33_ Era você?
ㅡ Sucri, larga esse livro! ㅡ Tentei esticar minha mão até ele, mas ele se achegou mais para a janela e eu desisti, voltando minhas duas mãos ao volante.
ㅡ Meu Deus... ㅡ Ele murmurou ainda parecendo chocado. ㅡ Você lê essas coisas, Morgana? Pensei que você fosse inocente e ingênua.
ㅡ Para de ser chato e deixa esse livro aí. ㅡ Eu ainda estava rindo da reação dele com a parte hot do livro. ㅡ Não tenho culpa, o livro é bom.
ㅡ Sei... Muito bom. ㅡ Disse com sarcasmo.
ㅡ Para de gracinha e fala de você agora.
ㅡ Como assim? ㅡ Ouvi-o fechar o livro e colocar sobre o painel.
ㅡ Te contei uma história sobre a minha adolescência. Me conta uma sua. Não sei muito sobre o seu passado. Como você era na escola? ㅡ Girei o volante para fazer a curva e li uma placa na estrada. Estávamos em algum lugar no Texas.
ㅡ Er... ㅡ Ele se aconchegou no banco. ㅡ Eu não tinha amigos, andava sozinho e mal tinha companhia.
ㅡ Ah, para de palhaçada! Ta falando isso por que tá com pena de mim? Não vou me sentir pior se disser que era um super popular. ㅡ Balancei a cabeça.
ㅡ Mas, eu não era um super popular. Eu era super fechado e não tentava me aproximar de ninguém, pelo menos até o último ano quando tentei ser um pouco diferente. Depois que os meus pais morreram, eu meio que fiquei com medo. Não consegui superar direito. Eu acabei me fechando pra tudo e todos e não... Não via sentido tentar me socializar e me divertir enquanto os meus pais estavam em algum lugar no fundo do oceano atlântico. ㅡ Meu coração se apertou no meu peito.
ㅡ O avião... ㅡ Minha voz falhou.
ㅡ É. ㅡ Concordou. ㅡ O avião caiu no mar antes que eles pudessem aproveitar a segunda lua de mel. Nunca acharam os corpos. Não pude me despedir. Decidi não tentar ser feliz, parecia injusto. Não senti que eu merecia ser feliz, se eles também não podiam. ㅡ Sucri deu uma pausa longa. Eu não consegui proferir uma palavra. ㅡ Eu não tinha amigos na escola, mas por opção. Lembro que odiava o fato das pessoas ficarem tentando se aproximar e das meninas ficarem tentando ficar comigo. Eu só queria ficar em paz. ㅡ Assenti. Então, ele seria super popular se quisesse. E não é de se admirar. Sucri é bonita pra caramba. ㅡ Até que um dia minha avó descobriu como eu era na escola e me deu um sermão. Disse que não era isso o que meus pais iriam querer pra mim. Que eu estava jogando o meu futuro e a minha vida fora. Que meus pais ofereceram muito ao mundo enquanto estavam vivos e que eu precisava fazer isso também. Foi então que parei de tentar me afundar e tentei ser eu mesmo. O último ano da escola foi ótimo, me abri para as pessoas e criei amizades que tenho até hoje. Como o baterista e o guitarrista da minha banda.
ㅡ Deu uma chance a vida amorosa também?
ㅡ Não, eu até queria. Tinha uma menina, ela não era da minha turma, devia ser do segundo ou primeiro ano do Ensino médio. Ela era linda e uma vez espalharam pela escola toda que ela era uma stalker obcecada por mim. Eu sabia que era mentira, disse pra ela não se preocupar com os outros e tentei ser gentil. No fim eu me formei e nunca mais tive sinal dela. Parecia até que ela tinha desaparecido do mapa. ㅡ Meus olhos se estreitaram em suspeita.
ㅡ Sucri... ㅡ Estacionei o motorhome na beira da estrada. Ao longe era possível ver que uma cidade se aproximava. ㅡ Você lembra da história que eu contei de quando a Sabrina, a garota que me odiava na escola, me viu olhando o perfil do Instagram de um garoto do terceiro ano que eu gostava e saiu espalhando pra todo mundo que eu era uma stalker obcecada por ele? ㅡ Sucri pareceu entender minha linha de raciocínio e seus olhos arregalaram. ㅡ Aí eu fui chorar no banheiro e quando saí...
ㅡ Eu estava esperando no corredor. ㅡ Ele completou. ㅡ Os olhos dela estavam vermelhos e fiquei chateado por ela ter chorado por culpa de boatos ridículos. Eu disse pra ela não se preocupar e lhe dei...
