Capítulo 11 - ALFREDO - (SEGUNDA PARTE)
DEZ ANOS DEPOIS, PARIS, FRANÇA
Só para variar eu levava uma surra para dar o nó na gravata. Frente ao espelho do quarto de hotel, com muita dificuldade, eu ajeitava minha roupa me preparando para sair, ir embora e deixá-la ali, dormindo, sozinha e sem mais notícias minhas.
Mas percebi que meus planos de sair sem ser notado iriam por água abaixo quando aquele tom angelical me chamou:
— Pierre?! — Naquele momento eu era Pierre, mas já fui León, Carlo, Jean...
Olhei-a do espelho e forcei um sorriso enquanto ainda tentava, desastrosamente, dar o nó na maldita gravata. Sophie Dubois estava acordada, um sorriso meigo e sonolento esboçava nos lábios bonitos. Usando uma camisola quase transparente, veio até mim a passadas lentas, virou-me em sua direção, segurou minha gravata e deu o nó.
— Bonjour, mon cher — cumprimentou puxando-me pela gravata e me beijando em seguida.
Sophie é uma mulher linda e tentadora. Tem os olhos cor de mel, cabelos castanhos e compridos, às vezes está ondulado, outras, lisos, mas em cada caso a deixa maravilhosamente atraente. Seu corpo curvilíneo é moreno e sensual. Ainda que Sophie seja a expressão exata de perfeição, ela foi apenas mais uma. E eu precisava me livrar dela.
Sophie e eu nos conhecemos há duas semanas. Ela é secretária de um empresário que está interessado em investir no café que eu administro no centro de Paris para criarmos uma franquia da empresa. Quando chegava no restaurante para nossa primeira reunião, eu vi aquela beldade sentada ao lado de François. Os cabelos presos em um rabo-de-cavalo baixo, a saia branca justa mostrava as pernas cruzadas e sensuais, o decote em v era discreto, mas ainda assim era possível ver seus seios belos, e o óculos no rosto lhe dava um ar inteligente e sexy.
Foi atração sexual à primeira vista.
Imediatamente planejei uma maneira de conhece-la. E o primeiro passo foi ocultar minha verdadeira identidade. Deixei de ser Alfredo Joseph Hauser, dono da Avenue Coffee, para ser Pierre Deveraux, gerente da cafeteria. E quinze dias depois, sem muita dificuldade, eu a tive em meus braços. Isso aconteceu exatamente na noite de ontem. Então, era hora de dispensá-la.
— Bonjour, ma chère — sorri e correspondi ao seu beijo.
— Já está indo embora, querido? — Perguntou-me em francês
— Sabe que eu tenho meus compromissos — respondi pegando meu paletó e o vestindo.
— Não pode ficar só mais um pouquinho? — Fez biquinho e enrolou os dedos em minha gravata.
— Eu adoraria ficar, mon amour. Mas eu realmente não posso. Te vejo hoje à noite, tudo bem?
— Como faremos quando eu voltar a Monte Carlo? Mesmo meu patrão fechando negócio com o seu, eu precisarei voltar — me questionou de repente.
— Sophie, vamos pensar nisso depois — contornei o assunto e beijei seus lábios como forma de despedida. Agarrei minha maleta sobre a poltrona — Mas, agora, eu realmente preciso ir.
De súbito Sophie me trouxe pela gravata e me beijou com intensidade.
— Já estou com saudades — declarou com um sussurro sensual e ao mesmo tempo manhoso, quase me arrastando para cama outra vez.
Esquivo-me do seu beijo, olhando no relógio.
— Chère, estou atrasado. Prepare um jantar e esteja pronta para nos amarmos quando eu voltar — a beijo nos lábios pela última vez e saio, na intenção de não mais voltar.
***
Dirigia para a minha cafeteria onde meu sócio, Bernardo Dousseau, me esperava. A Avenue Coffe tem oito anos e é um dos cafés mais refinados de Paris. Meu sonho é que chegue a ser um terço do que o Le Procope é. Sei que é um sonho grande e de probabilidades pequenas, mas eu ainda sonho com isso.
No meu segundo ano de faculdade, mamãe me ajudou financeiramente para abrir minha própria empresa, depois de passar pelo menos um ano estudando os melhores ramos. Bernardo, na época meu colega de quarto e faculdade, também ajudou com o capital inicial. Trabalhamos duro para conseguirmos chegar onde estamos hoje. O capital de giro que Carmen Hauser investiu foi devolvido com juros e multa e eu tinha orgulho de dizer que o meu café foi fruto do meu suor. Meu e de Bernardo, claro.
