•| Passado |•
Use your mind and make it talk
Cause in this world it's all you got
And we all fall down from the highest clouds to the lowest ground
| The Answer — Kodaline |
— Onde o meu papai está? — O meu eu de cinco anos perguntou assim que viu Margô se aproximando com o bolo de aniversário.
— Ele já vem, querida, agora assopra as velinhas e faça um pedido.
Fiz o que ela pediu.
Fechei os olhos e pedi para o papai do céu trazer o meu papai para casa...
Era o dia da profissão na minha escola.
Todos os papais dos meus coleguinhas estavam ali, menos o meu papai. Ele disse que ia vir, mas ia demorar só um pouquinho.
— Anna, o seu pai não vem? — Clarisse perguntou para mim, ela não era legal comigo.
— Ele vai demorar só um pouquinho para chegar, mas ele disse que vem. — Respondi sem conseguir tirar os olhos da porta da sala.
Ele vai vir, ele prometeu...
— Atenção bailarinas, subam naquele palco e arrasem!
Sorri olhando minhas coleguinhas se arrumarem na fila para subirmos no palco. Senti um friozinho na barriga, era a primeira vez que ia me apresentar e o meu papai vai estar na plateia.
Ele prometeu que viria e depois vamos tomar sorvete juntos.
Quando chegou a minha vez, fui acompanhando os passos de balé. Todo mundo estava se divertindo e dançando tão bonito. Procurei entre as pessoas da plateia o rosto do meu pai, demorou um pouquinho até encontrar Margô. Ela sorriu para mim e acenou enquanto gravava a apresentação.
Dei um tchauzinho procurando por meu pai ao seu lado, mas ele não estava ali...
— Margô, você e o papai vão viajar? — Indaguei, entrando no quarto do meu pai e vendo um monte de mala na cama.
Margô me abraçou forte e ela estava chorando muito. Não gostava de vê-la chorar. Será que ela estava doente? A Margô nunca chorava.
— Eu sinto muito, Anna. Sinto muito mesmo, mas eu vou embora e não vou mais morar aqui.
Ela chorou mais e eu fiquei triste também, meus olhos ardiam com as lágrimas.
— Você não gosta mais de mim? Por que vai embora? Não vai, fica aqui comigo, por favor!...
Fiquei sentada na escada esperando o meu pai chegar. Ele disse que ia voltar para casa hoje.
Era natal, vamos ficar juntinhos e abrir todos os presentes que tem embaixo da árvore lá na sala de estar.
A Margô veio me visitar e me ajudou a montar a árvore, ela ficou muito linda. Pena que a Gô não pôde ficar em casa, ela não gostava mais do meu pai, por isso foi embora.
— Anna, é o seu pai no telefone. — Grace apareceu do nada, me assustando.
Desci a escada correndo e peguei o telefone, animada.
— Oi papai, quando você vai chegar? Tem um monte de presente para abrir e...
— Filha, escuta. O papai não vai poder ir para casa hoje, tenho muito trabalho para resolver. Por que não pede ajuda para a Grace? Depois você me mostra todos os seus presentes...
— E a vencedora da feira de ciências desse ano é... Annalise Stanley!
Fiquei surpresa ao escutar o diretor falar o meu nome. Margô comemorava a minha vitória no meio dos outros alunos e pais.
Foi ela quem me incentivou a participar e até me ajudou a montar o sistema solar. Meu pai não pôde me ajudar, mas ele disponibilizou todo o material metálico sustentável para fazermos a maquete.
Ele também prometeu que viria me ver, mas como sempre, ele não apareceu...
— A Clarisse não gosta de mim, foi a mãe dela quem mandou me convidar. Vamos para casa, Grace.
Pedi mais uma vez, sabendo que seria ignorada. Grace foi me guiando pelo jardim até onde Clarisse brincava com suas amigas da escola.
— Anna, que bom que veio, querida. — A mãe de Clarisse apareceu na minha frente e me abraçou.
— Obrigada por me convidar, senhora Adams. — Falei o que meu pai pediu pelo telefone para eu dizer.
— Seu pai não veio? — Indagou curiosa, procurando pelo mesmo.
— Ele tinha que trabalhar. — Dei de ombros.
Ele sempre tinha trabalho demais para resolver...
Era aniversário do papai.
Grace achou uma boa ideia fazermos uma festa surpresa para ele. Eu ajudei a arrumar a sala e ajudei a fazer o bolo. Tinha um monte de docinho gostoso também.
— Grace, acha que o papai vai demorar? Ele já devia ter chegado.
Estava ficando tarde e ele ainda não tinha chegado. Era sempre assim, ele chegava muito tarde e eu sempre estava dormindo.
