda com a forma que eu o ataquei na defensiva, por expor-me bem mais do que o desejado. Homem algum ousou falar abertamente sobre mim, mesmo que tenha sido paqueras sem importância para o futuro. O Rustan continua dizendo, porém demasiadamente acanhado por minhas respostas ásperas. -Confesso que acho um lindo charme seu. E eu apenas queria saber o motivo.

Meu coração parecia ensurdecer-me ao chegar em meus ouvidos, o nervosismo me consome e eu me sinto inexperiente com aqueles olhos azuis fitando-me, querendo explorar os meus pensamentos pessoais. Arrumo minha postura me sentindo insensível pelo modo que o tratava ultimamente, contudo não estava de toda maneira errada.

-Perdoe-me pela ousadia, mas creio ser o mesmo motivo que o seu. E sobre isso, mesmo contendo certa atração, seria certo deixar-me levar pelos sentimentos afim de fugir um pouco desta nova realidade que vivemos, enquanto a morte e sofrimento vivem ao nosso redor? Não estaríamos sendo egoístas?

-Talvez seja isso mesmo, mas me perdoe pela minha empolgação e até olhar você demais -eu não sei porque, mais sorrio como uma tola apaixonada, esperando pelo próximo elogio de meu admirador, contudo eu não sentia que isso estava certo...

Porque em tantas mortes, é justo eu viver feliz e até, quem sabe, se a vida permitir, criar dali um futuro ímpar e quase milagroso, superando todos os meu traumas e sofrimentos? Seria desumano eu querer algo aparentemente impossível?

-Eu sou... Nós, alemães, somos tão diferentes das mulheres de seu país? -arrumo minha pergunta para não ser invasiva demais e desagradar-lhe com meu questionamento. Porém ele sorri, quando escuta o que eu digo e isso me faz olhá-lo curiosa e entretida.

-Não, não são, mas você é diferente de todas que conheci -ele responde com um sorriso meio galanteador, passando a mão pelo cabelo intencionalmente, causando arrepios em meu corpo, afim de me provocar, e encantar-me.

Ele deveria ter uma noção básica de como é esbelto e quais movimentos e ângulos certos promovem uma gritante acentuamento em sua beleza e, com isso, o mesmo exibia-se de forma convencido, certificando da vitória. Porém, mesmo por tudo, eu não deixaria ser tão fácil assim a sua conquista sobre mim.

-Poderia constatar que isso possa ser ruim? Para o senhor, no caso... -ele arruma a postura querendo descobrir onde minha colocação terminaria. -Uma vez que familiarizou-se com uma inimiga de seu país... Não terá problema acima disso?

-Talvez... -ele responde meio sem graça e dando de ombros sem se incomodar com os efêmeros detalhes, os quais eu insistia tanto, por achar importante. -Você já se tornou uma amiga... Minha companheira de hospital e depois de tudo que passei, eu não importo com mais nada... Não há mais o que possam tirar de mim de real valor e significado, com exceção desta singular amizade, a qual me encontro. Confesso estar meio confuso e curioso sobre, por ser totalmente inopina.

Sorriso amigavelmente para ele por compartilharmos do mesmo pensamento; tanto ele como eu, não sabíamos como reagir a esta inusitada amizade. Porque confiávamos plenamente um no outro, sem nos importarmos com rótulos passados à nós, e quebrar essa barreira fora bem mais fácil do que eu suponha ser... Fico à mercê de meus pensamentos, desconfiando qual seria a próxima muralha a ruir entre nós.

-Tirou as palavras de minha boca, senhor Abromowitz. Não há muitas coisas que me asseguram a me importar com minhas religiosidades e crenças passadas... Quando o fim de tudo isso chegar, quem sabe o que nos aguarda...

-Verdade, eu também sinto que um futuro melhor me espera -Rustan fala confiantemente, como se quase prevê-se o seu destino, e quando diz, mesmo no calar da noite e sua escuridão, seus olhos aprofundam nos meus, revelando um de seus mistérios, que semelhantemente era o mesmo segredo do que o meu.

Abro um sorriso feliz tímido deixando-me levar pelas sentimentos que ele proporcionava em mim, todavia não me desagradavam. Pensar nele era estrondoso, impetuoso, misterioso, único; ele quebrou qualquer preconceito de minha parte, mostrando como o mundo era bem mais amplo do que meus olhos me ofereciam enxergar. A densidade do que era viver, estava além de uma simples respiração e as batidas frenéticas do coração... Naquele simples hospital, eu explorava bem mais a vida aí meu redor do que em meus vinte e dois anos em plena liberdade. Talvez, há certas coisas que não se aprendem lendo ou ouvindo das bocas de outras pessoas, mas vivendo na pele, sentindo em você, todos os sentimentos daquela experiência incomum, tanto boa quanto ruim.

