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Capítulo 8 - LÍVIA

No instante em que segurei Enzo pela nuca e o beijei fervorosamente eu deveria estar com minha cabeça em qualquer outro lugar. Menos grudada ao meu pescoço.

Porque essa é a única explicação, não tão coerente e lógica, que encontrei para justificar o meu ato. Eu não sei o motivo que me levou a me sentir atraída por ele, assim, tão subitamente. A única coisa que sei é que perdi a razão por alguns segundos, e quando dei por mim, minha boca acometia a dele, e Enzo, mesmo que relutante nos primeiros segundos, logo retribuiu e me beijou tão intensamente como nenhum homem tinha feito antes.

O caloroso momento entre nós me fez quebrar uma das principais regras que eu mesma estabeleci: não me envolver com meus amigos. E se por um lado uma parte do meu cérebro bradava para que eu me afastasse de seus lábios para não burlar a condição que eu mesma me impus, por outro, meus desejos ampliados e intensificados se sobressaiam à minha razão. E o resultado foi que eu havia me deliciado em sua boca fina e molhada, tão suculenta e macia como nunca tinha sentindo lábios tão esplendorosos contra os meus.

Extasiada com o sabor da boca dele, uma mescla de gosto natural e bala de menta que ele havia acabado de chupar, amoleceu minhas pernas e acelerou meu coração. Seus lábios tinham uma sensação e um sabor incrível. Eu nunca tinha experimentado uma boca como a dele, e nem havia me sentido tão livre e leve beijando alguém como fora com Enzo.

E enquanto sua boca esplêndida dançava num ritmo harmônico com meus lábios, sua língua abrindo espaço pela minha boca, me invadindo e arrancando meu tão necessitado oxigênio, incontáveis sensações e sentimentos passearam através de mim, eletrizando meu corpo dos pés à cabeça, me deixando atordoada, confusa, eufórica, zonza. Tudo ao mesmo tempo.

E de todas as sensações sentidas, maravilhoso era o único adjetivo que eu conseguia encontrar para definir aquele beijo e momento.

Mas então, uma parte do meu cérebro que ainda funcionava, que, na verdade, estava lá o tempo todo, mas escondido e impossibilitado de se manifestar por conta dos inúmeros desejos, sentimentos, emoções e sensações que explodiam dentro de mim, finalmente conseguiu sobrepujar-se a todo entusiasmo e euforia que me acometiam. Minha razão, finalmente, freou minhas ações precipitadas e, quando realmente dei por mim, simplesmente parei de beijá-lo e sai andando.

Meu coração ainda batia em ritmos descompassados, e eu não sabia explicar se era porque o beijo intenso entre mim e ele tinha me arrancado cada partícula de ar possível ou se, na realidade, meus batimentos estavam desordenados por causa da vergonha que apossou do meu corpo no instante em que a razão veio sobre mim.

No entanto, isso já não me importava mais. Fosse o que fosse, o ato não deveria se repetir, Enzo não poderia criar falsas expectativas em relação à nós, não poderia, de maneira alguma, pensar que há a possibilidade de nos envolvermos amorosamente, casual ou não.

Por esse mesmo motivo, fiz questão de ir até seu quarto na pousada que nos hospedamos e conversar com ele sobre isso. E pela sua reação me pareceu, realmente, que aceitou minhas condições sem se importar. O que, devo dizer, me fez sentir um alívio na alma. E ainda que tivesse deixado tudo cristalino a ele, minha mente traiçoeira, pelos próximos dias, me atormentou, rebobinando o instante do nosso beijo quase que o tempo todo.

E aquilo estava me deixando à beira da loucura. Primeiro porque eu desejava sentir aqueles lábios macios e sedosos, mas completamente tentadores, em mim outra vez.

Sentir sua língua tomando a minha em estalos frenéticos e inebriantes.

Minha aflição só aumentava por estar guardando esse sentimento dentro de mim. Queria poder desabafar com Victória, contar-lhe euforicamente como Enzo tem um beijo inesquecível (por mais que ela deva saber que não é somente o beijo que ele tem de delicioso).

Mas eu não podia. Simplesmente não podia dizer a ninguém sobre o que houve entre nós. O que me matava de ansiedade e aflição vagarosamente. Quase uma verdadeira tortura.