Quase não nos víamos mais.
— O que acha de ligar e saber onde ele está? — Grace sugeriu e fiquei animada.
— Acho uma boa ideia.
Peguei o telefone e liguei para o meu pai. Ficou tocando, tocando e ninguém atendeu. Tentei mais uma vez e logo ele atendeu.
— QUEM É, PORRA? — Me assustei com a sua voz brava.
— Papai, sou eu, a Anna!
— Anna? Por que está ligando? Estou trabalhando.
— Você não vai vir para casa?
— Hoje não, estou muito ocupado. Nos vemos depois, querida.
Ele desligou...
— Anna, quero que conheça a Rebecca. Ela é a namorada do papai.
A mulher alta ao lado do meu pai me olhou estranho, ela parecia uma bruxa malvada. Até a sua fantasia de Halloween era de bruxa.
Combinava certinho com ela.
— Ela vai morar aqui com a gente? Porque a Margô morava e ela cuidava de mim. — Quis saber, olhando para meu pai, que sorriu ainda mais estranho para mim.
— A Rebecca vai morar aqui sim, aposto que serão grandes amigas. — Meu pai ressaltou e logo voltou para a festa, que estava tendo em casa, sem me dar atenção...
Rebecca, aquela bruxa, me colocou de castigo no quarto e eu não podia mais ir para a festa da Mariáh.
Meu pai nunca fez nada, ele dizia que era para o meu bem, mas ele não se importava. Nunca estava em casa. Nunca fazia nada do que eu pedia e só quebrava suas promessas.
Se antes o nosso convívio era difícil, com Rebecca morando em casa, tudo ficou pior. Queria que a Margô estivesse ali.
Ela e Grace eram as únicas que se importavam comigo.
Mas Rebecca não deixava Margô vir em casa e aquela bruxa demitiu Grace. O que mais me magoou foi meu pai concordar com aquilo. Ela achava que mandava em mim, mas estava muito enganada.
Eu daria um jeito para ir na festa da Mariáh...
Era aniversário da Margô.
Mesmo que meu pai tenha me proibido de vê-la por causa da bruxa da Rebecca, eu não podia perder o aniversário da única mulher que foi capaz de largar tudo para cuidar de mim e que aguentou meu pai por tanto tempo.
A festa foi incrível e a Margô adorou o presente que eu fiz para ela. Um álbum com todas as nossas fotos juntas. Ela ficou toda emocionada e chorou horrores. Eu pensei que o Tom, marido da Margô, fosse ficar bravo ou com ciúmes, mas ele também gostou do presente.
Estava tudo bem e maravilhoso, mas sempre acontecia alguma coisa que atrapalhava tudo. Quando voltei para casa, dei de cara com meu pai e Rebecca, eles pareciam bem bravos comigo.
— Você me desobedeceu, Annalise.
— Papai...
— EU NÃO QUERO OUVIR SUAS DESCULPAS. — Pela primeira vez meu pai gritou comigo. — Vá para o seu quarto e arrume suas coisas. Você vai morar com seus avós na Itália...
Encarava a enorme casa a minha frente sem saber o que fazer. O nó na minha garganta machucava e eu não aguentava mais chorar. Eu nem sabia porquê ainda estava chorando, ele não se importava.
Ele me mandou embora.
Ele simplesmente mandou arrumar minhas coisas e dar o fora, fez com que eu fosse para o aeroporto sozinha e viajasse para a Itália sem nenhuma direção. Ele me entregou nas mãos de estranhos até chegar aqui, a mansão Stanley, onde meus avós moravam há décadas.
— Anna?
Despertei dos meus devaneios ao escutar uma voz chamar meu nome, a mesma voz que só escutava por telefone porque não podia vê-lo com tanta frequência graças ao meu pai.
— Oi vovô! — Consegui forçar a voz para sair audível.
— O que faz... o que... ele não fez isso.
A reação do meu avô era compreensível, já que me sentia daquele mesmo jeito. Era difícil de acreditar e aceitar que meu próprio pai foi capaz de me mandar embora como se eu fosse algo descartável.
Não foi preciso mais explicações, vovó Lúcio se aproximou, me envolvendo em seus braços acolhedores e dando aquilo que meu pai não foi capaz durante anos.
Um abraço de verdade...
— Está tudo bem, querida, vamos cuidar de você agora.
Sejam bem-vindos a história da Anna.
Esse primeiro capítulo é para entender um pouco como era a vida dela com o pai.
Espero que tenham gostado e fiquem ligados porque esse história tem muita coisa boa por vir ❤️
xoxo Bia G.
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