[...]

As horas se passaram rapidamente, avançando para quase um novo lindo amanhecer, trazendo as mais luzes majestosas para dentro da fábrica, despertando aos poucos as pessoas para um novo dia. Enquanto isso contávamos sem parar, mais histórias engraçadas que vivenciamos com nossas famílias, as besteiras que nossos irmãos aprontaram durante a adolescência, falamos dos amigos...

Mesmo com a insistência da enfermeira em nos fazer falarmos baixo, não deu certo, ríamos sem parar, nós nos empolgávamos mais do que deveríamos entre um assunto e outro e aumentávamos o tom da voz exageradamente; as pessoas à nossa volta apenas reviravam os olhares, não parecendo totalmente incomodados assim com o barulho -talvez gostassem de ver que, mesmo em um momento tão delicado e cruel no mundo inteiro, sempre haverá esperança para aqueles que a buscam.

Os olhos cansados de Rustan pela falta de sono me observam tranquilamente, apenas me olhando e esperando minha próxima fala. Eu queria continuar a conversa, porém via que não dava mais para continuar, nenhum de nós aguentávamos mais ficar acordado. Bocejo e me alongo, para afastar um pouco do sono, ele me imita achando graça.

-Acho que exageramos um pouco essa noite -sorrio por ter feito algo totalmente fora do meu costume. Eu nunca iria passar madrugada inteira acordada, conversando com um estranho, estando em uma guerra, só que... Parecia ser mais forte do que nós, e eu amava essa conexão que tínhamos. -Vamos dormir um pouco? Você não tem dormido muito...

-Vamos sim, a hora voou não é mesmo? Foi muito bom conversar contigo, não me sinto bem assim há muito tempo. Mas enfim, vamos logo antes que a nervosinha volte -rio e levo a mão querendo esconder minha reação. 

Rustan finamente deita em sua cama provisória e fica olhando para cima, como de costume, eu faço o mesmo, porém volto-me o corpo para ele, observando-o enquanto não dormia ainda. Sua mente não parece desligar rápido da realidade pela agitação de peito, a respiração acelerada, mas as poucos vejo-o se acalmar, seus olhos piscarem do sono e, por fim, seu corpo relaxar e ele ficar mais tranquilo naquele lugar.

Em poucos segundos ele estava dormindo e eu fico ali, observando-o atentamente, protegendo-o em seu sonho. Não com muita diferença de tempo, eu também começo a piscar os olhos, querendo me render ao sono, mesmo que quisesse ainda olhá-lo descansar plenamente, o cansaço me toma por completo e eu abraço o repouso. 

Eu só abro os olhos novamente pelos vultos ao meu redor, indo e voltando sem cessar. Aos poucos eu abro um pouco mais as pálpebras pesadas e focalizo a visão na mancha preta indo de um lado para o outro, começo a reconhecer aquela figura e logo vejo as enfermeiras com as roupas verdes olivas entregando incansavelmente o desjejum para os pacientes. 

Ergo lentamente o meu corpo, para sentar-me em minha cama e aproveito para alongar os músculos doloridos pela posição que dormi. A dor pelo mal jeito me faz expressar uma careta e eu rapidamente paro de me mexer para não piorar e intensificá-la ainda mais.

Olho com certo interesse para o lado, sentindo olhos sobre mim e meus movimentos e acerto certeiramente em meu pressentimento. Vejo Rustan me olhando descaradamente, como se soubesse que eu sentia os olhos em mim e buscaria a resposta.

Antes de eu ao menos acenar para ele ou pronunciar um bom dia pelas poucas horas de sono que tivemos, o mesmo diz como se fosse qualquer coisa -ou sabia terrivelmente bem que aquelas palavras me fariam corar instantaneamente- e mesmo assim o faz:      

-Você não é muito discreta em observar as pessoas -mordo meus lábios e viro os olhos para não flagrar seus oceanos azuis. Ele sabia que eu estava olhando para ele quando ele foi dormir e nem tentou omitir isso, simplesmente expôs entre nós esse fato, o qual me fazia sentir febril, pela alta temperatura de meu corpo, e o coração descompassado.

-Você que não sai do estado de alerta -eu retruco fitando seus olhos já presos nos meus, travando uma batalha silenciosa e feroz, que agitavam todas as células de meu ser e eu creio que não apenas as minhas. Seus olhos deslizam com certa lerdeza para meus lábios e sobem cobrindo cada perímetro de meu rosto, parecendo gostar do que via.

-Pelo menos isso me traz algumas vantagens -diz observando o intenso olhar que eu lançava sobre ele, pela necessidade que continha presa em mim por desejá-lo profundamente. O leve tremor em meus lábios semi-abertos o faz puxar um pouco o lábio, como se soubesse perfeitamente o que eu sentia e ficava imensamente feliz por eu compartilhar do mesmo sentimento. 

Sua resposta inesperada me deixam completamente atônita, travada em seu olhar puro e sincero. Perco a fala e respondo sem graça, com o coração na boca, sentindo novamente o tremor percorrer brincando pelo corpo, as pulsações nervosas, as mãos suarem à frio, o estômago revirado...  

-Não sei nem como responder isso...

Não somente eu, mas Rustan cora levemente, deixando rastros avermelhados sobre a face, mordo novamente os lábios nervosas lembrando da noite anterior, de quando eu o beijei. Não sabia como havia ficado tão ousada para fazer tal coisa, porém eu gostei da mudança que surtia em mim desde que eu o havia conhecido. Parecia que o meu corpo estava, por fim, despertando, acordando para a vida de novo, com um novo fôlego; tudo graças à ele, e de como a vida me pôs em seu caminho.  

-Apenas diga que sim e que não se arrependerá futuramente com sua decisão -responde sem pensar profundamente no que me pedia. Eu não sei o que ele queria dizer com aquilo, porém estava curiosa demais para recuar e negar a sua proposta. 

-E que ocasião é esta, para eu dizer sim? -pergunto intrigada com seus pensamentos e logo a enfermeira nos entrega nosso alimentos nos silenciando, a moça nos olha feio quase como se soubesse que ele a havia xingado-o e sai pisando duro de perto de nós. -Ela não gosta mais de nós.

Declaro e ele gargalha com meu comentário espontâneo. Rio também e começo a comer o meu desjejum, quase imitando-o, para ver como um verdadeiro russo comia, ele repara e lança-me um olhar de aviso, arqueio a sobrancelha aceitando a ameaça, minutos depois caímos na risada, pela brincadeira infantil, que normalmente meu irmãozinho faria comigo. 

-Leah, para -diz como se estivesse incomodado comigo e até, ousadamente, ataca sobre mim uns grãos dos seus careais para me fazer recuar. Eu gargalho com sua reação totalmente brincalhona e não deixo de abusar dela.

-Mas eu achei que estivesse gostando -faço uma carinha triste e desperdiço um pouco do meu cereal também jogando nele. Ele emburra e fecha a expressão, não contenho o sorriso largo e chamo a atenção a nossa volta com a risada escandalosa de minha parte. -Para, Rustan, está me fazendo passar vergonha.

Afirmo entre uma risada e outra; sou obrigada a levar a mão em minha barriga para respirar novamente bem, com tranquilidade e conter todos os sentimentos que sentia por ele, de escaparem de uma só vez.

-Mas eu achei que estivesse gostando -ele me imita e eu abro a boca totalmente furiosa com sua resposta. Cruzos os braços e exprimo meus lábios segurando meus comentários. Ele ri a vontade, animado por me ver vermelha de raiva e espumando pela boca meus xingamentos. 

-Aqui, praga vermelha, está precisando de um banho -jogo mais um pouco dos meus grãos em seus cabelos e ele tenta desviar sem sucesso algum de minhas armas, alguns prendem em seus fios e eu caio para trás rindo dele sujo. 

Escuto algumas pessoas ao meu redor rindo do que estávamos fazendo e pareciam se divertirem de nossas palhaçadas. Ele não se intimida com minha vingança e, para realizar a sua, o Rustan fica de pé e vem em minha direção. 

-Não. Não! -começo a gritar entre risos e desespero para o que aquele homem iria fazer comigo, tento segurar seus braços para impedir seus planos, porém ele era mais forte do que eu, e eu fico à mercê de suas vontades. -Rustan, o que está planejando fazer?

Com meus dois braços presos em uma de suas mãos, ele me olha de um modo peculiar e um brilho intenso e perigoso de ficar perto, arqueia a sobrancelha entretido com a cena, onde eu estava e começa a olhar em volta o que poderia fazer. Jogar cereal em mim seria muito fácil, ele não deixaria me sair assim tão imune, então ele olha para o meu precioso pão e -mesmo com o braço machucado- simplesmente pega o pão e com certo esforço lambe uma parte, como se fosse uma criança fazendo graça e não querendo que os outros peguem o que é dele, contudo ele não recua e diz que era dele, o mesmo recruta com ousadia, que flameja em meu peito:

-Seja uma boa garota e abre a boca -faço uma careta por não querer comer. Ele não iria me obrigar. Porém ou eu recusava seu desafio e perdia nossa disputa ou enfrentava aquilo com vigor e provava a ele que eu não era tão fácil assim de ser derrubada. 

Sem esperar por seu próximo pedido, eu mordo com vontade o pão e aprecio o gosto, faço uma cara de prazer e falo provando que ele não iria ganhar aquela rodada:

-Está delicioso, o que tinha? Veneno? -ele me olha incrédulo e revira os olhos. Bufa por me ver que iria voltar a comer o pão e rapidamente solta os meus braços e morde o meu pão. -Ei! Isso era meu! Rustan! Trapaceiro...

-Quer mesmo comer a minha baba em seu pão? -franzo o cenho sem entender e ele vira o outro lado do pão, mostrando-me que eu não havia comido a parte que ele havia lambido. Não sei exatamente o momento que ele mudou o lado, mas fiquei admirada por ele, mesmo em brincadeiras, não me fazer passar pelo ridículo ou mais vergonha desnecessária. -Fique com o meu.

Pego de sua mão boa e sorrio quando ele volta a se senta em sua cama, comendo a sobra do pão. Não tinha percebido até aquele momento como estávamos a vontade um com o outro, como se nos conhecêssemos a anos, isso era a parte mais assustadora, porque confiávamos cegamente nas palavras que cada um dissesse, e eu pego-me pensando que não quero que isso acabe. Porém eu saberia que não duraria para sempre... A menos se o futuro tivesse ou outro plano preparado para nós. 

-O que você estava dizendo antes... -começo a dizer relembrando de seu pedido.

-Nada... Achará bobeira de minha parte -responde acanhado levando a mão no pescoço, eu sabia que estava tímido ou envergonhado por conta das inúmeras vezes que fez isso, quando se constrangia em nossos assuntos.

-Por favor... -seus olhos azuis sobem encontrando os meus ansiosos e desejosos, querendo minha resposta sobre aquilo que o incomodava desde cedo -Conte o que aflige seus pensamentos para mim.

Seu olhar intensifica e ele fala: 

-Admite fazer tudo isso, por não sermos apenas um fio de esperança ou de amor, que restou do mundo, para comigo? Que não é uma mera ilusão que criamos aqui para nós, para fugirmos um pouco da realidade caótica que vivemos? Que, o que nós estamos sentindo aqui, é puro e real... não uma fantasia, que aos estalar os dedos deixará de existir... 

Ele parecia tão preocupado com aquilo, que chega a doer no peito, sentia perfeitamente o que ele temia ser falso e ilusório para ambos. Sem perceber, eu já estava na sua frente, segurando em sua mão, confortando-o, meus olhos procuram por os seus e, quando encontram, eu o acalmo:

-É impossível inventar o que eu estou sentindo agora, mesmo parecendo loucura por sermos tecnicamente inimigos e estarmos em uma guerra... Porém não é fruto de nosso subconsciente nossas emoções um para o outro, para nos protegerem da verdadeira crueldade que o mundo se tornou... Rustan, eu... 

Começo a piscar e a buscar as palavras certas, contudo naquele momento eu me vejo apegada demais a ele, as suas palavras, eu queria submergir completamente nelas, mas eu não podia -ainda. Os olhares ao nosso redor me fazem ir para trás e soltar as suas mãos, pelo medo, não do julgamento que cairia sobre nós, mas por saber que haveria consequências sérias assim que eu aceitasse sua proposta. Respiro fundo e o olho, entendendo seus pensamentos; ele se mostrava em alerta da mesma maneira que eu: queria, contudo não ali, sobre o olhar de todos. 

-De noite? -ele quase sussurra para mim, com medo de alguém ouvir nossos segredos.

-De noite -aceito acenando com a cabeça e logo uma enfermeira vem trocar suas bandagens, que haviam sido trocadas a dois dias atrás.

A moça trabalha agilmente, retirando as sujas, limpando o local exposto do machucado que haviam sido cortadas, porém, quando irá recolocar as bandagens e a tipoia em seu braço direito, nota-se algo ali e para o que fazia. Ela conversa com ele, pede para movimentar o braço lentamente para cima, para os lados, estender o cotovelo e fechá-lo, ele faz tudo e a enfermeira parecia sorrir, enquanto conta para ele algo. Não entendo nada até ela sair e eu perguntar para ele do porquê ele não precisava mais da tipoia.

Com muito pesar, seus olhos pesam sobre os meus e ele fala com sua voz carregada com seu sotaque, embargada em uma melancolia que embrulha o meu estômago e me acerta em cheio, com força e não consigo acreditar em suas palavras, quando me atravessam como facas afiadas:

-Leah, hoje será a minha última noite no hospital. A enfermeira disse que meus ferimentos já estão melhores e que meu comandante pediu pelo minha liberação assim que estivesse bem... 

O meu mundo cai no mesmo segundo, porque não era possível o que eu escutava. Até poucos segundos estávamos felizes juntos, nos envolvendo em algo a mais do que um simples caso, iludindo-nos com o futuro incerto, porém em minutos depois, tudo o que idealizamos ter e viver, não era mais possível: porque Rustan deixará o hospital amanhã de manhã.     

Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro