|Capítulo 45|
Rustan Abromowitz
Quando estava me retirando do apartamento de Leah, eu me recordo de um assunto urgente que ficou pendente e eu não poderia posterga-lo. Limpo a garganta assim que peço ao meu amigo ir em frente e então viro-me para aquele soldado e o chamo:
- Johannes, podemos conversar um minuto? - no mesmo instante Leah arregala os olhos e prende a respiração, trocando olhares entre eu e ele, com medo de uma nova briga. Mas eu acalmo o seu temor com um sorriso sincero, eu observo os ombros relaxarem novamente e ela soltar a respiração, me olhando com certa timidez com a minha atenção sobre ela.
- Podemos, vamos para o corredor - ele fala se levantando do lado de Leah, batendo as mãos uma contra a outra para limpar da sujeira do chão e depois das roupas, me acompanhando para fora do ambiente.
Eu o espero até fechar a porta para ficarmos frente a frente para termos aquela conversa de homem. Ele cruza os braço um pouco incomodado por eu estar sozinho com ele e eu acabo fazendo o mesmo por sua postura desconfiada. Eu afirmo querendo amenizar o clima:
- Se está preocupado por eu saber de seu paradeiro e te entregar para as autoridades, não fique - seus olhos se voltam atentos aos meus e continuam me encarando -, eu não sou do tipo que entrega... amigos.
- Nós não somos amigos - ele me retruca com um tom debochado, impaciente, mas não parecia que iria sair do lugar até realmente saber o motivo para eu tê-lo chamado.
- Não, de fato nós não somos - concordo com ele descruzando os braços para coçar a cabeça. Nunca fui bom em impor a minha voz, mas nada que um diálogo amigável não resolvesse as coisas. - Contudo, Leah é sua amiga e ela confia no senhor, com isso, pelo julgamento de caráter, eu lhe darei um voto de confiança, se o senhor esquecer essa história de pretendente para com ela. Deve saber que o meu comprometimento com aquela senhorita é sério e eu não estou brincando com os sentimentos dela.
- Acho bom mesmo, por mais de não gostar de saber que ela preferiu você a mim - ele também descruza os braços e coça o ombro com a mão oposta, depois leva para a nuca e me olha com desdém, pensando como ela teria preferido eu a ele.
- Eu ficarei fora por alguns dias, podem se tornar meses, por favor, cuide dela - eu lhe peço como se estivesse entregando o meu coração, porque Leah se tornou a pessoa mais importante de minha vida, a única razão para eu continuar a viver. Ela me deu motivos para sonhar e agora não posso voltar atrás e pensar como seria a minha vida sem a presença dela.
Ele assente com calma e espreme os lábios meio a contra gosto de saber que cuidaria dela por mim e para mim, mesmo assim, ele me surpreende ao responder:
- Vá em paz, mas caso não retornar, eu não desperdiçarei a minha chance. Então acho bom o senhor voltar, pois sei que odiaria saber que ela terminou a história comigo, consigo até ver seus ossos se revirando no caixão!
Eu rio com comentário e reviro a cabeça.
- Nem nos seus sonhos - ele acompanha o riso e estende a mão para mim como símbolo de paz entre nós, uma trégua, pelo menos entre eu e ele não haveria mais inimizade. Abro um sorriso meio sem jeito e aperto a mão dele, sabendo que pela iniciativa, ele confiava minimamente em mim, pelo menos o suficiente para saber que cada palavra proferida por mim eram verdadeiras.
Eu aceno para ele, informando que eu já estava de partida, virando as minhas costas após um fraco sorriso expresso por ele para mim. Meus passos se arrastam igual ao meu coração pesaroso em saber que eu teria que deixá-la, mas eu sabia que seria por uma boa causa, algo que consequentemente a alegraria - ou torturaria mais a sua dor e angustia, caso não encontrá-lo vivo. Quando então escuto antes de virar o corredor:
- Rustan - eu só viro a minha cabeça para olhá-lo e esperar o que é que queira me dizer -, tenha conhecimento de que ela te ama de verdade. Só estou contando isso para pensar duas vezes antes de fazer alguma besteira e partir o coração dela. Eu... Apesar de eu mostrar querer algo para com ela, eu principalmente respeito a opinião dela, pois sei que ela é teimosa e obstinada, quando põe algo na cabeça, nada no mundo tira. E se ela te escolheu é porque ela sabe que foi a escolha certa. Nem mesmo eu e o meu charme a faria mudar de ideia... - eu emito um som pelo nariz, que era mais uma risada presa do que um suspiro alo. Eu entendia bem a respeito do assunto abordado e o enxergava como um homem corajoso ao me contar aquelas coisas. Não sei que algum dia teria amizade com esse sujeito, contudo, ele permanecerá em minha memórias.
Johannes continua:
- Eu não faço pelo senhor e suas promessas, mas por ela. Tenho um carinho enorme por aquela senhorita e eu farei de tudo o que estiver de alcance para deixá-la feliz, ainda mais abrir mão de meus sentimentos e sonhos do passado, porque eu sei que isso a deixará feliz.
- Obrigado - respondo e o deixo sozinho no corredor com muitos pensamentos a refletir. Não somente ele, mas eu também teria.
[...]
Já estava frente a frente com um dos prisioneiros sentados me olhando como se eu fosse o próprio diabo em pessoa, mostrando-se ser nada simpático - e nem deveria por sermos inimigos - e com um ar arrogante de quem não iria entregar nada para mim, mesmo se eu implorasse de joelhos - coisa que eu também nunca faria. Cruzo os braços com um olhar de poucos amigos e agarrando ao sentimento de como foi bom a curta viagem do acampamento até uma das fazendas mais ao interior da cidade, aonde mantínhamos os prisioneiros de guerra.
O lugar foi cercado durante a guerra e cercada com grades e arames farpados para não permitir fugas dentre os homens presos, que eram em torno mais ou menos de 300 a 400 soldados inimigos. Haviam sido feitos 5 barracões para os homens, mas nada grandioso ou aconchegado, ainda mais por terem que dividir muitas pessoas em um espaço que cabe bem menos do que a totalidade que se encontrava ali.
A antiga fazenda, localizada em Falkensee, deveria ser um lugar muito bonito por causa de sua localização perto da natureza e longe de qualquer som da cidade, porém, toda a sua beleza foi perdida e os campos de comida destruídos com as bombas e tantas máquinas que maltrataram o solo e os passos, que rasgavam as gramas. Logo a primavera chegaria a reinar naquele lugar e trazia a sua origem para os cantos em vida da terra.
Embora estivéssemos nessa época, as planícies se transfiguraram em paisagens irreconhecíveis para sua estação, devido as ações animais do homem com suas máquinas poderosas, contudo, com o fim dos avanços no país o verão surdiria com força e quentura, transformando uma vez o que foi feio em belo novamente. Volto os meus olhos no soldado esquecendo as minhas vagas lembranças no jeep que me trouxe e foco no real motivo por estar ali: encontrar o paradeiro do irmão de Leah.
Escuto um pigarrear ao meu lado e lembro do tradutor que veio comigo, para acompanhar-me em minha jornada enquanto eu não tivesse nenhum outro dever ou ordens a serem cumpridas. O Coronel foi generoso comigo quando me propôs aquela oferta que eu poderia procurar por Leah, mas teria que manter a descrição e, caso precisassem de mim, eu teria que parar a minha busca para não levantar suspeitas ou privilégios de sua parte para comigo.
Aquele soldado era mais novo do que eu, talvez um ano ou dois, e parecia um pouco nervoso por ter sido chamado para conversar com um alemão diretamente. Apesar de ter em seu currículo que sabe falar 5 línguas perfeitamente, ele me informou que aquela missão seria a sua primeira oficialmente. Também acrescentou que era mais fácil conversar e traduzir o que as mulheres prostitutas falavam do que os homens, pois ela - como ele disse - tinham somente uma petição, mas os homens preferiam xingar com mais de mil jeitos diferentes a obrigá-los a conversar civilizadamente.
- E-eu irei começar - ele anuncia sentando na cadeira na frente do homem grande e com cicatrizes feias em sua face. Certamente havia sido torturado por algum soldado, que não terminou o serviço, senão ele nem estaria aqui em nossa frente. - Precisamos de uma informação - meu companheiro inicia a conversa em alemão, supondo que eu não entendesse uma palavra sequer, por não ter me perguntado se eu sabia e eu não ter me exposto.
- Tenho cara de informante? - o homem responde grosseiramente, cruzando ainda mais os braços e lançando um olhar de impaciente, revirando mostrando que não tinha interesse algum em ajudar e colaborar com a procura.
O soldado mais novo engole em seco, apreensivo em como continuar aquela conversa inicial, percebendo que o nosso inimigo não iria colaborar nenhum pouco. Ele leva a mão na cabeça e coça a nuca, olhando para os lados e me fitando, vejo o movimento dele mordendo os lábios, pensando em como conduzir aquele diálogo. Apesar de vê-lo precisando de ajuda, eu ainda não iria me intrometer, pois o general deixou a entrevista nas mãos dele e eu deixaria as coisas correrem livremente, somente iria intervir caso as coisas esquentassem.
