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|Capítulo 7|

O chá quente de erva doce com limão durante a noite fria esquenta o meu corpo, traz uma sensação de renovo -uma coisa que eu precisa. Como em silêncio o biscoito de água e sal que foi distribuído entre as pessoas ainda acordadas, já que a maioria já dormia profundamente.

Olho o mar de corpos à minha frente e vejo que alguns dos rostos que eu reconhecia não estava mais presente, por terem sido liberados pela manhã ou durante o almoço. Começo a observar os seus ferimentos, alguns foram mutilados, ficando sem as pernas, outros, os braços; por sorte um ou outro apenas perdia um membro do corpo. Não era uma imagem fácil de se ver, porém eles ainda estavam vivos. Lutavam a cada alvorecer por suas vidas, além de se lamentarem pela desgraça que aconteceu à eles.

Por um instante eu me sinto ingrata por querer a morte, enquanto várias vidas foram perdias, tiradas de maneiras cruéis e frias e, se tivessem chance de falarem uma única coisa antes de morrerem, eu não suspenso a possibilidade de ser: "Eu gostaria de continuar vivo, mesmo dilacerado inteiro, porque eu veria a minha família envelhecer, realizarem seus sonhos. Eu estaria lá com eles, vivendo parte de tudo isso e não seria apenas uma lembrança registrada nas memórias das pessoas pelo tempo". Mesmo assim, eu não posso menosprezar o meu sofrimento, as minhas lágrimas, desprezar o que eu sofri.

Não podemos comparar os traumas de outros, porque cada um sabe a sua própria dor, o que teve que fazer para poder suportar a própria cruz... Para alguns o sofrimento não é nada, apenas uma marca na pele irrelevante, mas para outros, ele pode ser o fim. Para mim, ter sido violentada foi o meu limite, e eu sei disso, porque eu sinto que não tenho mais forças para continuar de agora em diante.

Contenho a lágrima de meu olho, não que chegava a doer meu rosto ainda pelas surras que levei, muito pelo contrário por já estar melhorando, mas não em uma velocidade tão rápida quanto desejava; eu apenas não quero me sentir fraca. Não desejo atrair olhares em minha direção e ser "digna" de pena pelo o que eu passei, não estaria certo. Eu não fui a primeira a sofrer este tipo de violentação e, infelizmente, sabendo no mundo onde vivo, estou longe de ser a última... Com isso, não é certo todos chorarem comigo pelo o que estou passando, enquanto há outras pessoas em condições piores do que eu.

Meus olhos continuam vagando pelo vasto cômodo até repousarem em meu vizinho, que estranha estranhamente silencioso. Será que eu fiz algo para ele? Não dou prosseguimento aos meus pensamentos e focalizo de vez em seus ferimentos. Eu não sabia a sua profundidade, mas pelo o que eu notara anteriormente, ele não estava mais com dificuldades em se locomover, se mexer...

Ao mesmo tempo que o meu rosto estava desinchando e os ferimentos físicos sumindo em minha pele lentamente, nele acontecia o mesmo, porém parecia ser bem mais rápido do que o meu. Talvez não tenha sido tão grave quando eu imaginava.

-O que você fez? -pergunto na esperança de quebrar aquele clima estranho entre nós. Rustan me olha devagar, subindo os olhos ao encontro dos meus e eu repito o que falei antes, caso ele não tenha entendido: -Como você se feriu para estar aqui?

-Sabe, no dia que te conheci, depois que fui embora, liderei minha companhia para capturar um bloco de apartamento. Os alemães estavam muito bem posicionados, perdemos dois tanques no ataque e mais alguns soldados. Foi quando eu pedi apoio de artilharia. Acho que estávamos muito perto ou foi erro do meu operador de rádio ao dar as coordenadas da posição inimiga... -sua voz não chega a subir, mas se transforma em uma pensativa, relembrando do que vivera para chegar até aqui.

Eu não consigo imaginar o que ele passou, o que todos passaram para estarem hoje neste hospital... Cada um carrega uma verdadeira batalha e um triunfo glorioso de superação -de que a vida não os derrotou em meio a todos os desafios lançados.

-Tudo estava indo parcialmente bem, mas quando um projétil quase explodiu sobre a nossa posição, eu fui lançado há uns 5 metros de distância. Tive uma luxação no ombro e fui ferido por vários estilhaços, a maioria acertou o braço direito, precisando ser enfaixado para impedir o sangramento -fala levando a mão esquerda no ferimento do outro braço e eu faço uma expressão triste pelo o que ele passou. -Não foi nem tão grave assim, se comparado aos meus companheiros de guerra. Um dos meus sargentos e mais três soldados não tiveram a mesma sorte. Eu não sei qual deles morreu primeiro ou rápido... Só sei que ainda escuto os gritos aterrorizados do meu sargento, querendo acabar com toda aquela agonia... Eu não cheguei a vê-lo, porém me contaram que ele perdera ambas as pernas por conta da explosão, seu corpo inteiro do que restara estava em carne viva... E pensar como ele estava tão feliz dias antes por conta do filhinho dele havia nascido no início do ano...

Rustan, mesmo querendo conter todos os seus sentimentos, não consegue esconder e impedir uma pequena lágrima de seu olho escorrer sobre a sua face, ele a limpa rapidamente e abaixa o olhar para o chão, sentindo o peso daquelas mortes sobre ele, como se fosse o culpado por tudo, mas eu tinha certeza de uma coisa: Rustan não tinha culpa de nada.

A guerra é imprevisível, traiçoeira, maligna para todos. Não tem como provê-la. Não podemos nos condenar por coisas que estão fora de nosso alcance, contudo é inevitável esquecer... Impossível não se lembrar dos sons perturbadores durante os dias, os gritos pavorosos dos civis à noite, as imagens horripilantes da morte em todo quarteirão (vários corpos de soldados mortos em combate espalhados pelas ruas destruídas); os destroços dos prédios, casas, lojas...

-Eu sinto muito... -abro um sorriso triste para ele, mesmo ele não me olhando, por estar afetado com suas lembranças. -Eu sei que não fará muita diferença eu te falar isso, porque... assim como você, eu também me condeno com minhas ações. Nunca deveria ter deixado Klaus partir para a guerra, e só Deus sabe onde ele está e como estará... Se ele morrer, eu serei a responsável. Enfim, não é sua culpa.

-Eu sei disso, não é a primeira vez que perco um dos meus homens. Sempre tento pensar assim, porém é difícil estar a frente disso tudo. Cada atitude minha influência em quem vive e morre, é demais pra uma só pessoa -seus olhos azuis encontram com os meus lagrimejando, Rustan deve estar acabado, cansado de tudo isso.

-Deve ser muita pressão ter de seguir em frente, vendo amigos ao seu lado mortos... Pensar que nunca mais os verão, conversarão e criarão uma nova lembrança para riem no futuro... Como você lida com tudo isso? Parece ser demais -minha voz some quando ele se ajeita na cama ficando com uma postura acabada, seus olhos não desprendem dos meus.

-Eu não sei... Quando meu amigo Aleksandr morreu, eu sofri muito, mas depois quando me tornei Oficial e comecei a liderar uma companhia, outros companheiros morreram durante os combates... Eu apenas deixava esse sentimento de lado e continuava lutando... Mas quando a noite chegava, eu não dormia; na realidade, eu não sei se ainda durmo. Em minha mente sempre vêm as lembranças de cada um, de como uma ordem que dei ou atitude que tomei, influenciou para a morte deles. Eu não paro um segundo de pensar nas minhas ações, daquelas feitas para o bem, quanto para o mal... Alguns durante a guerra não se incomodam com a morte, porém essa é outra coisa que me atormenta constantemente, são as pessoas que eu matei...

Ele sendo soldado, eu sabia que teria de fazer atrocidades como estas, mas eu não sabia lidar com aquilo; saber que em suas mãos escorre sangue de outro ser humano -por mais louco que seja esta guerra e seus ideais de conquista- era demais... Por mais que idealize o humano e o faça crer cegamente em prol de sua nação, isso não tira a real identidade do ser humano. Não é certo!