Se não poder confidenciar com alguém o momento deslumbrante já me deixava aflita, o fato de eu, também, estar buscando no fundo das minhas lembranças o primeiro beijo que trocamos — e que foi ele quem deu a iniciativa —, começava a contribuir para a dose de ansiedade que vinha me afligindo cada vez mais. Às vezes eu simplesmente me pegava lembrando — e comparando — os dois beijos que trocamos. O primeiro, me recordo com nitidez, fora tranquilo e com ares de romantismo nos envolvendo, um beijo sereno e delicado, inocente. O segundo já fora completamente diferente. Foi tão intenso e carnal, um beijo quente que desestabilizou minhas pernas, meu consciente, me tirou todo o ar que circulava em meus pulmões.

E eu nem pude ficar horrorizada em perceber que tinha apenas pouco mais de um mês que eu e Henrique havíamos rompido. Como era possível, então, que eu já estivesse encantada por outro homem? Como era possível que eu estivesse esquecendo todos os momentos que passei ao lado de Henrique, todo o sentimento bonito que existiu entre nós, todas as coisas boas que vivenciamos um com o outro? E no mesmo instante em que me fazia tais perguntas, as respostas vinham prontamente: apesar de tudo o que vivi com Henrique ser verdadeiro, todos os meus sentimentos, tudo o que senti por ele ser real, ele nada sentia por mim. Suas declarações eram falsas, seus sentimentos nada mais eram que belas atuações, suas palavras bonitas eram vazias, suas promessas nunca seriam cumpridas. E era ciente disso que eu encontrava forças para superar esse rompimento, e mais: encontrava motivos para não me importar com o fato de tudo estar recente e me ver atraída por outro homem.

Ainda assim, eu estava assustada de como minha vida sentimental tomava outros rumos tão rápida e subitamente.

E por mais que eu tentasse não pensar nos olhos azuis sedutores, nos lábios finos e esplendidamente perfeitos, no cheiro másculo e forte do seu perfume masculino, no sorriso contagioso que sempre estava estampado em seu rosto, na sua voz afável e meio rouca, na atenção e amizade sincera que vinha me oferecendo por todos esses três meses, era impossível. Uma vez que, depois do show, nos tornamos mais próximos, mais íntimos, mais amigos. Desde esse dia para cá, mantivemos contato sempre. Ligações, mensagens, conversas pessoais quando ele passava na loja.

Eu me sentia bem em sua presença. Ele me fazia rir com suas piadas tão sem graça que chegavam a ser engraçadas. Quando estava meio alterado pelo álcool era ainda mais hilário, como pude constatar na noite de hoje. Após algumas doses de Tequila, Enzo era praticamente outra pessoa.

Além de naturalmente ser bom humorado, era educado e cordial, sua alegria, contagiante. E eu ficava feliz por vê-lo superando a ex. E aos poucos eu também esquecia Henrique. Um outro dia o vi de longe e quando eu achava que sentiria meu coração apertado, nada aconteceu.

Em contrapartida, Enzo não saía da minha cabeça. Eu sempre precisava estar em contato com ele. O tempo todo olhava para o celular esperando uma mensagem, uma ligação. Como essa semana não saímos para a choperia aqui perto, conversamos mais por SMS ou mensagens instantâneas. E quando, ocasionalmente, não nos falávamos, eu sentia falta e ficava pensando em que ele estaria fazendo.

E apesar da nossa amizade estar mais afunilada, não tocamos outra vez no assunto em termos nos beijado, para o meu alívio, e nem outro momento assim se repetiu, mesmo que, quando na sua presença, por muitas vezes eu me vi o beijando e sendo beijada tentadoramente. E quando eu estive perto o suficiente para tomar aqueles lábios para mim (que aconteceu há pouco na boate), meu corpo tremeu interiormente e eu quis que ele me segurasse firme pelos braços e me beijasse tão loucamente como eu o beijei há uma semana.

Mas não aconteceu. Apesar da troca intensa de olhares que ocorreu por alguns segundos, Enzo não tomou atitude alguma, tampouco eu tive coragem de dar a iniciativa. Pelo jeito, ambos estávamos respeitando a condição que nos impus na semana passada. E eu não sabia se agradecia ou amaldiçoava por isso.

Depois da nossa ida a boate, e de eu ter me divertido como nunca, regressamos e Enzo me deixou em casa. Sonolenta por conta da noite em claro, começava a subir em direção ao meu quarto, pensando apenas em tomar um banho para limpar a pele e cair na minha cama para praticamente hibernar, quando ouvi um lance de batidas na porta.

Um pouco frustrada pela interrupção dos meus planos, retornei e abri a porta, dando de cara com alguém que eu não vi há pelo menos um mês.

Henrique Hauser.

Raiva estremeceu cada centímetro do corpo e eu senti o gosto amargo da minha bílis subir pela minha garganta e depois voltar queimando a faringe. Olhar para esse homem, em outro momento da minha vida eu o olharia como uma mulher apaixonada, mas agora, só o que consigo sentir é raiva, ódio e desprezo.

— O que está fazendo aqui? — Praticamente cuspo as palavras.

Henrique me avalia de cima à baixo. Tenho certeza de que ele percebeu a maquiagem um pouco borrada, meu dorso levemente encurvado de cansaço, as olheiras que se acumularam abaixo dos meus olhos e minha postura que exalava exaustão. Ignorando completamente minha pergunta, ele diz:

— Onde você estava? – Seu tom saiu autoritário.

Era muita audácia da parte dele. Quem Henrique pensa que é para falar assim comigo? Nem mesmo se ainda fosse meu namorado teria o direito de me dirigir a palavra nessa tonalidade.

— Não é da sua conta – respondi virando-me de costas e jogando minha pequena bolsa no sofá – Não vou perguntar de novo, Henrique. O que está fazendo aqui? – Repeti e me voltei em sua direção, encarando-o com o sobrolho franzido.

Essa era a primeira vez que ele me procurava após eu ter-lhe expulsado daqui e jogado as provas de sua traição em sua cara. Desse dia em diante Henrique Hauser não me procurou, não me ligou, nem foi à loja. O que me fez acreditar que ele não se importava mesmo, nunca tinha se importado. Eu me senti aliviada e ao mesmo tempo frustrada. Aliviada pois eu não queria mesmo vê-lo, nem ouvir suas falsas explicações e palavras vazias, suas promessas que não seriam cumpridas. Frustrada por saber que tinha sido só mais um brinquedo em suas mãos, algo tão descartável como papel.

— Vim para conversarmos.

— Não temos o que conversar.

Senti seus olhos me analisando mais uma vez. Ele estava, como sempre, usando um terno. E a mim não passava de um disfarce, uma máscara a qual ele se escondia atrás. Tem essa pose de menino bonzinho, de homem direito, mas não passa de um cretino ordinário!

— Estava com ele, não é? – Pronunciou finalmente, o que me deixou levemente confusa. – Com um tal de Enzo Bitencourt.

Pestanejei por um segundo, atordoada. Como diabos Henrique sabia sobre Enzo? Se, até onde me recordo, nunca havia mencionado sequer seu nome? Muito menos sua amizade.

— Como sabe sobre Enzo?

— Liguei para cá ontem. Seu pai me disse que tinham saído juntos. E não foi a primeira vez.

Ciúmes parecia estar impregnado em cada palavra que me dissera. Também me deixa surpresa em saber que meu pai lhe contou sobre minhas saídas com Enzo, já que não é muito de seu feitio relatar minha vida pessoal com outras pessoas sem meu consentimento, ainda mais se levarmos em consideração as canalhices que Henrique me aprontou. Talvez meu pai tenha feito isso para mostrar a ele que eu vinha superando o nosso término de namoro mais rápido do que ele poderia imaginar. Se Henrique queria me ver aos prantos por causa dele, não lhe darei esse prazer.

— Estava – respondi fria e seca, cruzando os braços na frente do tórax. – Aquele com quem você saía com a namorada.

— Como é? — Exclamou confuso.

— Não sabia dessa coincidência? — Ralhei entre os dentes — Que a garota com quem estava me traindo era namorada de Enzo?

Henrique ficou emudecido por alguns segundos, o olhar se perdeu e a face contorcida parecia revelar uma verdadeira confusão. Talvez ele realmente estivesse confuso, ou quem sabe surpreso, por saber tal coisa. Ainda que a ira estivesse correndo pelo meu corpo, e minha vontade fosse de enxotá-lo da minha casa, permaneci imóvel a sua frente, esperando qualquer resposta ou reação. De uma coisa eu estava certa: não iria acreditar mais em suas mentiras. Não me importaria o que ele me veio me dizer. Suas palavras não teriam mais efeito sobre mim.

