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|Capítulo 5|

Meu rosto estava encharcado por conta das minhas lágrimas, que não paravam de escorrer, por conta do medo que sentia ao olhá-los ali em minha frente. Como aquele homem não entendia o meu desespero? Como ele não enxergava que eram eles os homens que haviam abusado de mim? E o mais assustador: como esses homens tinham a ousadia de me olhar e caçoar de mim?

Quando acho que os olhares maldosos continuariam, o líder deles começa a conversar com eles em russo e os mesmos anuem com a cabeça e arrumam a postura, como se estivessem prontos para irem embora. Fico apenas olhando tudo de longe, enquanto o líder os olhava, nenhum abaixava a guarda para cometer alguma besteira e se entregar, mas assim que ele me olhava, um dos três fazia um gesto obsceno, me apavorando ainda mais. 

Aquele soldado, Vlad Zaitsev, ao se retirar lança ordinariamente um beijo para mim e pisca o olho, meu coração quase para de bater. Eu não o conhecia, mas pela maneira que ficou tenso comigo ali, ao lado do líder deles, com certeza ele voltará para garantir que eu não saia viva deste hospital.  

Volto a ficar sozinha com aquele soldado e o silêncio desconcertante se instala entre nós, até ele me chamar com um gesto delicado com a mão boa, me despertando lentamente de meus pensamentos e pedindo permissão para sentar-se ao meu lado, novamente. Quando ele se senta na cama, sinto repentinamente a mão do homem repousando em mim -parecendo meio incerto se o faria ou não- e gentilmente me apoia em seu peito esquerdo. 

Ele não fazia ideia do que acontecia dentro de mim, mas aquele momento o que ele fez, foi perfeito. Minhas lágrimas se transformam em um sentimento reconfortante por saber que tinha alguém a me olhar, enquanto eu não tinha um pé totalmente dentro da realidade. 

O soldado me acalma e eu fico ali em seu peito pensando no que aconteceria agora com a minha vida, qual rumo tomaria... Viver mostrava ser uma tarefa difícil demais, ainda mais com tantas novas cicatrizes que precisariam ser curadas. 

Suspiro cansada e fecho os olhos desejando a morte. Talvez morrer não seja tão ruim como me falaram. Pelo menos eu não teria que aguentar todo esse sofrimento, todas as novas dores e pesadelos. Por que isso tinha que me acontecer? Por que as pessoas fazem isso? Machucar os outros sem ter um pingo de humanidade, de compaixão e pensar duas vezes se é o certo... 

Sinto sua mão me afagando e percebo que estava em seus braços, rapidamente me afasto por certa timidez de estar deitada nele e ruborizo ao encontrar os seus olhos azuis profundos, me olhando com preocupação. 

-Como está, senhorita? Melhor? -seu tom zeloso mexe comigo, porque em meio todo aquele caos, existia ainda alguém bom. Parecia impossível, mas ele conseguia trazer paz à guerra dentro de mim, por simplesmente se importar comigo, mesmo sendo uma total estranha para ele. 

Balanço a cabeça como um não e levo a mão em meu rosto, impedindo de novas lágrimas caiem sem parar, expondo o meu interior, que estava desmoronado. Engulo o choro e o olho destruída, simplesmente cansada demais. O homem não diz muita coisa com minha resposta, apenas anue pensativamente e abre um sorrio fraco, logo ficando com aquela expressão séria em seu rosto.

-Se tem algo que eu possa fazer... -acrescenta amigavelmente, na esperança de me confortar, abro um sorriso em agradecimento e faço um sim.

O silêncio aos pouco retorna, mas não é incomodo como eu me lembrava ser, ele só era meio frio, vazio, sem vida. Penso inúmeras vezes em falar algo ou perguntar para quebrar aquele muro que nos separava, com isso, eu digo por fim:

-Eu ainda não sei o seu nome... -aquele par de oceanos se voltam para mim diferentes, como se tivesse gostado do meu empenho em tentar conversar com ele gentilmente, já que eu o havia culpado pelo abuso e ele se sentia mal ou responsável pelo o que me acontecera.

