Chào các bạn! Vì nhiều lý do từ nay Truyen2U chính thức đổi tên là Truyen247.Pro. Mong các bạn tiếp tục ủng hộ truy cập tên miền mới này nhé! Mãi yêu... ♥

Capítulo 7 - ALFREDO

ABRO OS OLHOS VAGAROSAMENTE. É UMA TAREFA ÁRDUA.

Sinto-me extremamente exausto e deslocado do tempo e da realidade. Minha garganta está seca; meus lábios, ressecados. Meu corpo todo parece pesar uma tonelada, e minha respiração não me ajuda. Mexo-me um pouco, mas não consigo nada além de virar a cabeça e resmungar, estou fraco em demasia.

Uma silhueta entra no meu campo de visão, parece um anjo de cabelos áureos, olhos castanhos e sorriso pequeno. Reconheço-a dois segundos depois, mas não entendo sua presença.

— Lí... via... — pronuncio com extrema dificuldade. Não tenho energias nem para isso. Respirar também é difícil, e exige muito de mim. Sinto suas mãos delicadas sobre meu peito.

— Oi... — diz baixinho; meus olhos balbuciam, não consigo mantê-los abertos.

— O-nde... e-estou? — indago, procurando forças no fundo do meu âmago. Essas duas palavras quase extinguem o ar de meus pulmões.

Ela segura minha mão.

— No hospital, Alfredo.

Olho para ela, confuso com sua resposta. Mentalmente, forço minha memória a me levar a algum ponto para explicar por que estou num hospital, como vim parar aqui. Mas minha mente é um papel em branco. Passo a mão pelo rosto, num movimento lento, como se o simples ato de erguer meu braço consumisse todo o estoque de energia do meu organismo, e sinto a aspereza da minha própria barba.

— Hos...pital? — consigo perguntar enfim.

— Sim — ela responde, segurando na minha mão direita.

— O-o quê... hou...ve? — pergunto, fazendo pausas entre uma palavra e outra para tomar fôlego e respirar. Preciso fazer uma força sobre-humana para manter meus olhos abertos.

— Não se lembra?

Aceno em negativo. E mover a cabeça é comparado a levantar mil quilos. Penso em perguntar o que aconteceu com meu corpo — não o sinto direito —, mas tudo se torna escuro outra vez.

Por um período que eu não sei especificar exatamente, balbucio entre a consciência e a inconsciência. Às vezes sinto meus olhos abertos, pessoas se focam na minha frente: Lívia, mamãe, Bernardo, algumas outras pessoas de branco me fazendo perguntas. Lembro-me de trocar poucas palavras com Bernardo e Lívia, e então, como um apagão, era dominado pela inconsciência mais uma vez. Num desses fragmentos de lucidez, recordo de um afago no cabelo, um beijo na bochecha, um abraço desajeitado — de quem eram, não sei dizer.

Também me recordo de uma parte de um diálogo:

— Você sofreu um acidente, querido.

— A-cidente? N-não m-me... lembro.

E antes de ter tempo de entender as pessoas ao meu redor, ou meu corpo exausto e dormente, ou minhas pálpebras pesadas, ou minha respiração dificultosa, era envolvido por uma manta negra de letargia, e novamente perdia a noção de tempo e espaço.

***

Sophie e eu chegamos ao consultório da doutora Padilha por volta de onze da manhã. Está relativamente vazio, apenas quatro ou cinco pacientes esperam por atendimento. Na recepção da clínica, Alice nos recebe muito bem, como sempre. Após confirmar a consulta de Sophie, sentamos no sofá para aguardamos a nossa vez. Ela afaga minhas mãos sobre sua barriga gestacional de quatro meses. Nessa consulta, saberemos o sexo do bebê.

Sophie está ansiosa e não para de apertar sua mão contra a minha. Tento acalmar sua ansiedade beijando o topo de sua cabeça e a recostando sobre meu peito. Ela tem sido meu porto-seguro desde tudo com Lívia, há algumas semanas apenas. Às vezes me sinto indigno de ter uma segunda chance com Sophie. Estamos apenas há uma semana do nosso casamento, e ela está tão contente, está se esforçando tanto por mim, pelo nosso filho, pela nossa relação, e o máximo que consigo sentir por ela é um afeto grandioso de gratidão e amizade. Ela está aqui para mim, e embora eu me esforce e queira, não consigo estar para ela.

Esperamos alguns minutos, até Sandra Padilha nos chamar; Sophie se levanta bruscamente.

