|Capítulo 16|
Immanuel Yevdokimov
Enquanto mais adentrávamos nas áreas infestasdas de soldados, mais o caos espalhado pelo local esconde o nosso som, fazendo ser possível passar despercebido por todos e vamos ao encontro do destino. A noite caiu afundando-nos na imensa escuridão do céu, somente víamos o caminho pelas estrelas e a lua, que refletia intensamente a luz solar, sendo o nosso farol.
Esse era o mesmo céu que em dois anos e alguns meses atrás estava sobre a minha cabeça, reconhecia a mesma brisa fraca que passa por mim, como aconteceu naquele dia em que eu conheci Vlad Zaitsev. Não posso dizer que foi um dia memorável somente porque eu me lembro do dia, mas não deixou de ser algo interessante para mim, uma vez que tudo o que eu fazia no batalha de infantaria não se comparava com a grandeza das minhas ações após sair dela e parar em uma nova unidade.
Lembro-me de quando o dia 25 de agosto de 1943 iniciou como todas as outras manhã, eu não estava muito animado e nem esperando por tantas novidades em minha vida rotineira, por mais que o nosso trabalho na linha de frente nunca era o mesmo e os riscos passavam a serem maiores à medida que as batalhas se intensificavam. Mas naquele dia tedioso foi marcado pela mudança repentina do tempo, dando um novo começo em minha vida, quando me transferiram à uma nova unidade.
Faltavam somente 6 dias para o dia de meu aniversário, no qual eu completaria neste dia 24 anos de idade. Eu nunca fui de comemorá-lo, por conta da falta de condições em minha família para fazer algo ao menos legal para mim no dia, simplesmente algo agradável, que me marcasse e me fizesse lembrar quando eu crescesse... Porém nada disto aconteceu em todos os anos, sendo deixado por mim de lado, não parecendo ser importante, contudo...
Pela manhã daquele dia, quando eu chego na unidade, eu conheci Rustan, nosso capitão, e Vlad Zaitsev, meu novo companheiro. Não fui extravagante quando me apresentei à eles, porque não gosto de chamar atenção, preferindo assim observar o grupo e suas peculiaridades; logo vi que meu colega tinha sérios problemas com o líder, me fazendo ficar intrigado de como funcionava então o pilotão.
Estava óbvio demais, quando se prestava atenção nas minúcias daqueles dois: eles não se davam nada bem. Possuem ideias completamentes opostas, gerando atritos constantes entre eles, porém as vontades de Rustan são as que prevaleciam, por ser o cabeça da unidade e nós precisávamos obedecer como um bom cachorro.
Não que Rustan abusava do poder o qual foi dado, quando ele se tornou capitão; muito pelo contrário, ele não se envolvia muito conosco, permanecia sempre em uma certa distância de nós, parecendo não querendo essa aproximação -nos deixando "livres", de certa forma. E são essas pequenas brechas de confiança que nosso capitão nos oferecia, que Vlad Zaitsev aproveitava para exceder os seus limites como cabo e passava por cima da autoridade de Rustan, provocando intensas confusões -e algumas delas chegavam em seus ouvidos.
Com o passar dos dias, eu fui logo entendendo os motivos de tanto ódio que permeava no coração de meu companheiro, as suas crises de insanidades -além dele, é claro, ser louco, um completo psicopata. Vlad Zaitsev sempre era subestimado por Rustan, todas as ações em prol da organização, nunca foram bem vistas e aceitas por seus companheiros e superiores, sendo assim, ninguém sequer chegou um dia a admirar os seus bem-feitos. Com isso, a inveja e aversão por todos tomou o coração -já perverso- de meu mais novo amigo.
No momento em que eu o conheci, eu sabia que seríamos amigos, eu só estava esperando para ver o quão insano ele poderia ser e se, com essa instabilidade, eu não sairia perdendo. Porém eu bem vi que não. Aquele início de amizade foi quase instantânea, notando certas semelhanças em nossas histórias e por isso que o grau de desumanidade em nós combinava.
Quando a confiança dele em mim cresceu, começamos juntos a cometer várias impunidades, sem nos importar com os valores morais de Rustan. As maldades que exercíamos poderia ser motivos palpáveis para sermos condenados como traídores e morrermos pelos nossos atos, contudo nunca restou um que nos visse que saísse vivo para informar alguém.