Com um sorrio mais largo e sincero expresso em seu rosto, o homem diz:

-Me chamo Rustan Abromowitz, prazer! E o seu? -ele vê a minha careta nada discreta ao tentar pronunciar o sobrenome dele e observo o sorriso se alargar mais. Ele estica a sua mão esquerda na minha direção e eu a olho contendo a graça por achar aquilo diferente do usual. Aquele olhar azul se aprofunda no meu enquanto eu falo.

-Leah Pfeifer, -estico minha mão e nos cumprimentamos formalmente, meu rosto ruboriza um pouco mais do que o normal e vejo que eu repara naquilo, contudo não solta a minha mão parecendo gostar do resultado proporcionado -prazer em te conhecer. Todos os seus sobrenomes são complicados?  

-Pfe... Pfeifer? Me desculpa, mas seu sobrenome é difícil que o meu -o homem, Rustan, me responde e eu logo reconheço o deboche com um toque brincalhão, não consigo segurar o riso e rio com seu comentário.  

-É Pfeifer. P-Fei-Far, o final é anasalado -corrijo entrando na dele e gostando. -Não entendo, seu sobrenome é polonês, os poloneses tem os piores sobrenomes.

O homem revira os olhos, não de uma maneira grosseira, mas como se estivesse se divertindo também, porque não conseguia esconder o sorriso que insistia em ficar em seu rosto. 

-Ei, não zombe o meu povo, eu sou meio polonês. Nasci na Ucrânia, mas meu avô era polonês, por isso o sobrenome -balanço a cabeça rindo e o olho atentamente. Quando Rustan se esforçava à não esconder seu sorriso, continha até um certo charme hipnotizador, por seus cabelos castanhos caírem sobre sua testa de um modo um tanto rebelde e seus olhos azuis capturarem a sua máxima atenção para ele. -Pfeifer, que espécie de sobrenome é esse?

-Meu nome tem origem nobre, a princesa Angela Pfeifer da Dinamarca -respondo quase superiormente sem me conter. Era engraçado me sentir como eu era antigamente, igual a quando conversava com minha família; esse homem de uma maneira inexplicável despertava esse meu lado adormecido e eu estava amando isso. 

-Ok, princesa Leah, -sorrio aceitando o elogio e faço quase uma pose de princesa, até eu ouvir ele dizer zombando de mim: -ou será que apenas o nome que é da realeza?

Cruzo rapidamente os braços e arqueio uma sobrancelha por sua ousadia em falar assim comigo, uma total estranha que silenciosamente o apreciava; não era apenas beleza que continha nele. 

-Acalme-se estou brincando, não leve para o lado pessoal -Rustan se aproxima tentando reparar seu erro cometido.

-Você acreditou...? -caio na gargalhada por surpreendê-lo e ver sua expressão de arrependimento por brincar comigo para uma de ingenuidade e quase de vergonha. Acrescento sorrindo vitoriosa: -Muito fácil de enganar vocês, russos.

-Ok, eu perdi. Aceito, fui enganado -ele ergue a mão aceitando a derrota e eu quase comemoro feliz, o mesmo me observa atentamente, parecendo mais leve com o que via ali. Sorri por estarmos em paz pela primeira vez e ele fala sem pensar: -Mas fico feliz de pelo menos a fiz sorrir um pouco.

No mesmo segundo as minhas bochechas ganham uma tonalidade mais avermelhada do que antes e ele sorri envergonhado por me ver afetada por suas palavras gentis. Escondo o rosto tímida e me sentindo abobada por ficar facilmente vermelha bem à sua frente. Meu coração sem perder um segundo sequer, acelera aos poucos por ser pega no flagra. 