— Bom dia, senhor e senhora Hauser — ela nos cumprimenta com um sorriso caloroso quando entramos e aponta para as confortáveis poltronas à frente de sua mesa de vidro.

Puxo uma para Sophie, ela agradece e se senta. Ponho-me a seu lado e troco apertos de mãos com a ginecologista. Iniciada a consulta, Sandra faz algumas perguntas à Sophie e anota tudo em uma caderneta de pré-natal.

Sophie reclama de cansaço e sonolência.

— Seus sintomas são totalmente normais. — Sandra explica.

Após mais um pouco de queixas, prontuários com receitas, conversas e conselhos rápidos para mim e Sophie, sua assistente nos guia até uma sala arejada com luzes baixas. Ela instrui Sophie a vestir uma camisola fina e aponta para o conhecido toalete ali perto. Segundos depois, ela volta com apenas a veste fina e chinelos leves. Minha esposa sobe em uma balança, e o resultado de seu peso é anotado pela assistente na caderneta de pré-natal. Feito isso, minha esposa é auxiliada a se deitar na mesa ginecológica, após ter se vestido com suas roupas.

— Será que hoje vamos saber se é menina ou menino? — inquire a assistente, levantando a blusa de Sophie e posicionando um papel toalha ao fim de sua barriga.

— Assim espero. — Sophie diz com seu português carregado — Não aguento mais de ansiedade.

A assistente sorri e prepara os equipamentos ao lado.

— O senhor tem preferência de sexo, senhor Hauser? — me pergunta.

— Menino. — respondo apenas.

— Um Alfredinho — Sophie provoca e gargalha, enquanto eu a fuzilo com meus olhos. A mulher junto a nós também ri, e eu reviro os olhos de bom humor.

— Se for menino, se chamará Pierre — Sophie diz confiante. — E se for menina, Lauren.

— São nomes lindos — a assistente diz — Você quem escolheu?

— Eu e Alfredo fizemos um acordo — Sophie explica toda sorridente — Menino, eu escolho; menina, ele escolhe.

Ela olha para mim e me dá um sorriso afetuoso. Sandra Padilha entra na sala e se senta em um pequeno banco giratório e regula sua altura para se igualar à paciente.

— Então, preparados? — ela pergunta, e apenas acenamos, Sophie com seus olhos cor de mel presos à tela.

A médica realiza a ultrassonografia e nos mostra algumas partes do pequeno e frágil corpo do nosso bebê. Sophie tem seus olhos brilhando pelas lágrimas e não os desvia por nenhum segundo enquanto a médica fala. Eu só enxergo um borrão preto e branco, mas ainda assim é uma sensação incomparável.

— E esse aqui, finalmente, é o sexo. — Sandra aponta a flecha para um determinado local — Querem saber?

— Sim — Sophie responde, eufórica.

Ela me estica a mão e aperta a minha com força. Sinto meu coração palpitar levemente.

— Já escolheram os nomes? — Padilha pergunta, aumentando a tensão e o suspense.

— Pierre ou Lauren — apenas respondo.

Sandra abre um sorriso enorme para nós.

— Parabéns! Vocês terão uma pequena Lauren!

***

Parabéns! Vocês terão uma pequena Lauren!

Estas palavras ecoam em meu subconsciente antes de eu acordar outra vez. Minhas pálpebras se levantam vagarosamente, ainda pesam como barras de musculação. Aos poucos, meus sentidos voltam ao normal: ouço um irritante e periódico bipe; vejo uma pessoa em pé, é uma mulher, de costas para mim e de frente para a janela do cômodo; sinto meu corpo fraco e dormente apoiado contra uma superfície macia e quente; minha boca está amarga; o cheiro hospitalar invade minhas narinas. Tento me localizar, mas estou deslocado da realidade. Não sei que dia, mês ou ano estou vivendo. Vasculho minha mente no intuito de encontrar alguma lembrança útil o bastante para explicar em que lugar eu me encontro. Então retalhos de recordações passam na frente dos meus olhos. Estou num hospital, sofri um acidente, apesar de ainda não me lembrar de nada, apenas de que passei as últimas horas — ou seriam dias, semanas, meses...? — balbuciando entre lucidez e inconsciência.

Movimento-me com dificuldade na cama, então a mulher da janela está do meu lado, apoiando sua delicada e branca mão sobre meu peito.

— Quietinho, Alfredo — é Lívia, reconheço sua voz. — Está fraco, precisa descansar.