De repente ele me questionou como e quando conheci Enzo. Mesmo incomodada com seu questionamento, já que eu não lhe devia (e nunca devi) nenhuma satisfação, relatei uma parte da história. Disse que Enzo era o garoto com quem esbarrei no cinema e que lhe entreguei um cartão da loja caso fosse preciso ele comprar outra camisa, já que, que desastrosamente eu estraguei a que ele usava.

— Ele apareceu algumas vezes na loja para comprar algumas coisas e ficamos amigos, apenas isso. Certo dia ele me procurou, pois queria um conselho. Tinha descoberto que a namorada o traía. E adivinha só — exclamei com desdém — era com você com quem ela saía.

Henrique seguiu ouvindo meus relatos completamente mudo. Após terminar de contar a ele, Henrique ficou quieto, o vinco entre suas sobrancelhas ainda era perceptível. De repente ele gritou, me assustando. Nunca o tinha visto tão alterado.

— Eu não saí com ninguém, Lívia! Não percebe que isso tudo é armação desse tal de Enzo para nos separar, cacete?! Justamente depois que se tornaram amigos ele aparece com fotos de que eu te enganava? Será que é tão cega a esse ponto?!

— Chega, Henrique! – Gritei mais alto – Não quero ouvir suas conjecturas contra ele, não quero ouvir suas explicações e mentiras! Não quero ouvir mais nada! NADA!

— Pelo amor de Deus, Lí! Eu levei as fotos para um especialista, ele me garantiu que são manipuladas. Enzo te entregou fotos montadas e...

Não esperei que terminasse. Coloquei a mão no rosto e solucei alto. Estava cansada mental e fisicamente. Henrique insistia em suas mentiras, como podia ser tão mal caráter a ponto de acusar Enzo de tal coisa?

Respirei fundo, lutando contra as lágrimas que escorriam pelo meu rosto. Eu jurei que Henrique não teria o deleite de me ver sofrer por ele.

— Eu já disse que não quero ouvir mais nada. Por favor, Henrique, vá embora. — Pedi com a voz trépida.

Ele me olhou com o maxilar tensionado e com os punhos cerrados, como se fizesse uma força brutal para não deixar a raiva lhe subir pela cabeça.

— Seu pai me disse que você foi à um show de rock com esse seu amigo – ele disse tentando manter a calma na voz, ignorando meu pedido.

No entanto, seus olhos faiscando denunciavam o quanto estava possesso. Como nunca esteve antes.

— Enzo me deu os ingressos e me disse que eu deveria convidar Victória. A ideia de levá-lo foi minha. Ele só aceitou.

— Claro, como se ele já não tivesse previsto tudo isso. — Conjeturou mais uma vez.

Henrique insistia naquele assunto, mas por quê? O que ele queria comigo? Já não havia me machucado e brincado o suficiente? O que mais ele queria?

Lutei para não desabar em lágrimas em sua frente.

— Entenda de uma vez por todas: nós terminamos e ponto final! – Decretei secamente — Você morreu para mim, Henrique.

Tudo que ele fez foi acenar. Agarrou sua maleta sobre o sofá e virou-se para sair. Ao chegar à porta voltou-se a mim, me encarando com a face contorcida.

— Ainda vou provar que eu não fiz nada. E que nisso tudo tem dedo desse Enzo – e antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, ele girou os calcanhares porta a fora.

E eu caí no sofá, um sentimento de dor e raiva me consumindo.

***

No dia seguinte eu me levantei e fui para a faculdade com um grande buraco no peito. Era como se a presença de Henrique na manhã anterior tivesse remexido uma ferida ainda aberta, prestes a cicatrizar, e então, ela se abre novamente, lancinando em meu coração. Não era uma dor insuportável, mas o peso e a angústia que me pressionavam ajudavam na sensação dolorosa que eu senti assim que abri os olhos.

Esse estranho sentimento só foi completamente sanado quando Enzo apareceu no meu trabalho depois do almoço. No meu rápido intervalo, fomos até a lanchonete da esquina e tomamos um café juntos, conversando sobre algumas coisas. Ainda no começo estava me sentindo relativamente deslocada, e isso acabou se refletindo no meu comportamento. Como um bom amigo, Enzo percebeu e quis que eu desabafasse. Contei a ele sobre a ida de Henrique lá em casa e Enzo achou graça em suas conjecturas. Ele então sentou-se do meu lado e me segurou pelas mãos, acalentando-me. Foi nesse instante que todo o peso que comprimia meu peito se esvaiu totalmente. Ter sua mão na minha, o calor delas que me aqueciam, reproduziu uma sensação branda e tranquila em meu organismo.

Conversamos mais um pouco e Enzo acabou me convencendo a não dar importância às palavras de Henrique. Não que eu realmente acreditasse em qualquer acusação dele.

Terminando os meus vinte minutos, voltei à loja onde permanecemos conversando por mais dez minutos. Até que ele se foi.

Mas não demorou nada até que ele entrasse em contato novamente. Apenas uma hora depois que se foi, Enzo me enviara uma mensagem no celular. Terminando de ler, eu gargalhei tão alto que até Victória riu junto comigo sem saber o motivo. Ele tinha o dom de me fazer rir até por mensagem:

Lí, vamos sair hoje? Tem um barzinho aqui perto e tem sinuca. Eu adoro sinuca. Segurar nas bolas e no taco é meu hobby favorito

Victória veio por trás e, por cima dos meus ombros, leu a mensagem que chegou em meu celular. Ela se voltou para mim com um sorriso convencido nos lábios e me empurrou amigavelmente com seus ombros. Como se conhecesse meu interior, ela me pressionou contra a parede e quis saber "o que estava rolando". Tenho certeza que em meu rosto ficou vermelho com todos os tons possíveis. Com sua dedução, acabacei lhe contando sobre as duas vezes em que nos beijamos e de como eu havia me deliciado naqueles lábios estupendos.

Primeiro, Victória enfureceu-se por eu não ter lhe confidenciado antes. Depois, entusiasmadamente me incentivou a dar mais um beijo nele e, quem sabe, avançar um passo. Antes que ela abrisse a boca e me contasse como é seu desempenho na cama, eu a calei com um movimento de mão. Eu não era ela. E Enzo era meu amigo.

Mas me senti totalmente aterrorizada quando desejei que ele fosse mais que isso. Seu beijo com gosto de menta meio veio à lembrança. Nos conhecíamos há mais ou menos três meses, nosso beijo louco ao som das últimas notas do Bon Jovi tinha apenas oito dias. E a recordação de seu hálito de menta, misturado ao seu cheiro natural e seu perfume masculino forte, ainda estavam vívidos em minha memória. Era como se esse breve momento estivesse impregnado em minha cabeça, já que me lembrava deles todos os dias desde então.

Mas por quê? Oh, deus, ele é meu amigo. Eu não posso estar... apaixonada? Não!

Balancei a cabeça fortemente tirando ele, e todas as lembranças que vinham junto quando pensava em Enzo Bitencourt, da minha mente. Mas, quanto mais eu tentava expulsá-lo dos meus pensamentos, mais ele me dominava e tomava conta quase que totalmente da minha cabeça. Eu não conseguia parar de pensar naquele par de olhos azuis intensos.

Só voltei a mim quando, por falta de uma resposta, Enzo me enviou outra mensagem.

Eu desconfiava que essa coca era fanta... Brincadeira!

Te espero aqui na loja, no final do expediente.

Respondi sua mensagem no mesmo nível de humor a qual ele me enviou a sua. Enzo apenas respondeu que me pegaria aqui em breve e encerramos contato.

Durante o resto do expediente, duas palavras me atormentaram incansavelmente.

Estou apaixonada.

***

— Então, ansioso para segurar no taco? — Perguntei assim que estava dentro do seu carro e após lhe cumprimentar com um beijo no rosto.

Enzo gargalhou contagiosamente e eu não pude deixar de me sentir encantada com o riso e a felicidade que dele emanavam. E pelos segundos próximos enquanto ele se recuperava de sua crise de risos, o observei atentamente. Estava perfeito dentro de uma calça jeans justa, que delineava bem suas coxas e as pernas longas; trajava uma camisa de polo branca de mangas compridas, também tão agarrada ao seu dorso que salientava os músculos perfeitos sob o tecido, e para finalizar, um colete acolchoado aberto, dando-lhe um ar sexy e casual.

— Ah! Você não imagina como! – Afinou a voz e gesticulou com as mãos de forma afeminada. O gesto nos rendeu ainda mais gargalhadas.

Ainda rindo, levei a mão até o rádio e o liguei, colocando Still Loving You para tocar. A música preferida dele era agora a minha também.

Enzo dirigiu até o bar onde tinha a sinuca, e no decorrer do percurso ficamos em um silêncio confortável. Ao chegarmos, pedimos as fichas e caminhamos até nossa mesa.

— Você sabe jogar? – Me perguntou, preparando o taco.

— Para ser bem sincera, não – respondi e logo o vi sorrindo pequeno e se aproximando mais de mim para me puxar pelos punhos.

— Acho que vou ter que te ensinar – disse, me entregando o taco.

Um pouco receosa, eu segurei o objeto de madeira, ainda atordoada e sem jeito de como faria isso. Nunca havia entrado num ambiente como o que estamos agora. Henrique sempre me levava para lugares mais tradicionais, tranquilos e, digamos assim, mais familiar. No entanto, Enzo era o completo oposto. De choperia à show de rock à barzinho com sinuca. E eu preciso admitir. Tenho adorado esses lugares.

— Você precisa segurar dessa maneira — explicou, segurando minha mão e as ajeitando no modo certo para facilitar a tacada. Nossos olhos se encontraram por um pequeno instante.

— E agora? – Eu quase sussurrei enquanto mirava seus lábios e percebi que ele também estava fixado nos meus.

Virando-me delicadamente, fui posicionada para iniciar o jogo. Enzo abraçou meu corpo por trás, segurando o taco junto comigo. Senti meu coração acelerar no mesmo instante. Ter seu corpo grande agarrado ao meu, seu desodorante forte invadindo minhas narinas, sua pele resvalando pela minha, o calor do seu torso me aquecendo de forma maravilhosa. Naquele momento eu quis me virar e beijá-lo loucamente. Eu não sabia o que estava acontecendo comigo para desejá-lo daquela maneira. Sua voz sussurrou rouca em meu ouvido, me fazendo eriçar os pelos dos braços:

— Segure firme e mire na bola no topo do triângulo — apertou um pouco mais nossas mãos e com um movimento firme deu a tacada, fazendo as bolas se espalharem, encaçapando duas. — É basicamente isso – enunciou cessando nosso contato e eu me virei para ele, um sorriso pequeno estava desenhado em sua boca perfeita.

Eu ainda me sentia desestabilizada pelo seu toque, mas mesmo assim sorri amarelo

— Não se esqueça que você tem que encaçapar as bolas de número ímpar. — Frisou e consegui apenas acenar.

Contornando a mesa para me posicionar outra vez e tentar pôr em prática o que ele acabara de me ensinar, mirei a bola de número 7. Dei uma tacada, mas fraca demais.

Enzo riu do meu mal desempenho e veio ao meu encontro. Novamente envolveu meu corpo e me ajudou.

— Se você posicionar os dedos assim – colocou a ponta do taco entre o indicador e o médio de minha mão esquerda – ficará mais fácil – com outro do mesmo movimento anterior, deu a tacada, encaçapando a bola.

— Você é bom nisso. — Murmurei e Enzo continuava atado ao meu corpo, transmitindo uma sensação boa para o meu. Percebendo sua insistência inconsciente de se manter abraçado a mim, ele se afastou e eu me virei para encará-lo – Adoraria que fosse meu professor. — As palavras se desenrolaram da minha boca, quase me deixando aterrorizada com a minha falta de senso.

Meu Deus, que foi que acabei de dizer?

Enzo apenas sorriu, de formada encantadora, como sempre, e continuou a me ensinar até que eu pegasse o jeito.

Ao total, ele se agarrou a meu corpo mais duas vezes, somando quatro abraços que me deixaram sem eixo. Depois, peguei o jeito do jogo e dava tacadas sozinhas. Jogamos algumas partidas e eu perdi todas. Eu era péssima e Enzo, profissional.

— Aê! – Ele gritou depois de encaçapar a última bola do jogo. Furiosa marquei mais um ponto para ele na lousa ali próxima.

— Não quero mais jogar! — Decretei, cruzando os braços — Estou cansada de perder.

Enzo riu, mas eu continuava de cara fechada.

— Está assim porque vai ter que me pagar uma rodada de cerveja. — Exclamou de forma brincalhona.

— Não vou pagar nada – respondi mostrando a língua em seguida, como uma criança mimada – Eu estava em desvantagem. É a primeira vez que jogo essa coisa e você está acostumado a segurar nesse pau com mais frequência do que eu.

Nisso rimos juntos. A gargalhada de Enzo era contagiante e era inevitável eu não rir junto a ele.

— Okay, não precisa pagar nada. Está com fome? — Quis saber enquanto guardava os tacos e depois as bolas. E eu o observei atentamente, meus olhos correram até sua bunda. Ela era tão linda.

Ele todo era lindo, na verdade, e suas vestes só o deixavam ainda mais charmoso. Enzo sempre se vestia muito bem. Avalio seu corpo. As mangas apertadas da camiseta revelam seus músculos, a calça deixa seu belo bumbum em evidência.

— Um pouco – ciciei divagando.

Ele se virou e eu encarei seus olhos azuis.

— Vamos, te pago um lanche.

— Enzo, não precisa. Eu como em casa.

Ele ficou quieto por um instante. Abaixou os olhos e depois tornou a me olhar.

— Eu queria te contar uma coisa – pronunciou de repente.

— Claro.

— Não aqui – e olhou no entorno. — Estamos em um bar.

— Onde você quer ir? — Fitei-o curiosa.

— Tomar um lanche? — Sugeriu, travesso, e ergueu os ombros rapidamente. — Compramos ali no carrinho e comemos no meu apartamento; eu te conto e depois te deixo em casa.

Minha respiração falhou. Eu ir até o apartamento dele?

Senti minhas mãos suarem e o coração acelerar com essa ideia. Eu e ele ficaríamos sozinhos e minha mente gritava alto dentro de mim me dizendo o quanto isso era perigoso, já eu vinha pensando nesse par de olhos azuis mais do que deveria, e, consequentemente, não conseguia controlar minhas emoções quando na sua presença.

Mas que mal poderia acontecer? Enzo é só meu amigo e ele sabe disso, deixei claro o suficiente para que nada ocorra entre nós novamente, não é? A não ser que eu faça alguma coisa. A não ser que me dê outra daquela loucura e experimente de seus lábios outra vez.

Afasto os pensamentos no mesmo instante. Irei me conter diante esse homem ou não me chamo Lívia Diniz.

Com isso em mente, aceno em positivo (mesmo querendo dizer não), proferindo:

— Vinte minutos. É tudo que eu tenho para ficar no seu apartamento. Amanhã tenho faculdade cedo.

Ele acenou sorrindo. Saímos do bar, compramos dois x-salada em um carrinho de lanche na esquina e seguimos para seu apartamento, não muito distante dali.

Ao chegarmos, ele arrumou a mesa e trouxe prato, copos e refrigerante pra acompanhar.

Enquanto Enzo preparava tudo, observei sua moradia, atenta a cada detalhe. Até ali o cheiro de seu perfume meio amadeirado, meio cítrico pairava no ar.

— Vem – Enzo me chamou e eu fui até a cozinha. No percurso percebi uma porta aberta e reparei que era seu quarto.

Ali que ele e Vic transaram?, de repente me peguei fazendo essa pergunta a mim mesma, seguido de uma pontada de um incômodo. Seria ciúmes?

— Você está bem? – Sua voz me trouxe de volta à realidade. Enzo me olhava apoiando as mãos em uma cadeira que já estava afastada da mesa. Sorri e me sentei, agradecendo logo após.

— Sim – sorri pequeno e ele se sentou em minha frente.

O cheiro do lanche abriu meu apetite. Cortei nossos lanches ao meio e Enzo nos serviu de refrigerante de cola. Comemos e conversamos pouco, mas, estranhamente, havia uma atmosfera insólita entre nós. Enzo parecia tenso, nervoso. Não sabia explicar por que ele estava se sentindo assim, mas também não fui atrevida o suficiente para lhe perguntar o que o incomodava. Logo, terminamos e eu o ajudei com a louça, mesmo Enzo insistindo que não era necessário.

— O que você queria conversar? – Perguntei secando as mãos enquanto ele guardava o último copo.

Enzo Bitencourt se virou e me encarou. Seus olhos estavam tímidos e ele pigarreou antes de dizer.

— Lívia... Eu... — Sua voz trepidou um pouco antes de finalmente conseguir dizer: — Eu gosto de você. E não quero que sejamos apenas amigos. Eu quero mais que isso. Quero que seja minha namorada.

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