- E-eu... É somente uma informação de um paradeiro, nada que o faça se sentir um traidor - eu não sabia se sentia piedade do soldado ou o julgasse ser tolo, pelas palavras estupidas que proferiu para o homem a nossa frente. Mas o nosso inimigo não fala nada, somente mantém os braços cruzados e uma expressão horrível na face, se mostrando hostil a nossa investigação. O garoto tira uma foto da pasta que carregava e releva ao sujeito quem nós procurávamos.
O homem diz com grosseira:
– Não sei quem é! E mesmo que soubesse não tenho nada a falar com vocês.
E cuspe no chão. Meu maxilar fica mais rígido do que o esperado e nossos olhares se cruzam quando ele percebe que eu entendia perfeitamente cada palavra proferida. Continuamos nos encarando por mais um tempo, até ele acrescentar rudemente:
- Mande o seu cachorro parar de latir e ir pastar, porque eu não irei cooperar - o meu colega se vira para mim coçando a nuca mais uma vez e gagueja um pouco, quando tenta traduzir as grosserias de nosso hospede, mas eu me limito erguendo a mão para ele se calar e eu dizer, já em alemão:
- Pelo visto é só mais um rato solto nas ruas... Estamos perdendo nosso tempo aqui - volto a minha fala para o tradutor, que não se deixa de mostrar o espanto ao perceber que eu havia entendido desde o primeiro momento aquela conversa e que não precisava dele para aquela missão. O rosto dele não deixou de exibir claramente a dúvida do por que então ele estria ali comigo. - Podemos fazer do meu jeito?
Ele balbucia monossílabas assentindo o meu comando e eu, sem nem perder mais meu tempo como o homem, mando os guardas o levarem de volta, apesar dele agora parecer cooperar por estar gritando em parar e nos xingando com palavras feias e maldosas. Começo a andar na direção onde os prisioneiras estavam, com as indicações de alguns soldados, cujo aguardo do translado ocorrer seriam dentre algumas semanas.
Nenhum deles estava com a aparência muito boa, ainda mais quando forçavam a nos olhar com desdém e nos lançavam olhares cheio de ódio. Eu não os culpava pelas reações nada exageradas da parte deles, pois certamente eu fazia o mesmo se estivesse no lugar aonde se encontravam, porém, como não estava, não poderia fazer nada a respeito, a não ser tentar ao máximo não provocar ainda mais a ira deles.
Aquele sentimento em mim era muito complicado, pois ao mesmo tempo em que eu não gostava de alemães, outra parte de mim estava apaixonado perdidamente por uma belíssima jovem alemã. E embora eu buscasse vingança pelo o que eles fizeram com a minha família, havia um conflito muito grande em mim, por saber que eu não odiava todos eles, somente os que compactuavam com a guerra e se transformavam em aberrações, loucos por sangue e morte violentas. Ultimamente eu me encontrava neste mar de dúvidas e indagações ao meu próprio respeito, se estava certo em perdoar a todos os meus inimigos, muito contrário do que a minha pátria pregava.
Desvio o olhar deles e expulsos esses pensamentos, para não me atrapalhar em minha busca. Chamo o soldado para mais próximo de mim e peço-lhe a foto que Leah havia me entregado do irmão, a única que conseguiu salvar de sua antiga casa. Chegando próximo a longa fila de homens, eu vou frente a frente de cada um e mostro a imagem do rapaz, perguntando:
- Você o viu? Conhece esse garoto?
A maioria dos homens por quais passei nem fizeram questão de olhar a imagem, revirando os olhos e ignorando visivelmente a minha presença, não se dispondo a me ajudar. Outros, a minoria, ficou com um pouco de interesse - por estarem no campo por tempo demais e não acontecer nada empolgante nos últimos dias de suas vidas - e tentam ajudar, mas não o conheciam e nem o viram, com isso, lançam um olhar triste para mim e se afastam.
Enquanto eu andava, mais ficava claro a mim que não teria ninguém ali que já tivesse visto Klaus, mesmo que eu acreditasse que ao menos uma pessoa deve ao menos ter visto de relance ele. Óbvio que também era contar com a sorte, uma vez que ali estavam vários homens de inúmeros pelotões diferentes, e a chance de ter um que era do mesmo que o garoto... Uma chance para um milhão.
Após andar quase por toda a fila e as respostas serem sempre as mesmas, eu começo a sentir a esperança se esvaindo e a tristeza entrar em meu coração, por eu não conseguir cumprir a promessa a Leah de encontrar ao a respeito de seu parente que a faça dar um ponto final ou um reencontro inesperado. A linha era tênue, uma hora pesava mais para o lado racional de que ele não estaria mais vivo, outras vezes mais o emocional, que haveria sim uma chance dele ter escapado com vida todo o conflito que enfrentou e estar escondido em algum lugar.