Os múltiplos roubos, violências cruéis contra os sobreviventes da guerra foram as ações mais banais que fazíamos, porque o nosso prazer era matar os nossos inimigos friamente, principalmente os que se rendiam. E, de todas as nossas selvageria, as que nos enchiam de gozo e nos embreagavam pela satisfação, foram os casos de estupros que cometíamos.
O prazer em ouvir os gritos de pavor, os gemidos de dor e as forças indo embora de tanto lutar, valiam a pena. Ouvir os murmúrios de Rustan e os diversos sermões, somente para chegar no final do dia e cometer uma atrocidade, valia a pena. O caso da vagabunda que parou no hospital e ficou agarrada ao nosso capitão não foi um caso isolado e não chegará a ser o último.
Aumento a tensão em meu maxilar, me lembrando perfeitamente da primeira vez do dia em que Rustan nos inferferiu e nos humilhou na frente de todos: foi ainda em 1943, após um combate, alguns soldados alemães se renderam, e eu e Vlad tentamos matar um deles pela diversão ao ver os outros com medo nos olhos e o temor em perder as suas vidas.
Aquela foi a primeira vez que Rustan, ne frente de todos, nos repreendeu, nos "punindo" na frente de todos os seus colegas. A sensação queimante de todos os olhares em julgamento para nós não fora esquecido; as conversas paralelas sobre nós e nossa loucura se espalhou pelo lugar rapidamente, e a única coisa que eu ansiava naquele momento era esmurrar a cara do meu capitão e ensinar para não mexer conosco.
Já no coração de Vlad, que chegava a ser o mais psicopata que eu, gerou um ódio tremendo por Rustan, porque ele se sentiu humilhado de ser repreendido por estar apenas tentando matar um alemão, que era o inimigo. Meu companheiro não precisou me contar nada, porque eu via em seus olhos e compreendia todos os seus pensamentos, já que era similar com os meus.
Mas não é apenas esse motivo o qual nós odiamos Rustan. Ele, como líder, recebia sempre mais essa atenção, sempre sendo um homem mais lembrado, um homem mais querido por todos. Ainda mais pelas suas ações honrosas e a todo momento ajudar e ser bom, não somente como soldado, mas como pessoa.
De certa forma, aquilo alimentava a crescente revolta e inveja, a avidez em tomar o lugar de nosso capitão em nós. Desejávamos acima de tudo sermos reconhecidos e todos nos olharem com respeito e não como quem foi reprimido na frente de todos em várioas ocasiões. Rustan nos impedia e anulava os nossos pensamentos, controlando as nossas ações muitas vezes, depois que descobriu a série de violências que causamos nos tempos em que nos deixava livres. A raiva reprimida em nós simplesmente crescia a cada dia, ainda mais forte.
Agora com esse novo caso da garota estuprada, a qual é a principal atenção de nosso capitão, abusaremos de sua inocência e o faremos sofrer como deveria em nossas mãos, do que erguer o queixo e nos ordenar a nos negarmos. Nâo abrirei mão de quem sou, muito menos Vlad.
[...]
Marat Bogolyubov
04 de maio de 1945
A escuridão da noite se estendia pelos nossos olhos por onde quer que olhássemos, éramos engolido pelas trevas do lugar, arrepiando os pelos de meu braço, me deixando tenso pelo o que estava prestes a acontecer. Eu sabia que Immanuel parou o carro e mandou-me posicionar em um lugar estratégico, no porão do prédio em que eu me escondia, não para ficar ali até tudo passar, mas para matar os militares da NKVD.
Immanuel inteligentemente deduziu que a proposta de ajuda do Comissário Político não era nada boa e que devíamos nos preparar para o pior. O meu corpo já sentia os efeitos da adrenalina nas veias, vagando por todo o meu ser, encoragindo a seguir em frente com o plano absurdo de meu companheiro; porém as rápidas bombadas de meu coração contra o peito e o suar à frio me diziam como estava assustado naquela situação em que eu me encontrava.
Eu não queria matar ninguém. Muito menos ter que depois voltar para o hospital onde o Vlad está e sequestrar a inocente garota, que apenas sofre a cada dia com as nossas mostruosidades feitas contra ela -e as futuras, que há de suportar. Por que os meus companheiros precisam ser tão bárbaros, ao ponto de amar causar dor alheia?
Quando Immanuel me contou sobre o plano de matar militares soviéticos, eu instintivamente me opus às suas loucuras, pois para mim, é doentiu demais atacar e matar os meus companheiros, mesmo que nunca tenha conversado. Ainda, sim, é um ser humano. É inquestionável tentar me obrigar a fazer isso e eu gostar, como eles gostam e sentem prazer em fazer.