Ambos ficamos sem jeito, olhávamos e desviávamos o olhar a todo instante e, com isso, Rustan se levanta e pela a mão no pescoço parecendo tão nervoso quanto eu, olha para os lados buscando as palavras certas, mas elas não chegam. 

Rio por ver sua postura mais leve e ele, por consequência, ficar mais extrovertido, não sabia se ele era assim sempre, porém eu gostei de conhecer esse lado oculto. O mesmo olha para mim e fixa seu olhar no meu, finalmente mais calmo; ele diz, por fim:

-Eu irei deixá-la agora. Imagino que deseja descansar após... todas as grandes emoções que vivenciou hoje. 

Ele começa a andar e eu rapidamente o chamo, fazendo parar no lugar e me olhar curioso.

-Se quiser continuar em sua antiga cama, -olho para o lado e volto para ele -eu não irei me importar.  

Sua expressão de surpresa logo surge em seu rosto e eu sorrio achando engraçado, o mesmo passa a mão no pescoço parecendo desta vez nervoso, ainda por falar gaguejar, enquanto diz voltando para sua cama meio incerto:

-Aah... Eu... posso? -ele sorri e se senta finalmente, a leveza de seu corpo ao recuperar aquela cama é cômica, porque ele faz umas caras engraçadas e se acomoda na cama como se já fosse dele o lugar. -Ótimo, porque odiei aquele lado de lá. 

Brinca Rustan me fazendo rir novamente e de propósito, eu observada seus olhares sutis e discretos sobre mim, aquela atenção focalizada totalmente sobre quem eu era, como sou e como estava hoje. Eu via que ele gostava de me fazer sorrir e isso queimava minhas bochechas mais do que eu desejava. Nunca havia pensado na vida que um dia eu estaria na frente de um russo e estaria conversando quase como amigos. Com certeza essa experiência era única. Porque nem todos foram bons comigo.

Fecho ligeiramente um pouco a minha expressão e suspiro pensando nos três homens que saíram a pouco tempo atrás; nem todos seriam como Rustan, um homem aparentemente bom e gentil, como tive a oportunidade de conhecer um pouco. As pessoas não são mais tão boas quanto desejamos que sejam. O mundo jaz do maligno -cruel e competitivo. Odioso. 

Volto a olhá-lo e observo ele descansar tranquilamente em sua cama, seu peito subir e descer suavemente, sem transparecer ter tantas preocupações quantos as minhas, mas talvez sua expressão facial não revelava tudo o que há por trás de seus olhos azuis profundos.  

[...]

O sol do meio dia começa a cair pelo céu, trazendo lentamente a tarde, mesmo assim as horas passavam preguiçosamente lentas; depois do episódio que eu assisti das lutas e a sede nos dominando, eu e a Beike não saímos do porão por nada. Ficamos esperando, esperando e esperando. Não sei se ficamos ali nos protegendo necessariamente dos soldados russos, que estavam por toda parte ou esperando pela nossa morte lenta, que nunca chegava em nossa porta. 

Eu só sei que estava vida pela sede que rasgava maldosamente a minha garganta, me deixava tonta pela desidratação; a fome que me corroía por dentro, clamando por alguma comida, mas eu não conseguia por conta do meu corpo letárgico; o medo que a todo instante me instigava pesadelos vivos. 

Ouço sons e olho para o lado de fora da janela do porão, mais soldados russos passando pela rua, até que de repente eu escuto barulhos vindo acima do teto, sinalizando movimentos dentro do prédio velho e parcialmente destruído. Havia alguém aqui dentro! 

Três soldados russos descem as escadas e surgem em meu campo de visão, corro bem a tempo para me esconder, aproveitando que eles não me viram ainda, por focalizarem seus olhares em Beike, que gritava em desespero. Os soldados apontam suas armas para sua cabeça e gritam coisas que não consigo entender. Eu apenas tento me esconder num canto do porão, enquanto Beike é golpeada com a coronha da arma de um dos soldados e cai desacordada.