Já tem dez anos que estou na França. No começo fora difícil. Eu não conhecia ninguém e não falava nada de francês. Mamãe cortou muitas regalias e eu tive que me virar como pude. Com o dinheiro do estágio, que eu iniciei uma semana após as aulas começarem, paguei um professor para me ajudar com o idioma. Encontrei muita dificuldade nos estudos por conta de não saber nada sobre o idioma local e durante os três primeiros semestres do curso fui reprovado na maioria das matérias, que eu precisei recuperar nas férias.
Pelos quatro semestres iniciais, mamãe me mandava uma quantia exata para custear o material, livros e aluguel do apartamento (mas só metade, já que Bernardo me ajudava). Para comida, roupas e outras despesas eu tirava do salário que eu tinha como estagiário. Foi um tempo difícil, já que eu estava acostumado a ter tudo em mão.
Encarar trabalho e estudo, ainda mais num país de idioma complemente desconhecido para mim, foi árduo, mas compensador no final. Aprendi a dar mais valor no meu dinheiro ao mesmo tempo que me tornei mais responsável, o que me ajudou muito com minhas conquistas. Mulheres têm uma queda por homens bem-sucedidos, de terno e responsável. Eu, agora, sou isso tudo.
Não me preocupei com Sophie. Eu sei que se não aparecer — o que de fato acontecerá — ela irá me procurar no café. Acontece que quando Sophie chegar lá, eu já não mais estarei na França. Hoje à noite estou voltando para o Brasil.
Meus anos aqui foram ininterruptos. Sei que mamãe sugeriu que eu voltasse nas férias e no natal, mas, no primeiro ano, eu tinha escolhido ficar e aprofundar meus estudos no francês, e a partir do segundo ano, por conta da minha empresa, ainda mais nos primeiros anos, eu tive de administrá-la. Ocasionalmente minha mãe veio do Brasil para cá e passava três ou quatro dias, já que ela também tinha a Hauser para presidir.
Cheguei na cafeteria que, naquele momento, estava bem movimentada. Cumprimentei alguns clientes conhecidos e os funcionários. Fui até a sala da gerência e bati à porta.
— Entre, la porte est ouverte. — Disse Bernardo de dentro da sala.
Assim que abri a porta, meu sócio e amigo estava sentado na sua luxuosa cadeira giratória, atrás de uma mesa de vidro, mexendo em alguns papéis que logo foram para a gaveta ao me ver.
— Olha só quem resolveu aparecer — ironizou em tom amigável e em português com sotaque. — O Ilustre Mr. Alfred.
Ri enquanto me sentava à cadeira frente a sua mesa.
— Você não sabe a noite que eu tive com a garota de Monte Carlo. — Confessei com um sorriso malicioso.
Ele me encarou de mãos unidas. Se recostou à cadeira.
— Sabe que isso pode prejudicar nossos negócios, não é? Ainda não fechamos com o dono da Boulevard. — Advertiu, já sabendo que depois da primeira transa eu sempre as abandonava.
— Quem disse? — Indaguei com um sorriso e tirei de dentro da minha maleta um contrato. — Sophie me entregou ontem, já assinado. Só falta as nossas assinaturas — cruzei as pernas e passei o documento para ele — Não seria tão idiota de enganar a secretária de um investidor sem ter um contrato garantido,
— Você não vale nada, Hauser — pronunciou entre risos olhando para o papel e assinando em seguida. Passou para mim e eu fiz o mesmo. — E nossa filial no Brasil, pretende mesmo abrir?
— Claro. É por isso que estou voltando para lá.
— Achei que fosse por causa da empresa da sua família.
— Também, Bernardo. Minha volta está prevista para setembro ou outubro desse ano. Resolvi voltar mais cedo por causa dessa filial que estamos planejando e aproveito para fazer uma surpresa.
— Viaja esta noite, correto? — Eu já o havia notificado com antecedência.
— Sim, essa noite. Pode cuidar da Avenue sozinho?
— Não sou um inútil como você — alegou num mal humor teatral, o que me fez gargalhar alto e ele me olhou sério, mas não por muito tempo.