ㅡ Um beijo na bochecha. ㅡ Finalizei. ㅡ Sucri? Como isso é possível? Era você? Mas, eu estava aqui na minha realidade. Como pode?
ㅡ E eu estava na minha. ㅡ Ele parecia tão confuso quanto eu. ㅡ Meu Deus... Era você mesmo. Eu me lembro. Você não mudou praticamente nada, só... Cresceu o cabelo.
ㅡ E você não mudou nada. Acho que... Por isso te imaginei com tanta exatidão. Eu já tinha te visto. Baseei meu personagem no primeiro cara que gostei! ㅡ Algumas peças se encaixaram na minha cabeça. ㅡ Mas, como pode termos convivido se estávamos em realidades diferentes?
ㅡ Eu não sei. Mas... Saber que você era a aquela garota, a primeira que despertou algo no meu coração, só faz o que sinto por você crescer ainda mais. ㅡ Outra flecha atingiu o meu coração.
Pensar que Sucri era aquele cara... O garoto gentil que era gente boa com todo mundo e que me consolou quando a escola toda estava zombando de mim... Eu não tinha como não estar mais apaixonada por ele.
ㅡ Isso tudo é tão confuso. ㅡ Ele abaixou o olhar. ㅡ Vai ver, o Montgomery faz isso. Você também não estava lá comigo na minha realidade quando te conheci, mas ao mesmo tempo estava aqui? Vai ver ele faz isso, sei lá. Esse livro é uma doidera que ta deixando a gente doido.
ㅡ Mas, ele te trouxe pra mim. E, se ele faz isso, ele fez você aparecer pra mim num momento horrível. No meu primeiro ano, você foi o mais próximo de um amigo que te tive, porque era a única pessoa que falava comigo direito. Nunca entendi o que aconteceu depois que você se formou, porque você também desapareceu da face da terra. ㅡ Me aproximei dele. ㅡ Odeio esse livro por toda essa loucura, mas estou começando a gostar porque ele te trouxe pra mim mais de uma vez. Te trouxe em momentos que precisei. Ele sabia que você seria como um porto seguro pra mim.
Os olhos de Sucri brilharam na minha direção. Nos levantamos juntos e ele me abraçou. Me beijou no topo da cabeça e eu sorri.
ㅡ Você se lembra de alguma outra coisa? De algum outro momento que vivemos naquela época? ㅡ Perguntou após nos sentarmos de novo.
ㅡ Lembro de uma vez que eu estava sentada no pátio surtando. Ia ter um seminário e o meu grupo era formado por pessoas turistas que só apareciam uma vez na semana. Eu tive que organizar o trabalho sozinha e, por mais que tivesse separado as falas de cada um e mandado pra eles, tinha certeza de que alguém iria faltar, então decorei as de todo mundo. Quando chegou no dia, nenhum deles foi. Nenhum. ㅡ Senti meu sangue ferver só de lembrar. ㅡ Eu fiquei revoltada, mas não tive tanto tempo de ficar com raiva, pois estava surtando com o fato de que precisaria apresentar o seminário todo sozinha. Seria como dar uma aula e eu não estava preparada. ㅡ Ele sorriu parecendo se lembrar. ㅡ Aí você apareceu, do nada, bebendo um Guaravita às oito da manhã. Lembro de ter feito uma piada sobre a sua saúde e você disse que ia tentar melhorar por mim. Perguntou o que eu estava fazendo e eu contei toda a situação. Aí você me levou numa sala de aula vazia, se sentou num dos bancos da frente e disse para eu apresentar o trabalho pra você. Pensei comigo que se conseguisse apresentar pro cara que eu gostava, seria moleza apresentar pra uma turma que nem ligava pra mim.
ㅡ Você apresentou pra mim e eu fiquei em choque com o quão você era inteligente. O trabalho era enorme e mesmo assim você conseguiu explicar de uma maneira fácil de se entender. ㅡ Ele continuou. ㅡ E eu consegui prestar atenção, o que também não achei que conseguiria, porque você estava muito bonita naquele dia.
ㅡ Você aplaudiu quando eu terminei e eu corei igual a um pimentão. O sinal tocou e tivemos que correr para nossas salas, mas ganhei um beijo na bochecha de boa sorte e quase derreti na porta da sala.
ㅡ Eu não sabia se você gostava de mim. Tinha medo de tentar outra coisa.
ㅡ Todo mundo gostava de você, Sucri. A escola toda. ㅡ Balancei a cabeça. ㅡ Sucri... Acho que não coloquei o nome na história por causa do Sucrilhos. Em algum lugar da minha mente, eu lembrava que esse era o seu nome.
•••
Continua...
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