Eu ainda tentei convencê-lo de não fazer, pedindo que ignorasse tudo ao redor (a sede de vingança por Rustan, o ódio pela traição do comissário político, a vontade de machucar a alemão) e que nós apenas fugíssemos com Zaitsev de tudo isso, deixando no esquecimento. Mas não. Immanuel estava possesso, queria se vingar do maldito e queria mostrar para todos que não deveriam se meter com eles.
A minha insistência por um minuto de paz em meio à guerra, fê-lo perder a cabeça e me agredir, ameaçando-me com a faca, dizendo que eu falava asneiras por ser um fraco e covarde -contudo ele não precisava tê-lo dito, eu sabia desde o início que aquela era a verdade. Suspirei e aceite. Simplesmente cedi à sua vontade.
Enquanto eu estava no porão de um prédio com uma visão privilegiada para o campo de tiro de uma das janelas, operando um metralhadora DP-28, por todos verem que eu era bom com essa arma; Immanuel se posicionava do outro lado da quadra, assim poderíamos cercá-los dos dois lados.
Ele estava armado com um fuzil STG 44 capturado por ele próprio de um soldado alemão, que ele havia matado durante o percurso, além disso algumas granadas, as mesmas que o jovem assistente havia nos dado para fugirmos. A doce ironia não passa despercebida por mim: as munições extras e reforços que o comissário político havia nos oferecido para "escaparmos", seriam as que nos ajudariam para matar todos os homens a quem ele nos entregou. Isso que causará o fim dele, isso se Immanuel chegar até ele.
As horas no breu da madrugada se arrastam para se passarem, mas eu já sabia que o outro dia já havia chegado e ele começaria com muita matança. Os céus acordariam sangrando pela morte dos militares que não fizeram nada mais do que sua obrigação... Esse dia mal iniciará e estava muito longe para se findar, acabar com as lembranças que ainda seriam criadas.
Ao longe o som de um caminhão ecoa pelo ambiente, nos alertando de que eles estavam chegando no local combinado e, com isso, ficamos preparados para começar o tiroteio e carnificina. Suspiro lentamente o ar quente de meus pulmões sentindo a tensão aumentar na atmosfera, expiro e inspiro eliminando todo pensamento bom que possa vir à tona e me fazer cair em si, vendo a loucura que estava prestes a cometer.
Como previsto por Immanuel, o automóvel veio pela rua combinada e para em frente ao esconderijo, desembarcando rapidamente 12 soldados da NKVD. A luz do luar repletia bem as sombras dos homens no chão, sinalizando precisamente onde estava cada pessoa para nós. Não tinha como escapar, estão em nossas miras.
Por alguns instantes hesito em atirar porque tinha consciência de que tiraria a vida de alguém, tendo noção de que, ao fazer isso, não teria volta... Porém acabo cedendo às pressões psicológicas de Immanuel e, ao expirar expulsanto tudo de dentro de mim, que poderia salvar a minha humaninade, eu aperto o gatilho e a metralhadora começa trabalhar e ganhar vida.
A rajada da metralhadora aos poucos atingue um por um, meus olhos presenciam 6 homens caídos de uma só vez, depois de serem mortos sem ter piedade alguma. Decerto eles nem souberem de onde veio o tiro que arrancara a força a vida deles.
Eu poderia não conseguir ver de onde estava o Immanuel assistindo toda a cena caótica e horrível de ser vista, mas mesmo assim eu conseguia pressumir que estava sorrindo maleficamente, adorando observar o que testemunhava. Controlo a minha respiração para continuar friamente matando os soldados e não sentir arrependimento de minhas ações.
Os homens restantes se dispersam velozmente no campo de minha visão, afim de fugir dos tiros incansáveis da metralhadora, correndo para o lado contrário. E, no mesmo instante, do segundo andar, onde o meu companheiro estava posicionado, ele lança duas granadas em direção do caminhão.
As granadas detonam lançando estilhaços em uma velocidade absurda, acertando de maneira certeira dois militares em cheio. Um deles cai no chão tamanha dor de seu ferimento grave no rosto, suas mãos sobem para a face ensanguentada como modo protetor para arrancar aquilo dali. O outro já estava morto pelos destroços voarem e atingirem pontos vitais.
Ao mesmo tempo em que aqui acontecia um massacre por estarem nos caçando, aos redores de Berlim tinham outros conflitos contra os americanos, misturando assim os nossos sons em apenas um só. Em todo lugar a morte pairava presente, barulhos de destruição, tiros e gritos insanos.