Os russos conversam e riem entre sim, não pareciam estar procurando inimigos, pelo ar de despreocupação deles naquele porão velho e abandonado por todos. Eu faço um movimento em vão, querendo tampar a minha respiração, fazendo-o um dos soldados me ver, e dois deles se aproximam querendo me tirar de meu esconderijo. Eles riem entre si e falam coisas que não tenho noção do que possa ser, porém sei que eram sobre mim, tudo por conta do olhar perverso deles sobre o meu corpo. 

Um deles se aproxima mais e tenta tocar em mim, me afasto desesperada e grito; ele continua se aproximando mais sem se preocupar com minha luta em vã. Começo a me espernear, e os malditos riem ainda mais, o terceiro que até agora estava perto de Beike, se levanta e aproxima de mim; ele tinha um olhar malicioso e um sorriso debochado, era assustador a forma como me olhava. Meu coração acelera tanto que eu sinto me ensurdecer pelo pânico que estava dentro de mim. 

Num bote seco ele me agarra fortemente e eu tento me desvencilhar de qualquer forma, mas ele era forte e continuava insistindo. Sem força alguma para conseguir me soltar dele, apenas grito na esperança de que algum alemão possa me ouvir e vir me resgatar -por mais que estava delirando que possa ser verdade- e me debato enquanto resta um pouco de coragem de força, contudo não havia muito o que eu poderia fazer. O soldado perverso tenta tirar a minha roupa, mas pelo modo que agia, eu era apenas uma diversão aos seus olhos, ele estava caçoando de mim, fingindo que eu conseguiria a minha fuga e isso me ira, entretanto eu sabia que não conseguiria fugir dele. 

Os outros dois apenas riam de mim, observam aquilo tudo como uma comédia. Pelo canto dos olhos vejo Beike acordando, levanta a mão até a cabeça se recuperando dos sentidos perdidos, após o golpe que deixara desacordada. Ela se levanta e olha pra mim assustada, mas não mais do que eu, que estava nas mãos daquele soldado tentando lutar para a minha liberdade. Seu nariz sangrava muito e, quando ela percebe, fica horrorizada, sabendo de como eles eram cruéis e que não conseguiria fazer nada a respeito. Ela faz menção de se mover, porém nada... Ela se levanta e corre em direção a escada fugindo covardemente e os soldados deixam ela ir. 

Quando a vejo fugir entro em desespero e me debato ainda mais. O russo demonstra impaciência e me acerta um murro em meu rosto, fico desconcertada; logo sou invadida por um sentimento de desesperança e até conformação; não podia fazer nada e apenas espero ele terminar e quem sabe aquilo tudo terminasse de vez pra mim, trazendo o que eu mais queria naquele momento: a minha morte. 

Eis que surge um outro soldado na escada e desce às pressas ao se deparar com a cena, que eu me encontrava. Rapidamente o russo sai de cima de mim agarrado pelo pescoço, este quarto soldado, parecia estar furioso; ele esmurra o russo que estava sobre mim, que cai desconcertado, ele grita e diz muitas coisas. Ele puxa sua arma e aponta para os outros soldados que apenas se calam e saem dali.

Seu olhar recai sobre mim e eu apenas fico ali parada olhando-o assustada. Ele se aproxima de mim e estende sua mão, pra minha surpresa, ele fala em minha língua com um sotaque forte:

-Calma, moça, eles se foram. Eu prometo que não deixarei eles te fazerem qualquer mal.

Ele parecia diferente dos outros, seu olhar mostrava sinceridade, mas eu não podia confiar... Eu o empurro e corro, fujo dali o mais rápido que posso, não sabendo o certo para onde iria, mas sabia que não conseguiria ficar ali por nem mais um segundo. 

Corro até onde eu consigo, eu caio no chão ao tropeçar em um dos destroços de outros prédios e me machuco. Porém aquilo não importava. Nada importava. Puxo o meu corpo abraçando-o e choro no meio do que era para ser uma antiga rua. Eu quase fui violentada, Beike me abandonou covardemente... 