Bernardo Dousseau é meu melhor — e provavelmente o único — amigo que eu fiz na França (e quem sabe até na vida). Ele é bem-humorado e um pouco extravagante. Filho de um francês com uma brasileira, tem nacionalidade dupla, mas vive na França desde os 15 anos. E ele já tem 35. Esses vinte anos o fizeram quase perder o sotaque brasileiro. Principalmente por ter de se comunicar mais com o idioma local.
— Não se esqueça de me passar sua conta bancária no Brasil para que eu faça os depósitos mensais do lucro do café — solicitou.
— Sim, senhor. Bom, eu só vim te deixar o contrato do Boulevard. Vou pra casa me preparar para a viagem.
— Avoir un bon retour — desejou se levantando e me dando um abraço fraternal.
— Merci beaucoup — agradeci e me retirei em seguida.
O bom filho a casa retorna.
Ou quase isso.
***
Eu já estava em minha terra natal havia uma semana. Após dez anos eu voltava a respirar ares brasileiros. Nunca pensei que sentiria tanta falta do meu lar, da minha família, das minhas origens. E por mais que houvesse uma vontade imensa de rever minha mãe, Karlita e até mesmo o insuportável do meu irmão, eu ainda não poderia. Primeiro porque queria me organizar e me reestabelecer na cidade. E foi exatamente o que eu fiz. Procurei por um apartamento, móveis e automóvel. E enquanto toda a papelada fosse processada, eu ficaria num quarto de hotel. Só então com minha vida estabelecida é que daria a eles a honra do meu retorno.
Então, enquanto eu não lhes agracio com isso, resolvo me divertir um pouco. Com jeans confortáveis e uma camisa branca desabotoada nos primeiros botões, sigo para uma boate famosa e movimentada.
As luzes piscam acima da minha cabeça enquanto abro caminho pela multidão. A música é alta e tem batidas fortes. Apesar de boates não serem bem o meu tipo de diversão favorito, são nesses lugares que se concentra o maior número de mulheres. E mulher nunca é demais.
Chegando até o bar me sento num dos banquinhos altos e peço uma bebida. Logo no primeiro segundo, uma mulher, acompanhada da amiga, se senta ao meu lado direito, com apenas dois assentos vazios nos separando. A formosura é extremamente linda. Os cabelos alourados soltos caem ondulados até seus ombros, o rosto está preenchido por uma maquiagem um pouco carregada, mas que ainda assim a deixa muito sexy. Discretamente corro meus olhos para seu corpo e fixo-me em suas pernas despidas. Ela traja uma saia branca com o cós na altura do umbigo que marca bem suas curvas sensuais; a blusa preta é transparente nas mangas e no colo, o que lhe dá um ar romântico e ao mesmo tempo sedutor.
Baixo meus olhos para o uísque que aprecio e me limito a um sorriso enquanto meu indicador contorna a borda do copo. E pela minha visão periférica, percebo que a amiga da exuberante mulher cochicha alguma coisa em seu ouvido e as duas me olham rapidamente. Notando seus olhares sobre mim, não tenho receio de virar o pescoço na direção delas e exibir um sorriso de canto.
A mulher também sorri para mim, levando sua bebida aos lábios fortemente avermelhados. Um sorriso que me deixa extasiado e quase, eu diria, excitado. Desvio meus olhos outra vez para meu copo de bebida, ponderando se tento uma aproximação ou não.
Sinto-me completamente atraído para olhá-la novamente, e quando o faço, sua amiga já se foi e ela está sozinha. As pernas deslumbrantes foram cruzadas e ela continua a flertar comigo. Decidido, eu me levanto e sento-me no banco ao seu lado
— Eu poderia te pagar uma bebida? — Pergunto mirando dentro dos olhos castanhos. E tão perto dela noto como são hipnotizadores.
A mulher me oferece um pequeno sorriso e apoia o copo sobre o descanso com o logotipo da boate.
— Depende. Se está me oferecendo uma bebida porque é um homem gentil e educado, sim, você pode. Se sua intenção é querer me levar para cama, você também pode, mas vou logo avisando que não funciona comigo.
Não deixo de abrir um largo sorriso diante às suas palavras. Confesso que tenho uma pequena queda por mulheres determinadas e arrogantes. É prazeroso conquista-las e vê-las desmoronando, deixando todo seu orgulho e arrogância de lado e se rendendo aos meus encantos.
— Bom, então te pagarei um gim com limão e gelo e você fica na dúvida se sou um cara educado ou se tenho outras intenções. Que tal?