A luz da explosão de um prédio mais a distante se funde com as cores celestes do céu noturno incendiando o nosso cenário, criando novas sombras. Meus olhos veem o brilho das chamas incandescentes subirem e crescerem por onde quer que passe, iluminando nossos oponentes claramente. O meu interior não se aquieta por isso, muito pelo contrário, queimava e expulsava todo o meu fôlego, sinto aquele cheiro de fumaça no ar mesclando com o meu e eu não consigo diferenciar muito bem qual era a distinção de mim naquele momento com das chamas do lugar.
Tudo era incerto e mortal. A qualquer momento eu poderia morrer baleado por um destes caras, mas ao mesmo tempo serei eu o assassino. O mundo naquele momento está instável, frágil e qualquer instante pode subumbir. O meu interior se assemelha com todos com conflitos do lado de fora daquele porão.
O som de outra arma sendo disparada faz os meus olhos procurarem por quem estava manuseando-a, logo percebo que era Immanuel atirando com o seu fuzil contra os sobreviventes. Todos os homens caíam inertes sobre os pés de meu amigo, as imensas chamas à longe se espalha para outro edifício e, ao intensificar a luz do fogo, eu vejo no segundo andar do outro prédio o sorriso sádico de meu companheiro ao matar à todos os homens friamente.
Livro-me da metralhadora me afastando bruscamente da morte, sinto-a corroer a minha pele e penetrar em minha alma. Começo de uma forma doentia a me arranhar, como se arrancasse aquela nova realidade de mim, puxasse para fora quem eu não era e voltasse a ser o Marat de sempre, o rapaz medroso e ingênuo de sempre.
Em meio ao meu surto e o que sucedia do lado de fora do porão, observo de longe o motorista do caminhão estar em choque e ferido pelo estilhaços. Ele tenta sair com o veículo, mas as granadas danificaram os pneus e o motor, impedindo a sua fuga. Aproximo-me da janela para focalizar a minha atenção da cena à minha frente e, saindo calmamente do prédio, Immanuel passa pelo buraco que outrora seriam as portas e se aproxima do homem, trocando o carregador de sua arma.
Eu sabia precisamente o que ele iria fazer e não tinha como contra-argumentar, somente assistir à tudo aquilo e esperar que acabe de uma vez. Ainda mantendo a sua lentidão em cada movimento, ao ponto de fazer o motorista desejar uma morte mais rápida e precisa para acabar com o seu tormento, Immanuel a engatilha e aponta de maneira despreocupada para o homem, cujo rosto sangrava efusivamente pelos graves ferimentos.
Sem muita força pela vida que sumia aos poucos de seu corpo, o soldado balbucia algo e levanta as mãos em direção ao rosto, num claro gesto de clemência, ão desejando morrer friamente como os seus companheiros de guerra. Por sua vez, Immanuel olha sem nenhuma expressão em seus olhos para o homem e sem piedade alguma atira até sua arma ficar sem munição.
Vendo-a a sua inutilidade para o momento seguinte, ele a lança contra o chão puxando então do seu coldre sua pistola pessoal Tokarev. As luzes se fundem novamente e, entre as luzes lunares e as chamas, eu saio do prédio indo até o último homem vivo daquele massacre. As cores e fumaça se intensificam e Immanuel sem paciência alguma se aproxima do soldado ferido no rosto, observando os estragos que causara, deixando-o desfigurado devido aos estilhaços, surpreendentemente de alguma forma ele continuava vivo e gemia de dor, se afogando no próprio sangue -nem com as múltiplas balas contra o seu corpo quase morto foram suficientes para arrancar-lhe a vida.
Immanuel, em sua forma assustadora, olha o moribundo com orgulho de seus feitos sobre ele e sorri. Meu coração já batia descontroladamente sobre o meu peito com tudo o que havia realizado até naquele momento, entretando fitar o meu amigo piorava significativamente as coisas, me tirando o fôlego pelo medo que corria às soltas em meu corpo.
-Pelo amor de Deus, Immanuel, acabe com o sofrimento dele... -exclamo sentindo toda a tensão expandir e minhas mãos começarem a tremer.
