9| Um jantar em Família
Nancy poderia até dizer que teve um dia de surpresas. Primeiramente, sua irmã mais velha voltaria da Itália com um namorado, hoje. E seus pais ainda nem a tinham visto, mas começaram desde cedo ignorar a filha mais nova.
O segundo motivo foi que Justin nem ao menos ligou para se desculpar. Ela terminou com ele, mas esperava uma ligação para ficarem juntos de novo. Afinal, foi ele quem começou.
Passou a manhã inteira escutando os pais falarem da irmã, comeu mais do que deveria, e depois vomitou tudo no vaso sanitário do seu quarto. As vezes comia demais por ansiedade, ou por estar muito nervosa. E a chegada de sua irmã mais velha lhe trazia muita insegurança.
Então, pegou o cartão de credito dos pais e foi gastar no shopping com sua melhor amiga Kat, para não ter que ficar escutando a maravilha que sua irmã era.
As duas compraram varias roupas e sapatos, gastaram um bom dinheiro do cartão de crédito, se sentaram na sorveteria e tomaram um sorvete de casquinha. Kat começou a falar sobre a próxima viagem que teria com seus pais para a Alemanha, mais Nancy a interrompeu:
— Eu tenho muitos amigos não tenho? — Perguntou.
— Sim — Kat revirou os olhos por ter sido interrompida — O quê que tem?
— Então por que me sinto tão sozinha?
— Tá de brincadeira comigo? Você é a garota mais rica da escola, como pode se sentir sozinha? Tem um monte de amigos. É uma líder de torcida e vai a um monte de festas. Já que terminou com Justin, podemos arrumar outro namorado para você...
— Kat, você não entende?
— Não — Kat apertou os lábios e Nancy fez um gesto com a mão para que ela esquecesse. E Kat continuou falando sobre o planejamento da sua próxima viajem.
Como sua melhor amiga não poderia saber isso? Será que eram amigas de verdade? Ou era apenas status como o namoro de Justin? Sua vida estava sendo um farsa por isso não se sentia tão bem como deveria sentir por ser tão popular? Essas eram as perguntas que ficavam na cabeça de Nancy o tempo todo.
Lembrou de Jessie no ônibus naquele dia, ninguém jamais imaginaria que ela estaria grávida e seus tios estavam escondendo tudo da sociedade. O que aconteceria com a criança depois de nascer? Provavelmente seria colocada para a adoção! Quem era o pai? Quem a desonrou? Sabia que essa coisa de desonra não existia mais, pois perdeu a virgindade com quinze anos. Mas na família de Jessie isso deveria ser bem complicado.
Pensou em Alison e Claire, as duas também dedicaram um pouco de seu tempos para ajudar Jessie naquele dia. Por que? Seria o destino querendo mostrar algo?
Tantas perguntas para alguém que não sabia as respostas. Nancy passou as mãos pelo rosto e olhou para o seu reflexo espelho. Estava muito pálida, então decidiu passar blush rosado nas bochechas e retocar seus lábios com o seu habitual gloss de morango.
Ajeitou os longos cabelos dourados e verificou pela décima vez o seu look: um vestido azul escuro de alcinhas e saltos plataforma da mesma cor. Deu um suspiro fundo ao escutar algumas vozes conversando lá embaixo. Estava na hora!
Nancy desceu as escadas, apertando o corrimão. De costas para ela, sua irmã conversava animadamente com Ruth, a mãe delas. Ao lado de Valérie, estava o homem de sorte. Ele era muito alto, tinha os cabelos escuros e os olhos um pouco puxados, usava um suéter com estampa e calças de flanela.
A irmã mais velha se virou, com um sorriso nos lábios pintados de rosa. O rosto estava intacto. Valérie não havia mudado nada durante esses dois anos que esteve fora. Ela se aproximou com um fingido sentimento fraternal para abraçar a irmã mais nova, o cheiro do perfume doce dela causando ânsia em Nancy.
— Que saudades que senti de você irmãzinha! Não mudou nada. — Ela repetiu as palavras que Nancy pensou e molhou os lábios perfeitos — Ganhei um Chevelle 1972. Ele é tão perfeito e bonito. Você ficaria com inveja. Ele tá lá fora, quer ver?
— Não! — Respondeu rápida — Já viu o meu Pontiac Firebird 1968? Ele é tão melhor quanto o seu, tenho certeza. E as minhas rodas são rosa. — Abriu um sorriso.
Elas se encararam. Valérie mordeu os lábios pensando em algo para a irmã não ficar por cima. A olhou de cima para baixo e ergueu a sobrancelha.
— Eu tenho um vestido que não uso mais, ele é bonito, melhor do que esse que você está usando. Posso te dar se quiser — Piscou um dos olhos azuis e abraçou o pai — Vamos jantar!