— Preciso... saber o que há comigo — respondo, com menos dificuldade agora.

— Tudo ao seu tempo, Alfredo. — me diz simplesmente e força sua suave mão contra meu peito para eu permanecer deitado.

Demoro mais um pouco até voltar a mim completamente. Mas, durante esse tempo, apesar de exaurido, mantenho-me consciente por mais tempo. Recebo um pouco de medicação, alimento, água, visita de mamãe, Karlita, Bernardo. Eles vêm, falam comigo, me desejam melhoras, me abraçam, me beijam, apertam minha mão, me beijam no rosto ou na cabeça, me abraçam e passam um tempo me fazendo companhia.

— Onde está Sophie? Por que ela não veio me ver? — pergunto para Bernardo. Deslocado da realidade, o tempo parece um piscar de olhos, ou, às vezes, parece uma eternidade. Agora, sinto-me um pouco mais revigorado se comparado às outras vezes.

— É claro que ela veio te ver — meu amigo responde, parado ao meu lado, segurando minha mão esquerda. — Mas você estava dormindo.

— Peça para ela vir agora — murmuro, deixando minha cabeça pender para trás. — Estou acordado.

— Ela não pode, mon ami. Está cuidando de Lauren. — sinto um tom estranho em sua voz, mas não contesto.

A porta se abre, Lívia surge carregando um copo de isopor. Sorri para mim e se aproxima.

— Você acordou. Como se sente?

— Bem... eu acho. Cansado, dormente... Confuso. Há quanto tempo estou aqui?

Bernardo e Lívia se entreolham.

— Há algumas semanas. Mas acordou do coma há três dias.

— Coma? — indago, confuso. Engulo em seco. Volto-me a sentir exaurido. — Estive em... coma?

Oui — Bernardo responde. — Mas não se preocupe com isso agora. Precisa se recuperar. Ainda está fraco.

Não respondo mais nada. Eles ficam mais um pouco comigo antes de enfermeiros e uma médica — tenho uma vaga impressão de me lembrar dela — entrarem no quarto. A médica se apresenta, Ariana, e me informa ser a médica responsável pelo meu caso nas últimas três semanas. Faz-me uma porção de perguntas, está testando minha memória e minha percepção de tempo. Estou deslocado demasiadamente da realidade para acertar datas, mas, com minha última memória, respondo ao menos o mês e ano. Ela faz anotações. Agora quer saber qual a minha última lembrança.

— Estava trabalhando... na minha sala. Lívia estava junto... depois, Sophie chegou com Lauren e... acho que conversamos...e então não me lembro... não me lembro de mais nada.

A médica apenas acena e faz mais anotações na prancheta. Mais uma vez sou medicado e alimentado com uma sopa rala e sem sal. As visitas vão embora, mas Bernardo permanece para me fazer companhia durante o pernoite. Dia após dia, então, volto ao normal, meu corpo, apesar de dormente, já não está mais exaurido e parecendo pesar uma tonelada.

Acordo numa manhã depois de um sonho com Sophie. Ela ainda não veio me visitar, sinto sua falta. Deus, como ela deve ter se preocupado comigo. Estive em coma por semanas. Quantas, mesmo? Não sei com exatidão porque ninguém me informou precisamente. Uma enfermeira entra no quarto me desejando bom-dia, sorrio fraco, ela também cumprimenta Lívia, sentada na poltrona, me olhando.

— Como dormiu essa noite, senhor Alfredo? — a enfermeira pergunta, me passando a medicação e conferindo meus batimentos cardíacos.

— Só Alfredo... por favor. Dormi bem.

A enfermeira sorri, olha para Lívia.

— Foi tranquilo. — ela confirma.

— Ótimo. Quer um café forte?

— Por favor. Preciso estar desperta. Ainda vou trabalhar.

A enfermeira se vai, nos deixando sozinho.

— Passou a noite comigo?

— Sim. É o meu turno da semana. Estamos nos revezando para te fazer companhia.

— Quando é o turno da Sophie? Quero vê-la.

O semblante de Lívia muda. Ela umedece os lábios, se ajeita na poltrona e pigarreia.

— Ela não está fazendo turno, Alfredo. Não pode. Por causa da Lauren.

Suspiro e aceno. Penso em lhe fazer outra pergunta, mas a enfermeira entra trazendo nossos cafés. Comemos em silêncio, a dormência no meu corpo, principalmente nas minhas pernas, me incomoda, mas não reclamo. Ainda estou fraco e debilitado, posso sentir.