Immanuel olha para ele sem tirar o sorriso do rosto e dispara contra o soldado simplesmente, encerrando a sua vida de uma maneira cruel, acertando bem o centro de sua testa. Ele continua caminhando olhando para o mar de corpos expalhados pelo chão, certificando se decerto todos haviam falecido. Logo mais longe, perto de um um soldado morto, há outro caído que começa a pedir a ajuda inocentemente, não tomando conhecimento que nós quem provocara toda a matança.
- Me ajude, me ajude... Fomos atacados -sua voz sai com extema dificuldade, cuspindo o próprio sangue para conseguir se comuniar conosco.
Immanuel se aproxima sem dizer e dispara contra a cabeça do soldado, sem ao menos findar sua vida com honra. Aquilo me corta ao meio e eu o ataco em fúria, mesmo tendo participado da crueldade.
-Seu desgraçado. Porque fez isso? -exclama Immanuel me olhando em choque por não esperar isso de mim. A confusão em seus olhos dissipam para um novo semblante e ele despeja em mim o seu tom de sarcasmo, rindo de mim: -Não estou te entendendo, apenas acabei com o sofrimento dele como você mesmo me pediu...
-Meu Deus, onde eu fui me meter! Vocês são loucos! Como vocês conseguem ser tão sádicos? -grito sem necessariamente estar dizendo para ele, apenas livrando dos meus pensamentos que me atordoavam desde o início desta amizade perigosa.
Repentinamente Immanuel se aproxima me mim me esmurrando no rosto e aponta, sem nenhum receio do que fazia, a sua arma para mim em minha cabeça e ruge contra mim, batendo com o objeto em mim.
-Quem é você pra dar lição de moral aqui, hein, seu bostinha? -ele me pega pelos cabelos e vira a minha cabeça para os defuntos espalhados pelo chão. -Está vendo tudo isso aqui? Você também participou. E, quando pegamos aquela vadiazinha alemã, você também estava lá e não me lembro de vê-lo reclamar de nada... Se bem que até gostou do que fez -diz incriminando as minhas ações. -Tudo que estamos fazendo desde a Ucrânia você também esteve, então não venha dizer algo, pois você é tão sádico como nós, seu merda!
E me joga com violência no chão, batendo com força os meus joelhos e mãos no chão duro de concreto. Não ouso olhá-lo em sua forma tirana e fico ali, ajoelhado sobre os seus pés como um bom medroso, sem ter coragem para erguer a minha voz e enfrentá-lo.
Immanuel caminha de um lado ao outro, totalmente fora de si. Grita e ri de maneira perversa, atirando diversas vezes contra um corpo em sinal de raiva, aprofundando seus sentimentos malvados. Sua forma doentia começa a perder o controle e ele lança a arma no chão, para longe dele, como se queimasse sua mão.
Subo os olhos e ele estava bem na frente das chamas dos edifícios, deixando-o de uma maneira descomunal e medonha, prendendo a minha respiração na garganta. Mas então o homem segura os próprios cabelos com força parecendo que iria arrancar, depois passa as mãos pelo rosto e chora profundamente.
Seus passos lentos e cambaleando vêm em minha direção, eu ainda estava travado no chão com medo do que assistia. Ele nunca mostrou ser doente daquela maneira, porém observando agora... Aperto os meus lábios nervoso com o que ele poderia fazer contra mim. Tento me arrastar para longe dele, andando como cachorro nas quatro patas, contudo Immanuel me segura pelas golas do uniforme e me puxa para cima, retirando-me do pó e, de súbito, me abraça. Em meu ouvido eu escutava os seus pedindo desculpas, sentia as lágrimas umidecerem o meu uniforme me deixando ainda mais assustado, mostrando o descontrole que ele possuía.
Engulo em seco e, somente para me afastar dele, eu dou em fraco tapinhas em suas costas, e assim que ele me solta eu me alerto de nunca mais ficar perto dele, porque o cheiro de morte do local não vinha dos corpo, mas exalava dele, provando para mim que ele é a própria morte encarnada.
Os segundos seguintes quase foram passados em brancos em minha mente, pela confusão que crescia em mim por tudo o que eu fazia desde o dia em que eu os conheci. Eu me juntei à eles para não me sentir mais só, contudo eu me sentia terrivelmente mais solitário perto deles. Estava na hora de mudar as coisas.
Lembro-me de escutar meu companheiro me chamando para eu pegar as coisas que restavam e poderiam ser úteis, de subirmos no jeep roubado do assistente morto e irmos em direção do hospital em que Vlad repousa. Os sons se misturam em minha cabeça e quando eu percebi, já estava fora de mim e, tudo o que veio a tona, desaparece em segundos.
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