Eu tenho que continuar procurando! Passo por um garoto, que não deveria ter mais do que 15 anos. No primeiro instante, eu fico apreensivo em contar com a sorte e falar que ele saberia algo, mas eu só conseguiria aquela informação perguntando e precisava de certa coragem ao fazê-lo. Não é todo dia que eu encontro crianças na guerra, porque a maioria morreu nos combates.
Respiro fundo e me aproximo com calma do garoto, que já me olhava assustado, mas com uma postura de guerra. Ainda que ele não fosse um homem completo, parecia saber alguma maneira rápida e eficiente de acertar o inimigo para conseguir fugir sem ser pego. Porém, ele não efetuaria seu golpe aqui, pois havia consequências drásticas e ele não me parecia louco de tentar.
Ergo as mãos mostrando que estava indo até ele em paz e falo baixo, mas com firmeza para ele entender que eu não iria machucá-lo:
- Está tudo bem, eu só quero fazer uma pergunta. - Aproximo a minha mão para ele ver a foto e Klaus e seus olhos rapidamente se arregalam provando que o reconheceu, seus lábios tremem e no instante que ele percebe que eu sei que ele sabe de algo, se afasta em um pulo de mim, com o peito subindo e descendo velozmente.
- E-e-eu n-não sei de n-nada - ele gagueja com medo de eu levá-lo para ser torturado até me contar o que eu buscava. Eu compreendia sua terror, pois não tínhamos uma boa fama sobre nossos interrogatórios, e a verdade seja dita, nenhum exército, seja ele o meu ou dos meus inimigos, tem uma fama pacífica de buscar as coisas dentre os prisioneiros.
- Fique calmo - eu falo me aproximando, agora de joelhos para ficar da altura dele -, eu só quero saber onde você o viu.
- Por que quer saber? Você o está caçando por algum crime? - ele me pergunta ainda com os olhos arregalados e as mãos se remexendo a todo instante.
- Não - eu balanço a cabeça em concordância e aperto os lábios parecendo mentira as minhas próximas palavras, pois que soldado soviético em sua sã consciência faria aquilo que eu ousadamente buscava concluir? - Eu quero levá-lo para casa. Tenho uma... uma conhecida minha que é a irmã dele e sente a falta... Eu prometi que o encontraria. Pode me ajudar?
Ao falar aquilo, algo mudou o temor do garoto para compreensão e caridade, pois devagar ele se aproxima de mim com curiosidade e olhando ao seu redor com medo do que os outros fariam a respeito. Ao entender que os murmúrios não era para ele, ele chega até mim e arranca de minha mão a foto, olhando mais de perto e sussurra:
- Klaus.
Mordo o lábio pela ansiedade que me corria por dentro. Aquele poderia ser o encontro de uma pista sobre esse garoto e seu paradeiro e eu não conseguia expressar em palavras o que sentia. As explosões de nervosismo e alegria me transbordavam, mas eu sabia que a jornada não era fácil até chegar até ele, só que nada poderia me parar, não agora que eu havia chegado tão perto.
- Senhor, ele se chama Klaus, ele me salvou outra vez... Prometi a ele agradecer na próxima vez que nos víssemos.
- E você se lembra onde foi que se viram pela última vez? - questiono repousando o meu braço no meu joelho apoiado, para ficar próximo a boca do garoto que falava baixo.
- Onde nós estamos? - ele me responde com uma pergunta e eu lanço de soslaio um olhar ao redor para ver se tinha curiosos interessados em nossa conversa. Havia sim, mas não muitos.
- Interior de Berlim, se isso te ajuda em algo...
- Hm... - ele somente diz e eu franzo o cenho querendo interpretar o que esse "hm" significava. - Estamos bem longe então... Eu não sei ao certo, mas quando eu estava lá fora, me falaram que as tropas americanas se aproximavam. Eu não sei se eles estão ainda por lá, porque minha unidade se separou da dele e fomos pegos de surpresa.
- Sinto muito - falo rápido demais sem perceber a profundidade de minhas palavras. Dizer aquilo era aquela se opor a uma ordem direta do coronel e eu sentia o peso sobre mim ao desafiar a autoridade dele com as minhas fantasias de amor. - Já foi de grande ajuda, mas saberia somente me dizer qual é a unidade dele e se o viu em outro lugar?
— Em um vilarejo, Oberkrämer, fica a noroeste de Berlim.
Penso na nova informação e traço uma rota de onde estou e a última localização de Klaus, eu estava apenas algumas horas dele, mais ao sul, mas não seria difícil de conseguir um pedido de envio para aquela região, ainda maia sabendo que a oeste a linha americana está posicionada e posso sugerir uma troca de companhia na área...
Klaus, aí vou eu.
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