E ela ganhou mais uma vez. Nancy os seguiu até a mesa de jantar, sentou-se na cadeira que ficava entre seus pais e ajeitou o vestido. Valérie a observou.
— Pelo que eu me lembre, eu sentava nesse lugar. — Ela cruzou os braços.
— Mentira! — Nancy exclamou.
— Sua irmã acabou de chegar de uma viagem cansativa e estamos felizes, dá para deixar ela sentar ai — Sua mãe sussurrou no ouvido da mais nova.
Nancy respirou fundo para não ficar irritada com aquela situação e deu a volta da mesa, se sentando ao lado do namorado silencioso de sua irmã. Que abriu um sorriso vitorioso sentando-se entre os pais.
— Esse é Christian — Ela finalmente apresentou o namorado — Cadê o seu Justin?
— Não namoramos mais. — Nancy respondeu rapidamente e observou a empregada servir os pratos.
— Ele parecia ter controle sobre você — Valérie deu de ombros.
— E quem disse que eu preciso de alguém para me controlar? Não sou você!
— Na verdade, você quer ser que nem eu.
As duas se encararam por um longo momento. O Sr. Brooks interrompeu a batalha que teria ali:
— O que você faz Christian?
— Trabalho num restaurante — Ele sorriu ao ver que alguém finalmente lhe dirigiu a palavra.
Nancy revirou os olhos ao ver a mão da irmã se pousar na dele. Pegou seu garfo e começou a comer o risoto de camarão em silêncio.
— Gerente? — A Sra. Brooks se animou. Não que fosse alguma coisa, mas eles adorariam ter alguém de sua família trabalhando em um dos cinco restaurantes que eles tinham.
— Não, eu lavo pratos. — Todos na mesa ficaram espantados.
Sua irmã sempre namorou modelos, empresários, artistas e jogadores de golfe. Então porque agora um lavador de pratos de restaurante? Valerie lhes lançou um sorriso nervoso e apertou a mão do namorado.
— Eu vou abrir uma empresa de botas femininas e ele vai trabalhar comigo,a gente vai se casar, papai — Ela disse, e Nancy olhou para seu pai que estava com o garfo parado na boca
Diz que não! Só para ela sentir o gosto ruim que é escutar um não de vocês. Por favor! Não deixe que ela seja tão feliz assim. Nancy pensou.
— Se você gosta tanto dele, eu apoio.
Nancy apertou a mandíbula com raiva e pegou o copo de suco para disfarçar. Por que? Eles não iriam apoiar se fosse ela! Valérie se inclinou para o namorado e o beijou devagar.
— Podemos morar aqui, até que nossa casa esteja pronta? — Ela sussurrou e o pai fez que sim.
— Claro minha filha, faça o que você quiser — A mãe abraçou o sr. Brooks para demonstrar sua felicidade com a ideia e Nancy balançou a cabeça, com indignação.
— Eu gostaria de ficar na estufa. — Valérie lançou um olhar meigo para Nancy, que quase derrubou o copo de suco.
— Não! Você não pode ficar lá.
— E porquê não? Eu preciso de um tempo a sós com o meu namorado.— Valérie disse como se não quisesse nada.
A estufa era um lugar que ficava na parte de trás da grande casa de dois andares da família. Antes era usado para cultivar flores e guardar trigos, mas Ruth decidiu fazer um pequeno apartamento de solteiro no lugar, e por muito tempo cobrou aluguel pela estadia de alguns primos que vieram fazer turismo. E tudo mundo sabia do desejo de Nancy de ficar com ele para depois da faculdade.
— Eu estou planejando ir para lá depois que terminar os estudos, você já usou ele quando terminou os seus, então a estufa é minha!
— Só vou usar por um tempo irmã, não seja tão chata. Prometo que não irei causar danos. De acordo papai?
— Não pode aceitar isso — Nancy choramingou. — Por favor, papai.
— Entenda, ela não vai ficar lá por muito tempo, não seja egoísta. Pode ficar na estufa, Valérie.
— Obrigada papai — Valérie sorriu vitoriosa e beijou Christian mais uma vez.
Nancy se levantou e correu para fora da sala de jantar. Se sentou na grama do jardim e começou a chorar. Como eles poderiam pensar que aquilo era egoísmo? Tudo que planejou durante anos, acabou por um capricho de sua irmã mais velha? Nancy não deveria ser importante mesmo para aquela família.
♡(•ө•)♡
Mais tarde, vestida com sua camisola rosa, Nancy observava Valérie com o seu namorado se beijando no jardim. Ela respirou fundo e fechou a janela, se deitou na cama abraçando o urso que Justin lhe deu de aniversário no ano passado.
Estava sentido raiva da irmã, do pai e da mãe. Fechou os olhos se virando de lado. Amanhã seria um novo dia e por isso talvez tudo melhorasse. Dormir e esquecer o que aconteceu poderia lhe fazer bem. Ao menos era isso que ela pensava.
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