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Capítulo 14 - LÍVIA

UM SENTIMENTO DE RAIVA quase dominou meu corpo quando me deparei com aquele par de olhos azuis cretinos e sedutores. Minha raiva maior, não sabia se estava no fato de não o ter reconhecido ou se era porque eu havia me deitado com ele novamente, quando jurei para mim mesma que Alfredo Hauser nunca mais sequer chegaria perto de mim.

Acontece que o Cretino, em dez anos, mudou. Mudou muito. Tanto, a ponto de não o reconhecer. Os cabelos médios foram substituídos por um penteado curto e volumoso, mas extremamente elegante nele; a barba por fazer deu lugar à uma barba cheia e bem aparada, conferindo-lhe uma fisionomia ao mesmo tempo viril, máscula e madura. As roupas despojadas e casuais juvenis foram trocadas por terno sob medida, que delineava perfeitamente seu corpo saudável. A voz parecia mais forte e rouca, o corpo alargou-se e, mesmo que ainda estivesse com seus 1,88 metros, achei que estava mais alto do que eu realmente me lembrava.

Durante o jantar de sua recepção, somado ao nosso encontro na boate, também pude reparar que Alfredo Hauser não mudara apenas fisicamente, mas sua postura era outra. Parecia mais elegante, refinado, charmoso... E de fato, ele era.

Se eu me encantei pelo deus grego, no instante em que soube sua verdadeira identidade só o que senti foi raiva, arrependimento e uma mistura de sentimentos que não sei explicar. E ainda que suas canalhices tenham sido cometidas dez anos atrás, e eu afirme estoicamente que Alfredo já não significa nada em minha vida, continua existindo uma mágoa perpétua por tudo o que ele me fez. E é por esse mesmo motivo que fui evasiva, fria e evitei alongar nossas conversas.

Querendo apenas esquecer toda essa reviravolta que me acometeu, aceitei sair com Henrique depois do jantar na casa de sua mãe. Demos uma boa quantia para que Karlita ficasse com Enzo para nós e, mais uma vez, passamos a noite juntos.

Ao amanhecer do dia, meu celular despertou, no seu horário programado, mas eu o desliguei e rolei na cama, necessitando de mais alguns minutinhos de sono. Senti os braços de Henrique me envolverem, e eu sorri de olhos fechados, aproveitando a sensação boa que o ato me propiciou. Ele ainda cheirava a suor da noite passada, um aroma forte, másculo e delicioso ao meu olfato. Deitei em seu peito largo e suas mãos instantaneamente afagaram meus cabelos, como é de seu costume. Henrique sempre foi bom para mim, mas meu coração é idiota o suficiente para não se apaixonar verdadeiramente por um homem como ele. O máximo que eu pude chegar a sentir foi um enorme sentimento de carinho e gratidão.

Ainda assim, eu gostava dos nossos encontros porque Henrique sempre fora carinhoso, atencioso, paciente e, claro, bom de cama.

Voltamos a dormir e só acordamos duas horas depois. Henrique sobressaltou da cama e buscou rapidamente pelas roupas, entrou no chuveiro e tomou um banho em tempo recorde. Enquanto isso, preparei apenas um café preto, e quando o banheiro foi liberado, também me banhei rapidamente. Já se passavam das dez da manhã e nós dois deveríamos estar na Hauser Alimentícia.

Sai enrolada na toalha e, na sala, Henrique falava ao telefone com Jéssica, uma das assistentes, informando que chegaríamos tarde e pedindo para que Carmen fosse avisada sobre nosso atraso. Encerrando a ligação, ele me vê e sorri, caminhando até mim e me beijando delicadamente nos lábios.

— Desculpe, mas meu celular descarregou e eu precisava ligar para avisar por que ainda não aparecemos na empresa.

— Não se preocupe, você já é de casa — tranquilizei-o enquanto me vestia.

Henrique sorriu, um sorriso pequeno, mas sincero, e ficou parado à porta me observando trocar de roupa rapidamente. Apesar do nosso atraso, a paciência dele não se abatia. Tomamos um café preto e saímos. No caminho, Henrique se lembrou de que precisava levar Enzo à sorveteria.

— Você vem conosco? — Perguntou sem desviar a atenção do volante.

— Estou atrasada, Henri. Preciso trabalhar. Outra hora. — Contesto arrumando os cabelos em uma trança embutida.

— Vamos lá, Lívia. É coisa rápida. Tomamos o sorvete com ele, o deixo na escola e depois seguimos juntos para a empresa. Sabe que mamãe não irá se importar.