— Sabe se ela vem me ver hoje, no horário das visitas? — pergunto depois de comer. Afasto a bandeja, pondo-a na mesa-auxiliar ao meu lado.

— Sim, ela vai vir.

— Peça a ela para trazer a Lauren. Quero ver a minha bonequinha.

Lívia fica muda de repente. Encaro seus olhos, mas ela se desvia, como se tentasse esconder alguma coisa. Lívia fecha os olhos, sua respiração se torna mais pesada, sinto isso mesmo daqui, dois metros longe. Um suspiro trêmulo... ela parece secar uma lágrima. Então se vira para mim quando estou prestes a perguntar se ela se sente bem. O rosto contraído, um sorriso forçado.

— Vou pedir para ela trazer a Lauren, não se preocupe.

Não respondo, apenas aceno. Lívia se vai minutos depois, e Karlita fica em seu lugar para me fazer companhia durante a tarde. Depois do almoço, sinto vontade de cochilar, mas me esforço para me manter acordado. Às três, Sophie vem me ver. No entanto, estou cansado demais para resistir e acabo sucumbindo ao sono. Acordo sobressaltado.

Minha respiração falha, lembranças me bombardeiam de repente. Meu coração já está acelerado. Toco a campainha desesperadamente. Nem percebo, mas já estou em prantos. Uma enfermeira surge, junto, Bernardo e Lívia, eles notam meu estado abalado.

— Se acalme, Alfredo — Lívia pede, se pondo do meu lado, segurando em minha mão.

— Eu... me lembro — digo, ofegante. — Eu me lembro, Lívia. — Meus olhos procuram Bernardo, a enfermeira, e, com o olhar, eu imploro para me dizerem que ambas estão bem. — Estávamos no carro quando... quando fomos atingidos — começo a chorar, desesperado. Começo a juntar as peças desse quebra-cabeça: as expressões faciais, a ausência de Sophie, como todos evitam falar dela, como sempre me dizem que ela virá ou veio enquanto eu dormia. A enfermeira sai rapidamente. — Elas estão bem, não estão?

— Sim, Alfredo, elas estão bem.

Não minta pra mim, Lívia! — grito em completo desespero.

O tempo se torna relativo novamente. Vejo tudo em câmera lenta: Lívia segurando minha mão, me pedindo calma, Bernardo do meu lado, me impedindo de me levantar ou tirar o intravenoso das veias. A enfermeira volta com Ariana. Eles me pedem calma... Bernardo me empurra de lado... uma picada na lombar... e inconsciência.

Quando acordo outra vez, estão todos na minha frente e no meu entorno: mamãe, Karlita, Bernardo, Lívia, um enfermeiro, doutora Ariana. Volto aos poucos, me localizando. A realidade cai nos meus ombros. Bernardo dá um passo à frente enquanto lágrimas despontam dos meus olhos.

— Precisa ser forte, mon ami. — ele sussurra. — Precisa ser muito forte para o que vamos te contar.

Há um silêncio sepulcral no quarto. Todos me olham e contraem o rosto, como se pudessem segurar a emoção, as lágrimas, a tristeza. E eu já deduzo o pior.

— Me digam o que aconteceu. — exijo saber, arfando. — Sophie e Lauren estão bem, não estão? Me respondam!

Ariana dá um passo à frente, ao meu lado. Ela me olha e ajeita os óculos no rosto. Está abatida, mas também parece profissional.

— Aconteceu uma imprudência de trânsito. Um ônibus atravessou o sinal vermelho, atingiu o seu carro, causando seu acidente. — ela começa, a voz firme, apesar de triste. Balanço a cabeça fortemente, consigo me lembrar de tudo agora. Cada detalhe, cada imagem, cada sensação. — O impacto maior atingiu diretamente onde sua esposa estava.

Aperto os olhos, sentindo uma dor insana no coração.

— Por favor, não. — suplico, aos prantos, e olho para todos à minha volta. Mamãe já está chorando comigo, Karlita e Lívia também. — Por favor... Sophie está bem, não está? Me digam que ela está bem!

Lívia se aproxima de repente, segura na minha mão. Não me esquivo do seu toque. Ela me olha dentro dos olhos, os seus tão pranteados quanto os meus.

— Me diz, Li... Sophie está bem, não está? — soluço alto, suplicando para Lívia. Ela beija meu rosto, secando minhas lágrimas, e aperta forte minha mão.