A formosura apenas sorri e concorda. Peço ao barman uísque para mim e gim para ela. Sorvo um pequeno gole da minha nova dose e atento-me melhor aos seus traços e, por um segundo, tenho a impressão de que já a conheço. Por isso, digo:
— Por acaso nos conhecemos de algum lugar?
Ela me olha com um sorriso um pouco encabulado e também beberica seu gim.
— Essa é clichê. — Alega acreditando que eu realmente estou usando esse bordão para puxar algum assunto ou paquerá-la.
— Na verdade, eu tenho mesmo a impressão de que já te vi antes. Em algum lugar.
— Acho que não. — Nega tragando mais um pouco da sua bebida. — Eu me lembraria de um cara bonito como você.
Um sorriso de satisfação se manifesta em meu rosto.
— Vai me dizer o seu nome ou ficarei sem saber com quem sonharei essa noite? — Digo com um pouco de charme.
Novamente ela abre seu sorriso encantador para mim, me deixando cada vez mais fascinado.
— Pode me chamar de L.
— L?
— É a inicial do meu nome — explica-se. — Não me leve a mal, mas eu prefiro assim. Pelo menos por enquanto.
Rio um pouco e abano a cabeça.
— Nesse caso, prazer, L, sou A. — Apresento-me da mesma forma que ela e não contemos uma pequena risada. — Que tal fazermos um jogo? — Proponho e ela me olha com esquivança. — Teremos de adivinhar o nome um do outro baseando-nos apenas na inicial. Uma dose de vodca para cada palpite.
L parece ponderar minha oferta. Alguns segundos se passam e como resposta ela apenas chama o garçom e pede uma garrafa da bebida preferida dos russos.
— Você começa. — Diz, me servindo uma dose.
Viro a vodca goela abaixo antes de responder.
— L de... Letícia?
Ela ri graciosamente e se serve de vodca.
— Não. Minha vez. A de... Alexandre?
Nego com um movimento de cabeça e, rindo, ela bebe sua vodca expressando uma carranca engraçada. Repetimos o processo algumas vezes. Palpito por Luciana, Luana, Larissa, Lídia, Lua, Lorraine. Ela tenta Abelardo, Adalberto, Adolfo, Ângelo, Antônio, Antunes, e é claro que todas as suas tentativas, além de fracassadas, são também sátiras.
Depois de quase quinze copos de vodca, estamos levemente bêbados e ainda não sabemos o nome um do outro. A brincadeira nos rendeu muitas gargalhadas, principalmente quando começamos a proferir nomes completamente ilógicos, patéticos e engraçados.
E ainda que eu a conheça há apenas uma meia hora, L conseguiu me cativar. Além de muito bonita, de olhos castanhos sedutores e fascinantes, a pele branca e delicada, é uma mulher que me fez rir naturalmente em sua presença. O que poucas, admito, são capazes de tal façanha.
— Eu desisto — L profere batendo o copo sobre o balcão e levantando as mãos em rendimento. — Estou bêbada e minhas opções com "A" já acabaram.
— Talvez dançar nos refresque a memória — sugiro e olho sugestivamente para a pista de dança.
L acompanha meu olhar e se atenta um segundo ao centro do local. As batidas eletrônicas de uma música continuam reverberando pelas paredes escurecidas da boate. Com um sorriso ainda mais maravilhoso, ela assente, e quando percebo está caminhando em direção à multidão, e, ocasionalmente, olhando para trás de forma sensual. Nossos olhares se cruzam e eu me sinto atingido por um raio.
Sem pensar um segundo, sigo-a e logo a vejo remexendo seu corpo acompanhando os ritmos da música. As mãos se emaranham nos fios louros, os desalinhando e a deixando ainda mais sexy enquanto seus quadris se movem de um lado a outro. Ponho-me ao seu lado e acompanho seu compasso. O momento é divertido e não dominamos risos um para o outro e troca de olhares.
L é uma mulher extremamente sexy. Seu corpo se sacode em harmonia ao som que ressoa por todos os cantos. Seus cabelos se bagunçam com o movimento da cabeça, e as melenas alouradas que grudam em seu rosto a faz ficar mais sexy, mais linda, mais encantadora, mais excitante.
Com seu corpo tão perto do meu, sou capaz de sentir o cheiro forte de seu perfume. A excitação eletriza cada célula do meu organismo e meu corpo já começa a reagir. Preciso de L nos meus braços. Ainda essa noite. E nem me importo se não souber seu nome. Só preciso me perder nessas suas curvas esplêndidas e experimentar do seu beijo, do seu corpo.