Choro limpando a minha alma machucada, mas não me ajuda muito, não enquanto eu sei que a guerra não teve o seu fim. Sabendo que o meu irmãozinho está por aí, enfrentando batalhas das quais nunca deveria ter de fazê-lo. Ele era só uma criança! Uma boa e inocente criança, assim como eu era, mas agora... Nunca mais serei a mesma. 

Aos poucos o sol finda o dia deixando para trás o céu com cores alaranjadas, vermelho forte, tonalidades de azul escuro mostrando que as trevas estavam chegando, ouso me levantar e voltar para aquele apartamento, para não passar a noite fora.

O silêncio do lugar causa fortes arrepios em minha espinha e eu não gosto da sensação que tinha o local, estava calmo demais para ser real. Entro na casa de Beike procurando por sua presença, porém não há sinal algum de que ela estava por aqui. Meu coração acelera e um pensamento invade meu turbilhão de sentimentos confusos: ela fugira daqui e me largou para trás. Não saberia como iria viver só, ainda mais por um período de tempo indeterminado. O medo me aflige. Eu preciso encontrá-la.   

Ando até o cômodo que me hospedei para pegar as minhas poucas coisas que me restava para sair deste maldito lugar, que não era mais seguro para mim. Quando vozes graves e incompreendidas começam a se manifestar no corredor e aumentar a tonalidade. Rapidamente eu corro silenciosamente para dentro ainda mais de meu apartamento e procuro me esconder atrás dos móveis destruídos -não que fossem de grande utilidade, mas qualquer pessoa que olhasse para ali, não veria nada, uma vez que está na penumbra das luzes dos lado de fora.

As vozes somem e eu decido sair furtivamente desse lugar antes que alguém me veja, pego tudo (garrafas vazias, uma foto de minha família que levava para todos os lugares e uma arma -uma faca com a serra desgastada) e saio silenciosamente do meu andar. Porém eu paro quando vejo uma sombra redobrar no final do corredor e aparecer à minha frente. Meus olhos se arregalam e eu logo reconheço aquele rosto, meu coração começa a errar todas as batidas e eu passo mal com a sensação que me preenchia. O soldado me olha e chama os outros. 

Solto tudo que continha em minha mão e inutilmente tento fechar a porta do apartamento, querendo impedir a entrada deles e que possam fazer algo contra mim. Tento com todas as forças conter a invasão deles, porém é falha minha tentativa e logo sinto um dos soldados chutar ou algo parecido a porta. 

Eu voo para longe e a porta vem junto comigo, bato com força o chão e viro rapidamente vendo os três soldados virem em minha direção calmamente, como se soubessem que nada os aconteceriam por estarem ali comigo. Movo o meu corpo para trás, querendo fugir deles a todo custo, contudo eu sentia que seria impossível.     

Os dois soldados de antes caminham lentamente em minha direção e agarram os meus braços, eu faço de tudo para me libertar, porém simplesmente não conseguia. As lágrimas escorrem furiosamente pelo meu rosto embaçando os meus olhos, o líder daquele trio, vem ao meu encontro e me acerta um tapa por impaciente comigo e minha teimosia. 

Ele ri maleficamente e os outros dois o acompanham. Com um movimento impetuoso, o homem russo arranca as minhas roupas com malícia nos olhos e um sorriso perverso, eu congelo paralisada de medo sobre o seu olhar horripilante. 

Dois homens me agarram com força impossibilitando eu me mexer para ter ao menos uma chance de me libertar e fugir, lágrimas escorrem com fúria e medo pelo meu rosto, eu nunca pensei que algum dia isso aconteceria comigo. Era impossível me libertar, inútil gastar minhas forças lutando para viver... Mas tudo o que eu queria era viver, reencontrar o meu irmão e fugir desta guerra.

Mesmo eu não entendendo uma palavra do que diz, eu sinto a repulsa e nojo no que diz:

-Adoro o seu cheiro, fiquei com saudades -o soldado russo puxa fortemente o meu rosto para cima, fazendo-me encarar o seu. -Eu fiquei com a impressão que desejava por mais... Sentiu minha falta?

Meu coração dispara em meu peito e eu começo a lutar, enquanto observava ele retirar lentamente suas roupas, meu corpo nu se arrepia inteiro pelo medo do que eles fariam contra mim. Tento com minha última esperança me soltar, entretanto... Nada acontece. 

-Adoro quando você luta -o ser desprezível acrescenta em sua língua e, quando já está despido, força um beijo violento contra os meus lábios.

Eu reviro a cabeça e grito, grito, grito... Mas isso só os divertia ainda mais, fazendo-os rir de meu desespero, batiam em minha cabeça tanto com as mãos quanto chocavam-a contra o chão deixando-me tonta inúmeras vezes, e quando tudo começa e a dor rasga em minha garganta de tanto gritar, eu desmaio...  

[...]

-Fica calma, já passou. Eu estou aqui -a voz grave embargada em um sotaque forte parecia estar longe demais, quase em um eco. Mas quando aquela mão gentil toca em minhas costas me acordando abruptamente de meu pesadelo, ela me tira rapidamente daquele meu sofrimento, me levando de volta ao hospital onde hospedava. Sento em minha cama com um pouco de dificuldade pela dor e o olho em minha frente. Mesmo com a penumbra das luzes fracas da fábrica por ser já de noite, era possível ver os traços de preocupações em seu rosto, quando me olhava. 

Levo as mãos em meu rosto sentindo a umidade em minhas bochechas e a dor em minha garganta -poderia ser um pesadelo repetitivo e sem fim aquilo que sonhava todas as noites, porém não deixava de ser verídico. Puxo minhas pernas para meu peito e me abraço tristemente; eu sentia que nunca iria superar aquela desgraça, nunca teria forças para superar o meu trauma.

Sua mão esquerda gentilmente repousa sobre o meu ombro e me afaga calmamente, querendo me acalmar em meio ao meu desespero. As lágrimas escorrem pelo meu rosto e eu o olho destruída. Não saberia como viveria a partir de hoje. Não há o porquê eu continuar a viver...

-Leah, -o sussurro em sua voz ganha a minha atenção e eu focalizo nele -respire comigo. 

Rustan começa a fazer uma contagem na respiração de um à dez, inspirando e expirando lentamente, assim acalmando as batidas aceleradas de meu coração e me livrando aos poucos das lágrimas de meus olhos. E, quando mais calma, eu o olho com cansaço de tudo aquilo, porque era sempre a mesma coisa todas as noites.        

-Sabe, meu pai sempre cantava para nós, quando tínhamos pesadelo... Eu não conheço muitas canções alemães, -ele ri se lembrando de algo de seu passado e se senta em sua cama, ainda me olhando com gentileza e afago- mas tem uma russa que já ouço há bastante tempo, você vai gostar.

Anuo e fico fitando-o esperando pela música, porém ele me observa olhá-lo atentamente e abre um sorriso engraçado, como se estivesse envergonhado por ter uma plateia. Por um instante de todo o meu tormento, eu esqueço minhas dores e olho para ele achando graça e incredulidade do que iria acontecer ali. O mesmo passa a mão pelo pescoço parecendo tímido e diz ansioso:

-Pare de me olhar e volte a dormir. Não conseguirei se você ficar me olhando assim -eu rio e deito na cama, posiciono o meu corpo em sua direção e fico observando ele me olhar e começar a cantar em sua língua:  

Rastsvetali yabloni I grushi

Poplyli tumany nad rekoi

Vyhodila na byereg Katyusha

Na vysoki, byereg na krutoi

Vyhodila na byereg Katyusha

Na vysoki, byereg na krutoi

Vyhodila, pesnyu zavodila

Pro stepnogo, sizogo orla

Pro togo, kotorogo lyubila

Pro togo, tchi pisma beregla

Pro togo, kotorogo lyubila

Pro togo, tchi pisma beregla¹

A melodia calma que ele cantava me faz olhar para ele e me concentrar em sua voz, não sabia sobre o que ele cantava, mas continha tanto amor, tanta sinceridade que me faz acordar e querer ouvi-lo mais. Alguns outros pacientes russos acordados no meio da madrugada, começam com sussurros baixos a acompanhar a canção que Rustan pronunciava. 

