05_ MONTGOMERY
Um raio caiu perto da minha casa e isso fez um estrondo gigantesco soar. As luzes se apagaram na hora, o que só aumentou o meu susto.
Dei um pulo na cama, largando o caderno de lado, e tentei chegar na porta do quarto sem enxergar nada.
ㅡ Mãe? ㅡ Chamei quando consegui chegar a porta. Abri a mesma e olhei de um lado para o outro, ainda sem conseguir enxergar nada. Eu só conseguia ver os cômodos quando os relâmpagos cortavam o céu e iluminavam ali dentro por uns breves segundos.
ㅡ To aqui, Morgana. ㅡ Ouvi sua voz e olhei na direção. Um relâmpago iluminou a sala e eu a vi parada na frente da janela, olhando lá pra fora. ㅡ A Lina e os outros dois devem estar apavorados lá fora nessa chuva.
ㅡ Será que eles estão bem? ㅡ Olhei pela janela. O bairro todo estava escuro e as ruas estavam começando a se encher de água.
ㅡ Eu espero que não. ㅡ Fiz uma careta quando ouvi sua resposta e a encarei. ㅡ Que foi? Acha que estou preocupada com eles?
ㅡ Não eram seus amigos?
ㅡ Eram, mas... ㅡ Ela voltou na direção do sofá. Nesse momento nossos olhos já tinham se acostumado com o escuro, então podíamos ver as coisas com mais facilidade. ㅡ Eles...
ㅡ Eu ouvi parte da conversa, mãe. ㅡ Me sentei ao seu lado no sofá. ㅡ Sei que pediu que eles tentassem se aproximar de mim e... Eu agradeço por isso. Você mais do que ninguém sabe como é difícil pra mim não ter amigos. ㅡ Encolhi minhas pernas em cima do sofá e as abracei. ㅡ E... Agradeço também por ter me defendido. Sei que gostava da amizade deles.
ㅡ Gostava até conhecê-los de verdade. ㅡ Bufou. ㅡ Não vou deixar que ninguém te ofenda. Você é tudo que eu tenho.
ㅡ Não... Você é tudo que eu tenho. ㅡ Tentei sorrir, era para ser uma frase que soasse como algo feliz por eu tê-la em minha vida, mas só me fez lembrar que, se não fosse por ela, eu não teria ninguém, porque ninguém gosta de mim. ㅡ É verdade o que eles disseram? ㅡ Olhei para ela. ㅡ Eu sou mesmo sem graça, sem sal e chata? É por isso que não tenho amigos?
ㅡ É claro que não, Morgana! Eles é quem são uns idiotas. Você não é chata, só tem gostos e jeitos diferentes deles. E isso não é uma coisa ruim.
ㅡ Eu devo ter gostos e jeitos diferentes de todo mundo então... ㅡ Suspirei. ㅡ Vou pro meu quarto chorar e ouvir música. ㅡ Me levantei do sofá.
ㅡ Não vai jantar?
ㅡ Não to com fome. ㅡ Entrei no meu quarto, deitei na cama e coloquei os meus fones. Olhei para a minha escrivaninha e estranhei quando vi o caderno aberto ali em cima. Não me lembro de tê-lo colocado ali quando a luz acabou.
Ignorei e comecei a ouvir músicas. Devo ter ouvido umas sete antes de cair no sono.
[...]
A luz já tinha voltado quando acordei no dia seguinte. A lâmpada estava acesa, então me levantei e fui até ela para apagar. Saí do quarto ainda com a vista embaçada pelo sono e me arrastei até o banheiro.
Lavei o rosto, escovei os dentes, passei o protetor solar e voltei saí do banheiro. Olhei pela sala e pela cozinha, mas minha mãe não estava em casa.
Avistei um papel grudado na geladeira que dizia que ela tinha ido comprar pão. Ouvi um barulho de algo caindo no meu quarto e olhei para a porta. Do ângulo que eu estava só era possível ver a cama e a janela fechada.
Ouvi o barulho novamente e me aproximei devagar, com medo de ser algum bicho.
ㅡ AAAAAAHHHH!! ㅡ Gritei quando percebi que tinha um cara no meu quarto.
ㅡ AAAAHHHHHH!! ㅡ Ele gritou junto comigo.
ㅡ Quem é você?! ㅡ Perguntei sem tirar os olhos dele, mas ao mesmo tempo tentando encontrar algo ao redor para me defender. ㅡ Como entrou no meu quarto?!