Ele me olha com uma expressão divertida desenhada nos traços perfeitos. Diante a seu olhar, sinto-me cedendo, mesmo com tudo me forçando contra a isso, já que eu tenho meus compromissos com dona Carmen, e odeio chegar atrasada na empresa, principalmente depois de uma noite com Henrique.

— Está bem — acabo rendendo-me ao seu pedido.

Henrique abre um sorriso ainda maior de satisfação e volta sua atenção à estrada, enquanto me diz como nossa noite foi agradável. Não posso deixar de concordar e de sorrir ao me recordar da taça de vinho sobre a cama, algumas barras de chocolate que ele sabe que eu gosto, das carícias trocadas, dos momentos de risada.

Um pequeno aperto se faz em meu peito, pois sei que Henrique faz isso tudo na vã esperança de que um dia possa me reconquistar, ter de volta o amor puro e ingênuo que senti por ele no passado. E mesmo após uma década desde tudo, ele segue insistindo, segue esperançoso, mesmo com todas as marcas que causei nele, das feridas, do sofrimento, de relacionamentos que, indiretamente, eu o privei. Por mais que ele saiba que nossa relação é uma relação fracassada, Henrique tem fé. E eu sei que nossos encontros, esse relacionamento aberto que temos há algum tempo, é somente o modo que encontrou para me ter por perto. E o que mais me dói é saber que posso magoá-lo outra vez, que não há mais esperança para amá-lo como da primeira vez, que estou lhe dando falsas esperanças.

Ainda assim, também persisto nessa relação. Talvez porque eu também me sinta bem, porque também gosto da sua presença e o quero por perto, porque talvez eu compartilhe da mesma vã esperança dele.

Volto à realidade e disperso meus pensamentos. Bato minhas mãos pelo bolso da calça a procura do meu celular, mas não o encontro. Muxoxo um resmungo e Henrique me questiona.

— Meu celular. Deixei em casa.

— Na volta a gente busca.

Esbocei minha satisfação em vê-lo ser tão prestativo e paciente, uma das suas qualidades que tanto admiro nele.

Chegamos à casa de dona Carmen e entrei já chamando por Enzo, pois morria de saudade do meu pequeno arteiro. Karlita veio a nosso encontro informando que meu filho não estava.

— Dona Carmen saiu com ele? — Questionei, sem entender o porquê de sua ausência.

— Não. Alfredo o levou para dar uma volta. Eles foram à sorveteria logo aí em frente.

— O quê? — Nossas vozes saíram em uníssono, a minha e a de Henrique.

Uma raiva misturada à preocupação subiu por minhas veias e eu me virei, saindo e deixando Karlita falando sozinha. Eu não costumo ser mal-educada com ninguém, mas só de imaginar meu filho com Alfredo me fez agir sem nem pensar direito. Marchei até o carro e vi pelo canto do olho que Henrique me alcançou.

— Lívia, espera.

— Quem seu irmão pensa que é? — Bradei alterada por essa intromissão do Cretino. — Mal chegou ao Brasil e já acha que pode fazer o que bem entender?

— Temos que manter a calma, Li.

Calma era uma coisa que eu não conseguia sentir ao pensar que Alfredo e Enzo estavam juntos. Respirei fundo e entrei no carro. Estava rezando e pedindo a Deus paciência, porque se ele me desse forças eu ia apertar o pescoço do Alfredo!

***

Quando Henrique estacionou em frente à sorveteria, de primeira eu vi o carro do Cretino, e lá dentro, Enzo estava todo feliz tomando um sorvete. E com três bolas!

Saltei de dentro do carro e caminhei o mais rápido que pude, e mesmo que eu tentasse acalmar meu coração acelerado para não sair gritando com o desgraçado do Hauser, minha vontade era de esganá-lo!

— ENZO! — Chamei por ele que, um pouco assustado com meu tom de voz, me encarou com seus pequenos olhos atônitos.

Ignorei a presença de Alfredo e fui até meu filho, conferindo seu corpo ao passo que eu lhe questionava se se sentia bem. Enzo, assustado com minha reação, apenas abanava a cabeça em positivo. Como ele é alérgico a certos alimentos, temi que o maldito do Alfredo, sem conhecimento de nada sobre o menino, tivesse dado algum desses produtos para que ele comesse. Aliviada, vendo que meu filho estava saudável, olhei para seu tio insolente. Uma vontade imensa de arrancar aqueles malditos olhos azuis tomou conta de mim. Fiz um exercício mental e consegui controlar minha vontade de estrangulá-lo, mas, em minha voz, deixei bem explícito a ira que possuía cada célula do meu corpo.

— Com que autorização você pega o meu filho?

Alfredo olhou de mim para o irmão, visivelmente desconcertado com o momento. Ele pestanejou um segundo antes de prosseguir:

— Desculpe, eu só vim trazer o garoto para tomar um sorvete. Não achei que fosse fazer algum mal.

— O conheceu ontem, Alfredo! ONTEM! Acha que tem algum direito para fazer isso? — Protesto altamente irritada.

— Lívia...

— Cale a boca! Você é mesmo um irresponsável. Eu poderia te queixar na polícia por sequestro! — Falo alto e as atenções de todos no estabelecimento se voltam para nós quatro. Eu estava muito nervosa e só me sentiria mais calma se enforcasse o Cretino.

Hauser me encara com uma expressão espantada e incrédula. Aperta o maxilar como se reprimisse um sentimento de fúria.

— Eu não o sequestrei — se defende.

— Calculista como é, espero qualquer coisa vinda de você.

Seus olhos azuis se fixam em mim. Eu sei que estava sendo estúpida e rígida demais com ele, e sei que Alfredo se indignava com minhas palavras proferidas. Todavia, a raiva crescia gradualmente em meu âmago, sendo incapaz de me conter.

— Tem razão. Me perdoe por ter trazido seu filho sem seu consentimento. Isso não irá se repetir — diz friamente. Pega a carteira em cima da mesa, tira algumas notas e as deixa ali. Passa por nós sem pronunciar nada e vai embora.

Respiro fundo e olho Henrique que acompanhou tudo sem dizer nada. Principalmente porque eu nem dei chance que ele dissesse alguma coisa ao irmão.

— Enzo, vamos embora, agora! — Ordeno e ele passa por mim de cabeça baixa.

Voltamos para meu apartamento e durante o percurso consigo esvair a cólera momentânea que me apossou. Os olhinhos pequeninos e inocentes de Enzo brilhando entristecidos apertou meu coração. Desculpei-me com ele por ter sido rude, eu nunca poderia ficar zangada ou culpá-lo por estar com o irresponsável do tio. Enzo é só uma criança inocente e cheia de vida.

Ao chegarmos, mandei-o logo para o banho e preparei o almoço. Nós três comemos juntos e eu aproveitei o momento para saber como tinha sido o passeio deles. Enzo me falou muito bem de Alfredo, me disse que o tio tinha deixado que ele escolhesse livremente como e quanto queria comer do sorvete. Disse que fora atencioso e engraçado, que conversaram entre a casa da avó e a sorveteria e eu quis saber o quê. Se Alfredo tivesse usando meu filho para alguma coisa, eu não pensaria duas vezes em arrancar seus olhos.

— Ele me ensinou algumas palavras em francês —contou-me todo animado.

Pronto, só falta ter ensinado palavrões para que eu não entenda nada, pensei comigo mesma.

— E o que foi que ele te ensinou?

Merci é obrigado, chère é querido ou querida e s'il vous plaît é por favor — este último tentou pronunciar, mas não conseguiu e se engasgou.

Henrique e eu rimos de sua tentativa fracassada, o deixando bravo. Senti-me aliviada que Alfredo não estava ensinando nada demais ao meu filho. Enzo seguiu relatando sobre sua breve saída com o tio e suas impressões com Alfredo. E pelo seu entusiasmo, notei como Enzo realmente gostou da companhia do tio. E, na sua inocência, chegou até a perguntar ao pai se sabia se Alfredo gostava de jogar futebol, para que os três pudessem marcar uma partida na casa da avó.

— Por que você mesmo não perguntou isso a ele?

— Porque não tive tempo. Você apareceu toda nervosinha me mandando vir embora. — Responde-me mal-educado e Henrique, que deveria repreendê-lo, gargalhou. Eu apenas o fuzilo com o olhar.

Apressei os dois homens para terminarmos logo a refeição, pois eu e Henrique deveríamos seguir para a Hauser Alimentícia o mais rápido possível, e Enzo, para o colégio.

Henrique se prontificou a deixar o filho na escola e combinamos de nos vermos na empresa. Despedi-me de Enzo com um beijo no rosto, e quando me voltei a Henrique ele tinha um sorrisinho curvado nos lábios. Beijei-lhe rapidamente no canto da boca e vi seus olhos castanhos resplandecerem.

***

Assim que pus os pés no andar da Presidência me deparei com Alfredo conhecendo as instalações do prédio. Quando o vi, as palavras "deus", "grego" e "cretino" passaram rapidamente por minha mente.

Ele está elegante e atraentemente lindo dentro de um terno preto e gravata vinho, seu penteado bagunçado e fixado com um pouco de gel lhe dá um ar jovem, mas sem deixar de passar certa maturidade e responsabilidade. Descontraidamente, ele conversa com o Diretor do grupo Hauser, um sorriso largo estampado no rosto, permitindo estar à mostra os dentes brancos e perfeitamente alinhados fazendo contraste com seu nariz acentuado, seus lábios finos e levemente rosados.

Repreendo-me por mentalmente estar lhe admirando quando, na verdade, eu deveria odiá-lo e querer apertar aquele pescoço lindo, cheiroso e másculo.

Volto ao mundo real quando o diretor percebe minha presença no andar e se vira em minha direção, o que faz Alfredo segui-lo. Nossos olhares se cruzam numa explosão tensa e ao mesmo tempo intensa, os olhos azuis sedutores e hipnotizantes me encaram por um segundo antes de ele desviar o olhar e me dar as costas, indo para alguma parte do edifício da empresa, acompanhado de Geraldo.

Respirei fundo e fui até a sala de dona Carmen. Bati a porta e entrei quando ela solicitou.

— Oi, querida. — Me cumprimentou com um sorriso amigável, me olhando por cima dos seus óculos. Fez um movimento de mão para que eu me aproximasse.

— Oi, dona Carmen. Desculpe a demora tive um imprevisto e...

— Não se preocupe, Jéssica me avisou. E espero que o fato de Enzo e Alfredo terem saído juntos não a incomode. Eu até tentei impedi-lo, mas não surtiu efeito.

Tento esboçar um sorriso, no entanto não lhe respondo nada. Sento-me à sua frente e anoto os trabalhos que precisam ser feitos, conforme dona Carmen Hauser vai me solicitando. Vez ou outra, meus olhos se perdem para um canto de sua sala onde há um porta-retratos do filho caçula. Alfredo tem um sorriso cretino enquanto abraça a mãe frente ao Arco do Triunfo, em Paris. Brevemente me recordo da última viagem que Carmen fizera à França para visitá-lo. Tinha sido há pelo menos três anos.

Divago por um minuto reparando no sorriso canalha que se esboça nos lábios finos. Por um segundo nostálgico volto dez anos no tempo e me recordo do riso contagiante dele.

— Não se esqueça de que as reuniões da semana que vem deverão ser todas direcionadas ao Alfredo. — Carmen me puxa para a vida real e, ainda perdida, apenas aceno positivamente.

— Bom, eu vou colocar meu serviço em dia. — Recomponho minha postura e não me deixo mais me levar pelo estúpido sorriso lindo. Carmen ressalta que precisa da sua agenda atualizada até o fim da tarde.

Retirava-me de sua sala quando trombei com Alfredo Cretino Deus Grego Hauser na porta.

Eu não teria mais apelidos para esse canalha.

Ergui o olhar para mirar dentro da íris de azul intenso. Por causa da nossa diferença de estatura, ele baixou os seus para me encarar. Eu diria que sua expressão estaria neutra, mas os traços em sua face revelam, na verdade, uma fisionomia dura. Talvez porque eu o tratei com rispidez hoje mais cedo.

— Mamãe está? — É sucinto e seco.

— Sim.

— Ocupada?

— Não.

Sem dizer mais nada, Alfredo passa por mim e está prestes a bater à porta quando eu o chamo.

— Tem um minuto? Precisamos conversar.

Ele me fita por um instante, semicerrando os olhos em minha direção, talvez esteja estranhando meu pedido ou ponderando se aceita falar comigo ou não, visto que, desde nosso reencontro repentino, não houve diálogo realmente civilizado, muito, admito, por oposição minha. Mas agora é necessário esclarecer algumas coisas.

Como resposta, Alfredo apenas acena em positivo.

— Venha, vamos até minha sala — dou-lhe as costas e saio caminhando.

Seguimos até meu escritório, Alfredo sempre mudo e sua postura exalando um certo ar de superioridade e arrogância. Entrei e fui direto para minha mesa, mas preferi apenas me recostar a ela. Olhamo-nos por dois segundos, ele ainda quieto, com certeza esperando que eu dissesse, afinal, o que queria com ele.

— Queria me desculpar com você — profiro e Alfredo exibe um esgar de surpresa. — Pelo modo como tratei você na sorveteria. Eu estava nervosa.

As mãos dele ajeitam a gravata.

— Seu filho não estava com nenhum estranho. — Rebate friamente.

— Eu sei, Alfredo, mas você não entende...

— O que é que eu tenho para entender, Lívia? O garoto estava esperando o pai para levá-lo à sorveteria, mas Henrique não apareceu. Eu até o entendo, visto que estava ocupado demais com você — cuspiu suas palavras sem medi-las.

Instantaneamente senti minha cara ruborizar, entendendo claramente a que ele se referia, e concluindo que o Cretino desgraçado ouvira minha conversa com Henrique noite passada na cozinha da mansão Hauser. Já me preparava para respondê-lo quando fui impedida, pois ele continuou seu discurso arrogante:

— Então eu só me prontifiquei a levá-lo até lá, pagar-lhe um sorvete e depois o devolver onde o peguei. Mas fui chamado de sequestrador. — Forçou um sorriso, visivelmente incomodado como a palavra foi injustamente dirigida a ele.

— Escuta aqui, senhor Hauser —Minha voz soou alta e carregada. Meu ódio por sua petulância e insolência começava a subir. — Você conheceu o Enzo ontem! On-tem! O que sabe sobre o menino? Absolutamente nada! Não sabe se ele é alérgico a alguma coisa, se tem tolerância a algum tipo de alimento, não sabe se ele toma remédio ou se tem ataques de convulsão! E se ele tem crises de histeria? Como agiria com ele? Você não o conhece! Eu não fiquei irritada com o fato de levá-lo a sorveteria, mas porque não teve o meu consentimento, minhas instruções de como lidar com ele, Alfredo. Enzo é hiperativo, não para um minuto. Toda atenção em cima dele ainda é pouco. Enzo poderia sair correndo rua a fora quando você desse as costas para jogar um papel no lixo. Mas você não sabe disso porque o conheceu ontem! A taxa de açúcar dele está alta e é por isso que estamos evitando que ele coma muitos doces e isso inclui em dar-lhe apenas uma bola de sorvete e mais nada. Mas você não sabia disso porque o conheceu ontem! E entupiu o garoto com seis bolas de sorvete e com complementos!

Alfredo faz menção de se pronunciar, mas eu não permito. Sinto muita raiva dentro do meu peito e preciso descarregá-la de alguma forma. E nada melhor que fazer isto na pessoa que me incitou a ela.

— Enzo tem alergia a esses sucos que vem em caixinhas, o de limão então, nem se fala. E por mais que ele saiba disso, se você o oferecesse ou ele pedisse, Enzo tomaria do mesmo jeito, uma hora depois estaria passando mal e cheio de mancha e bolhas pela pele. Mas você não sabe disso porque o conheceu ontem! — Suspiro pesadamente e controlo minha respiração exasperando toda minha cólera. — Eu só fiquei preocupada que acontecesse alguma coisa com meu filho. Eu sei que jamais faria algo contra seu próprio sobrinho, nem que é um irresponsável que o deixaria a deus-dará, mas é que você não sabe como lidar com Enzo, Alfredo. Era só isso. O resto que eu te falei foi de momento, eu estava nervosa. Por isso queria me desculpar.

Alfredo está mudo, me encarando com uma ruga entre suas sobrancelhas. Sua fisionomia não é dura ou rígida, mas abalada. Acredito que as coisas que lhe disse estão fazendo efeito e ele, pela primeira vez, está raciocinando sobre o que fez.

— Eu quem te peço perdão — sua voz sai quase inaudível — Eu deveria ter pensado nisso, eu... Desculpe-me por tudo. Como te tratei agora há pouco e por ter tirado seu filho sem sua autorização. Não me perdoaria nunca se acontecesse algo a ele por essa imprudência.

— Tudo bem, Alfredo. Eu entendo que tinha as melhores intenções com Enzo. Nem quero te privar de passar momentos assim com ele, mas, por favor, não faça mais isso. Ou vou arrancar seus olhos.

Inesperadamente ele gargalha alto. Uma risada contagiante e maravilhosa que quase me faz rir junto com ele. Todavia, lembro-me de que ele é um canalha imbecil e mantenho minha postura em sua frente.

— Aliás — continuo —, Enzo teceu elogios a você. E já até me perguntou se sabe jogar futebol. Ele quer uma partida a todo custo.

Alfredo abre um sorriso convencido.

— Diga a Enzo que sou o melhor atacante e que eu o desafio.

— Aceito em nome de Enzo Hauser.

Outro sorriso largo é posto em sua face. E dessa vez não sou capaz de me conter.

Sorrio junto com esse maldito cretino.


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