De repente, ela fica de frente para mim, seus olhos castanhos que tanto estão me deixando em êxtase se encontram com os meus. L se aproxima mais, envolvendo seus longos braços em minha nuca. Baixo o olhar para mirar diretamente em seus lábios rubros pelo batom, sinto minha boca seca e tudo que quero é me perder nessa maravilha de lábios. Ergo novamente o olhar até me encontrar com sua íris tentadora, com seus olhos enigmáticos e misteriosos.
E aqui, ainda mais próximo dela, desse olhar meigo — e ao mesmo tempo confiante — outra vez a impressão de que a conheço me atinge forte.
Ela me dá um sorriso curto e move-se mais lentamente junto a mim. Voltando à realidade, sigo seus passos e até me arrisco a lhe tocar a cintura. Com meu toque, L apenas desenha um sorriso no rosto, é casto e meigo, lascivo e tentador ao mesmo tempo.
Não sou capaz de me recordar se em algum momento da minha vida eu me senti tão atraído e envolvido com uma mulher como está sendo agora. Talvez seja apenas momentâneo, uma atração sexual diferente, mas o certo a se dizer é que a coisa mais forte que eu senti e de que posso me recordar.
Ainda com nossos corpos se tocando ao som das batidas, L se vira deixando suas costas no meu peito, não para de balançar o torso contra mim, fazendo-me perder o controle de mim mesmo e sobre meu corpo. Levantando os braços, ela consegue laçar-me pela nuca mais uma vez. Com um sorriso prazeroso no rosto, seguro-a pela cintura, inclino-me em direção à curva do seu pescoço e inalo seu cheiro que está se tornando um vício para minhas narinas.
Não sei se é uma peça da minha cabeça ou se de fato ouvi, mas L deixa escapar um pequeno gemido estrangulado no instante exato do contato entre nossas peles. Minhas mãos a circundam com mais firmeza e meus quadris se amoldam no corpo dela com precisão. Até parece que fomos moldados um paro o outro.
Com nossos corpos completa e perfeitamente conectados, dançamos agarrados um ao outro. É uma dança harmônica, sensual, excitante, lasciva. Seu dorso contra o meu, seu aroma penetrando meu nariz, sua pele resvalando sobre a minha, tudo isso me deixa em êxtase. E durante esses instantes não sou um homem racional o suficiente para pensar, para me lembrar do meu nome, ou para saber onde estamos ou quem somos.
Só o que quero é permanecer assim com L. Nessa conexão boa e magnífica que está se sobrepondo à nós, nos tirando o sentido, o eixo e a razão. Inesperadamente sinto uma necessidade enorme dela. Não é apenas desejo sexual, não é somente caprichos do meu corpo. É algo além, que não consigo explicar. Só sei que preciso desesperadamente provar dos seus lábios, envolvê-la nos meus braços, fazermos sexo loucamente.
Subitamente L faz um giro rápido e abrupto, e novamente estamos frente a frente. Novamente estou me vendo preso a esse olhar, a esses olhos. Ela arqueja, assim como eu, não sei se por causa da dança ou por conta do tesão e do prazer que está gradativamente rondando a atmosfera.
Como imãs atraídos, beijamo-nos simultaneamente, sendo, dessa maneira, impossível saber quem deu a iniciativa.
Meu corpo explode em sensações que só posso descrever como únicas. Mais uma vez não tenho a capacidade de explicar o que se passa em meu âmago, tão diferente é a sensação, tão desconhecido é esse sentimento.
A boca de L é doce e macia. Seu beijo é molhado e esplêndido, e a cada movimento da sua boca contra a minha, minha excitação apenas cresce, meu corpo responde prontamente e o espaço nas minhas calças se torna pequeno.
Ainda com nossas bocas coladas, diviso, logo à frente, um corredor que leva aos sanitários. Um pouco alucinado com o momento, uma ideia insana se passa pela minha cabeça e quando dou por mim já estou a empurrando de encontro a multidão e abrindo caminho por entre as pessoas, em direção ao corredor de paredes pretas e vermelhas.
Percebendo minha intenção, L cessa o beijo, agarra-me pelos punhos e andamos desesperadamente até alcançarmos ao tal ponto que queremos estar.