ㅡ Eu que pergunto isso! Eu estava na minha casa com a minha avó e de repente to aqui! ㅡ Franzi as sobrancelhas sem entender o que estava acontecendo.
ㅡ Isso é algum tipo de brincadeira?? ㅡ Olhei rapidamente para o meu lado e vi uma vassoura apoiada na parede. A peguei e apontei o cabo para ele, que instantaneamente ergueu as mãos. ㅡ Eu vou chamar a polícia!
ㅡ Eu que vou chamar a polícia, porque acho que estou sendo sequestrado! Socorro! Socorro! ㅡ Ele começou a gritar e eu abaixei a vassoura.
ㅡ Você está de palhaçada?? Eu vou te bater! ㅡ Ameacei bater nele com a vassoura e ele deu um passo ríspido para trás, tampando o rosto com os braços.
ㅡ AAHH!! ELA VAI ME MATAR!! SOCORRO!! ㅡ Ele voltou a gritar. Ouvi o som da porta da frente se abrir e olhei na direção da sala, onde minha mãe entrava.
ㅡ Mãe, mãe, mãe! Pelo amor de Deus, tem um maluco aqui! Vem rápido! ㅡ Pedi ainda apontando a vassoura na direção dele.
ㅡ O que? Do que tá... ㅡ Minha mãe chegou perto de mim e parou de falar quando viu o cara. ㅡ Quem é ele? ㅡ Ela arregalou os olhos e abriu um sorriso para mim. ㅡ Você trouxe um cara pra casa? Ele é seu namorado? ㅡ Perguntou como se fosse a novidade que ela mais quisesse ouvir na vida.
ㅡ O que?? Não! Eu não... Conheço ele! Ele invadiu a nossa casa e ainda ta fazendo piadas. ㅡ Minha mãe fez uma careta confusa e olhou na direção do rapaz. Ela abaixou a vassoura que eu estava segurando e parou um pouco mais perto dele.
ㅡ Qual o seu nome? ㅡ Ela perguntou.
ㅡ Sucri.
ㅡ Sucri? Que diabos de nome é Sucri? Seus pais queriam que você sofresse bullying? ㅡ Questionei.
ㅡ E qual é o seu? ㅡ Ele me encarou.
ㅡ Morgana.
ㅡ Se eu praticasse bullying, te chamaria de margarina. ㅡ Arregalei os olhos com a audácia.
ㅡ O que? Eu vou te... ㅡ Ergui a vassoura novamente, mas minha mãe a segurou, me impedindo de ir para cima do tal Sucri.
ㅡ Parem, vocês dois! ㅡ Ela exclamou.
ㅡ Espera... ㅡ O cara me olhou com um olhar diferente. Como se estivesse chocado ou coisa do tipo. ㅡ Você se chama Morgana?
ㅡ É, e o que isso te importa? ㅡ Encarei minha mãe. ㅡ Mãe, ele ta invadindo! Chama a polícia!
ㅡ Tá bom, ta bom... ㅡ Ela largou o saco de pães na minha cama e puxou o celular.
ㅡ Você... Não lembra de mim? ㅡ O cara deu um passo a frente.
ㅡ O que? Eu nunca te vi na vida! ㅡ Segurei firme a vassoura. ㅡ Não chega perto!
ㅡ Sou eu! O... O Sucri! Como se lembra de mim? Você me conheceu na cafeteria. Foi ao meu show. Eu me declarei pra você. Como não se lembra disso? ㅡ Ele se aproximou de novo e só aí eu me lembrei desse nome ridículo que eu inventei.
ㅡ Espera... O que? Você leu minha história?? O que você é? Um maníaco? ㅡ Olhei para minha mãe e ela estava falando ao telefone enquanto olhava para o garoto.
ㅡ Que história? Do que você está falando? ㅡ Ele fez uma careta.
ㅡ Como entrou aqui? Minha janela está fechada.
ㅡ Eu já disse que não sei! Eu estava na casa da minha avó e de repente vim parar aqui. Eu nem sei que lugar é esse. ㅡ Ele insistia em se fazer de sonso, então dei uma vassourada no braço dele, o que o fez gritar de novo.
ㅡ Parem com isso! Eu já chamei a polícia. Você... ㅡ Olhou para mim. ㅡ Larga essa vassoura. ㅡ Arregalei os olhos para ela, mas ela não mudou o olhar, então coloquei a vassoura de volta no lugar. ㅡ E você senta aí. Não vai sair daqui enquanto a polícia não chegar.
ㅡ Ótimo! Quando eles chegarem, vou dizer que fui agredido. Vou ficar até com hematoma. ㅡ Ele se sentou na cadeira da minha escrivaninha e eu cruzei os braços.
ㅡ Agora fala, o que você está fazendo aqui? Você foi a uma festa? Bebeu demais? Entrou na casa errada? ㅡ Minha mãe cruzou os braços e encarou o rapaz.
ㅡ Não, eu não bebo. Já disse o que aconteceu. Não sei como vim parar aqui. Aposto que ela me sequestrou. ㅡ Apontou para mim. ㅡ Descobriu que eu gostava dela e resolveu me sequestrar.
ㅡ Você nem me conhece. ㅡ Balancei a cabeça.
ㅡ É claro que eu te conheço! Por que ta se fazendo de sonsa? ㅡ Ele franziu as sobrancelhas.
ㅡ Olha, eu vou... ㅡ Dei uns passos a frente, mas minha mãe esticou o braço me impedindo de chegar mais perto dele.
ㅡ Olha só, se você falar a verdade, vai ser melhor. ㅡ Minha mãe, com sua calma e paciência, explicou. ㅡ Me diz, qual o seu nome mesmo?
ㅡ O meu nome é Sucri Willians. ㅡ Prendi a respiração quando ouvi ele dizer o sobrenome.
ㅡ Como... Como sabe disso? ㅡ Minha voz mal saiu.
ㅡ Como eu sei o meu nome? Bem... Ta na minha identidade, minha avó me chama assim, meus amigos me chamam assim, era assim que os professores me chamavam na época da escola. ㅡ Disse com sarcasmo. ㅡ Foi fácil saber o meu nome.
Minha mãe olhou para mim e pareceu notar a minha expressão de espanto.
ㅡ Mas... Eu não escrevi! ㅡ Expliquei para minha mãe, que só ficou ainda mais confusa. ㅡ Eu... Eu pensei em colocar o sobrenome dele como Willians na história, mas não coloquei. Nem contei pra ninguém. Como você sabe disso?? ㅡ Encarei o garoto.
ㅡ Já falei que é o meu nome! Meu Deus... ㅡ Encarei o garoto sem entender o que estava acontecendo. Observei mais a sua aparência e só aí percebi o quão ele era parecido com o Sucri que imaginei da história. Muito, muito parecido.
ㅡ Qual foi o último lugar que esteve antes de vir pra cá? Estava mesmo na casa da sua avó? ㅡ Perguntei tentando responder as suspeitas irreais que estavam na minha cabeça.
ㅡ Sim. Eu me lembro de estar com ela, mas foi esquisito, porque eu estava no meu show com você. Eu ia te encontrar, mas aí, de repente, eu estava na casa da minha avó, como se fosse... Sei lá, me despedir. ㅡ Eu também não tinha mencionado que ele morava com a avó na história, só pensei. Não seria possível, seria?
Ouvimos batidas na porta de casa e minha mãe foi até a sala para abri-las. Ouvi a voz de homens e logo a polícia estava no meu quarto. Eu não consegui prestar atenção no que estavam dizendo, porque minha cabeça estava fervilhando. Não era possível... Não podia ser ele. Era impossível! O Sucri é invenção, ele não existe!
Ouvi minha mãe dizer algo sobre não prestar queixa porque ele devia ser só um adolescente que bebeu demais e entrou na casa. Só voltei a mim quando o vi partindo na viatura e reconheci o olhar que eu tanto descrevia na história.
ㅡ Meu Deus... ㅡ Corri de volta para o meu quarto e vi o caderno aberto na minha escrivaninha. Caderno que tenho certeza de que não coloquei ali ontem, porque dei um pulo e joguei ele em qualquer lugar quando acabou a luz.
O peguei com certo medo e li a última frase que eu escrevi... Onde... Onde eu dizia que ele simplesmente saiu do livro e se tornou real.
ㅡ Não... Eu to ficando maluca. ㅡ Fechei o caderno e o joguei de volta na escrivaninha. Porém, tive que me aproximar de novo, pois a capa estava diferente.
Quando o comprei, estava escrito uma frase esquisita sobre sacrifício e amor. Mas agora... Agora estava escrito em letras grandes e douradas:
MONTGOMERY
•••
Continua...
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