Antes de conseguir impedir a minha fala, ela sai ácida de minha boca e o afeta de uma maneira drástica, que o faz me olhar de uma maneira séria:

-Como teve coragem de tirar a vida de outro humano?

-Também não sei, mas sabe a guerra é matar ou morrer. Fazemos coisas que em outra ocasião não faríamos. Eu até hoje lembro do rosto de alguns. Em certa ocasião eu lutei com um garoto, não parecia ter mais do que 18 anos, eu não queria matá-lo, mas ele me atacava com tanto afinco, eu não pude evitar e o esfaqueei no peito. Ainda lembro de sua expressão antes de morrer... -revela perturbado com suas lembranças vividas durante dos combates.

Eu o olho com horror e involuntariamente novo meu corpo para trás, quase assustada com o que ele falou, Rustan repara nesta minha falha e desvia o olhar temendo ser julgado por mim.

-Desculpa... Eu não... -gaguejo na tentativa de tentar consertar tudo, mas fora em vão, apenas piorava o que fizera anteriormente, quando perguntei sem pensar nas consequências e em como ele ficaria a respeito. Eu fui egoísta em não pensar em tudo o que ele fez para estar vivo hoje e que, talvez, nem era o desejo dele participar desta guerra. Talvez de ninguém, contudo não tiveram muitas opções.

Quando me vejo, estava chorando em sua frente por conta da situação que vivia, onde eu me encontrava. É extremamente difícil de lidar com tudo, porém não tanto quanto ele passou. Por mais que eu tenha sofrido algo horrível, eu me esquecia das dores dos outros. A guerra me mudou tanto que eu parei de lembrar e pensar nas pessoas próximas -eu devo salvar apenas a mim mesma.

Encontrava-me ali, julgando-o por suas ações das quais eram incapaz de impedir de fazê-las, tudo por ordens superiores. Eles não eram mais humanos, porém armas usadas para tomarem novos territórios. Isso tem um grau de desumanidade absurdo...

-Me desculpa... Eu não queria te julgar assim... -o chá frio em minha mão é posto de lado quando ele vem em minha direção e gentilmente, pedindo permissão, pega a minha mão e a segura com zelo, confortando-me. -A guerra me mudou tanto... Me transformou em uma pessoa tão amarga, que eu esqueço que meus "inimigos" são tão humanos quanto eu... Nós apenas somos vítimas da sede de poder dos outros e somos usados como marionetes...

-Tudo bem, eu não te julgo ou repreendo por isso. Realmente para quem nunca esteve num combate é difícil de entender. Eu mesmo me pergunto todo dia como consegui fazer tudo aquilo... Mas hoje eu tenho que aprender a conviver com minha consciência -fungo e subo o olhar encontrando os seus olhos em uma penumbra que a luminosidade fazia, mas isso não me impede de ver dentro daquele oceano calmo, a verdade por trás. 

Rustan sofreu bem mais do que eu poderia imaginar e, genuinamente, em meio as suas revelações pra mim, eu começava a entender o que aquelas palavras pela tarde significada verdadeiramente, não eram apenas consolo para me fazer mudar de ideia, mas uma afirmação completamente sincera e pura de seu interior revelada à mim: eu tinha salvação. 

Mais uma lágrima escorre e ele timidamente levanta a mão com receio do que eu falaria e para na metade esperando o meu consentimento, apenas o olho profundamente e ele entende que pode. Rustan limpa gentilmente a lágrima que escorre de minha bochecha com o polegar, me fazendo olhá-lo com mais intensidade e ele não deixa de me fitar de a maneira indescritível.

-Eu falei sério aquela hora, uma moça bonita não devia chorar, mas sim mostrar esse belo sorriso que ilumina o dia -o meu coração erra um compasso com aquilo que fala e por um instante eu não me vejo mais como a Leah de antes, aquela garota fraca e melancólica, que chora dia e noite pelas cenas horríveis gravadas em meu coração, mas sim como uma mulher desejada, que incendeia a qualquer um com apenas um olhar certeiro. 

Eu não entendia como era possível eu me sentir assim em meio o caos e a guerra ao nosso redor, porém o frio em minha barriga me fazia ansiar por mais, sentir a adrenalina correndo em minhas veias; e aquele olhar sobre mim apenas aumentava minhas sensações mirabolantes. 

A intensidade de seu olhar me incendeia por dentro e eu sinto o nervosismo querer tomar conta da situação, a respiração aumenta e eu, a tantas emoções, só ansiava naquele momento pelo seu olhar, que me atraia enlouquecidamente e me fazia desejá-lo fortemente. Não me reconheço naquele instante por conta dos meus sentimentos turvos, contudo eu só queria aquilo. 

Mordo meu lábio inferior nervosamente ansiosa pela tensão entre nós, pelo clima diferente que nos rondava e reparo que Rustan não se incomodara com aquilo em nenhum instante. Mesmo com meu coração ensurdecendo meus ouvidos, os infinitos pensamentos em minha mente e a guerra logo ali fora daquele hospital, eu não me importo com nada, e lentamente faço um movimento chamando a atenção de seus olhos azuis que haviam descido para os meus lábios, flagrando-me mordê-los. 

Eu inclino calmamente o meu corpo para me aproximar no dele, Rustan não me para por achar loucura o que buscava, muito pelo contrário, ele vem gentilmente ao meu encontro, desejando ardentemente o que eu também queria. Meus olhos descem para seus lábios carnudos semi-abertos esperando ansiosamente pelos meus.

O ar entre nós some e respiramos somente nossas respirações, misturando uma na outra; Rustan ergue lentamente meu queixo alinhando nossos corpos sedentos por este contato físico, eu me entrego completamente para a queimação de meu peito e encontro com seus lábios ferventes. 

Quando repentinamente um som estrondoso a metros de distância explode e eu pulo de susto, batendo acidentalmente minha cabeça na dele e ele fica estático tentando entender o que acabara de acontecer naquele lugar. Afasto instintivamente o meu corpo dele e levo a mão até meu lábio, ao mesmo tempo odiando por ter sido só aquilo e também por eu querer beijá-lo descaradamente. 

Rustan sobe seus olhos para os meus e eu abaixo a mão, escondendo meu segredo dele. O mesmo fica totalmente sem jeito e fica me fitando e desviando o olhar por achar estranho me encarar daquela maneira, por fim, volta para sua cama e ficamos em completo silêncio. Estávamos completamente sem graça pelo o que aconteceu -mesmo sendo a melhor coisa desde o dia em que cheguei. 

Abro a boca para quebrar o clima que se alastrara entre nós, porém não o faço por não saber o que dizer, ele também não se esforça para falar algo. Talvez  estivesse repensando na total loucura que acabara de cometer com uma alemã e relembrando que não pode fazê-lo... Infelizmente, para o meu azar... Concordo com isso e crio essa barreira entre nós: eu não posso sequer cogitar em gostar dele. Mesmo sabendo que não irei conseguir cumprir com isso.  

O tempo se passa e logo chegará a madrugada e nós ainda não tínhamos conversado sobre aquilo, era estranho querer privacidade para pensar sobre, enquanto ele é seu vizinho de cama... Mordo o lábio nervosamente e bebo o chão frio mesmo, para conter meus pensamentos frenéticos que ansiavam descobrir o próximo movimento de Rustan, sentir o sabor de seus lábios nos meus novamente... Mas eu não poderia desejar coisas impossíveis.

Viro-me para o lado, para ver se ao menos ele estava melhor do que eu, porém meu coração erra novamente a batida por flagrar descaradamente Rustan me observando, deixando-me tímida. Ele repara em meus olhos e a repreensão e logo os abaixa, culpando-se pelas nossas ações -contudo a minha intuição não me dizia que era bem por isso que ele havia abaixado a cabeça para não me olhar...

-O que foi? Por que me olha assim? -pergunto para quebrar o clima definitivamente, ele sorri e olha para as pessoas dormindo, sendo nós os únicos acordados. Ele volta a me olhar e uma maneira engraçada e diferente de todas as outras que eu conhecia e já tinha visto vindo dele. Rustan começa a rir e me contagia, achando também graça. -O que foi?

Ele balança a cabeça como se estivesse expulsando algum pensamento intruso, eu entendia bem o que era fazer isso. Novamente o meu vizinho se aproxima de minha cama e diz calmamente:

-Eu estava pensando e... Aparentemente eu entro em mais confusão com você do que neste período todo de guerra -ele ri de seu próprio comentário e me faz sorrir também, porque era verdade aquilo. -Eu devo te pedir desculpas por antes, porque não era... Não foi o que eu pensei em fazer... E mesmo assim foi...

-Eu quem peço perdão, foi inapropriado mesmo - eu respondo confirmando seus pensamentos. O mesmo me olha de um jeito peculiar, mas triste, porém imagino coisas por segundos depois voltar ao mesmo olhar de antes.

Rustan massageia o pescoço, concordando meio sem graça comigo, talvez ficando tímido com a situação como um todo, por ser embaraçosa demais e demasiadamente escandalosa.

-Realmente, não posso sair beijando uma moça assim, ainda mais aqui. Existe, como posso dizer, uma ordem não dita, para evitarmos confraternizações com alemães... Perdão, foi erro meu... -novamente. Mas eu não comento, porque achava engraçado ele sempre "errar" nesses detalhes, quase como se fosse de propósito, contudo ele não parece ser um homem que vai contra as ordens dos superiores. Teria algum motivo por trás? Um mesmo motivo como eu tinha para olhá-lo com tanta urgência?

-É de sair beijando as moças, senhor Abromowitz? -pergunto sentindo-me um pouco doente pelo nervosismo da resposta, não queria que fosse um sim.

-Eu não costumo fazer isso, mas como eu disse, o momento certo, o clima... E até a pessoa, me faz agir dessa forma impulsiva -meu coração não deixa de acelerar quando escuto aquilo. Nossos olhos voltam a se encontrarem profundamente, perdendo-se um no outro, porém não avançamos mais do que isso.

-Tudo bem, talvez tenha sido a carência... -digo colocando alguns fios de meu cabelo atrás de minha orelha e eu sinto nojo naquele instante por estarem feios e irreconhecíveis em um momento importante como aquele. -Vivemos em um mundo louco e terrível, qualquer fio de esperança e amor que encontramos, nos agarramos com força, porque não queremos voltar a encarar o mundo cruel que nos cerca.

Novamente ele balança a cabeça como se estivesse negando o meu cometário, mas não chega a contra-argumentar comigo, apenas declara, mostrando-se acanhado em seu novo posicionamento:

-Bom, não sei se é bem isso, mas algo me diz que, o que eu senti, foi totalmente diferente de tudo que já experimentei -as bochechas deles pareciam ganhar uma nova tonalidade, porém com metades das luzes apagadas era difícil de dizer ao certo se era verdade. 

Vejo os olhos azuis, agora quase negros, percorrerem pelo meu rosto, buscando alguma resposta minha sobre aquela sua revelação. Poderia não estar estampado em minha face o que eu sentia, porém em meu interior, se incendiava, explodia em cores e sentimentos. Deve ser pela carência que sinto, mas eu me flagro desejando por mais daquilo, porque com ele, eu me sentia... viva. Como ele disse: foi totalmente diferente de tudo que já experimentei. 

Não sei quanto tempo eu terei o prazer inexplicável de mergulhar sobre seus pensamentos íntimos, mas eu sei que não quero perder isso. O mundo seria capaz de me culpar por querer ficar com ele por encontra paz? Seria cruel ao ponto de tirar esse único fio de esperança que eu havia encontrado após anos em meio à guerra?

-Não posso negar, de fato, -minha voz sai quase em um sussurro por saber que, ao falar o que tinha em mente, tudo poderá mudar -não foi apenas um lapso momentâneo, que nos fez ser impulsivos para relembrarmos desse sentimento grandioso e belo que a guerra extinguiu... -encaro os seus olhos azuis com o coração batendo fortemente contra o peito. -Talvez tenha sido bem mais do que meramente carência...

-Que bom que concordou, -ele sorri se aproximando de mim -mas mudando de assunto... Queria perguntar algo delicado. Quem é esse tal de Klaus, seu namorado?

Rio do que ele fala sem pensar o quão sem graça que ele poderia chegar a ficar, vejo seu comportamento mudando e ele coça a cabeça querendo eliminar a vergonha do corpo. Tenho conter a gargalhada extremamente exagerada de minha parte, mas era único, porque realmente parecia preocupado, como se tivesse um "adversário" para disputar a minha afeição. 

-Não... Longe disso, o Klaus é o meu irmãozinho -a alegria passa e a agonia resplandece em meu rosto, lembrando onde ele estava agora, não consigo mais falar para ele e estacar o meu coração diante dele... A dor era muito forte, muito recente ainda e, mesmo que se passe ainda mais tempo, eu não conseguiria falar com tranquilidade.

-O que aconteceu com ele, Leah? -sua voz corta o ar de meu peito e a dor me atinge por completa. Fecho os olhos e começo a chorar desesperadamente, porque eu o queria de volta, queria poder vê-lo e saber que está bem! E, estar neste momento em um hospital ferida, com ele em algum combate perigoso, era totalmente perturbador para aguentar. 

Rustan se aproxima ficando à minha frente, mas ele se incomoda pelo espaço entre nós e avança mais um passo, sumindo completamente com o que nos separava, sua mão boa repousa sobre a minha cabeça e, com ternura e zelo, leva-me a deitar sobre seu corpo, consolando-me. Ele afaga os meus cabeços, enquanto eu contava o que havia acontecido:

-Estávamos sobrevivendo, como todos os dias... Beike, prima de meu falecido pai, nos aceitou para nos abrigarmos com ela, eu e Klaus dividíamos o apartamento ao lado do dela, para não a perturbarmos... Ela é uma mulher amarga, mas talvez seja por conta da guerra que tirou tudo o que ela amava... Mesmo assim, ela nos ajudou e como gratidão eu sempre buscava comida, às vezes o meu irmão queria vir junto para me proteger, mas como ele conseguiria? Ele é apenas uma criança, não deve passar por isso tão jovem... Ninguém deveria, na verdade... Eu sempre o impedia quando me pedia, mesmo apavorada com o que eu pudesse encontrar ao lado de fora. Nós tínhamos água, então eu saia de vez em quando... Até que...

Suspiro e fico com a cabeça apoiada em seu peito relembrando da dor. Rustan estava quieto, ouvindo atentamente o que eu dizia, assimilando as minhas palavras e entendo o quão profundo a minha dor ia -não era apenas por ter sido violentada. Limpo as minhas lágrimas e subo o meu olhar, encontrando ali um brilho misterioso que a luz formava, mas de certo ângulo transpareciam lágrimas tristes, sentidas com a minha situação desesperadora de não saber onde ele está. 

-Um dia em março, uns membros do partido nazista aparecerem em casa, não falaram muitas coisas, apenas que ele seria o orgulho para país, lutando por sua causa... Mas o que um garotinho de 14 anos pode fazer em uma guerra, sendo que mal sabe ler ou escrever? Eu gritei, implorei... Tentei de tudo para impedir que o levassem, mas... Tudo em vão. Quase um mês depois, os russos adentraram ainda mais na cidade, a comida e água ficaram mais escassas, Beike parecia querer a minha morte, fazendo-me ir buscar cada vez mais longe de casa... E depois de alguns dias, você já sabe da história: seus companheiros tentaram me... -serrei o maxilar com força -tentaram e...

As palavras travam em minha garganta e eu não consigo contar para ele o resto, mesmo que ele já sabia de uma parte, mas não toda a verdade.

O modo como ele falava de seus companheiros era indescritível, ele parecia os abraçar como uma família e foi exatamente isso que me faz travar para contar a verdade para ele, por saber que iria destruir sua realidade.

Fico com medo dele achar que é apenas por conta de uma aversão que eu tenho com os russos, por serem atualmente nossos inimigos por invadirem meu país, e querer prejudicá-los por isso. Dele supor ser pela maneira que fiquei com os soldados, quando visitaram-o naquele dia e desejar punir "qualquer um" pela violentação contra mim. Ou talvez de Rustan imaginar que estava delirando e os via como os culpados, ou até mesmo dele ficar bravo e incomodado por termos tornados -de uma maneira "impossível" para as outras pessoas- amigos e que agora estava querendo abusar dessa amizade e matar seus companheiros...

Por pior que parecia o que ele poderia pensar quando eu contasse a verdade, todas elas me fariam parecer a vilão sobre os olhos dos russos, porque éramos "mentirosos". Quem iria acreditar em mim? E, se eu contasse, como Rustan ficaria sabendo da verdade daquele dia? Bravo comigo, mesmo sendo a vítima, por condenar seus companheiros talvez à morte? Furioso com os soldados o qual comanda, por abusarem de mim? E, ainda mais, se os meus agressores soubessem que eu contei a verdade, como eles reagirão? Isso me preocupa ainda mais... 

1 de Maio de 1945

Eu ainda estava com a cabeça repousada sobre o seu peito, quando chega a madrugada, esfriando um pouco o hospital, mas eu não sinto tanta diferença por estar sentindo o calor do corpo de Rustan quase abraçando o meu. Todas as minhas lágrimas haviam acabado e eu só sentia tristeza no lugar.

Todo aquele tempo que eu contei o que tinha vivido, o meu vizinho não abriu a boca em nenhum segundo para falar algo, não por falta das palavras certas para me amparar naquele momento difícil, mas estava sendo respeitoso com o que eu sentia e queria me dar espaço, para me deixar levar pelos sentimentos que guardava para mim às sete chaves.

Depois de um tempo, como sempre, Rustan é gentil e se afasta um pouco para conseguir elevar o meu queixo, para eu olhá-lo nos olhos, enquanto ele me afagava com a mão boa e me consolava com belas palavras, que preencheram todo o vazio de meu coração atormentado.

-Perdi também meus irmãos na guerra, na verdade todos da minha família. Eu poderia dizer algo pra te consolar, mas sei que nada nesse mundo irá. Mas sabe lembranças boas curam feridas. Eu não posso ofender muito a você... Porque palavras não bastam para estacar as feridas de um coração perdido, porém se você permitir, um abraço amigo confortam quando estamos desmoronando.

Sem eu dar chances para ele terminar de falar ou esperar a minha resposta a respeito de seu pedido, eu simplesmente abraço o seu corpo, ainda sentada, sem me importar com nada. Ele fica meio rígido, devido a demostração de afeto espontânea, pensando que eu negaria esse conforto mais carnal, por supor que eu teria medo de me aproximar dele, por conta de meus traumas... Porém fora totalmente diferente de tudo o que ele poderia imaginar. 

Eu não sentia um pingo de medo perto dele, os meus traumas não me afligiam perto dele, porque eu encontrava-me segura ao seu lado, protegida em seus braços. Não achava possível vivenciar esse momento novamente, onde a paz se espalhava por todo o meu corpo, o carinho e zelo me abraçavam e o amor e o cuidado que eu tenha comigo, aqueciam o meu coração melancólico e me faziam ver que nem tudo está perdido. 

Parecia que há muito tempo que ele não tinha uma demostração de carinho genuína, porque seu corpo demora um pouco para relaxar sobre os meus braços abraçados à ele; mas quando ele se sente bem e tranquilo, a leveza relaxa seus músculos tensos e, da mesma maneira que eu, Rustan me abraça, envolvendo-me com seus braços e eu tenho uma sensação única e rara, que não experimentava a muito tempo: eu me sentia em casa.

Subo o olhar pacífico para ele, afim de querer ver como ele se sentia, uma paz inexplicável resplandecia em seu rosto e flagro um lindo sorriso em seu rosto, observo suas expressões meio abobadas por estar me abraçando e um sorriso acanhado surgir, contudo eu não poderia julgá-lo por conter um semelhante em minha face. 



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