Perdido na minha excitação, louco por essa mulher misteriosa e sexy, não sou capaz de esperar até chegarmos ao banheiro e terminarmos o que começamos. Empurro-a para dentro de um pequeno nicho entre as curvas do corredor e a encosto na parede, tomando sua boca ferozmente. L tenta dizer alguma coisa, pois sinto suas palmas querendo me afastar, mas não lhe dou tempo. Giro-a 180 graus, seu rosto fica de encontro à parede e, desesperado, levanto sua saia enquanto a beijo enlouquecidamente no cangote. Ainda que ela tente resistir, L respira com dificuldade e geme quando minhas mãos a seguram com firmeza pelas nádegas. Sua pele do bumbum me deixa mais alucinado e entorpecido do que já estou. Toco-a e me pressiono contra ela ao mesmo tempo em que L também me incentiva, abraçando-me pela nuca, movendo-se de encontro à minha ereção.
Prestes a possui-la ali mesmo, L consegue se esquivar e se vira para mim, os olhos, apesar da relutância, continuam desejosos e cheios de deleite.
— Aqui não — diz com a respiração entrecortada.
Afago meu rosto, ainda aturdido com o tamanho do desejo que essa mulher me fez sentir. Esboço um sorriso e apenas aceno, também arfando por conta da intensidade que vivemos há segundos.
— Estou num hotel. Há cinco minutos daqui.
— Ótimo.
Então, sou arrastado para fora da boate.
***
A porta se abre com brusquidão. L já está no meu colo, suas pernas me cingem e sua saia já está na altura do umbigo. As penas sedutoras e macias entram em contato com minhas mãos que as apalpam sem pudor.
Nós dois não fomos capazes de segurar nossos anseios e desejos carnais e, ainda no elevador, nos agarramos. A chama que se ascendeu na boate, e que nem mesmo no banco traseiro do táxi foi contida, crepitou ainda mais forte entre nós. Incapazes de nos controlarmos, fomos trazidos um de encontro ao outro de forma simultânea e enlouquecedora.
L estava me tirando a razão de uma maneira inexplicável.
E somente uma pessoa tinha sido capaz de tal feito.
A porta é fechada com um pontapé. Aos tropeços, adentro pelo quarto e a primeira coisa que vejo nem é a cama, mas a parede. Trocamos beijos quentes, molhados e cheios de volúpia enquanto, sofregamente, L tenta abrir o zíper da minha calça e eu, desvairado de paixão, movimento meus quadris contra sua intimidade.
Num segundo, minha camisa é atirada para o outro lado do quarto. E eu não tenho cerimônia de fazer o mesmo com a blusa que ela traja. Extasiado, e por um minuto de admiração, venero os seios perfeitamente redondos e firmes diante os meus olhos.
Sou trazido de volta à realidade quando ela se agarra à minha nuca e me beija com a mesma paixão, a mesma intensidade, o mesmo fogo e desejo com quem tem me beijado cada vez que nossas bocas se encontram. A cada nova vez, o sentimento, a sensação e as explosões dentro de mim são diferentes, únicos e inexplicáveis.
Tiro-a da parede e nos levo para a cama, também trôpego, tão ávido são meus passos. Caímos na cama, ela por cima de mim e mais uma vez nossos olhos se encontram. Agora, muito mais próximos.
Faço menção de beijá-la, mas L está estática em meus olhos. Seu olhar revela-me estar um pouco aturdida. Só rezo para que ela não desista agora.
— O que foi? — Inquiro confuso e ofegando.
— Seus olhos — praticamente murmura.
— O que tem?
L pestaneja seguidas vezes, perdida, e eu estranho sua postura. Penso em chamá-la, mas não é necessário, pois ela se recupera e, com um sorriso pequeno, diz:
— Só agora percebi como são lindos. — E sorri levemente, encostando sua palma sobre meu rosto barbado.
Sorrindo mais singelamente, também encosto minha mão em seu rosto, a pele tão sedosa e tentadora que o simples toque me faz tremer interiormente. L cerra as pálpebras, entreabre os lábios e um suspiro baixinho escapa dela.
— Não mais que os seus. — Sussurro aproximando-se de sua boca, escorrendo o indicador pela sua linha da coluna.
L abre seus olhos castanhos e hipnotizadores.
Sem dizer nada, torna a me beijar, completamente sedenta dos meus lábios.
As próximas horas são tão esplendorosas a ponto de me fazer esquecer do meu próprio nome.
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