Aos poucos aquela magnitude sonora começa a esvaecer e restar apenas os gemidos de dores e as respirações altas das pessoas dormindo. Eu o olho intensamente e ele sobe o seu olhar encontrando com o meu. 

-É linda, a canção -falo ainda deitada e o meu vizinho se ajeita em sua cama e fica na melhor posição para ficar me olhando também. -O que isso significa?

-A música é sobre a jovem Katyusha, que é apaixonada por um soldado e a canção é sobre ela esperando a volta dele... 

-Eu não entendi nada da letra, -comento e ele abre um sorriso achando graça -mas é tão linda a melodia, deu pra sentir que era sobre amor... -meus olhos se prendem em seu olhar caloroso e, sem me conter, eu pergunto indiscretamente curiosa: -E tem alguém te esperando?

Dá um pequena risada e fica olhando para o teto, pensado como iria responder.

-Olha, eu nem sei mais o que é isso... Estou a tanto tempo nessa guerra que qualquer esperança que aparece, você desconfia e não se prende à ela, porque sabe que irá perdê-la -ele muda o semblante, meio tenso com o maxilar rígido e o olhar perdido. -Meus últimos 3 anos só vi morte, destruição... E essas coisas são fáceis de enlouquecer a qualquer homem. Sabe, acho que você estava meio certa sobre mim... Nesta guerra eu perdi minha humanidade, desconheço quando algo bom me acontece, não sei mais agradecer pelas pequenas coisas ou me desculpar... Então a resposta é não. Mesmo se tivesse uma moça, ela não gostaria de ficar comigo como sou agora... E, falando nisso, eu me lembrei de uma garota que eu gostava de olhar por ser muito bonita, mas nunca mais nos falamos. A verdade é que nem sei se ela está viva e se estiver, não acredito que me aceitaria. 

Ele não me vê, mas eu sinto um leve desconforto com que fala e da garota que pairava em sua mente, meu coração revela pontadas talvez de ciúmes, mas não deixo minha expressão expor meus sentimentos. Pelo menos era bom saber que ele teria alguém para voltar, enquanto eu...  

-E você? Está como a Katyusha, esperando seu soldado defendendo sua terra na fronteira? -ele pergunta curioso e vejo ele me olhar pelo canto do olho. Faço o mesmo que ele e observo o teto na escuridão.

-Apenas o Klaus... -não vejo-o perfeitamente por estar olhando-o  pelo canto do olho, porém eu consigo ver seu maxilar tensionar e ele mexer levemente a cabeça, como se ficasse incomodado com a minha resposta, contudo após isso, sua expressão volta a ficar neutra, sem mostrar o desconforto a instantes atrás.

-Acho que ficamos acordados demais... A senhorita precisa descansar. Não se preocupe, estarei te protegendo em seu sono.

Dito isso eu escuto ele baixinho cantando novamente, acalmando todo o meu ser e trazer um renovo para a minha mente cansada. 

[...]

Tradução da canção¹

Cresciam as maçãs e peras

Pairava a névoa sobre o rio

E surgia na margem, Katyusha

Na alta encosta da margem

E surgia na margem, Katyusha

Na alta encosta da margem

Ela surgia, cantando uma canção

Sobre a cinzenta águia das estepes

Sobre aquele, que amava

Sobre aquele, cujas cartas guardava

Sobre aquele, que amava

Sobre aquele, cujas cartas guardava

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