— Fique calmo, Alfredo — me pede, sussurrando, aos prantos, encostando sua cabeça na minha.

— Não pudemos fazer nada, Alfredo. — Ariana diz, a mesma voz firme e lamentosa de antes. — Sophie sofreu politraumatismo e morreu no instante da batida.

— NÃO! — um grito gutural sai de minhas cordas vocais. Uma dor alucinante entra rasgando meu peito, minhas lágrimas arrebentam, encharcando-me. Puxo meus cabelos, como se a dor física pudesse compensar a dor psíquica.

Choro forte. Choro alto. Pela visão embaçada, vejo mamãe se retirar, Karlita a acompanha, ambas chorando e abaladas. Lívia se senta do meu lado, me abraça, me embala, me pede calma murmurando bem baixinho. Choro copiosamente em seus ombros. Todos ficam quietos, me esperam digerir a informação dolorosa.

— E Lauren? — questiono, de repente, a voz trépida e engasgada. Olho para Lívia. Ela desvia o olhar do meu, fecha os olhos, lágrimas descem pelo seu rosto delicado. Procuro por Ariana. — E minha filha?! — grito, descontrolado.

— Infelizmente... A pequena sofreu traumatismo craniano. Lutou pela sua vida, mas... não resistiu.

Eu poderia jurar estar morto no instante dessas palavras. Perco uma parte de mim, a parte mais vital de mim se foi, me deixando com um enorme e incurável buraco no coração. O tempo se torna relativo mais uma vez. Saio de mim, não enxergo mais nada nem ninguém à minha frente. Toda minha consciência é de estar chorando todas as lágrimas que nunca chorei. A pressão e a dor em meu peito não são comparáveis a nada. Absolutamente nada. As lágrimas escorrem pelo meu rosto e inundam minhas vestes: uma fina camisola azul. Ouço, pela minha tênue consciência, outras pessoas chorarem comigo, inclusive Lívia, do meu lado, afagando minhas mãos.

Eu não consigo aceitar o fato de ter perdido minha esposa, minha filha. Minha pequena e frágil Lauren.

— Não... Minha pequena e frágil Lauren não... — soluço sem nem perceber. Meus soluços ecoam pelo quarto, e eu não encontro conforto em nada para amenizar essa dor alucinante. Recuso-me a acreditar na morte de Lauren. Na morte de Sophie. Elas eram tudo que eu tinha, toda a minha redenção estava nas duas. Toda a minha parcial felicidade e todo o meu começo de vida digna estavam nelas. E agora eu as perdi. O destino me tirou bruscamente tudo o que me foi oferecido: uma vida nova, felicidade, amor, família, minha filha.

Santo Deus, por que minha pequena Lauren?

Meu pranto continua a me inundar quando sinto Lívia tentar uma aproximação de novo, talvez um abraço de consolo, mas eu me esquivo dela com um empurrão forte e abrupto, como se seu toque fosse me queimar. A última coisa que eu quero agora é consolo.

Em total estado de negação, grito enquanto arranco o intravenoso de minhas veias, sem nem dar chances de a médica ou o enfermeiro me impedirem:

— Eu quero vê-las! AGORA! Quero vê-las AGORA!

Já vejo Ariana se aproximando para tentar me acalmar, talvez me aplicar um calmante para me tranquilizar, como se eu fosse um maldito de um animal selvagem. Mas eu não lhes dou tempo de nada, tiro o lençol cobrindo minhas pernas, decidido a levantar e sair de qualquer jeito atrás da minha filha e da minha esposa.

Mas algo me impede. Não é o enfermeiro, nem a médica, ou Lívia ou Bernardo. Mas minhas pernas. Minhas pernas não respondem aos meus comandos, e eu não saio do lugar. Olho para Lívia — é a primeira pessoa no meu campo de visão —, totalmente aterrorizado, e, por um breve instante, me esqueço da preocupação com Lauren e Sophie.

Olho outra vez para as minhas pernas e faço mais uma tentativa, mas elas não me obedecem. Um desespero maior ainda bate em mim. Não sinto as minhas pernas. Deus do céu!

— LÍVIA! — grito, sentindo minha garganta arder — O que houve com minhas pernas? Eu não as sinto! — Ela me encara com uma expressão contorcida, estou a ponto de ficar alucinado. Olho para a médica, ela está abrindo a boca para me dizer algo, mas, com outra tentativa fracassada de me mover, urro ainda mais alto:

— POR QUE EU NÃO SINTO AS MINHAS PERNAS?     

Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro